segunda-feira, 29 de abril de 2013

DESPEDIDA





Descobrimos outro dia o seu rosto ainda jovem. 
Faleceu hoje de manhã, aos 86 anos. 
Era o tio Guilherme, filho da tia "Vermelha", a quem só vi uma vez na minha vida, mas nestes assuntos de família as distâncias não significam menos bem-querer.
É um de nós a menos, mas estará  no céu a rezar pelos da sua terra que trouxe sempre no coração.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

NEM QUE FOSSE SÓ POR ISTO


Ora amarelos, ora verdes, dobrados em partes, deixavam ver no exterior algumas linhas traçadas a negro. Eram os aerogramas.

Chegavam ao ritmo do possível; aflita a espera se havia demora. Lá dentro, algumas palavras calculadamente riscadas no intuito de impedir a leitura do engano ou da mensagem. E nós sem sabermos se fora o autor ou alguém sem nome nem rosto nem corpo, mas tão presente, tão abafadoramente presente, como o medo da guerra e o temor pelos nossos.










Os aerogramas eram lidos com a avidez de quem sacia longa sede. Primeiro baixo, movendo os lábios. Era assim que a mãe bebia cada palavra dos filhos e os outros presentes ficavam suspensos dos rictos desses lábios e das pausas que faziam. No fim, a mãe dizia para uma das filhas: "lê lá tu, alto." E no fim: "Lê outra vez." E em cada leitura pedia que se repetissem passagens, como se quisesse gravar aquelas palavras para ser capaz de as reproduzir para si própria, imaginando a voz dos filhos. Só o pai assumia comportamento diferente: sentado, cabeça descaída, olhar fixo no chão. As mãos cruzava-as sobre os joelhos, para que ninguém visse quando cravava as unhas na carne, a esconjurar a dor.

Nos aerogramas falava-se da saudade e do carinho, perguntava-se pela família, sendo eloquentes pelo que silenciavam e nós nem nos atrevíamos a supor. Calava-se o medo e iludia-se a morte.

Um dia, de madrugada, duas canções: primeira senha, segunda senha. Começara o fim do medo. Não tardaria, aqueles que escreviam os aerogramas diriam, ao vivo, as misérias que viveram, em catadupa, como se tivessem medo de esquecer e quisessem fazer de nós testemunhas.

Bem-haja quem no-los devolveu.

*****
O aerograma amarelo foi retirado
daqui e o verde daqui.


Texto escrito em  25/04/2008

Hoje, podendo, não deve perder a leitura deste magnífico artigo de F. Fernandes no DN

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Passaportes

III

Quando iniciei este levantamento de passaportes não tinha a menor ideia que a comunidade Rebordainhense  no Brasil pudesse ter tão grande dimensão.
Após efectuar as primeiras pesquisas envolvendo familiares e outras pessoas que sabia terem emigrado, cheguei a um ponto em que é necessário realizar um levantamento mais exaustivo de modo a conseguir mais alguns passaportes. Assim, recorro aos leitores do blog para que caso tenham algum parente ou amigo  emigrado no Brasil, e pretendendo que eu procure o seu passaporte, respondam a este inquérito (clicar). Não existe necessidade de se identificarem mas podem fazê-lo na ultima caixa se assim o pretenderem.

Enquanto procuro novos emigrantes, deixo mais cinco para que se associe um nome ao rosto.




1
Nome: Ramiro José Rodrigues
Data do Passaporte: 1956
Nascimento: 1935






2
Nome: Manuel Duarte Rodrigues
Data do Passaporte: 1958
Nascimento: 1931





3
Nome: Berta da Alegria Alves
Data do Passaporte: 1953
Nascimento: 1916

4
Nome: Manuel Joaquim Rodrigo
Data do Passaporte: 1952
Nascimento: 1911


5
Nome: Bernardete de Lourdes Alves
Data do Passaporte: 1958
Nascimento: 1939
Nota: Natural de Sortes.




________________________________________
Podem consultar todos os passaportes já identificados aqui (clicar).

segunda-feira, 8 de abril de 2013

A propósito do artigo "Páscoa Feliz"

Surgiram comentários interessantes na caixa de comentários do artigo "Páscoa Feliz". Por estar em Rebordaínhos, sem acesso à Internet, não pude entrar em diálogo com os comentadores, mas como não quero que pensem que os votei ao abandono, aqui fica aquilo que me apraz dizer:

Um primeiro anónimo escreveu a letra do jogo de roda "Está o freixo caidinho", mas terminou associando-o ao "Farfalhão", motivo que levou outro anónimo a brincar com ele (ou seria ele a brincar consigo próprio?). Daquilo que me lembro, e que pude confirmar com as minhas irmãs, a confusão tem um motivo: trata-se, efectivamente, de duas cantigas diferentes, mas ambas cantadas com a mesma música. Contudo, apesar de todas nos recordarmos da letra completa do "Farfalhão", nenhuma de nós foi capaz de cantar inteiramente a primeira. Deixo a letra das duas, com o pedido, àqueles que se lembrem, de fazerem o favor de completarem a primeira delas e de referirem a coreografia.

          Está o Freixo Caidinho

          Está o freixo caidinho
          c'o peso do passarinho
          ora vai tu, vai tu, vai tu
          ora vai tu meu amorzinho!

          Está o freixo tombado
          com o  peso do orvalho
          ora vai tu, vai tu, vai tu
          ora vai tu meu amorzinho!

Tal como no "Farfalhão", os versos são bisados dois a dois.



                                                             Farfalhão

                                                      Entra o farfalhão ao meio
                                                      Grande data vai levar
                                                      Ai, ai, ai, que não há-de achar
                                                      Oh! com quem casar, oh! com que casar. 

                                                      [Tu queres-me? - Não!]
                                                      Já levaste um cabaço, 
                                                      Dois ou três hás-de levar.
                                                      Ai, ai, ai, que não há-de achar
                                                      Oh! com quem casar, oh! com que casar. 

                                                      [Tu queres-me? - Não!]
                                                      Já levaste dois cabaços,
                                                      Três ou quatro hás-de levar.
                                                      Ai, ai, ai, que não há-de achar
                                                      Oh! com quem casar, oh! com que casar 

                                                      [Tu queres-me? - Não!]
                                                      [Já levaste três cabaços,
                                                      Quatro ou cinco hás-de levar. (etc. até se cansarem)
                                                      Ai, ai, ai, que não há-de achar
                                                      Oh! com quem casar, oh! com que casar. 

                                                      [Tu queres-me? - Sim!]
                                                      Olha a triste viuvinha
                                                      Que já achou com quem casar.
                                                      Nem o noivo tem que vestir,
                                                      Olaré, a noiva, tem que trajar!

Coreografia: escolhia-se um para entrar na roda (apesar de a letra apontar para rapariga, lembro-me de ver rapazes lá dentro). Durante os dois primeiros versos de cada quadra, a roda girava com os pares de mãos dadas. No refrão (ai, ai, ai...) os pares soltavam as mãos e, ao ritmo da música, batiam palmas, ora para um lado, ora para o outro. Quem estava no meio é que perguntava "tu queres-me?" a uma pessoa da roda à sua escolha e o jogo só terminava quando, finalmente, alguém respondesse que sim.
 _____
                                                      
Notas: 
1) Fui obrigada a introduzir, de novo, nos comentários, o reconhecimento de letras e/ou algarismos devido a nova invasão de spam. Peço desculpa pelo incómodo, mas tem mesmo de ser.
2) Agradeço o contributo do primeiro anónimo que respondeu ao apelo do António Fernandes, acrescentando outras cantigas (que publicarei noutro artigo, para não sobrecarregar este). Eu própria já tinha publicado alguns jogos de roda (e até me repito...), como pode ver-se aqui, aqui e aqui. De qualquer das formas, porque o nosso cancioneiro se não resume aos jogos de roda, aconselho a que verifiquem a etiqueta "tradições", constante da barra lateral do blog. E se alguém se lembrar de qualquer cantiga, agradeço que ma envie para que a publique. Tenho a certeza de que todos ficaremos felizes por podermos recordar aquilo que já tínhamos esquecido.