quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Montaria

Pela segunda vez, a nossa aldeia foi escolhida pela NORCAÇA para a realização da montaria ao javali que teve lugar no dia 18 de Outubro.

O dia amanheceu com ameaça de chuva, mas depressa o sol deu ares da sua graça. Era o dia da montaria e São Pedro tinha de estar do lado dos caçadores!
O local da concentração foi na sede da Junta de Freguesia, onde os caçadores confirmavam a inscrição e seguiam para o tão esperado "mata-bicho". Eram 68 caçadores mais alguns acompanhantes.

E mais não digo! Deixo uma reportagem do certame em jeito de fotografias, pois lá dizem os entendidos que "uma imagem vale mais do que mil palavras".
Embora não haja uma prova fotográfica do resultado da caçada, asseguro-vos que se traduziu em 7 javalis.





Nota: O meu reconhecimento a todos que colaboraram na elaboração deste post.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Uma doçura de comentário

Não é hábito publicarmos comentários, mas, aquele que a seguir transcrevemos, pela sua candura, por ter sido colocado num post da minha cunhada Augusta sobre sua mãe e minha sogra (a quem, desde que casei, sempre tratei por mãe) merece, no meu entender, este destaque.´Trata-se, essencialmente, de um agradecimento à Carla Pereira Rodrigues que logo no seu primeiro comentário (e creio que numa das suas primeiras visitas ao Blog) nos brinda com tão gentis recordações.

Anónimo carla pereira rodrigues disse...

Era uma das senhoras que mais gostava de visitar nas ferias de verao porque la tinha sempre uns rebuçaditos prontos para oferecer.e certo que ja os havia a venda,mas aqueles eram decerto mais doces porque eram dados com carinho.
lembranças muito doces.

28/Out/2008 12:31:00

Obrigado Carla! por este doce que nos deixaste no Post


Onde estão os meus sapatos?



A Carla em criança, com a Ifigénia, sua mãe (filha da tia Zulmira).

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Magusto Tradicional (convite)


Terá lugar no sábado dia 1 de Novembro um Magusto Tradicional na nossa Freguesia, veja o convite publicado no

sábado, 25 de outubro de 2008

Há trinta e tais...


Na página da Direcção Geral dos Monumentos Nacionais existem duas fotografias do Pelourinho de Rebordainhos - aquelas que reproduzimos aqui - e que irão, também, substituir a primeira que publicámos, cópia de muito inferior qualidade de uma das presentes.

Foi o Evaristo que fez o favor de no-las enviar e de identificar os três raparigos que lá estão. Cito-o numa informação que me parece importante. Diz ele: ambas foram tiradas pelo ténico dos MN após o tio Jaime informar que, por ameaça de ruína, iria cimentar os degraus da base: era Inverno (não sei se 70/71 ou 71/72).

Vamos, agora, ao desafio: quem identifica os raparigos e os ganapos fotografados?

(Para os mais distraídos: clicando sobre a imagem ela abre-se em tamanho maior)

Fátima Stocker

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Recolha de Cantigas da segada




Tarde de amena cavaqueira no Prado, frente à taberna de baixo. A senhora Irene que me perdoe, mas nem sequer o seu sorriso cativante me fez habituar a chamar “Café Central” ao seu estabelecimento.

Não sei precisar a data, mas estávamos, seguramente, nos primeiros anos da década de 90 do século passado. Eu estava empenhada em recolher aspectos de um quotidiano que via desaparecer em cada Verão que assomava. Dispunha de poucos meios, mas isso não me preocupava porque o meu intento era pessoal: queria registos para quando a memória me faltasse. Feliz a hora em que, de tal, me lembrei.

Os registos que agora se publicam poderão ter, para quem os ouve, o toque da nostalgia. Para mim…

Estávamos, então, no Prado. O Rafael fazia de mestre-de-cerimónias e orientava-me para que eu não perdesse pitada. Já nem me lembrava como eram magníficas aquelas vozes, dadas por Deus, mas buriladas pelo sentir que só a vida confere. São elas:

Octávio (das cabanas, irmão da Ester)
Victor Martins
João Veigas
João Pereira (Fouce)
(A sr.ª Irene
também deu um arzinho da sua graça)

A certa altura apareceu uma personagem fora do contexto. Não sei se o Octávio se envergonhou, mas deu por terminada a cantoria no Prado. Prosseguimos em nossa casa, agora só com o meu pai e o João Veigas que também se cansaria, deixando o Fouce sozinho a aturar as madurezas da filha, provando a paciência de santo que sempre teve. Bem-hajam todos, sobretudo os dois que já estão no Céu – Octávio e meu pai – e não souberam o quanto lhes fiquei grata.

Fátima Stocker
_______
Dado o tamanho da recolha (cerca de uma hora), é provável que a reprodução demore um bocadinho mais do que é habitual. É só ter alguma paciência.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

À descoberta dos cogumelos

Não pretendo ensinar o padre-nosso ao cura, porque nem sou botânica, nem tenho a veleidade de saber tudo sobre cogumelos que é a palavra mais usada para tratar toda esta família de fungos.
Mas se tiverem tempo e disponibilidade serão surpreendidos, com a quantidade e variedade desses fungos aos quais quem aqui nasceu e vive conhece pelos nomes populares de níscaros, de frades, de pinheiras, de carneiras.
Aqui as pessoas, na sua grande sabedoria, herdada de gerações sem conta, conhece, à distância essa diversidade, dentro da familiaridade.
E era bom que os citadinos saíssem dos seus alcatifados aposentos e viessem ao encontro da Natureza. Talvez pudessem saborear estas iguarias cozinhadas com presunto, toucinho ou vitela mirandesa. O manjar seria inesquecível!!!

Não tente identificar cogumelos apenas com base em imagens. Existem diversas espécies perigosas e mesmo letais. Saber identificá-las com precisão requer experiência e informação rigorosa.
A autora deste post não se responsabiliza pelos usos incorrectos das informações aqui disponibilizadas.


quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Ares da Serra




V - O TIO RASCA DOS PEREIROS

por
António Augusto Fernandes

Tarde canicular de fins de Agosto. O sol descambava já por detrás da Serra de Bousende e lá vinha ele, mais uma vez, aos bordões, arrastando os socos de amieiro ferrados de brocha larga pela poeira, a caminho dos Pereiros por um carreirão mais torto que linha num bolso, como por lá se dizia. Estacava a espaços, oscilando mal sustido pelas pernas escanchadas, a discutir muito gesticuladamente consigo próprio.

Andava nisto há anos. Chegava depois de almoço à taverna do ti António Trocho, cumprimentava os circunstantes e abancava junto a uma das mesitas do chincalhão arroxeada do vinho de muitas litradas servidas na jogatana, sempre muito compostinho no seu colete de bolsinho tabaqueiro sobre a camisa branca abotoada até à maçã de Adão, muito saliente no pescoço esgalgado de grou. Depois de dois dedos de prosa com os circunstantes, pedia o meio quartilho do intróito que ia bebericando muito pausadamente, muito compenetradamente, com estalidos da língua de bom apreciador. Uma liturgia!

Lá pelo meio da tarde, depois de virados alguns copos, sacava do bolso da jaqueta um carolo de centeio negro, um naco de queijo cabreiro e a navalha peliqueira. Com método, lascava alternadamente cibitos de pão e de queijo que depois ia moendo com os vagares de quem tem todo o tempo do mundo e os dentes ralos. Sem muitas conversas com quem entrava a enxugar de uma assentada o copo de carrascão para limpar a garganta da poeira dos caminhos ou a mercar o macinho de Kentucky a oito tostões, ia respondendo à salvação de uns e outros com uma tranquilidade de senhor que em sua câmara recebe preito dos seus servos. Todos os dias de todos os anos ia repetindo estes gestos sacramentais, de tal modo que, lá para o fim, já nem precisava de vinho para se entornar:

- Basta dar-lhe uma pouca de água e indoujá-lo para derreter o sarro que traz na barriga, que dá o mesmo resultado – garantia o Pilatos, um outro piteireiro com crónica, mas mais rafeiro, ainda sem o estilo nem o estatuto do tio Rasca.

Era uma instituição este tio Rasca, João na pia baptismal. Alto, muito direito nos seus oitenta anos, enxuto de carnes, de bigodinho rectangular como era usança de quantos haviam feito a campanha da primeira Grande Guerra, com uns olhitos pequenos e piscos, de feição mais perscrutadora ainda quando derrubava a cabeça à banda, como as catatuas, para fitar o interlocutor num esforço de compreensão. Com frases sábias e curtas, mas sobretudo com grandes silêncios, ia discorrendo sobre o tempo, os seus tempos, as fainas da lavoura, enquanto os copos sucessivos lhe não toldavam o entendimento e entaramelavam a língua. Nessa altura calava-se e dormitava um pouco, apoiado ao porretinho que não o abandonava.

Pela tardinha, cumprido com exactidão o ritual de fazer a medida para a jornada, já muito piongonheiro, erguia-se um pouco cambaleante, despedia-se com o até amanhã sacramental e lançava os socos à árdua empresa do regresso: mais de dois quilómetros por caminhos de cabras! Muitas vezes, nos troços mais íngremes, o equilíbrio precário e uns vislumbres de prudência aconselhavam-no a arrastar os fundilhos das calças pelo areão do carreiro. Um dia por outro, as pernas recusavam-se à penitência e, em alturas de calmaria, pernoitava ao toro de uma giesta negral, acaçapado como uma lebre. Nas tardes curtas de invernia, quando escurecia inopinadamente ou o nevão adregava de apagar os pontos de referência na paisagem, perdia-se, tardava em arribar e os familiares, temerosos de o largarem assim na intempérie, acudiam num grande alarde de lampiões e injúrias ao impenitente peregrino. Tempo e cuspo mal gastos! No dia seguinte, de novo se atirava à via-sacra com a obstinação de romeiro que demanda Santiago de Compostela para encher a cabacinha e remir os seus pecados.

***

Como se iniciara aquele ritual da peregrinação quotidiana e inevitável dos Pereiros até à tasca de Rebordainhos era matéria de discussão entre os vários exegetas: saturação da vida insonsa dos Pereiros, opinava a corrente existencialista; mero gosto pela pinga, discordavam os de filosofia mais rasteira; desentendimento com os conterrâneos, entendia a mor parte, com uns lumes de sociologia. Esta última opinião era de facto a mais consensual, que o caso não era para menos: os Pereiros eram, nesses tempos, uma poveca com meia dúzia de casas de granito negro ajoujadas em torno de uma capelita pouco maior que uma curriça caiada de branco. Perdida lá nos fundões da serra, em deslado da ribeira a que emprestava o nome, o sol amanhecia-lhe tarde e despedia-se cedo e, talvez por este défice de luz, aquilo era uma gente azeda, perpetuamente roída de invejas vá-se lá saber de quê, pois que todos eram suficientemente pobres para morrerem de fome se não se matassem a trabalhar. Sinal de abastança já era a posse de um burrico ou de uma junta de vacas, excepção feita ao senhor Imbertinho alfaiate, proprietário de nobre cavalicoque que lhe dava direito a senhoria e a topar com dois dedos o chapelito de aba curta quando cumprimentava o gentio de cima da montada.

E tão quezilentos eram de feitio que se tinham afeito ao vezo de consumir nos tribunais da comarca algum tostão sobejo das colheitas e escapo à dízima e ao pagamento das avenças pela Senhora da Serra. Mais prazenteiramente entregavam os magros cobres na justiça do que na liquidação do rol dos fiados na venda, mesmo que isso viesse resultar num ainda mais magro passadio de caldo e batatas na roda do ano. Quase toda a gente, ou no papel de queixoso ou no de arguido, andava enredada em querelas mesquinhas, para grande gáudio dos advogados que sabiamente iam gerindo a mamata. Ora aí estava motivo cabonde para que o tio Rasca renegasse de conterrâneos tão arrevezados e somíticos que nem tasca tinham onde um cristão pudesse condignamente matar a sede e purgar o desgosto de pertencer a tal raça.

De vila era crismada pelos de lá de baixo a cabeça de freguesia, porque tinha um pelourinho, cambado, é certo, mas sinal inequívoco de foral velho e de prerrogativas antigas. Ademais rezava a crónica oral colectiva que tivera cadeia nos tempos remotos dos afonsinos. De resto, pobre aldeia montesinha, Rebordainhos lá ia vivendo, num aperto muito franciscano, do que lhe davam os soutos, do centeio arduamente esgaravatado nas lombas escalvadas da serra de Nogueira e da batata criada nos terrenos mais lentos das pregas da serra. Se não pelo estatuto, ao menos pelos seus ares levados, pela superioridade orográfica e pelo feitio cordato dos seus habitantes, sempre a vila olhara com alguma sobranceria para os Pereiros, sepultados lá nos cafundós da serra. Quando adregava de à conversa virem os dos Pereiros, era hábito canónico alguém perguntar, quase como quem recita uma jaculatória, quando é que Deus se lembraria de dar um piparote no coruto da serra e enterrar de vez tão ruim casta.

Mas, como se vê, de tal casta não era o Tio João Rasca. Pelo contrário. Era um tipo franco e teso que fizera crónica na sua mocidade. O mais badalado dos seus fastos passara-se nos tempos do volfrâmio, quando um calhau do tamanho de uma batata, desenterrado pela biqueira descuidosa do tamanco, poderia representar para o pecúlio familiar mais que meio ano agarrado à rabiça do arado ou a esgaravatar fragas com as ganchas.

O frémito volframista fez estremecer a serra como uma febre de maleitas, e o tio João, embora já não fosse propriamente um rapaz, não escapou incólume a essa fome da riqueza súbita. Lá matutou o plano que se lhe mostrava infalível e tratou de aliciar o genro para a marosca. O Bateitas, mais timorato, ainda resistiu, mas o Rasca tanto lhe moeu o juízo, porque torna, porque deixa, que acabou por embarcar na aventura, e toca de se meterem a butes até às minas de Veigas que, cortando a direito, eram já ali, a seguir à curva grande da ribeira. Mas, ou porque a mofina os perseguisse, ou porque a azáfama dos preparativos tivesse dado muito nas vistas, (que aqueles dos Pereiros, rais os partira! gente mais espiolheira e intriguista não cobre a rosa do sol!), mal se preparavam para ensacar os primeiros calhaus, saltam de lá os guardas e, por mais que desembelinhassem as gâmbias na retirada, não se livraram de umas estadulhadas bem assentes nos lombos. Desanimados e desancados, os argonautas regressaram a penates pela calada da noite sem o velo de ouro e, sobretudo, sem tugir nem mugir. A poveca, que era pequena e de língua desembestada no que a costumes diz respeito, toscou a odisseia. E, bem depressa, algum Homero se deu a glosar o feito glorioso em métrica sofrível, mas de veneno cabonde. À socapa pelas quelhas da aldeia, a plenos pulmões pelos campos, na rega das batatas ou na sega dos pães, a trova atrevida alastrava cada vez mais desaustinada, seguindo a música popular do Raspa:

O Rasca diz que sim,
O Bateitas diz que não;
Foram às minas a Veigas,
Logo deram c’o filão!
Apanharam muitas chinas,
Mas não eram das do chão!

E mais do que lhes pesariam as pedras de volfro se as tivessem pilhado, mais que as bordoadas aparadas no costado, muito mais lhes doíam os versos que se espalhavam como a pneumónica.
Mas agora, ali na tasca, quando alguém tentava ainda atazaná-lo com a cantiga, ele rematava, com uns longes de desprendimento filosófico:
Ora adeus! Cantigas!... Tomara-me eu mas é nesse tempo!

***
Como íamos dizendo, por esse entardecer abafadiço de Agosto, já os gados recolhiam aos currais e, na eira do Outeiro, esmorecia o arfar gosmento da malhadeira, lá vinha o tio Rasca cumprindo as estações da sua via-sacra até aos Pereiros, depois de ter atestado bem a medida para o caminho na tasca do tio Trocho. Cruzámo-nos à saída da aldeia, no alto da Portela. Eu, estudantinho em férias, depois de um esforçado dia a alombar sacos na malha do meu tio Zé Çuca, fora desencardir o coiro da poeira e da comichão áspera dos cuanhos ao nosso tanque de Vale-da-Frunha em que uma bica vertia a água fresca da nascentinha minguada encanada lá de riba dos castanheiros do passal. Regressava já a casa, muito alceiro de chinelos e calções e no descaramento juvenil do tronco nu, com a trouxinha da roupa suja debaixo do braço:

− Então, tio João, já de volta até aos Pereiros? – lancei à laia de saudação.
Nem me respondeu. Especado nas pernas altas de grou, bambas do vinho e muito escanchadas para não desabar, cravou em mim os olhitos piscos de piteireiro, escancarou uma boca grande de incredulidade e lançou-me com arreganho:
− Oh! carvalho!... Vossemecê está despido!?... Tape-me essas tetas, carvalho! – E forcejava por arregalar as pálpebras, pesadas do tinto, para mais convictamente sublinhar a sua escândula, reiterando:
− Tape-me essas tetas, carvalho!... − E sustinha a sua indignação procurando argumentos no entendimento zúbio do vinho. Depois, como quem arrasa um contendor com argumento definitivo, rematou:
− Olhe que eu, em sessenta anos de casado, nunca vi as tetas da minha mulher! – E, como do Velho do Restelo canta o Épico, meneava a cabeça, descontente.

Aturdido pela veemência da objurgatória, mesmo insciente da malícia intrínseca à nudez das minhas mamas de macho, e sobretudo intimidado pela grandeza da modéstia conjugal do tio Rasca, instintivamente gasalhei as ditas debaixo da toalha. Mas ele, de consciência em paz depois de aplicado o correctivo, retomava o monólogo interrompido e passava por mim, alheado já da minha pessoa e da nudez dos meus peitos. Ainda me voltei, meio esparvoado, parafusando sobre a relatividade dos códigos morais que regem o destino da humanidade em geral e de cada um em particular: borracho ele, eu impudico... e ambos tão inocentes! A sombra esguia e negra perdia-se já por detrás da sebe de escarambunheiros que bordejavam a curva do carreirão dos Pereiros a seguir à Casa da Aula. Nunca mais o vi.

O tio Rasca (que a terra lhe seja leve!) partiu há muito, com a medida bem feita de anos e de quartilhos. Mas decerto levava no seu activo, para as contas a prestar ao Criador, a lição de moral e bons costumes com que me chamara ao caminho dos justos.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Tia Maria
O cardador

Este é um esboço de um trabalho que todos podemos fazer para que a tradição se não perca com o tempo.

Bem-haja, tia Maria, por aceitar desenrolar o novelo da memória.

Recolha efectuada pela Fátima e Olímpia junto da Tia Maria
Rebordaínhos - Agosto de 2008




A letra é a seguinte:

Cardador que carda la lana
Carda a preta, carda a branca
Ai carda também a mocita
Debaixo da manta!

Ai sumiei na minha horta
Manjaronas às mancheias
Ai tanto custaram a Deus
As bonitas com'as feias!

Do outro lado do rio
Lá tenho os mous marmelos
Ai s'o barqueiro num mos passa
Lá se me perdim d'amarelos!

"A minha mãe ganhou bem copos de vinho fino a cantá-la aos cardadores em Vilar d'Ouro!" Assim se refere a tia Maria a esta cantiga que sempre conhecemos como a "cantiga da tia Fecisma". Começava-a com um lai-lai lai-lai-lai... e acompanhava-a com as mãos a desenharem o gesto de quem carda a lã. Na sua voz grave, cantou-a até que a vida se lhe sumiu e, também por causa dela, deixou-nos uma saudade alegre.

Fátima Stocker

Jornal Mensageiro
comunidade fotográfica




Parabéns Lurdes






Foram duas as fotos vencedoras desta semana publicadas na edição impressa do Jornal Mensageiro, uma delas é de uma natural de Rebordaínhos a Lurdes Pereira, aqui fica o registo de mais uma excelente foto.


sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Bragança
À descoberta de cogumelos

Ao ler a noticia no Mensageiro pensei logo em dar a informação no Blog, as nossas "caminheiras e fotografas" bem podiam juntar o útil ao agradável e depois darem a informação de como correu a iniciativa, que se me afigura muito interessante.

O Centro de Ciência Viva de Bragança promove uma saída de campo
para identificação de cogumelos silvestres, no próximo dia 18 (Sábado).A saída está programada para as 9h00 na sede do Centro. A participação é gratuita, mas está sujeita a inscrição prévia, através do site
www.braganca.cienciaviva.pt ou do telefone 273313169 - Manuel Teles

Augusta, Lurdes, Regina, Milita, ponham Rebordaínhos a mexer, bonitas fotos e textos cá para fora, já que os homens da terra não participam , eles que façam a merenda e assegurem o transporte. Vocês ainda vão criar uma confraria! Nem arrisco a dizer o nome para não me zurzirem.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Jornal Mensageiro - Comunidade fotográfica

Enquanto o Outono nos vai presenteando com dias ensolarados que mais parece Primavera, Rebordaínhos continua a brilhar com lindas fotos no concurso online do "Mensageiro".




Foto vencedora enviada pela Fátima Stocker





Foram enviadas mais duas fotos da Olímpia e duas do João Stocker e outra da Fátima, para ver o resto das fotos clique aqui

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Peregrinações à Senhora da Serra


As peregrinações à Nossa Senhora da Serra , paróquia de Rebordãos, fazem parte do imaginário de qualquer habitante das povoações que circundam a belíssima serra de Nogueira.
Para mim, esta é seguramente uma das mais belas serras de Portugal, onde a cada passo se podem desfrutar das mais belas paisagens que o nosso país possui. Certo que esta é a opinião de uma transmontana ferrenha e que defende o seu torrão em qualquer lugar do mundo. Mas, quem duvidar desta opinião, porque não “mete os pés ao caminho”, e vem verificar a veracidade desta afirmação?




Uma amostra da bela vista da
Serra da Nogueira






Bom, mas o motivo desta minha narrativa, não se prende tanto com a beleza da serra, mas sim com o Santuário que se situa no seu ponto mais alto.
Diz a lenda que, andando uma menina muda a pastorear o seu rebanho, lhe apareceu Nossa Senhora que lhe pediu para dizer aos seus conterrâneos – de Rebordãos -, que lhe construíssem uma Igreja no ponto mais alto da serra de Nogueira.
A menina assim fez e, como apareceu a falar, todos acreditaram naquilo que a mesma lhes transmitiu.
Mas… no alto da serra? Tinham de subir pelo carvalhal acima? Uma subida tão acentuada que, muitos há que lhe chamam “pingão”? Então decidiram construir a capela sim, mas no início da subida. Afinal, era serra na mesma, e a Santa não se devia importar muito.
De imediato deitaram mãos à obra. Mas, se durante o dia construíam uma parede, a mesma havia de ser deitada abaixo durante a noite. Tantas vezes teimaram em construir que, outras tantas as paredes vieram abaixo, até que, Nossa Senhora decidiu aparecer novamente à menina muda, e lhe transmitiu que no dia 5 de Agosto, o lugar onde queria que lhe construíssem a Igreja, haveria de estar marcado com neve. Assim foi e, os habitantes de Rebordãos decidiram acatar a vontade da Santa e lá construíram a Igreja, e o culto foi-se perpetuando pelos tempos até aos dias de hoje.
Não sei bem a época em que tal aconteceu mas, numa das esquinas da Igreja estão inscritas duas datas: 1659 e 1671, ambas posteriores à construção da Igreja Matriz de Rebordãos que, de acordo com o inscrito no exterior, esta aconteceu em 1611, e no interior em 1614.
Não sei se é do conhecimento de toda a gente. Mas sabem que Nossa Senhora da Serra também se chama Nossa Senhora das Neves?
A festa inicialmente era realizada no dia 5 de Agosto mas, porque nessa altura ainda existiam muitos trabalhos agrícolas, ficou decidido realizar-se a 8 de Setembro, quando as colheitas já estavam devidamente guardadas.
De realçar no entanto que, ainda hoje, no dia 5 de Agosto é celebrada uma missa e são arrematados os quartéis (os que ainda estão disponíveis, pois muitos há que os têm alugado permanentemente) e as tabernas onde, nos dias das celebrações se hão-de saborear excelentes nacos de vitela assada.
Para além da festa propriamente dita, realiza-se anualmente uma novena – de 30 de Agosto a 7 de Setembro. E são inúmeros os fiéis que, ou alugam um quartel para aí permanecerem durante a novena e dia da festa, ou diariamente aí se deslocam a pé ou de carro para assistirem às celebrações dando cumprimento a promessas anteriormente feitas, ou então , pelo simples gosto de caminhar.
Lembro-me de em garota, ansiar pela chegada da Senhora da Serra, porque nessa altura, as meninas tinham direito a uma boneca pequenina, daquelas que tinham um elástico a unir as duas pernas e outro a manter os braços juntinhos ao corpo e, que depois, com a nossa criatividade, haveríamos de vestir com roupas por nós costuradas. Aos rapazes, a sorte trazia-lhes um tractor ou um camião de lata, que haveriam de exibir e conduzir carregados de terra , por estradas previamente bem alisadas numa qualquer rua da aldeia.

Por estas bandas, Setembro não existe sem pelo menos uma ida a pé à Senhora da Serra. Este ano, um grupo de três manas, mais a vizinha Tininha, anteciparam a ida. As férias de algumas acabavam antes e havia que cumprir o ritual.
A caminhada iniciou-se por volta das 8 da manhã e, para nossa surpresa, a Fininha tinha-se mesmo levantado para nos acompanhar. E lá partimos com a desconfiança de que, a mesma Fininha, haveria de desistir. Afinal, costuma “enjoar” quando anda a pé!

Em Vila Seco encontrámos o Toninho mais as suas ovelhas. E não é que também ele se interrogou se a Fininha chegaria ao fim da caminhada?








A Olímpia, Amélia e Tina





Subimos pela Malhada Velha até à casa da floresta. Uma casa linda que, se reconstruída, bons momentos de calma e sossego poderia proporcionar a quem dela quisesse usufruir, e serviria concomitantemente como fonte de receitas para a junta de freguesia.



A casa da Floresta








Um pouco mais acima encontramos a recém – baptizada “fonte do peregrino” e, fazendo jus à nossa condição, saciámos a sede com aquela fresquíssima e puríssima água . Outras necessidades humanas básicas foram ainda satisfeitas mas, refiro-me aqui apenas à satisfação com que fomos comendo as deliciosas amoras silvestres que fomos encontrando pelo caminho.



A Fonte do Peregrino







Ninguém se queixava das pernas porque a nossa alma estava completamente preenchida. As belezas naturais que podemos desfrutar em todo o percurso são soberbas. A zona das bétulas é fantástica e, nunca por lá passo que não me lembre do filme do Dr. Jivago quando, o mesmo procurava incessantemente Lara. Depois deparamo-nos com um pinheiro que, carinhosamente adquiriu a forma de cabana pronta a abrigar um peregrino que pretenda descansar à sua sombra. E depois… começam a avistar-se as mais diversas aldeias que circundam a serra. É um mar de imagens indescritíveis. O melhor é saborear!












Finalmente, já no alto, a nossa boleia de regresso já estava à espera. Cumprimos o prometido e, não é que a Fininha aguentou firme o 10 km de caminhada?

O Levi Mata garantia o regresso de carro

Para mim, a peregrinação haveria de continuar durante os nove dias da novena. Mas desta feita com partida de Bragança, passagem por Rebordãos e subida do pingão, num total de 15,2 Km. Mas tive sempre a companhia de duas amigas e o apoio do gabinete ao peregrino que desde há uns dois ou três anos existe junto ao Santuário. Aí somos recebidas por um grupo de enfermeiras e outras pessoas que, voluntariamente aí permanecem para, com todo o carinho aliviarem os pés com reconfortantes banhos quentes e massagens ou, para quem não tenha necessidade de tais cuidados, com um delicioso café.




Fotografia tirada em Rebordãos

domingo, 5 de outubro de 2008

Ecos do Meu Sentir


II - A PRIMEIRA MATRIARCA?....

por

FILINTO MARTINS


A vida não se aprende nos livros… aprende-se no Blogue de Rebordainhos…Não dizem a idade, mas para serem as primeiras a utilizar a ambulância tudo se descobre… Se naquele tempo houvesse televisão… Sempre terá sido a Fátima a servir-se de uma “ambulância” para poder nascer na cidade e não em casa. A Maria Augusta não foi de ambulância, veio de ambulância, a “burra grande” da tia Ana Costa. Era um luxo.

Pelos vistos só esquecemos aquilo que queremos e como tal, nem adiantava dizerem-nos que tinha vindo no bico da cegonha, porque não havia cegonhas na nossa terra.

"Amar e trabalhar são as duas chaves para tudo o que dá vida e significado" – Freud.

Alta, magra, sulcos vincados no rosto tisnado pela lareira, vestida de negro dos pés à cabeça…

Envelhecer é uma arte. Ao contrário dos animais, a espécie humana vive muito para além da reprodução e continua a desenvolver-se durante a sua existência. Será apenas um factor de risco e não uma doença.

Foram estas algumas das razões que me levaram a comungar ideias nunca pensadas há décadas atrás, porém a minha manhã dos 59 anos será igual à dos 60, que se aproxima.

É esta a imagem que tenho da tia Felecíssima, a quem eu, quando pequenote fazia alguns recados e em troca recebia uns amendoins ou rebuçados e não só…

Quando nasceu a sua Augusta, eu ia a sua casa com alguma frequência e aí era um moço de alguns recados:
-“Traze-me uns guiços”… quero que o lume arda melhor.

A Augusta chorava e logo ela pegava num pano em que deitava açúcar e com uma linha fazia uma chupeta. Remédio sagrado… chupava para regalo da avó que logo exclamava: “isso, minha Augusta”. Espero bem que ela não tenha diabetes, se os tiver fica a saber que foi por amor.

Ainda pequenote, sem escola para frequentar e pouco amigo de andar com as vacas nos lameiros… lá ia outra vez … lá vinha outro recado:
- “Olha, toma lá este dinheiro e vai à taberna comprar-me pregos.”

A distância era pequena e lá ia eu todo contente:
- "Senhor Ernesto, queria este dinheiro de pregos, para a tia Felecíssima."

Nunca tinha visto pregos assim. Trouxe a encomenda que entreguei com um olhar de surpresa. Afinal eram cigarros. Com muito cuidado e prática, a tia Felecíssima passou, suavemente, a língua no papel que embrulhava o dito prego, pegou num tição do lume e acendeu-o. Dadas umas passas continuou as suas tarefas domésticas, sem tirar olho da sua menina.

Nunca tinha visto uma mulher fumar! Isso era coisa de homens e já maduros. Terá sido ela a primeira Matriarca de Rebordainhos, do século passado? Nunca ouvi uma crítica ao seu hábito… Ah! Grande mulher! De trás da serra…

Ora, sempre que eu andava por lá, o recado era o mesmo: “vai-me buscar pregos”.

Na altura eu até nem me importaria, porque não havia televisão, playstation, internet, blogues… mas havia o Mendonça, figura que metia medo a mulheres e crianças. Só ele sabia arranjar foles e albardas para burros, porém quando estava com areia na asa… aquele narigão avermelhado, alto, andar lento, olhar fulminante e os seus apetrechos de trabalho eram suficientes para ter logo medo, porque os mais velhos nos diziam “vem aí o Mendonça que te capa”.

Com medo de encontrar o Mendonça e ficar sem o meu instrumento que muito prezo, certo dia lembrei-me de pregar uma partida à tia Felecíssima…

Como era seu hábito não acabar o cigarro pelos afazeres e cuidar da neta, deixava a prisca no banco ou no fogão, que depois acabava… até nisso ela era poupada. Puxando pela minha imaginação, retirei algum tabaco e meti-lhe cinza. Ah! Vício desgraçado e distracção a minha… acendeu a prisca e logo a cinza lhe foi para a boca, que não a impediu dum grito: “filho da puta, foste tu!” (A Augusta não ouviu).

Suponho que desci os degraus dois a dois e nem o Mendonça me agarrava…

O tempo cura tudo. E como diz o provérbio:”Todo o mundo quer conhecer o paraíso, mas ninguém quer morrer”, também eu continuei a ir para junto da tia Felecíssima, pois nem eu sabia que era a sogra do meu irmão, nem ela dizia que ele era seu genro… lembro-me bem que, com muito carinho, ouvia-a: “vou aquecer estas meias para o senhor António, que está a chegar”.

Nem todos podem ser ilustres, mas todos podem ser bons.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

António Augusto Fernandes...

... o nosso Tonho acabou de lançar um livro e depositou em nós a enorme honra de sermos os mensageiros da notícia.

Há gestos que, de tão gentis, nos sensibilizam ao ponto de nos deixarem sem palavras.

A obra, editada pelo Centro de Estudos Aquilino Ribeiro, é uma colectânia de ensaios fruto dos seus estudos e intitula-se:

AQUILINO RIBEIRO - SOB O SIGNO DA TERRA E DO HOMEM

Na contracapa do livro é o próprio filho de Aquilino Ribeiro quem avaliza a qualidade da análise do António. Diz assim:

Entre os nomes que, desde longe, integraram o Centro de Estudos e que mais contribuíram para a qualidade da investigação que ali tem sido desenvolvida, evidencia-se o do Dr. António Augusto Fernandes. Os seus escritos e as suas intervenções públicas acerca de Aquilino sempre revelaram ampla familiaridade com a obra do escritor e invulgar inteligência para evidenciar como os aspectos circunscritos, que analisava, se integravam coerentemente no mesmo todo e, como tal, deveriam ser entendidos. O livro, que presentemente assina, corresponde a esses registos antecedentes, vertidos agora em moldes definitivos. Não creio que, a partir daqui, seja possível a qualquer investigador ou ensaísta tentar uma abordagem da produção aquiliniana sem tomar em linha de conta a palavra e as opiniões do Dr. António Augusto Fernandes. Ele acumula as qualidades que meu pai prezava nos que dedicam à pesquisa literária: -erudição, discernimento e aquela dose de imaginação necessária para sair dos caminhos que outros já trilharam e, partindo daí, construir uma hipótese de trabalho plausível, cujo desenvolvimento, seguindo uma metodologia lógica, permita chegar mais próximo da verdade.

Eng. Aquilino Ribeiro Machado

Na dobra interior da capa, o professor Henrique Almeida vai mais longe, referindo o valor literário dos textos do António:

Parte significativa da ficção aquiliniana encontra nestes ensaios uma muito rara sensibilidade literária, caldeada com uma sólida cultura humanista. O estilo de António A. Fernandes agarra e seduz o leitor, que se deixa enlevar pela sua escrita cristalina e se rende à arguta análise hermenêutica. A sedutora criatividade que transparece nestes textos serve modelarmente o propósito de conduzir à leitura apaixonada de Aquilino, tal o eflúvio de emoções estéticas que exala de cada página. Só de quando em vez aparecem livros assim, ao nível dos melhores estudos de referência, entre aqueles capazes de entender a portentosa obra artística de Aquilino Ribeiro.

Henrique Almeida (professor da Universidade Católica)

Deixo aqui uma passagem do ensaio dedicado a "O Homem que Matou o Diabo":

Macário percorre, de facto, a sua Estrada de Santiago, mas uma Estrada de Santiago em negativo, seja prque a percorre de Ocidente para Oriente; seja porque do espírito se vai convertendo à carne. É pois um peregrinar de desconversão, de um misticismo virado do avesso.

Cavaleiro não confirmado em graça, qual Lancelote, vai, como ele, sentir o aguilhão das tentações e, fraquejar. É, por isso, extremamente significativo que na sua inábil tentativa de se despojar da ganga mística que ainda o aperreia, Macário se sujeite, em seu operar, ao pendor místico de um amor platónico mal seguro em seu travejamento. Ainda que consciente da missão de que se investira, três vezes cairá, renegando da dama por quem se entrega à Ventura.
(pp233, 234)
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A obra pode ser adquirida no editor (pela modestíssima quantia de 10€):

CENTRO DE ESTUDOS AQUILINO RIBEIRO
UNIVERSIDADE CATÓLICA
ESTRADA DA CIRCUNVALAÇÃO
3504 -505 VISEU

ou:
cear.aquilinoribeiro@gmail.com