terça-feira, 7 de setembro de 2010

CONTAS

Toda a gente se lembra da conta das três maçãzinhas de ouro. Aqui a deixo, desta vez tal e qual como Teófilo Braga a transcreveu, ouvida em Rebordaínhos, nos seus Contos Tradicionais do Povo Português.

Já que estamos a comemorar o centenário da implantação da República, hão-de perdoar-me a achega: Teófilo Braga, além de notável homem das letras, foi o presidente do primeiro governo republicano (1910) e viria a ser Presidente da República em 1915


AS TRÊS MAÇÃZINHAS DE OURO
(Rebordainhos - Bragança)


Havia três irmãos; o mais novo tinha três maçãzinhas de ouro, e os outros para ver se lhas tiravam mataram-no e enterraram-no num monte. Depois nasceu na sepultura uma cana. Certo dia passou por lá um pastor, que cortou um pedaço da cana pra fazer uma frauta. O pastor começou a tocar, mas a gaita em vez de tocar dizia:

.................................Toca, toca, Ó pastor,
.................................Os meus irmãos me mataram,
.................................Por três maçãzinhas de ouro,
.................................E ao cabo não as levaram.

O pastor quando ouviu isto, chamou um carvoeiro, e deu-lhe a frauta. O carvoeiro começou também a tocar, mas a frauta dizia:

.................................Toca, toca, Ó carvoeiro,
.................................Os meus irmãos me mataram...

Assim foi a frauta andando de indivíduo para indivíduo, até que chegou às mãos do pai e mãe do morto. A frauta dizia ainda:

.................................Toca, toca, Ó meu pai...
.................................Toca, toca, Ó minha mãe,
.................................Os meus irmãos me mataram,
.................................Por três maçãzinhas de ouro,
.................................E ao cabo não as levaram.

Chamaram o pastor, que disse onde tinha cortado a cana. Foram lá encontraram o cadáver com as três maçãzinhas de ouro.

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Guardo uma surpresa para os próximos dias, relacionada com esta conta.

6 comentários:

  1. Fátima

    Muito lindo este conto, eu já não me lembrava, mas depois de ler pareceu-me familiar...
    Fico à espera da surpresa :-)

    Beijos

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  2. Lurdes

    É, do meu ponto de vista, uma história encantadora, que fala da avidez pelo dinheiro que leva as pessoas a cometerem actos inomináveis mas que nos diz, também, que o crime não compensa: os dois irmãos queriam roubar e não conseguiram; mataram e acabaram descobertos.

    É uma história que educa, como deveriam ser todas elas.

    Beijos

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  3. Eu gostava de saber qual a capacidade do teu "disco duro" para conseguires armazenar tanta informação! Bolas!!
    Também eu me lembrei da conta depois de a ler, e concordo contigo na análise que fazes à mesma.
    O crime não compensa... apenas para alguns. Para outros compensa bem...
    Embora imagine qual é a surpresa, cá a espero para a ler bem lida.
    Beijos

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  4. Augusta

    Já lá está, a surpresa.

    Eu lembrava-me bem da conta, mas nem tinha pensado publicá-la não fosse o contacto que estabeleceu comigo o nosso leitor António Leite, que nem é de Rebordaínhos, mas que fez esse favor enorme.

    Beijos

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  5. Olá,
    Esta história faz parte do meu imaginário infantil...era-me contada todas as noites pela minha avó (nascida em 1912-2010)...sei-a de cor até hoje...e senti necessidade de a contar à minha filha...numa espécie de contato afetivo com um passado feliz...
    Como a minha avó já partiu...a curiosidade e a vontade de a recordar, fez-me procurar este conto na internet...fiquei feliz por encontrá-lo. ah...somos do Minho-Barcelos...Obrigada por me fazerem recordá-la. Lanokas

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  6. Lanokas

    Obrigada, nós, pelo seu comentário tão gentil e por nos dar conta de que persiste em manter viva a nossa tradição oral (afinal, o Minho fica ali encostado a Trás-os-Montes). É uma forma muito bonita de imortalizar a memória da sua avó.

    Um abraço

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