terça-feira, 24 de setembro de 2013

Passaportes

I
Série B

Vou dar inicio a uma nova série de passaportes. Isto porque a fonte e o conteúdo dos passaportes são diferentes, o que de forma inerente, torna o objectivo também ele distinto.

Assim, na série anterior (que vou chamar de Série A) foram apresentados 25 passaportes (podem consultar as estatísticas actualizadas aqui(clicar)) com as seguintes características:
Destino: Brasil
Datas extremas: 1900-1965

A nova série que inicio (que vou obviamente chamar de Série B) apresenta-se assim:
Destino: Qualquer país
Datas extremas: 1844-1928
Problema: Sem fotografia (raramente tem).

O desafio que vos lanço é apresentando o passaporte, identificar laços familiares, enquadrando assim estes emigrantes (alguns temporários) com rebordaínhenses mais recentes. Alguns serão certamente fáceis de identificar, de qualquer modo aguardo palpites para todos. Como os passaportes são manuscritos, se alguém tiver alguma dúvida sobre o conteúdo, é só dizer.

1- Pedro Caminha
Destino: Província de Corunha, Espanha
Data: 1868
2 - António Maria
Destino: São Paulo, Brasil
Data: 1923
3 - José Hipólito
3a - Domitila Justina Martins
Destino: Santos, São Paulo, Brasil
Data: 1926


4 - António de Deus
Destino: São Paulo, Brasil
Data: 1927

5 - Maria do Rosário Lino
Destino: Santos, São Paulo, Brasil
Data: 1928







________________________________________
Podem consultar todas as séries de passaportes já identificados aqui (clicar).

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

FRAGAS - 4

Na verdade, tudo deveria ser filmado, porque as fotografias transmitem, apenas, uma imagem ténue do espaço sublime com que a Providência nos presenteou.

Quem segue da Tergaça para o Lameirão tem, da parte de cima do caminho, uma série de fragas a que não conheço o nome. Talvez o não tenham, porque se as fossemos nomear a todas não haveria nomes cabonde. As fotografias que agora partilho foram tiradas num passeio matinal que dei com a Olímpia, a Lurdes do tio Hermínio (e alguns amigos dela) a que se juntou o Zé Tomé (da Maria Emília), que se mostrou um exímio conhecedor dos atalhos e das próprias fragas. Essa manhã não deu para mais e as tardes deste Agosto estiveram tão quentes que foi impossível contar com elas para se sair de casa.

 Neste artigo não mostro aquelas de que já falei e que se podem ver no mesmo caminho (a Torre Queimada, por exemplo).

Para não sobrecarregar o artigo, publico, apenas, imagens representativas dos grupos em que as arrumei, embora possam ver todas as fotografias nesta página.

A MONTANTE DA TERGAÇA


NO LAMEIRÃO



COMPLEXO DA LADEIRA

Designei este espaço como "Complexo da Ladeira" porque, como se devem lembrar, todo aquele monte está povoado de fragas, cada uma mais linda do que a outra. Do cimo das mais altas avistam-se todos aqueles afloramentos rochosos e quase se suspende a respiração pelo respeito que nos infundem. Estas duas fragas, a mim, parecem-me cachorrinhos aninhados...

A FRAGA GRANDE DA LADEIRA

Embora falte visitar muitas, ainda há mais para mostrar dos passeios dados este Verão. Assim que tenha tempo, porque essas merecem tratamento especial.


domingo, 15 de setembro de 2013

FRAGAS - 3 -


Perdoem-me a miséria da fotografia, mas quando a tirei não tinha intenções de escrever o artigo. É a

FRAGA DA JUSTA

Fica situada no sopé do Cabeço Cercado, na sua vertente virada a Norte. Quem sai de Rebordaínhos e se dirige aos Montes é impossível não topar com ela.

Só este ano, em conversa com o meu primo Rafael, soube o nome dela. E que nome, que tanto me tem feito pensar! A palavra "Justa" tanto pode ser adjectivo (uma decisão "justa") como pode ser substantivo, caso para o qual me inclino porque, para ser adjectivo, precisaria da referência que quer qualificar (mulher justa, compra justa, etc.).

Como substantivo, a palavra pode ter vários significados: 

Justas eram, na Idade Média, uns jogos /combates em que dois cavaleiros se enfrentavam, cavalgando um contra o outro, erguendo as suas lanças, cada um tentando derrubar o adversário. Era assim que, em tempo de paz, se treinavam para a guerra.
     Aquele caminho estreito que desemboca na fraga adequa-se bem a uma justa, mas sobeja-me uma dúvida: e onde é que nós tínhamos nobreza para que lhe dedicássemos um espaço para ela se treinar? Na verdade, não tínhamos. Rebordaínhos era terra de gente livre. Deitei fora esta hipótese.

Justas eram, também, os vasos "ou pequenos pichéis, onde se lançava o vinho para cada um dos convidados para a mesa. Estas justas foram igualmente de vidro, ouro, prata, etc., e não tinham medida certa e determinada, como hoje se experimenta nas taças e copos" (Viterbo, Elucidário. Pode consultar aqui). Creio que toda a gente concorda que é significado a pôr de parte.

 Levantei a hipótese de "justa" poder ser a derivação regressiva de "justar", verbo que tanto usávamos. Quantas vezes ouvi o meu pai dizer: "justei a segada", "justei a venda da vitela", etc. Justar é, pois, contratar e, por conseguinte,  "justa" seria um contrato. Lembrei-me logo dos Zelas e dos contratos que firmavam entre si e o meu lado romântico deixou-se seduzir: aquela fraga seria o lugar ideal para assinar um pacto de hospitalidade com os vizinhos. Ou, pior, o lugar em que teriam justado com os romanos a sua rendição. O meu coração continua a pender para este lado, mas a verdade é que nunca ouvi nem li a palavra "justa" usada com tal significado e "justar" quer dizer combinar o preço. Por muito que me custasse, tive que abandonar esta suposição.

 Justa, se aceitarmos que vem do Latim "juxta", refere-se a algo que está muito próximo. Por exemplo, o termo dos Pereiros está justaposto ao de Rebordaínhos, isto é: os dois termos estão encostados um ao outro. Não me parece crível que a palavra se refira à proximidade entre a fraga e o Cabeço: qualquer fraga está perto de alguma coisa, pelo que esta não é diferente das outras.
         
  Sobra a possibilidade de ser ali, naquela fraga, o ponto de contacto entre os termos das duas aldeias. Actualmente isso não é exacto, mas não foge muito à verdade. Será este o real significado do nome da nossa fraga?


terça-feira, 10 de setembro de 2013

ECOS DO MEU SENTIR -X-

Não lhe dês um pássaro, ensina-o a caçar.


Por: FILINTO MARTINS



                         «Está o lascivo e doce passarinho
                         Com o biquinho as penas ordenando,
                         O verso sem medida, alegre e brando,
                         Despedindo no rústico raminho.
                         O cruel caçador, que do caminho
                         Se vem calado e manso desviando
                         Com pronta vista a seta endireitando,
                         Lhe dá no estígio lago eterno ninho.»
                                                                                       Luís de Camões

            Dos tempos da minha meninice recordo-me de grandes caçadores – o tio Moreno, espingarda debaixo do braço, um cigarro no canto da boca e sua cadela perdigueira, perito na caça às perdizes… o Zé Tiago que cedo foi para terras de Santa Maria… o tio Manuel Frade, com faro apurado para coelhos e lebres, com o furão escondido debaixo do casaco, não fosse ele o regedor… meu pai que era o seu comparsa, quer na caça quer na sueca, naqueles dias de névoa “como boca de lobo”, com um galgo que teve uma morte infeliz… e tantos outros que caçavam mais no prato que no mato.
            A caça era algo importante, ora para satisfazer os desejos da carne e nada melhor que um produto biológico, ora para matar o tempo. Hoje é um desporto para ricos, naquele tempo a finalidade era bem outra.
            Havia no entanto outros caçadores, sem arma nem furão, mas com uma visão apurada e atenta ao voo dos pássaros para os seus ninhos, onde as pequenas crias de bicos abertos estavam sujeitas à “ave de rapina humana”.      
            Tempos que já lá vão, trabalhava-se nos campos, à jeira e a seco, pois era bom poupar uns tostões para ir à feira comprar umas botas, um reco …. Com frequência ouvia de meu pai uma história a respeito dos “indefesos”, que lhe dava um prazer em repeti-la.
À hora do almoço que se levava par o campo, cada um ia-se dispondo da melhor maneira, sacando do seu manjar, sacudindo as moscas, que também elas apareciam sem serem chamadas.


«Destapámos o cesto de D. Esteban donde surdiu um bodo grandioso, de presunto, anho, perdizes e outras viandas frias, que o ouro de duas nobres garrafas de Rioja aquecia com um calor de sol andaluz.»
Eça de Queirós

            -Ai, senhor Adriano! – exclamou o Conicho.
            - O que foi, homem? – Retorquiu meu pai, pensando que se tinha esquecido de algo.
            - A minha mulher não meteu os passarinhos…
            Da sua ementa fazia parte uma omelete, com o possível recheio de uns passarinhos que ele teria surripiado a uns pobres e indefesos. Que amargura! Enquanto cavava as batatas já ele salivara que nem o cão de Pavlov… agora comia a omelete de “xixa” gorda e com o pensamento bem distante as palavras saíram-lhe em surdina: “a minha mulher comeu-me os passarinhos”.

«No século XVIII, os monges de Belley, como outrora os sacerdotes em Mênfis, guardavam em segredo os princípios da ciência e o verdadeiro método de comer passarinhos.»
                                                                                                                      Lucien Tendret

            Era precisamente nesta altura que a ganapada, e não só, gostava de depenar as pobres avezinhas e satisfazer os apetites, ora numa rica omelete, ora num arroz malandrinho. Que outros prazeres havia? Muito poucos, pois as cerejas ainda verdes não atraíam homens, nem gaios.
            Se na Primavera e Verão o tempo ainda ia passando, pois os trabalhos eram muitos e não havia muito para pensar, o mesmo não sucedia no Inverno. A passarada ia para outras terras… apenas os pardais, sempre desconfiados tentavam aqui e ali roubar os grãos de centeio das galinhas.

«…os rouxinóis os fez Deus para cantarem e não para serem cozinhados em plangana e comidos, dizendo ainda por cima os comensais, a palitar os dentes, uns, que estavam bons, outros, que não prestavam…»
António F. de Castilho

            No Inverno ouvia com frequência uma outra história que meu pai muito gostava de relembrar. Eram vários os trabalhadores sazonais e outros que no tempo da guerra civil de Espanha se deslocavam para o nosso país. Ele assim narrava uma história passada à noite, quando os patrões já estavam deitados:
            - Meu amo, as perdizes del monte têm rabo?
            - Não.- Respondia-lhe o amo.
            - Esta, com o que tem de gordo, até o tem depenado. Assar e pingar, desta meu amo não há-de provar.
            - Ó meu amo, as perdizes del monte têm rabo?
            - Não.
            - Assar e pingar desta meu amo não há-de provar.
            - Ó meu amo, eu me marcho…
            - Ó mulher vai ver o que tem o criado… ele está mesmo mal.

            Não sendo eu espanhol, sabendo distinguir um perdigoto dum sapo, o que não sucedia com o dito espanhol, tentei ser um bom caçador de pardais, para ocupar os tempos de Inverno, tendo como companhia o meu sobrinho Orlando.
            Foi num desses dias de Inverno, que do Outeiro nem o Prado se avistava, que fixei os pardais no quintal a comer os grãos de centeio que minha mãe deitara às galinhas. Segredei para o meu sobrinho, como o Pilatos me ensinara a descobrir os ninhos de melro, quando andávamos com as vacas nas Bouças: “vamos ser caçadores sem espingarda nem furão”. Lá nisso o meu companheiro boieiro era um ás, como era na arte de ensinar a “capar grilos”.
            - Vamos ser mais espertos que os pardais, Orlando!
            - Como?
            Não havia tempo para explicações. Arranjámos baraços que atámos de forma a obter uma corda que desse para puxar de longe a porta do galinheiro, deixando-a entreaberta. Na entrada deitámos uns grãos de centeio, como isco, e dentro bem mais. De longe, quietos, vigiávamos os desconfiados que comiam o grão que ficou fora e depressa levantavam voo. Era preciso ter paciência… olho atento, silêncio… apenas o barulho das pingas que choravam das telhas. Até que enfim, acabou o grão fora, agora só dentro do galinheiro. Alguns entravam e imediatamente saíam desconfiados, poisando na rede que circundava o galinheiro. Como nada acontecia, voltam a encher o papo lá dentro… agora eram mais que as moscas. Foi neste momento que o baraço foi puxado e ficaram trancados dentro do mesmo. Era preciso entrar rapidamente e fechar a porta para os caçar à unha. A luta dentro era desigual, porém ao fim de pouco tempo já tinha em poder vários a que de imediato se apertava o pescoço, embora com as “botas engraxadas” tinha valido a pena.
            Agora era depenar, depenar… que muito aborrecia a Lúcia com tanta pena por ali espalhada.
O Orlando aprendeu, mas não comeu… caçou, depenou, destes ele não provou. 

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Nossa Senhora da Serra

De 30 de Agosto a 7 de Setembro decorrem as novenas da Nossa Senhora da Serra. O povo de Rebordaínhos (e não só...) é muito devoto da Senhora e, tal como em anos anteriores, miúdos e graúdos esqueceram-se do calor e peregrinaram rumo à Serra. 
O passeio é longo e com algumas subidas, mas é prazeroso fazê-lo!!! O encanto da natureza, o vislumbre da paisagem, o cheiro da floresta, a paragem obrigatória na fonte para refrescar e recuperar forças, as conversas partilhadas no percurso e toda a alegria que se sente, fazem desta caminhada um verdadeiro encontro connosco e com Deus!

O Juan  fez a reportagem fotográfica:



 Já se avista...

A alegria da chegada!!!

E no final da novena tem lugar a procissão que contorna a capela de Santa Teresinha.



No dia 8 de Setembro é a festa em honra de Nossa Senhora da Serra. Todos os ano, neste dia, acorrem ao Santuário centenas de peregrinos para louvar a Mãe de Deus. As fotos ilustram isso...








sábado, 7 de setembro de 2013

ADIVINHA

Como o sol ainda aperta e não apetece fazer nada que exija muito esforço, deixo-vos com esta adivinha, como  passatempo de fim-de-semana:

Qual a fraga, qual é ela
que nos mostra o presidente Carmona,
de perfil, talhado nela?



quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Visita Pastoral (continuação)

Atrevo-me a completar o post do Rui com um vídeo que o Juan fez.


segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Visita Pastoral

O primeiro dia de Setembro de 2013 ficou marcado pela visita pastoral do Bispo da diocese de Bragança-Miranda, D. José Cordeiro à nossa paróquia de Santa Maria Madalena de Rebordainhos (Integrada na Unidade Pastoral do Divino Senhor da Agonia).

As fotografias na sua totalidade podem ser consultadas aqui (clicar).

Esta visita, para além da simbologia que encerra, merece-nos uma profunda reflexão. No programa da visita pastoral, entre muitas outras palavras, podem ler-se as seguintes: 
…Não é o Bispo o centro da visita, mas sim Cristo. A Ele temos de olhar para abrirmos o coração, a vida, a porta das nossas casa, das nossas paróquias, dos lugares de trabalho, de estudo e de sofrimento.
A visita que vos farei como Bispo deve-nos fazer crescer em fraternidade, para fazermos da Igreja uma família onde se acolhe e se ama” (José Manuel Garcia Cordeiro, 2013).
E, sem bem prometeu, melhor cumpriu. E o povo aderiu, da melhor forma que sabe e pode e, como é habitual na nossa terra, abriu as suas portas, no meu entender representadas pelas belíssimas igrejas dos Pereiros e de Rebordainhos e pela capela de Stº André em Arufe, bem como pela junta de freguesia. Acrescentou ainda ao que estava previamente programado, uma visita àquele lugar tão belo que é Teixedo. Visitou lugares de trabalho e estudo. E quanto trabalho não tiveram (e ainda têm) os nossos pais para que nada nos faltasse. De estudo porque, afinal, foi na nossa terra que nos iniciámos na nossa vida de estudo que Rebordainhos tão bem soube entender (lembremos a quantidade de licenciados existentes na freguesia). Visitou lugares de sofrimento, representado na minha prespetiva pela visita ao cemitério.
Para além disso, nas simples mas reflectidas palavras que nos ofereceu em homilia, muito nos ensinou e fez pensar acerca daquele valor que fez o favor de recordar. O valor da HUMILDADE.
Para além de muitas outras coisas, retive aquela citação que fez acerca de uma definição de humildade. Santa Teresa de Ávila disse “ser humilde, é andar na verdade”. E quão humildes e mais felizes não seríamos, se todos andássemos na verdade!
É minha convicção que esta visita nos fez crescer (ainda mais) em fraternidade.
Augusta Mata

De forma a "colorir" esta notícia, partilho algumas fotos (meramente ilustrativas) identificando alguns momentos chave do dia:

Preparação do convívio (Rebordainhos) 31 de Agosto à noite
    
A população que sempre se mostra presente para contribuir com a sua ajuda, mostra a verdadeira comunidade que é Rebordainhos. E que quem esteve presente agradece a sua solicitude.






Arufe

As "três resistentes" como D. José se lhes dirigiu abriram as portas da capela de Santo André para o receber.







Teixedo

Este vale, que é pedaço de paraíso, não deixou D. José indiferente perante a natureza que o rodeava.







Pereiros
D. José foi recebido com imensa alegria pelas gentes dos Pereiros.








Recepção em Rebordainhos (fotos de Juan Feligueira)










Eucaristia e visita ao cemitério (fotos de Juan Feligueira)









Almoço Convívio (fotos de Juan Feligueira)


Cozinheiros (foto de Juan Feligueira)
Também aos cozinheiros uma palavra de agradecimento por preparem um manjar de alto nível, e sempre transmitindo a sua boa disposição .