domingo, 26 de maio de 2013

Bruxas [Parte I]



As primeiras bruxas ou feiticeiras a caminhar sobre a Terra datam da época em que a Atlântida e a Lemúria ainda existiam, (muito antes de Rebordainhos). A Princesa Seyfried, que eu conheci, foi uma das últimas rainhas da Atlântida antes da sua destruição, e era conhecida como uma das mais poderosas feiticeiras de todos os tempos.

Após a queda da Atlântida, nas civilizações que se seguiram e após o Dilúvio, as mulheres não ocupavam muitos (alguns) cargos de conselheiras ou sábias, deixando este papel exclusivamente para os homens. As poucas bruxas conhecidas estavam associadas aos templos da fertilidade, dos prazeres e das deusas do amor como Astarté, Vénus, Ishtar e tantas outras.

As Velhas eram bastante temidas por causa de suas terríveis maldições!




As Jovens possuíam o charme mágico e conheciam as poções e elixires capazes de seduzir qualquer homem...






A BRUXA PÉS DE CABRA

Desde que foi resgatada da Torre do Tombo por Alexandre Herculano, a famosa anedota medieval da dona pé-de-cabra, inserida nos Livros de Linhagens dos séculos XIII e XIV, tem provocado indagações em torno da personagem insólita, geralmente associada a estereótipos femininos negativos por sua suposta aliança com o diabo ou pela expressão excessivamente libertária de sua feminilidade. Grande parte dessa fama deve-se à re-textualização da história pelo escritor romântico, num diálogo estilizante, nem paródico, nem parafrástico, que amplificou a narrativa primitiva, interpretando-lhe as lacunas segundo a moral misógina do século XIX. Efectivamente, é difícil ler o texto primitivo sem os ecos da versão oitocentista por onde se disseminam os efeitos da dominação simbólica masculina então em pleno vigor na sociedade ocidental.

MAS PASSEMOS AOS FACTOS

Eu não acredito em bruxas, mas que as há, ai isso há…

Decorriam, penso eu, os anos sessenta, onde ainda se dormia em enxergões enchidos de palha fresca recolhida no tempo das malhas vinda das searas com perfume a campo, os quais eram enchidos por um buraco central, e que iria durar para um ano inteiro.
A palha era escolhida de entre a mais branca e fofa, conhecida como colmo, pois iria servir para o descanso diário dos trabalhadores rurais o que era mais que merecido.

Foi num colchão desses, coberto por um lençol de linho, que me deitei naquela noite, e tinha como cobertura dois ou três cobertores de lã, cujo peso me aconchegava e disfarçava a porta do quarto, que com dificuldade se fechava, e que o cair da noite, com o terminar lento da luz do dia acabava também a vontade de sair e ver o campo…

Mas a luz já era rara, e o medo pueril de sair obrigava-me a ficar atafulhado até ao pescoço nos cobertores que me protegiam…

A ténue luz prateada da lua, que se tornara rainha, reinava agora entre caminhos, trilhos e fendas.

Eu, só naquele quarto, via no tapume das paredes, pelas sombras que geravam, dedos disformes, unhas enormes crescerem com o avançar da noite, e lentamente uma cara vinha surgindo, distorcida pelo tecto de madeira, que com a sua negra cor ia ocupando todo aquele espaço que eu queria que se fechasse.

Cerrava os olhos, tentava dormir, espreitava as sombras que lentamente me estavam a encobrir, lembrei contos e lendas, mas esgotado, deixei-me dormir.

Passados os sonhos e o descanso, ouvi lá ao longe como chamando por mim uns sons que me recordaram a loje de animais anexa à casa.

Era uma porta alta e aberta, sem degraus nem acesso, onde me diziam que as bruxas, noite dentro, bailavam, se divertiam e procuravam almas simples e puras que iriam possuir.

Foi assim que estremeci.

A luz do sol, que entretanto vinha surgindo, apagava lentamente as sombras no quarto que me afligiam desde a noite anterior.

Engano meu. De repente, ouço no soalho da casa um som……………

Tento identificá-lo.

Tac… tac…

Parou.

Eu, recordando o que me disseram, fico muito quieto, embrulhado nos cobertores.

São as bruxas aqui do lado, pensei… E os passos sinistros encaminhavam-se para o meu quarto, tinha chegado a minha vez...

Paulatinamente Tac.. tac… naquele sobrado que servia como amplificador,           cada vez mais me convenci que eram sons de uns pés de cabra.

Era uma das bruxas de que me haviam falado!
Tapei mais a cabeça e sustive a respiração, era o meu fim…

Em casa não havia alma viva que me acudisse…

De repente, num salto que imaginei impossível, sinto os dois pés em cima do meu tronco, do meu peito. O pânico tomara conta de mim! 



Parecia que brincava comigo, ora passo em frente, ora passo atrás.

O silêncio era mortal.

O suor corria por todo o meu corpo, e pensei, seja o que Deus quiser, vou-me libertar disto.

Tinha tomado uma decisão, libertei-me dos cobertores, dei um grande grito e explodi: Deixa-me bruxa!…

Para espanto meu, do cimo da cama saía uma galinha amedrontada que pela manhã tinha ido bisbilhotar aquele habitat.

Para mim foi um dia que nunca mais esquecerei.

Orlando Martins, Maio de 2013

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Georges Moustaki

Era das vozes doces da minha juventude e, creio, da juventude de quase todos aqueles que por aqui vão passando.

 Apetece-me recordá-lo por causa de muitos temas, especialmente este que agora deixo aqui, em que agarra no "Fado Tropical" de Chico Buarque e o adapta para francês, divulgando a alegria e a enorme esperança que foi o nosso 25 de Abril para todos quantos prezam a liberdade. 
  


  



Quem quiser ir cantando, eis a letra (lá para o fim, e para que não restassem dúvidas da paternidade da canção, introduz uma estrofe do original do Chico Buarque)

                  Oh muse, ma complice
                  Petite soeur d'exil
                  Tu as les cicatrices
                  D'un 21 avril.

                  Mais ne sois pas sévère
                  Por ceux qui t'ont déçue
                  De n'avoir rien pu faire
                  Ou de n'avoir jamais su.

                  A ceux qui ne croient plus
                  Voir s'accomplir leur idéal
                  Dis leurs qu'un oeillet rouge
                  A fleuri au Portugal!

                  On crucifie l'Espagne
                  On torture au Chili
                  La guerre du Viêt-Nam
                  Continue dans lóubli

                  Aux quatre coins du Monde
                  Des fréres ennemis
                  S'expliquent par les bombes
                  Par la fureur et le bruit

                  A ceux qui ne croient plus
                  Voir s'accomplir leur idéal
                  Dis leurs qu'un oeillet rouge
                  A fleuri au Portugal!

                  Pour tous les camardes
                  Porchassés dans les villes
                  Enfermés dans les stades
                  Déportés dans les îles

                  Oh muse, ma compagne
                  Ne vois-tu rien venir
                  Je vois comme une flamme
                  Qui éclaire lávenir

                  A ceux qui ne croient plus
                  Voir s'accomplir leur idéal
                  Dis leurs qu'un oeillet rouge
                  A fleuri au Portugal!


                                      Ó musa do meu fado
                                      Ó minha mãe gentil
                                      Te deixo consternado
                                      No primeiro Abril
                                      Mas não sê tão ingrato
                                      Não esquece quem te amou
                                      E em tua densa mata
                                      Se perdeu e se encontrou

                  Débouche une bouteille
                  Prends ton accordéon
                  Que de bouche à oreille
                  S'envolle ta chanson

                  Car, enfin, le soleil
                  Réchauffe les pétales
                  De mille fleurs vermeilles
                  En avril au Portugal!

                  Et cette fleur nouvelle
                  Qui fleurit au Portugal
                  Cést, peut-être, la fin
                  D'un impire colonial.

É engraçada esta última quadra, de que faz bis. Aparentemente, entra em contradição com o refrão do Chico Buarque: "Ai esta terra ainda vai cumprir seu ideal /Ainda vai tornar-se um imenso Portugal" - e, na última vez que é cantado, "Ainda vai tornar-se um império colonial". Esta última forma esclarece, se houvesse dúvidas, aquilo que o Chico pretendia significar: o desejo de que a liberdade recentemente alcançada por Portugal (1974) se estendesse ao Brasil, como se de nova colonização se tratasse. Moustaki traduziu esse anseio de liberdade, desejando que ela chegasse para as colónias do império que Portugal ainda possuía (e à Espanha, e ao Chile, de que recorda os desaparecidos e o estádio cheio de opositores, todos mortos e torturados naquele horrendo Setembro de 1973, entre os quais Víctor Jara; e ao Vietname e a todos os cantos do Mundo de onde fora erradicada). 





domingo, 19 de maio de 2013

Rebordainhos; Maio-2013

Porque não houve disponibilidade para comemorar no dia 13, celebrámos hoje a missa à Nossa Senhora de Fátima. Como habitualmente a gente de Rebordainhos encheu a igreja para assistir à missa e acompanhar a habitual procissão.
Já ontem à noite houve terço seguido da procissão das velas. Terço e missa estiverem lindíssimos, Por isso, um agradecimento especial ao sr. Padre Rocha que acedeu em realizar as duas cerimónias.
Este ano a Nossa Senhora foi assim:
Infelizmente o dia ficou ensombrado pois tivemos a notícia do desaparecimento de mais um elemento da nossa comunidade-a Mavilde da sra Emília e sr. Aniceto que residia no Brasil deixou-nos. Nossa Senhora há-de tê-la junto dela.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

APOTEGMA


Hesitei no título a dar a este artigo: aforismo ou apotegma? Na verdade, são quase a mesma coisa, pois, se um aforismo é uma frase bem pensada, judiciosa, um apotegma é a mesma coisa, embora dita por pessoa ilustre.

Ninguém duvidará de mim se afirmar que o Sr. Alfredo é das pessoas mais notáveis de Rebordaínhos e foi dele que escutei a seguinte máxima:

“Dantes havia-as, mas o padre esconjurou-as!”

Conversávamos sobre bruxas e o Sr. Alfredo saiu-se com aquela frase, que é lapidar, pela síntese perfeita que faz da história religiosa do antes e do depois do cristianismo.

Não fosse eu ter compreendido mal, ainda lhe perguntei:

 Qual foi o padre que fez isso?
 Não sei dizer quem foi, não é da minha lembrança.
 Mas era da lembrança dos seus pais, ou dos seus avós?
 Não! Não era da lembrança deles! Foi há muito tempo, não sei dizer há quanto, mas foi há muito. Olhe, foi há tanto tempo, que não é da lembrança de ninguém!

Não vou discorrer sobre bruxas porque é assunto de que nada sei. Que me recorde (embora haja quem discorde de mim), em Rebordaínhos só eram referidas no “diz que”: “diz que as bruxas queimam os ramos bentos nos caminhos” (embora ninguém me saiba dizer para quê), “diz que fulano ouviu campainhas no cruzamento do sítio tal, e essas campainhas eram as bruxas”, e por aí fora. Não consta que tenham feito mal nenhum a ninguém, muito menos cavalgado os ares sobre vassouras. Em Rebordaínhos, também não acreditamos em “mau-olhado” nem em palermices semelhantes.

Assumamos, por facilidade, que “bruxas” são entidades divinas pré-cristãs cuja acção, de tão enraizada na crença popular, escapou à completa assimilação pelo cristianismo. Creio que não estou a surpreender ninguém se disser que o Cristianismo chamou a si – ao seu calendário e aos atributos dos seus santos – grande parte das competências das divindades pagãs veneradas por essa Europa fora, mormente as do Império Romano (que, por sua vez, adoptara, também, as deidades dos povos conquistados ou permitia localmente o seu culto). Essa assimilação facilitou as conversões à nova religião em que, embora se prestasse culto a um Deus único, se perpetuavam, na prática, os rituais de adoração das divindades pagãs. Com o correr do tempo perdeu-se o motivo primordial do ritual, mas manteve-se o ritual, embora catecismo algum consiga explicar a razão que nos leva a erguer cruzes, ou a erigir nichos de alminhas, à chegada aos cruzamentos, local por excelência para o “aparecimento das bruxas” ou para a queima dos ramos bentos. A História diz-nos, no entanto, que os povos pré-romanos assinalavam os cruzamentos com montículos de pedras, desse modo indicando aos caminhantes (e às divindades?) as direcções principais; diz-nos também que os romanos se apropriaram dessa prática e que passaram a dedicar esses montículos a Mercúrio, o mensageiro dos deuses. Nós erguemos cruzes sobre eles. Aos poucos, os rituais antigos foram sendo endemoninhados e revestidos de características tão malignas que se tornou pecaminoso associar-se à sua prática. A crença pagã escondia-se e a palavra “bruxa”, cuja origem se perde no tempo, ia ganhando contornos de tragédia, talvez porque associada a Hécate, a deusa romana que presidia à magia e às encruzilhadas, lugar onde lhe era levantada uma estátua que tinha a forma de uma mulher com três corpos ou com três cabeças. Será esta a filiação das nossas Alminhas ou das Senhoras dos Caminhos?

E é agora que voltamos à frase do Sr. Alfredo: as bruxas, “dantes, havia-as, mas o padre esconjurou-as”. Aquele “dantes” representa todo o passado politeísta, pagão, e o padre, por metonímia, simboliza o lento processo de cristianização. Na verdade, não é possível afirmar-se quando foi que as bruxas acabaram, mas o verbo escolhido pelo Sr. Alfredo não deixa margem para dúvidas sobre o modo como aconteceu: o esconjuro, ou acto de expulsar amaldiçoando.

Como se comprova, porque proferida por pessoa sábia, a frase do Sr. Alfredo é um apotegma. Eu saio sempre mais rica das conversas que mantenho com ele. Que Deus lhe pague!

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Roubei a fotografia deste artigo do Tonho da tia Lídia.



segunda-feira, 13 de maio de 2013

Parabéns Fátima

Pois é. Já contas com mais um!
Como não posso oferecer-tas pessoalmente, envio-te  estas maravilhas com que o nosso campo nos brinda anualmente. Estas são de Arufe.
Beijos de parabéns.