
III
ARMINDO ANTÓNIO PAIS
ARMINDO ANTÓNIO PAIS
Os dedos de uma mão devem bondar para contar aqueles que, em Rebordaínhos, não criaram os seus filhos na pouca fartura. A tia Laura e o tio Zé Foguete não fugiram à regra e foi por isso que o Armindo, tal como quase todos os da sua idade, precisou de se fazer cedo à vida, ganhando alguma coisa com que ajudar em casa.
Mal se viu aprovado no exame da quarta classe, largou os livros para ir pelos lameiros guardar os vitelos do tio Frade, o Sr. Manuel Martins, como respeitosamente se lhe refere. Como a tarefa não exigia esforço por aí além e a proibição do trabalho infantil ainda demoraria a chegar, nem ele nem ninguém sentiu que fosse precoce essa introdução na vida activa. O trabalho também não lhe sossegaria o ânimo irrequieto e brincalhão e continuou a ser um espalha-brasas, povo adiante, povo atrás. Depois, o Sr. P.e João, de quem o seu pai se tornaria caseiro anos mais tarde, abriu-lhe as portas, chamando-o como moço ao serviço de sua casa.
Os serviços que as crianças prestavam não eram mais do que uma iniciação à vida adulta, uma forma de as enrijecer e de lhes ensinar o valor do trabalho até que estivessem capazes de aprender um ofício. Assim, aos dezasseis anos, o Armindo sentiu-se apto a aprender a arte na qual fundaria a vida futura e partiu para Rossas, entregue ao saber do sr. Alexandre que, tendo apreciado o trabalho do rapaz, o chamaria ao seu serviço.
Ao Armindo calhou na rifa iniciar-se profissionalmente na pior altura de todas: os anos da revolução de Abril. Não sei se se lembram, mas faltava tudo: o cimento, os tijolos… até os pregos! Não sei foi por causa disso, mas rumou a Bragança como empregado do sr. Emílio Esteves. Bragança, porém, ficava à distância de muitos carreirões de Arufe e o Armindo, criado na liberdade dos espaços da serra, sentia-se entocado na cidade. Nem por mil diabos lá haveria de ficar! Regressou, por isso, a Rebordaínhos e arriscou estabelecer-se por conta própria.
Reunindo os magros tostões que amealhara, lançou-se na sua primeira obra: a reconstrução da casa de sua mãe, a tia Laura. As pessoas da terra, que souberam apreciar o gesto de amor filial, também gostaram do trabalho e começaram a acreditar nele, mostrando a sua confiança nas encomendas que lhe iam fazendo. A primeira, no entanto, chegara de Soutelo Mourisco. Começou-a sozinho e não teria mais de dezanove anos.
Ganhou nome, experiência e o dinheiro necessário para abrir uma empresa em nome individual, a Armindo António Pais que, mais tarde, deu lugar à Construções Pais e Veiga. Hoje possui mais duas empresas, Mármores e Granitos Serra da Nogueira com a qual executa todo o tipo de obras que envolvam esses materiais e a Construções do Fervença, que se dedica ao trabalho com alumínios e PVC e à compra e venda de imóveis. Em linguagem económica diríamos que o Armindo criou uma concentração horizontal de empresas, isto é, associou diferentes segmentos da mesma actividade, de modo a dominar o sector, diminuindo a concorrência e chamando a si os lucros que teria de pagar a terceiros se precisasse de lhes encomendar serviços. Não tirou nenhum curso universitário para aprender estas coisas, mas intuiu muito bem como elas devem funcionar.
Ao todo tem 22 empregados e conta, actualmente, com o auxílio do seu filho Pedro que já é arquitecto. A Ondina, sua esposa, é quem gere os escritórios, sendo a contabilidade feita por gente de fora. A Construções Pais e Veiga é das empresas que mais encomendas tem na cidade de Bragança, mas a sua área de trabalho estende-se a Mirandela e ao Porto. E a França!
A história do Armindo é a história dos vencedores e dos resistentes que não deixaram a terra. A sua casa é a segunda que nos acolhe quando, passado o Navalho, percorremos o quilómetro de saudade até chegarmos à Pátria.
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As casas fotografadas correspondem a duas obras de reconstrução feitas pelo Armindo. A primeira, salvo quem está longe há muito tempo, todos a identificam: é a velha casa do tio Frade e que pertence, agora, à Natália e ao Guilhermino (Sortes). A segunda fica em Rossas.
Mal se viu aprovado no exame da quarta classe, largou os livros para ir pelos lameiros guardar os vitelos do tio Frade, o Sr. Manuel Martins, como respeitosamente se lhe refere. Como a tarefa não exigia esforço por aí além e a proibição do trabalho infantil ainda demoraria a chegar, nem ele nem ninguém sentiu que fosse precoce essa introdução na vida activa. O trabalho também não lhe sossegaria o ânimo irrequieto e brincalhão e continuou a ser um espalha-brasas, povo adiante, povo atrás. Depois, o Sr. P.e João, de quem o seu pai se tornaria caseiro anos mais tarde, abriu-lhe as portas, chamando-o como moço ao serviço de sua casa.
Os serviços que as crianças prestavam não eram mais do que uma iniciação à vida adulta, uma forma de as enrijecer e de lhes ensinar o valor do trabalho até que estivessem capazes de aprender um ofício. Assim, aos dezasseis anos, o Armindo sentiu-se apto a aprender a arte na qual fundaria a vida futura e partiu para Rossas, entregue ao saber do sr. Alexandre que, tendo apreciado o trabalho do rapaz, o chamaria ao seu serviço.
Ao Armindo calhou na rifa iniciar-se profissionalmente na pior altura de todas: os anos da revolução de Abril. Não sei se se lembram, mas faltava tudo: o cimento, os tijolos… até os pregos! Não sei foi por causa disso, mas rumou a Bragança como empregado do sr. Emílio Esteves. Bragança, porém, ficava à distância de muitos carreirões de Arufe e o Armindo, criado na liberdade dos espaços da serra, sentia-se entocado na cidade. Nem por mil diabos lá haveria de ficar! Regressou, por isso, a Rebordaínhos e arriscou estabelecer-se por conta própria.
Reunindo os magros tostões que amealhara, lançou-se na sua primeira obra: a reconstrução da casa de sua mãe, a tia Laura. As pessoas da terra, que souberam apreciar o gesto de amor filial, também gostaram do trabalho e começaram a acreditar nele, mostrando a sua confiança nas encomendas que lhe iam fazendo. A primeira, no entanto, chegara de Soutelo Mourisco. Começou-a sozinho e não teria mais de dezanove anos.


A história do Armindo é a história dos vencedores e dos resistentes que não deixaram a terra. A sua casa é a segunda que nos acolhe quando, passado o Navalho, percorremos o quilómetro de saudade até chegarmos à Pátria.
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As casas fotografadas correspondem a duas obras de reconstrução feitas pelo Armindo. A primeira, salvo quem está longe há muito tempo, todos a identificam: é a velha casa do tio Frade e que pertence, agora, à Natália e ao Guilhermino (Sortes). A segunda fica em Rossas.
Parabéns a esse batalhador que conseguiu chegar à classe do empresariado sem ter que abandonar suas origens...
ResponderEliminarO risco no quadro negro que provocou a ira do professor Rybom não só não o desanimou como parece que até o impulsionou a se lançar na vida dura e árdua da construção civil.
Um abraço.
Gosto especialmente desta família que muito considero.
ResponderEliminarA boa disposição da Ondina, as "tontices" do Pedro, a calma e a simpatia da Olga e a frontalidade do Armindo, fazem com que eu goste muito de todos eles.
Parabéns armindo pela tua família e por tudo o que sempre fizeste por ela.
Parabéns Fátima, pelo belíssimo texto.
Bjos
Olímpia
Parabéns para mais este Rebordainhense de sucesso e também para a cronista que não se esquece de manter viva a chama do terrunho que é nosso e que teima em não se extinguir.
ResponderEliminarAntónio
Esta família é uma das que eu mais gosto em Rebordaínhos. Pobres mas com grandes virtudes! Gosto de todos eles principalmente do “inimigo”. Desculpa Armindo. Estou de acordo com o comentário do EuMesmo. Deste-lhe água pelas barbas aos Professores ! subis-te na vida com a honestidade do teu trabalho e com a ajuda da tua esposa (por quem eu tenho também uma grande admiração) e agora com a dos teus filhos.
ResponderEliminarParabéns Fátima colocas-te aqui o exemplo de uma grande família!
Beijinhos.
EuMesmo
ResponderEliminarPois é: se calhar, foi o desenho dos primeiros alicerces!...
Beijos
Olímpia
ResponderEliminarEstava a ficar desalentada.
Por fim, as vossas palavras começaram a surgir.
Que te deu para entrares como anónima?
Beijos
Tonho
ResponderEliminarEspero que, como a igreja, Rebordaínhos também tenha recebido promessas de vida eterna!
Beijos
Rebordas
ResponderEliminarNão desmerecendo, penso que somos todos de grandes famílias!
Beijos
E também de famílias bem grandes...
ResponderEliminarBeijos
Que é que posso dizer, que não tenha já sido dito?
ResponderEliminarClaro que, tal como os restantes comentadores, também eu sou fã da família deste "inimigo". Também acredito que a amizade que lhes dedicamos,nos seja retribuída por todos eles.
Ah! E gosto especialmente do folar que a Ondina faz!
Beijos a todos
Fátima:
ResponderEliminarDesculpa a ausência mas...
Enfim, sabes como são os finais de anos, não sabes?
Enfim, cá apareci
Beijos
Anónimo
ResponderEliminarÉ isso mesmo (a começar pela minha)! Ah!Ah!Ah!Ah!Ah!
Augusta
ResponderEliminarNem me digas nada! Já não aguento mais conselhos pedagógicos que começam às 9 da manhã e acabam às 10 das noite. Trás d'onte ceei pão duro de segunda-feira!
Beijos
Também eu quero testemunhar aqui o
ResponderEliminarapreço que tenho pelo ARMINDO, um
exemplo de filho, de trabalhador e
chefe de família. Lembro-me bem da LAURA, ainda solteira, conhecida
como "rainha", apesar de sofrer de
um defeito físico, vivia em sua casa com a sua independência para
a sua costura. Lembro-me do tio ZÉ
FOGUETE, do ARMINDO e irmãos.
Um grande abraço para o ARMINDO.
Américo
Pois...Sim, é claro que...De facto, depois de todas as evidencias, nem sei...Talvez se..., no entanto, mas...e...nada, não há dúvidas que, na realidade...
ResponderEliminar....
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