sábado, 31 de dezembro de 2011

ANO BOM

Nada encontro de melhor para vos oferecer do que as palavras de um dos meus poetas de eleição e as imagens das nossas paisagens capatadas no dia de Natal.

Um Ano Bom para todos


Eu desejaria levantar-me levemente
sobre as paisagens que se enchem de chuva
apaixonada.
Desejaria estar em cima, no meio da alegria,
e abrir os dedos tão devagar que ninguém sentisse
a melancolia da minha inocência.
Tanto desejaria ser destruído
por um lento milagre interior.

Cegar com o rosto contra um ramo abrupto
de relâmpagos.
Eu sei. Quero dizer: amo
esta morte no meio da luz, entre crisálidas e gotas,
à noite, de dia -
quando o mês se extingue num supremo amadurecimento
.


HERBERTO HÉLDER, Ou o Poema Contínuo





(No Remisquedo)
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........No alto da Senhora da Serra









No regresso da serra

As fotografias foram tiradas pela minha irmã Olímpia

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

NATAL DE 2011

Há quebras na tradição que agradam a toda a gente. Foi o caso do Presépio deste ano que, à revelia do costume, foi construído sob o púlpito "bem de frente para quem entra", como disse o Sr. P.e Estevinho. A mudança aprouve às mulheres e se elas acham bem, é porque foi bem feito. Uns fardos de palha, algumas telhas velhas e a habilidade de quem sabe foi quanto bastou para dar vida às emoções do Natal. Que lindo estava!






Porque a missa só seria no domingo, dia 25, o dia 24 foi de intensa azáfama: à tarde enfeitaram-se os altares e fizeram-se as roscas (desta vez na padaria do Paulo, que também é mordomo); à noitinha vestiu-se o charolo.

Domingo de manhã, descobriu-se o charolo e as pessoas iam apreciando tudo com minúcia. A missa foi gentil: cantaram-se porfiadamente os tradicionais hinos; deu-se o Menino a beijar e, no fim, arrematou-se o ramo: para os casados.






Não nevou, mas fomos compensados com um dia de sol radioso.

Gloria in excelsis Deo!

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

NATAL de POBRES


Por
ANTÓNIO AUGUSTO FERNANDES

Naquele tempo, no tempo em que éramos crianças e felizes, ‒ vocês lembram-se? ‒ em Rebordainhos nem sempre nevava pelo Natal, mas a carambina e o sincelo eram mais certos que as rocas e os tortulhos pelos giestais. Natal não era música celestial pelas ruas, nem pinheiros a piscarem as suas luzinhas, nem qualquer afã comercial: na aldeia não havia pinheiros e os lumes eléctricos ainda vinham longe. Era sim o ar das madrugadas, a esse tempo já perfumado pelo aroma das alheiras a tostar no borralho. Era o musgo fofo que abundava pelas touças da Cabeça e do Cabeço Cercado, impregnadas do cheiro húmido das folharacas em decomposição e dos roquelhos que espreitavam por todo o lado. E nós íamos em cata desses farrapos espessos de musgo que iriam amaciar de verde-negro a pobreza dos nossos presépios como tapeçarias, mais ricas que as ofertadas por Salomão à Rainha de Sabá. E ninguém nos dizia que era anti-ecológica tal colheita, porque a roda do ano revestiria de novo a nudez das fragas.

Tanto quanto nos mostram em tons de sépia os fiapos que se nos desdobram nos longes da memória, o prato forte da consoada não era bem o bacalhau com a couve troncha, como é por todo lado, que isso, Deus louvado, ia havendo ao longo do ano. Gentes da serra e distantes do mar, era sim a pescada frita e o polvo, aquele polvo curado que vinha do litoral em cestos de cana, seco e teso que nem couratos, e de cheiro forte capaz de empestar a freguesia, mas com um sabor de três assobios.

Também não consta que alguém pusesse o sapatinho junto da chaminé, quer porque não havia sapatinhos, mas sim botas cardadas, saídas da boutique do tio Carlos Sapateiro, e socos ferrados made by Graciano Grilo; quer porque não havia chaminé, que o fumo esvaía-se pela telha vã, depois de perfumar as alheiras cor de âmbar e os salpicões já rosadinhos, a pedirem umas brasitas de carvalho, aquelas brasas olorosas que neles deixavam o perfume que, presumo, deve ser o das trufas que nunca provei. Como prendas de Natal lá apareciam, quando Deus era servido, uns rebuçaditos, uns cigarritos de chocolate, uma laranja provinda da Terra Quente, e viva o velho! Éramos pobres, mas ricos da graça de Deus, como por lá se diz, e éramos felizes sem o sabermos.

Mas a suprema recordação do Natal é a do presépio. Coisa deslumbrante! Quando se entrava na igreja para a Missa do Galo, aquela penumbra de catacumbas ressumava o mistério próprio dos rituais sagrados: as roupas escuras dos fiéis fundiam-se na obscuridade da nave quebrada apenas pelas escassas velas dos altares e no ar pairava o odor acre do fumo das lareiras que impregnara os xailes das mulheres e as samarras dos homens. E o silêncio da noite santa era apenas quebrado pelos catarrais descompassados de toda uma freguesia que a vida trazia sujeita à intempérie e às humidades do relento. Mas o que imediatamente atraía o olhar dos catraios irrequietos era, logo ali à direita, junto ao altar da Senhora do Rosário, a pequena maravilha da colinazita verde do presépio, alumiado pelo clarão envergonhado de meia dúzia de cotos de vela.

É claro que não havia dinheiro para toda aquela parafernália que o Machado de Castro empresta aos seus presépios, que a freguesia era pobre. Mas era simples, e lindo na sua simplicidade! A toda a largueza da colina atapetada de musgo, espalhavam-se ovelhinhas, muitas ovelhas, o elemento preponderante na iconografia natalícia. Ovelhas de muitas proveniências e, por isso mesmo, de todos os tamanhos e feitios: esta deitada, ruminando as coisas da vida, aquela tasquinhando o musgo feito erva, umas minúsculas como berlindes a sumirem-se nos pêlos do musgo, outras tamanhas como vacas, tão altas como os pastores que as guardavam, encostados ao cajado. Alguns dos pastores, mais lampeiros, já se abeiravam da gruta do Menino com a sua ovelhita aos ombros ou seu cesto merendeiro. Algures havia também o imprevisto de um fontanário de cuja bica se desprendia um fiozinho de prata a cair no tanque onde um burrico
fingia beber. Mais lá para trás, na meia encosta, rebrilhava um lago com uma rocha nas suas margens. Havia sempre um lago feito com o espelho que alguma das catequistas (as arquitectas desta maravilha) desenculatrava do caixilho. Para esse lago despenhava-se uma cascata feita da prata dos chocolates e sobre as suas águas vogavam patinhos de cera. Lá mais ao longe, no cimo da colina já se avistavam os três Reis Magos que só mais tarde, lá para o Dia de Reis, haviam de chegar à gruta. E, na sua imponência de reis, apesar da distância, já eram enormes, com os seus camelos ricamente ajaezados e as suas arcas pesadas de oferendas. Avultavam mesmo mais que Nossa Senhora e S. José postados à entrada da gruta, ladeados pelo burrico e pela vaca mocha (que ainda não se conseguira comprar outra de galhadura integral). São José, em pé, arrimado ao seu bordão de viandante, e a Virgem ajoelhada ante o seu Deus incarnado, olhavam com uma ternura infinita o Menino. E Este, de bracinhos abertos, nu e muito rosado sobre as palhas centeias, olhava para nós, seus fiéis contempladores, a abençoar-nos. E nós prometíamos-lhe que havíamos de estudar muito para não apanharmos palmatoadas do Sr. Professor, e havíamos de ir à fonte quando a mãe mandasse… prometíamos tudo, até não correr com os dos Pereiros à lapada.

Cá em baixo, ao longo da fímbria do presépio, alinhavam-se laranjas e malápios onde mãos devotas e pobres tinham cravado moedinhas de tostão e dois tostões ou, mais raramente, uma croa.

E para todo o sempre me ficou na memória olfactiva o cheiro desses tostões. Não sei se já cheiraram o cobre de uma moeda de dois tostões oxidada pelo ácido da laranja. Para mim é, ainda hoje, uma memória de presépio e o cheiro dessa pobreza amorável que sabe partilhar do quase nada que tem.

sábado, 17 de dezembro de 2011

ROSTOS

Aqui vos deixo a fotografia que o Carlitos fez o favor de enviar e que representa a equipa de Rebordainhos que disputou o campeonato do INATEL em 1973/74 (ou seria, ainda, FNAT?).

Os jogadores que me desculpem a numeração, sempre ao calhas. Tenham paciência, não lhes sei os números. No entanto, se alguém fizer muita questão - e me informar - terei todo o gosto em alterar o que for preciso.



1 -Tarcísio Martins
2 - João?
3 - António (Pintassilgo)
4 - Manuel Pais ?
5 - Ferro (de Rossas)?
6 -Armindo Pais
7 - Carlos Pereira (Chedre)
8 - Orlando Martins? Perdigoto?
9 -António Brás
10 -Zé Maria
11 -Carlitos (Chiote)


DIZ-NOS O TONHO BRÁS:

Quanto à ideia de haver numerosos jovens em Rebordainhos, e bons jogadores de futebol, também é verdade... acontece que nem sempre estavam disponíveis... alguns estudavam, fora, outros residiam fora, como era o meu caso... fui inscrito à pressa e como era um torneio bastante importante, outros bons jogadores foram inscritos por nós, o caso do Luis Manuel (ferro) que quase sempre jogava connosco. Os irmãos Fernandes eram bons jogadores, assim como o Filinto, o Evaristo... enfim, quase todos os que estavam nos Salesianos!

Neste dia, era a matança em casa da tia Helena. Comemos à pressa e fomos para Bragança. Primeira má notícia: o jogador do FC Porto, Pavão, faleceu no jogo, com paragem cardíaca. Durante o nosso jogo, o Carlitos caiu sozinho de pés juntos e toda a gente receou o pior... felizmente, recomeçou a jogar sem problemas. O jogo decorria no campo do Bragança, com os do bairro da Mãe-de-Água, quando me ia isolar, fui empurrado, e protestei com o árbitro federado, mas de Bragança. Mostrou-me o amarelo, e perguntou-me se sabia o que era aquilo?
-Sei - respondi. - Então já vai saber o que é o vermelho... O Armindo sai da baliza e vem a correr, empurra o árbitro, e começou uma confusão de pancadaría... não fomos todos parar à "pildra" porque o Tarcísio, furriel no BC3, conseguiu apaziguar (...).


E ACRESCENTA:

Este jogo realizou-se em Dezembro 1973. Era Domingo e o pessoal estava todo abalado... Também decepcionado ficou quem nos inscreveu na FNAT, aqui não tenho a certeza, mas, creio ter sido o tio Jaime, ou o Sr. Profrssor, porque fomos irradiados.Eu só joguei uma vez no campo Municipal de Bragança... joguei em 75 na FNAT pelos do bairro da Mãe de Água, mas jogávamos no campo do então Destacamento de Bragança (bc3)

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

CORRECÇÃO DEVIDA (e agradecimento merecido)

O Tonho Brás fez o favor de gastar do seu tempo à procura de uma fotografia que mostrasse, de facto, o nosso campo da bola. Agora sim, não há dúvidas: com a Senhora da Serra lá ao fundo e o povo a ver-se por entre os jogadores, o lugar não poderia ser outro se não o cimo da Cabeça. MUITO OBRIGADA, TONHO! Já tratei de substituir por esta, aquela com que erradamente ilustrara o magnífico texto do Tonho Fernandes.

Aproveitemos, agora, para proceder ao jogo da identificação dos nossos rostos. Reconheço vários, mas aguardo as vossas sugestões, para esta equipa de 12, onde atribuí o n.º 1 ao tio António Piloto (o guarda-redes que se pusesse à esquerda!...)


1 - Tio António Martins (Piloto)
2 - Duarte (Pacheco)
3 - Guilhermino (Sortes)
4 - Manuel Pais (Lhé)
5 - Ferro (de Rossas)
6 - Evangelista (Carriço)
7 - Armindo Pais
8 - Carlos Pereira (Chedre)
9 - (de Serapicos? de Fermentãos? da Freixeda?)
10 - Tarcísio
11 - Toninho (de Rossas, sobrinho da tia Joana Padeira)
12 - Carlitos (Chiote)



sábado, 10 de dezembro de 2011

NOTÍCIA

Ele não me disse nada, mas descobri que o Tonho Brás Pereira criou a sua própria página. Está aqui. Nela encontramos as suas meditações a par de informações daquilo que vai acontecendo em Murçós, terra perto da nossa e que lhe serve de morada.

O cabeçalho do blog é uma fotografia primorosa da igreja em dia de neve (ou será caroujo?).


Quem quiser anotar, o endereço é este: http://cspslmurcos.blogspot.com/

Ao novel blogger, o blog de Rebordaínhos deseja as maiores felicidades.