O dia de Todos os Santos existe como "dia santo de guarda" (ou seja: que obriga à participação na missa), pelo menos, desde 1785, ano em que foi decretado pela carta pastoral do Patriarca de Lisboa, D. Fernando de Sousa e Silva. Estava-se no reinado de D. Maria I, sucessora de D. José, rei em cujo reinado aconteceu o horrendo terramoto de 1755 (em dia de Todos os Santos) e o não menor terramoto que foi o governo do Marquês de Pombal, a quem um doido jesuíta, o P.e Malagrida, assacava responsabilidades: o tremor de terra fora castigo enviado por Deus por causa do governo ímpio do ministro. Como se as chamas que devoraram Lisboa não bastassem, o pobre do doido ardeu na fogueira a mando de quem podia.
O dia santo manteve-se até que novo terramoto político aconteceu na nossa Pátria: a implantação da República, em 5 de Outubro de 1910. Apostado em acabar com a religião no prazo de duas gerações, Afonso Costa e seus sequazes decidem abolir as festas religiosas: "Os dias até agora considerados santificados serão dias uteis de trabalho para todos os effeitos" (Decr. 9 de Nov. 1910) e estabelecer festas cívicas. Assim, por exemplo, o 1.º de Janeiro passou a ser consagrado à "fraternidade universal" e o 25 de Dezembro perdeu a designação tradicional de "Natal" e assumiu-se como o dia "consagrado à família". Foram estas as duas únicas datas religiosas a manter-se, embora só autorizadas em função dos novos votos.
A caricatura mostra-nos António José de Almeida (um moderado), que era ministro do Interior, a cortar até os feriados dedicados aos "santos populares". O título da caricatura diz bem do sentimento que se vivia na altura.
O dia santo do 1.º de Novembro (e outros) seria restabelecido, somente, em 1952: um interregno de 42 anos!
Este dia santo é mais do que isso. Não há português, crente ou ateu, que deixe passar essa data, embora para fins bem distintos: aproveitando a proximidade com o dia de finados, é ver as romarias que se fazem aos cemitérios por esse País fora, com as mulheres a enfeitarem as sepulturas da forma mais doce e bela que há, porque é com amor e saudade. As famílias podem não celebrar todos os santos, mas celebram os seus santos e não há festa mais bonita do que esta em que as gerações do presente trazem as gerações do passado ao seu convívio. É como se se reatasse o tempo e a morte deixasse de fazer sentido durante um dia.
Foi esse reatar do tempo e da memória que, mais uma vez, nos foi tirado pelo Decreto-Lei n.º 131 de 2012. Estamos a viver um terramoto económico, social e político. Portugal vive sobressaltado por terramotos. Que sina a nossa!