terça-feira, 25 de junho de 2013

Passaportes

IV

Mais uma vez peço a quem ainda não respondeu, e conhece emigrantes no Brasil, o favor de preencher a este simples inquérito para que possa encontrar todos (os possíveis) emigrantes. O inquérito pode ser acedido aqui: goo.gl/dtwZs 

Com mais cinco emigrantes elevamos para vinte o número daqueles que tiveram de abandonar em algum momento a nossa terra e atravessaram o atlântico em busca de uma vida melhor.

Por favor, atrevam-se a dar palpites.


1
Nome: Eugénia da Ascenção Pereira
Data do Passaporte: 1951
Nascimento: 1918
2
Nome: Amâncio Augusto Costa
Data do Passaporte: 1946
Nascimento: 1911
3
Nome: António Joaquim Pereira
Data do Passaporte: 1947
Nascimento: 1918
Nota: Natural das Cabanas.
4
Nome: Natália de Jesus Morais
Data do Passaporte: 1958
Nascimento: 1935





5
Nome: Felismina Luísa Machado
Data do Passaporte: 1939
Nascimento: 1907
Nota: Natural dos Pereiros e residente em Salsas(freguesia).




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Podem consultar todos os passaportes já identificados aqui (clicar).
Algumas estatísticas podem ser seguidas aqui (clicar)

quarta-feira, 19 de junho de 2013

FRAGAS [1]

Rebordaínhos é terra cheia de fragas. Decidi-me a criar um registo das mais imponentes, pelas quais todos passámos e às quais trepámos naquela idade em que podíamos pedir meças às cabras sobre quem era capaz de se encarrapitar nos cimos mais difíceis. 

Nem todas terão a dignidade de um nome próprio (ou serei eu que lho desconheço) mas todas, sem excepção, merecem o desvelo de um olhar e, podendo ser, o carinho de receberem a nossa pegada.

Este Junho caminhámos, eu e a Olímpia, pelos lados da Afonsim até ao Lameirão e, depois, por Vila Seco e o Pòrto. Deixo-vos com esses registos e com a promessa de que, em Agosto, procederei a mais recolhas pelo termo.


Próximas da Afonsim:




A magnífica  Torre Queimada




(as primeiras mostram-na de Poente para Nascente. A última mostra-a de Norte para Sul)


Fraga sem nome (Lameirão)



 (com outras "malgas dos mouros", nome que aprendi com o Tonho da tia Lídia)


No Pòrto 


Portentoso afloramento que, de tão grande, só se deixa fotografar das alturas e da distância (compare-se com o tamanho da Olímpia na fotografia abaixo.) A mater  que é a Fraga Grande da Ladeira lá está, omnipresente, a zelar por nós.

Porque a vista é sublime e a terra estava um deslumbramento, no próximo artigo publicarei imagens da paisagem

sábado, 15 de junho de 2013

FRAGUEDO


 Plutão, o deus do submundo, raptou Prosérpina, filha de Ceres. Esta, que era deusa da agricultura, ficou tão triste que deixou de zelar pela terra que se tornou improdutiva e a fome apoderou-se dos Homens. Apiedado de sua irmã Ceres e dos Homens, Júpiter, que era o rei dos deuses, fez um pacto com Plutão: a bela Prosérpina ficaria metade do ano na sua companhia e na outra metade subiria à superfície para poder estar com a mãe. Desta forma, Ceres recuperou a alegria e voltou a garantir a fertilidade da terra. Era assim que os Antigos explicavam as transformações anuais da natureza.

Porque governava o mundo inferior, Plutão era também o senhor da riqueza e seu distribuidor, pois era nos seus reinos que se permitia o crescimento das sementes e consequente abundância das colheitas. Daí o seu nome (Plutão vem do grego “ploutos” que traduz a ideia de riqueza) e também a sua associação aos rituais agrários.

Que tem isto a ver com o título do artigo: Fraguedo? Talvez muito, talvez nada, atendendo a que me refiro às fragas do termo de Rebordaínhos. A mim apetece-me que sim.

Em muitos lugares, os deuses da fertilidade eram venerados cavando buracos nas rochas onde se vertia o sangue dos animais sacrificados, se pisavam uvas e azeitonas, etc. Esses rituais, que se prolongaram por muitos séculos na nossa era, vêm dos primórdios da agricultura.

Várias das fragas de Rebordaínhos apresentam pequenos buracos (15/20 cm de diâmetro), nitidamente abertos por mão humana e é costume designá-los por “lagaretas”. Lagareta/lagar é coisa que, para nós, não faz muito sentido, atendendo a que vinho e azeite são produtos de terras de temperaturas mais brandas. Para quê, então, dar-se ao trabalho de abrir tais cavidades na rocha dura? Só consigo imaginar uma resposta: o culto aos deuses relacionados com a agricultura. E se não tínhamos nem uvas nem azeitonas para oferecer, porque não queimar algumas espigas do bom centeio que colhemos anualmente? E a quem ofertaríamos o holocausto? Para não recuar mais no tempo, certamente a Ceres, a deusa das searas, e Plutão, o distribuidor da riqueza e aquele que faculta o seu espaço para que as sementes possam germinar. Os nossos antepassados tinham motivos para lhes lhes estar gratos. Tal como nós.

Mas Plutão, antes de ser nome próprio da divindade romana, era atributo que os gregos davam a Hades, nome que significa “aquele que é invisível”, qualidade que lhe vem do capacete que os ciclopes lhe ofereceram. O capacete de um deus tem, por força, que ser uma coisa descomunal. Como as nossas fragas?

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(1) No magnífico santuário de Panóias (VilaReal), de que toda a gente já ouviu falar, prestava-se culto a numerosos deuses locais, mas também a outros comuns ao mundo romano, entre eles Serápis (de origem egípcia) e Plutão (aliás, os dois viriam a ser associados). Não estou a querer comparar as nossas singelas “lagaretas” com o esplendor de Panóias, mas a afinidade religiosa parece-me que existe.

(2) Não cabe neste artigo falar do outro lado de Plutão/Hades, o deus que domina o mundo dos mortos aos quais julga e determina se terão uma eternidade serena (nos Campos Elísios) ou torturada (no Tártaro), conforme a vida que tivessem levado.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

"ESTA É A DITOSA PÁTRIA MINHA AMADA" (1)

Hoje é dia de Portugal, feriado que, em boa hora, os republicanos se lembraram de instituir (1925) sob a designação de "Festa de Portugal".  Desde a primeira hora que esta "festa" foi associada à celebração de Camões e da sua obra, uma e outro representando-nos exemplarmente na glória e na desdita. 

Quem faz um País? De quem se socorre uma Pátria para existir e permanecer? A Pátria, às vezes, conta com os grandes, mas é com as suas gentes que contará em todas as circunstâncias. Os grandes, cujo nome a História guarda, nada seriam sem o impulso e a vontade pertinaz de quem nada sabe senão mourejar, mas que tem pela liberdade um amor tão grande como pelo pão do seu sustento.

Fernão Lopes (ultimamente tão citado nesta página), o sábio cronista ao serviço da dinastia de Avis, lembra-nos que foi a "arraia miúda"; os "ventres ao sol" quem primeiro se opôs a D. Leonor Teles e à união com Castela nessa longínqua crise de 1383-85 e que foi o povo de Lisboa que obrigou a burguesia a juntar-se à revolta, condição imposta pelo mestre de Avis para aceitar a chefia. E foram muitas as vezes, ao longo da  nossa História,  que o povo voltaria a tomar nas suas mãos a resolução do nosso destino comum!

N'"Os Lusíadas", apesar de a narrativa se centrar na viagem de Vasco da Gama, é mais do que evidente que o verdadeiro herói é o povo português que só enfraquece quando tem chefes que o desmerecem. Camões percebeu isso muito bem.(2)


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A História não se faz só de momentos de epopeia ou de ruptura. A História constrói-se no dia-a-dia, pelo trabalho constante, pela luta por um futuro melhor. Hoje lembrei-me de partilhar isto convosco. Creio que foi por ter passado estes dias em Rebordaínhos, terra de gente cujos nomes não figuram em compêndios, mas a quem a Pátria deve muito. Àqueles que persistem em viver lá e àqueles que trazem a nossa terra no seu coração, um bom dia de Portugal.
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(1) Camões, Os Lusíadas, Canto III, 21
(2) "Que um fraco Rei faz fraca a forte gente" (Os Lusíadas, Canto III, 138): é com estas palavras que Camões se refere a D. Fernando cujo comportamento foi causa imediata da crise de 1383.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

ARES DA SERRA

O CÃO DO TIO FELIZ

por

ANTÓNIO AUGUSTO FERNANDES


Ó geeraçom que depois veo, poboo bem aventuirado, que nom soube parte de tantos males nem foi quinhoeiro de tais padecimentos!

Fernão Lopes, Crónica de D. Loão I, cap. 148


A Cabecinha era o miradouro de Rebordainhos para o mundo. Na estrema poente da eira da Cabecinha moravam as boas gentes do tio António da Eira. Na estrema de nascente acabava a aldeia e dali alongavam-se os olhos para os longes azulados da Sanabria, já em Espanha, e todo o planalto de vai de Miranda a Mogadouro, todo um ror de terras matizadas em verde e barro que se iam diluindo na tremulina do horizonte. Sempre que meu pai me mandava à tosquia ao Armindo da Eira, não resistia a beirar-me do murete-fim-do povo para o contemplar o sem-fim-do-mundo
Era por aquelas bandas, se bem me lembro, que morava o tio Feliz, cabreiro de profissão já reformado. Dele apenas guardo a difusa memória de um velhito magro e pequeno, arcado sobre uma cajatinha, botas cambadas de couro cru, colete e jaqueta de cotim, em suma, ataviado segundo os ditames da moda para a terceira idade em Rebordainhos. Em passos incertos, apoiado ao porrete, lá vinha ele atravessando o Prado como uma sombra, seguido pelo cachorro que não o largava, indo sentar-se à porta da taberna. Apoiava as mãos sobrepostas à curva da cajata e descansava o queixo sobre as mãos: com todos os vagares do mundo. Porque não tinha concorrência, circunvagava os olhitos miúdos pelo chão à sua volta, com minúcia. Findo o exame, entregava-se à faina de ir arrastando pacientemente, com a ponta da cajata, as piriscas ao seu alcance até junto da biqueira das botas. Feito o montinho, recolhia disfarçadamente o produto da colheita no bolsito tabaqueiro do colete. Descansava uns momentos para não se dar ares de esganado pelo vício dos fortes. Depois sacava de uma mortalha e ia desfazendo uma a uma as beatas recolhidas até perfazer o quantitativo que ele entendia cabonde para um cigarro, magrito e envergonhado. Tais eram os tempos arrenegados! A Segunda Grande Guerra tinha findado havia meia dúzia de anos e as suas misérias faziam-se ainda sentir na magra mantença do caldo adubado com unto e das batatas cozidas com um talo de couve e alumiadas com um pingo de azeite diluído em água do caldo! Um cristão tomado do vício dos fortes nem sequer ao menos avezava os oito tostões para o maço de Kentucky da ordem!

Atão, tio Feliz, como corre essa vida? cumprimentava um que passava.
E o tio Feliz:
O quê? O meu cadelo?! O meu cadelo nem por um conto de réi!
Vinha outro:
Atão, tio Feliz, a apanhar o solinho, Hein!?
O quê? O meu cadelo?! O meu cadelo nem por um conto de réi!
Coitado, surdo como uma porta! Mas, maior que a surdez era aquela estima cega que ele votava ao podengo. Imaginem só: por essa altura a melhor junta de bois da terra tinha sido comprada por quatro contos! O tal conto de réi em que o Tio Feliz avaliava o seu cachorro daria para pagar à roda de uma centena de jeiras a um cavador. Por aqui já podem ver: se a vida corria madrasta para o dono, que apanhava beatas do chão, o que não seria para o rafeiro!
Daí aquele ar desconfiado do cachorro, mais habituado a pontapés (nanja do tio Feliz, claro!) que a mimos: os ossos a furarem-lhe a pele amarelada, de pêlo eriçado das fominhas habituais, pé ligeiro calçado de branco sempre alerta para a debandada.
Quando entregava o dono em casa e o sabia a recato, o cadelo considerava-se forro de suas obrigações e ia tratar da vidinha. Corria a aldeia de lés a lés. Tão depressa se via no bairro do Outeiro como já cirandava pelas quelhas do Covelo, fariscando osso perdido, ou até côdea que fosse! Com toda a sem-cerimónia entrava pelas casas dentro, repassava conscienciosamente os cantos das cozinhas, ia enfiar o focinho no caldeiro da vianda dos recos… daí os pontapés a que se habilitava e com que frequentemente era presenteado. E tal era o à-vontade que ele punha nessas suas andanças pelo povo e metia o focinho em todos os recantos, que o dianho do cão entrou no adagiário da terra. Aquele é como o cão do tio Feliz era dito que se aplicava com toda a propriedade a quem tivesse o feio hábito de andar a meter o nariz em sítios ou vidas que não fossem da sua conta. Será que ainda se usa em Rebordainhos?

Outra moral para esta história do cadelo famélico e de seu dono, o Tio Feliz, acrescida da citação de Fernão Lopes: pese-nos embora tanta crise, já tempos bem piores se passaram. E também estes hão-de passar. Se Deus quiser.


(Este Rebordainhense ainda não estudou o novo acordo ortográfico)

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A fotografia do cão de gado transmontano foi retirada daqui:

domingo, 2 de junho de 2013

Rebordaínhos - Procissão do Corpo de Deus

O Corpo de Deus foi festejado hoje domingo dia 2 de junho, com uma missa e a habitual procissão em volta do povo... já não tinha memória de ver a aldeia com as ruas enfeitadas de flores e verduras (mais verduras pois as flores ainda há poucas floridas, devido ao frio e chuva...) mesmo assim as ruas ficaram muito bonitas como podem ver pelas fotos...