sábado, 28 de abril de 2012

O PODER DA MÚSICA

Aqui há dias, o meu primo Luís do Brasil contou-me que, estando a sua mãe e minha tia Maria Amélia internada, lhe leu aquelas quadras do entrudo que publiquei. Mal as ouviu ler, ela começou a cantá-las. Emocionou-se ele ao ver e emocionei-me eu ao ouvi-lo contar-me.

É do conhecimento geral a doença que vitimou minha mãe, depois a tia Celeste, o tio António e, tragicamente, tem preso à cama o Evangelista, um dos amigos da nossa idade.

Lembrei-me de todos eles quando, ao ler o Jornal de Notícias, dei de caras com um artigo que me comoveu e que tem o seguinte título: O poder da música em pessoas com Alzheimer e vem acompanhado do segundo vídeo que publico agora. Aqui o deixo transcrito, porque vale a pena lê-lo e ver os vídeos.




Um videoclipe inspirador foi lançado por Michael Rossato-Bennett para promover o documentário "Alive Inside" e mostra a extraordinária terapia musical feita com pacientes que sofrem de Alzheimer ou demência (...).

Visto mais de 2 milhões de vezes, o documentário é narrado por um trabalhador de ação social e pelo neurologista Oliver Sacks e explora a ligação entre a música e a memória dos que sofrem problemas mentais degenerativos.

De todos os idosos entrevistados, um senhor chamado Henry é o que mais se destaca.

Henry, que sofre de Alzheimer, é primeiramente visto na sua cadeira de rodas sem responder a nenhuma questão. Contudo, depois de lhe ser entregue um iPod cheio de músicas e grandes hits dos seus tempos de juventude, Henry rejuvenesce.

O neurologista Oliver Sacks afirma que ele "fica iluminado! A sua cara assume expressão, os olhos abrem-se...ele fica animado com o que ouve.

"Após a conecção com o iPod, Henry inicia uma conversa lúcida sobre o seu amor pela música e o efeito que esta tem sobre ele.

"Dá-me a sensação de amor, de romance. Eu descubro agora que o mundo precisa de música. Têm aqui belas canções", diz Henry antes de começar a ouvir "I'll Be Home For Christmas" de Cab Calloway, que considera ser um dos seus artistas favoritos.

A estreia da mostra do documentário está agendada para o dia 18 de abril no Rubin Museum em Nova Iorque, enquanto que a organização "Music&Memory" de Dan Cohen está a colecionar novos e velhos leitores de MP3 para pessoas idosas nos Estados Unidos.

in JN de 12 de Abril de 2012

Podem ver muito mais no sítio original. É só clicar no sublinhado.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Caminhada Rural em Rebordaínhos


Dando seguimento ao projecto "Bragança Saudável, Bragança Solidária", no dia 14 de Abril realizou-e a caminha anual em Rebordaínhos com o apoio da Câmara Municipal de Bragança e da Junta de Freguesia de Rebordaínhos.

Os participantes concentraram-se no Largo do Prado, onde teve início o percurso em direcção à casa da floresta e depois descemos pelos Vales e terminou na casa da Junta onde nos esperava um almoço. Deixo aqui algumas fotos. Clique na foto para ampliar.

Deixo aqui um desafio: pelas indicações que dei do percurso podem-me dizer onde foram tiradas as fotos?


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Nota: quem tiver facebook pode ver mais fotografias que publiquei lá.

domingo, 22 de abril de 2012

AS NOSSAS PALAVRAS




Scrinium é a palavra latina que designa um armário para guardar livros e documentos importantes. Só os romanos mais ricos possuíam um, como aquele que vemos na imagem da esquerda; os muito ricos deveriam guardar os seus objectos preciosos em armários como o da direita (reconstituição do scrinium do imperador Adriano). Os mais pobres, porque nada teriam para guardar, também não precisavam de ter onde. Ontem como hoje.


Os segredos dos outros foram sempre alvo da curiosidade alheia, sobretudo se sabemos onde eles são guardados! Não sei se estou a abusar da imaginação, mas tenho para mim que, lá para as nossas bandas, o scrinium romano deu origem a um substantivo que também serve de adjectivo, ou vice-versa, e a um verbo: escrinheiro e escrinhar.


ESCRINHEIRO é alguém que vasculha as coisas dos outros, acto feio, impróprio de gente civilizada. É apodo atribuído a alguém, ou que se lhe atira em cara, sempre que quer meter o nariz onde não é chamado: "lá vai o escrinheiro!"; "que queres tu daqui, escrinheiro?"


ESCRINHAR é um verbo curioso, pois precisa sempre de auxiliar para ser conjugado. Eu escrinho, tu escrinhas, ele escrinha... não bate certo; porém, já é gramaticalmente correcto estar/andar a escrinhar; ir a escrinhar ou ver/ouvir/sentir a escrinhar. Por questões de vergonha ou honradez, escrinhar é verbo que só se aplica aos outros, por isso sempre o ouvi conjugado para o tu, o ele, o vós e o eles. Eu e nós é que não!

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Mais uma vez agradeço que, por favor, me corrijam ou acrescentem coisas àquilo que escrevi.

sábado, 14 de abril de 2012

QUEM NÃO SE LEMBRA?


Depois de arrumada a cozinha do almoço pascal, as raparigas corriam para a eira onde os rapazes já se entretinham a jogar à panela. Começavam, então, os jogos de roda, folguedo que durava até findar a tarde, em tripa forra de alegria que fizesse esquecer os rigores quaresmais. Guardiães da tradição, os mais velhos assistiam, incentivando a que se dançasse e cantasse com garra, enquanto os mais novos, em rodas mais pequenas, iam reproduzindo aquilo que viam, para poderem fazer bem quando chegassem à idade. Que me lembre, os pequenos só eram integrados num das danças, talvez porque o assunto fosse religioso e eles fizessem lembrar o menino Jesus:

Eu também sou lavadeira
Lavo no rio Jordão
Quando estou a lavar
Aparece-me S. João.

Nossa Senhora chamou-me,
Chamou-me eu vou com ela,
Ela é minha madrinha
E eu sou afilhada dela.


Nossa Senhora faz meia,
Faz meia feita de luz
O novelo é Lua cheia
E as meias são para Jesus.

Nossa Senhora é uma rosa,
O Menino é um cravo,
S. José é jardineiro
Desse jardim tão sagrado.

Lembram-se? Eram duas rodas concêntricas: os mais novos dentro, os mais velhos fora. De mãos dadas, as rodas iam girando durante os dois primeiros versos das quadras (bisados); ao terceiro verso, os de fora aproximavam-se e unificavam a roda, pondo os arcos que os seus braços formavam sobre o peito de uma criança da roda de dentro. Ao quarto verso soltavam as crianças e recuavam (estes versos e respectivos movimentos também eram bisados). Depois recomeçava tudo.

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Contrariamente a esta, a esmagadora maioria das canções tinha carácter profano, celebrando uma memória que vem dos confins dos tempos: a ressurreição da natureza, de que o ser humano é parte inteira e actuante. É por isso que as nossas cantigas falam de amores e de casamentos, em harmonia com aquilo que sucede com os outros seres que nos rodeiam:

Oh que festa nós fairemos
Quando nos formos casar
E os sinos da nossa aldeia
Tocarão até rachar

E a sineta faz dlim, dlim
E o sino faz dlim, dlim, dlão
E a rabeca zirra, zirra
E o violão faz dlão, dlão, dlão

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Se tu és o meu benzinho
Dá-me cá os braços teus
Se não és o meu benzinho
Ora vai-te embora, adeus, adeus!

Nesta faziam-se duas filas paralelas, uma de rapazes e outra de raparigas. Antes de começar, alternadamente, eles ou elas distribuíam entre si, e em segredo, os membros da outra fila. Depois, cantavam todos as duas primeiras quadras. Supondo que tinham sido as raparigas a fazer a distribuição, eram os rapazes que tinham de ir tentar a sua sorte. Um deles dirigia-se a uma rapariga e perguntava-lhe: “tu queres-me? E os dois davam uns passos de dança enquanto cantavam a terceira quadra. Se tivesse acertado, rapaz e rapariga trocavam de fila; se não, ambos voltavam ao lugar original. Este jogo de roda só terminava quando o último rapaz acertasse com a última rapariga. Depois repetia-se, cabendo dessa vez às raparigas perguntar “”tu queres-me?”

E assim se faziam alegres os nossos dias. Outras cantigas reservo-as para outros artigos.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

PÁSCOA


Hoje resta-me, tão-só, alento para vos deixar uma breve reportagem fotográfica destes dias passados em Rebordaínhos.

Março terminou como começou: seco e quente. Confesso que me fez bastante impressão chegar à nossa terra, onde a Primavera tarda a vicejar, e encontrar tudo florido, como se fosse Maio ou Junho.

Em breve, no entanto, algo mudaria: a neve e um frio intenso visitaram-nos três dias seguidos, como que a dar alento à esperança.

Mais inspirada do que eu, a Olímpia escreveu: "Foi mesmo diferente, esta Páscoa. Após uns dias quentes para a época e o precoce despontar das flores, o tempo presenteou-nos com uma beleza rara:uma chuva de pétalas brancas invadiu-nos e, como por magia, acarinhou todos os habitantes."






No sábado de Aleluia voltou o bom tempo e a Igreja foi embelezada recorrendo à singeleza de giesta e à muita arte de quem tudo sabe imaginar e compor: à minha Augusta, à Alzira e à Fernanda se deve a beleza que podeis testemunhar.

A Augusta acrescentou, e bem: "não posso deixar de te chamar a atenção para a falta de um nome: o da Tilinha, para além de todas as outras pessoas que estão sempre presentes, semana após semana ao longo do ano todo, como sejam a Áurea, Lúcia, Lurdes e, este ano, também a Maria. Enfim, todos aqueles que mantêm o gosto por continuar a oferecer a todos o prazer de uma igreja bem cuidada."






Sem jogos de roda, nem jogo da panela, o domingo da Ressurreição decorreu com as cerimónias religiosas e a festa das famílias. Hoje foi a visita pascal, mas já não a pude presenciar.