quinta-feira, 31 de outubro de 2013

TODOS OS SANTOS

O dia de Todos os Santos existe como "dia santo de guarda" (ou seja: que obriga à participação na missa), pelo menos, desde 1785, ano em que foi decretado pela carta pastoral do Patriarca de Lisboa, D. Fernando de Sousa e Silva. Estava-se no reinado de D. Maria I, sucessora de D. José, rei em cujo reinado aconteceu o horrendo terramoto de 1755 (em dia de Todos os Santos) e o não menor terramoto que foi o governo do Marquês de Pombal, a quem um doido jesuíta, o P.e Malagrida, assacava responsabilidades: o tremor de terra fora castigo enviado por Deus por causa do governo ímpio do ministro. Como se as chamas que devoraram Lisboa não bastassem, o pobre do doido ardeu na fogueira a mando de quem podia.

O dia santo manteve-se até que novo terramoto político aconteceu na nossa Pátria: a implantação da República, em  5 de Outubro de 1910. Apostado em acabar com a religião no prazo de duas gerações, Afonso Costa e seus sequazes decidem abolir as festas religiosas: "Os dias até agora considerados santificados serão dias uteis de trabalho para todos os effeitos" (Decr. 9 de Nov. 1910) e estabelecer festas cívicas. Assim, por exemplo, o 1.º de Janeiro passou a ser consagrado à "fraternidade universal" e o 25 de Dezembro perdeu a designação tradicional de "Natal" e assumiu-se como o dia "consagrado à família". Foram estas as duas únicas datas religiosas a manter-se, embora só autorizadas em função dos novos votos.

A caricatura mostra-nos António José de Almeida (um moderado), que era ministro do Interior, a cortar até os feriados dedicados aos "santos populares". O título da caricatura diz bem do sentimento que se vivia na altura.

O dia santo do 1.º de Novembro (e outros) seria restabelecido, somente, em 1952: um interregno de 42 anos!

Este dia santo é mais do que isso. Não há português, crente ou ateu, que deixe passar essa data, embora para fins bem distintos: aproveitando a proximidade com o dia de finados, é ver as romarias que se fazem aos cemitérios por esse País fora, com as mulheres a enfeitarem as sepulturas da forma mais doce e bela que há, porque é com amor e saudade. As famílias podem não celebrar todos os santos, mas celebram os seus santos e não há festa mais bonita do que esta em que as gerações do presente trazem as gerações do passado ao seu convívio. É como se se reatasse o tempo e a morte deixasse de fazer sentido durante um dia.

Foi esse reatar do tempo e da memória que, mais uma vez, nos foi tirado pelo Decreto-Lei n.º 131 de 2012. Estamos a viver um terramoto económico, social e político. Portugal vive sobressaltado por terramotos. Que sina a nossa!

sábado, 26 de outubro de 2013

APELO

Recebi, da leitora Fátima Ferreira, o seguinte apelo:

Olá boa tarde.
Por favor podem-me ajudar a encontrar uma senhora, Maria de Lurdes Pereira, deve ter a idade ca. 56 anos de idade.
Eu já há muito tempo que a procuro através da Facebook e não a consigo encontrar. Ela quando era pequena ficou órfã, e foi criada num convento de freiras. 
Por favor ajudem me a encontrá-la, para mim era uma grande alegria!
Envio os meus cumprimentos   



Esta é também uma missão do blog: ajudar a encontrar quem a vida separou e ficarei muito satisfeita se tal conseguirmos.


Obrigada a todos e cumprimentos à Fátima

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Passaportes

II
Série B

Regresso com a habitual meia dezena de passaportes da série B. Estes são todos fáceis, por isso podem dar palpites.



1 - António Manuel Neves
Destino: Santos, São Paulo, Brasil
Data: 1927
2 - Adriana Laura
Destino: Santos, São Paulo, Brasil
Data: 1928
3 - Maria da Assunção Martins
Destino: Santos, São Paulo, Brasil
Data: 1928

4 - Francisco Ramos Martins
Destino: São Paulo, Brasil
Data: 1926
5 - José António Martins
5a - Rosinda da Natividade
Destino: São Paulo, Brasil
Data: 1926







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Podem consultar todas as séries de passaportes já identificados aqui (clicar).

domingo, 13 de outubro de 2013

De regresso à apanha das batatas

Há já umas boas dezenas de anos que não tinha esta experiência. Verdade, verdade, o ano passado  porque o mano mais velho plantou algumas, já tinha começado. Mas pouco. Afinal aquilo foi uma brincadeira.
Mas este ano valeu a pena!
 Chegada a Vila Seco, as batatas do Artur estavam praticamente arrancadas.  A malta de Rebordainhos levanta-se cedo e… de manhã é que começa o dia. Acabadas as do Artur, comeu-se a bela merenda que a Ester teve a amabilidade de preparar.
 Depois, ainda em Vila Seco arrancaram-se as do Rafael e, porque era hora de almoço, ficámo-nos por sua casa onde nos esperava um belíssimo repasto digno dos tempos de antigamente.
Tomado o café rumámos até à tregaça. A camarada era grande e bem-disposta.



 A colheita? Não vos digo, nem vos conto! Tenho pena de não ter registado em fotografia os belos exemplares de batatas que ali se desenvolveram. Mas a avaliar pela quantidade de sacas conseguem imaginar, não?




ADOREI este dia. Fez-me lembrar o tempo em que os trabalhos dos meus pais e os do Rafael eram sempre feitos em conjunto. 

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Fragas - 6

1. Desde o início do Verão que andávamos para lá ir. Aliás, desde que ouvira falar dela, não me cansava de  perguntar a Pedro e a Paulo se sabiam onde ficava e se me levavam lá. Pouca gente na aldeia ouvira falar dela; menos, ainda, sabiam onde ficava e, desses, praticamente nenhum se sentia já com pernas para lá chegar. É a Fraga do Teixugo.

2. Aquela que, erradamente, identificara num dos primeiros artigos como sendo a "Fraga do Gato" não é tal (já corrigi no devido lugar) como, muito bem, o escreveu a Augusta.

3. Já desesperava de visitar uma e outra quando, em vésperas de me vir embora, o Toninho Rodrigo me disse: "se queres que te ensine, vai ter à Tergaça que eu não demoro". Quis lá saber que fosse uma tarde abrasadora de Agosto! Chamei a Augusta que também andava mortinha por ir, pelo caminho apanhámos a Cristina (filha do sr. João "Santacombinha") e lá abalámos caminho fora, bem guardadas pelo cão da Maria Albertina. Chegadas à Tergaça, vimos o Rafael e a Ester que nos indicaram mais ou menos o caminho. Como já estivéssemos no Lameirão, a Augusta tentou perceber qual foi o caminho que, há bastantes anos, seguira com o nosso pai até chegar à Fraga do Gato. E descemos porque, para aquele lado, sabia-o bem a Cristina, ficava a "Lameira Longa".

Por que caminhos nos metemos, senhores! Melhor dizendo: em que falta de caminhos nos vimos! Aquilo que, em tempos, fora terra de cultivo, estava transformado num giestal cerrado a perder de vista. Mas, se quem quer a bolota trepa-a, assim o atravessámos nós, até que desembocámos numa touça em cuja borda se podiam observar umas fragazitas de nada. Antes de descorçoarmos, descemos o barranco e aquilo que vimos deixou-nos sem respiração. É tal o ambiente de serenidade que ressuma daquele lugar, tal a paz, tal o apelo à contemplação, que pensei para comigo: este lugar é um santuário!

Estávamos na FRAGA DO TEIXUGO. Compreendem, agora, o hino que escrevi no artigo anterior?


4. A Augusta sabia que a Fraga do Gato não deveria ser longe dali e, penar por penar, lá atravessámos mais um giestal. Também a achámos. É uma fraga enorme, de dimensões próximas das da Fraga Grande da Ladeira, porém, porque metida no meio de uma touça e encostada a um barranco coberto de carvalhos, só quem a pisa lhe consegue descobrir a dimensão. O barranco e a vegetação impedem que desçamos para a vermos de baixo - vista sublime, certamente! - o que é uma pena. É uma fraga lindíssima que tem a virtude de nos fazer sentir no tecto do mundo, porque nos coloca à altura da copa dos carvalhos.

Não sei a razão dos nomes. Ao Abade de Baçal disseram-lhe em Rebordaínhos que, nesta fraga, havia uns desenhos que representavam um gato. O bom do Abade não os descobriu. Nós ainda menos porque a fraga está coberta de líquenes e de musgos (e também não procurámos muito porque a tarde estava a acabar). Havia que regressar. Valeu-nos o cão da Maria Albertina para descobrir passagens menos agressivas por entre as giestas. De novo no Lameirão, vimos grandes setas desenhadas no chão: eram do Toninho que, não nos tendo encontrado, sempre nos queria ajudar a descobrir o rumo a tomar. Para o ano havemos de lá voltar, desta vez por caminhos que nos rascanhem menos a pele.

FRAGA DO GATO


Eu só não percebo é por que motivo eu fico toda emporcalhada e vermelha, enquanto as minhas companheiras ficam serenas e limpinhas...


segunda-feira, 7 de outubro de 2013

HINO (OU FRAGAS - 5)

Salve, divina Mãe
Que existes por nós,
Nos ofereces os frutos
Com que saciamos a fome
E para nós te consagras
Em dádiva abundante:

O pão de todos os dias,
Trabalhado, embora,
Com o suor dos nossos rostos,
Permite-nos os dias da vida
E enxuga as lágrimas 
Dos olhos dos meninos.

                                                                                     As árvores e as flores,
Que são o teu manto de agasalho,
Também nos oferecem o sustento,
Protecção contra as inclemências,
Remédio contra a doença
E, acima de tudo,
Consubstanciam a ideia de perfeição
e de plenitude
Que atestam a tua grandeza,
Nos deslumbram os sentidos
E nos tornam gratos 
Pela tua divindade.




Salve,
Mãe dos animais, mãe nossa
E de tudo quanto à nossa volta existe:

Neste lugar em que te desvendas
E nos mostras as tuas entranhas
Como mulher que dá à luz um filho,
Dirigimo-nos a ti
E saudamos-te como à deusa grande
que tu és.

________***________
A primeira fotografia foi tirada pela Augusta e mostra a Fraga dos Teixugos. A segunda fotografia é da fraga do Gato

terça-feira, 1 de outubro de 2013

PELO TERMO

Largo as fragas, por uns instantes, para falar dos nossos Montes.  

Rebordaínhos é uma espécie de península: está rodeado de montes por todos os lados menos por um, aquele que dá mais ou menos para Nascente, que é por onde passa a estrada que nos liga ao mundo urbano. Durante um século foi a "Nacional n.º 15" paralelamente à qual se construiu o IP4 que,  actualmente, foi transformado na auto-estrada transmontana, ou A4.

Apesar de rodeados deles, para nós "os Montes" são o nome próprio daquela área do nosso termo virada a Sul e que confina com os termos de uma poucas de outras aldeias. Aqueles cabeços eram - e são - propriedade comum e escaparam à sanha arborícola do Estado Novo cujas repercussões na nossa aldeia já foram muito bem contadas pelo Tonho da tia Lídia.

Bastantes anos mais tarde, e com propósitos bem distintos, a pensar numa fonte de riqueza para as populações, dinheiros da Comunidade Europeia permitiram que se elaborassem projectos de florestação de terras baldias, obedecendo a regras claras, nomeadamente, fitossanitárias (plantio espaçado das árvores) de prevenção de incêndios (com a abertura de aceiros) e que determinam, também, a idade mínima de corte das árvores para madeira. A receita obtida reverterá para a junta de freguesia.

Foi num dos mandatos do meu primo Carlos Pereira (que me não leve a mal, mas toda a gente o identificará se eu disser que é o "Chedre") que Rebordaínhos se candidatou e obteve verbas para arborizar os Montes. Porque vivemos em democracia, a parte dos Pereiros não foi abrangida já que os seus moradores se opuseram.

Foi o próprio Carlos quem serviu de guia a umas quantas mulheres que nos alapámos a ele nesta visita por uma parte do nosso termo que nenhuma de nós conhecia. Aqui ficam algumas fotografias tiradas pela Olímpia (à excepção daquela que mostra o grupo). São imagens dos Montes e da vista que de lá se alcança. A Augusta aproveitou para apanhar um saco cheiinho de alcária.