domingo, 27 de fevereiro de 2011

COISAS PARA PENSAR

Isto nada tem a ver com Rebordaínhos, mas há coisas que gosto de partilhar. Hoje trata-se da Líbia.

Temos ouvido falar da Cirenaica, província Líbia onde se iniciou a revolta contra o déspota Kadafi (vá lá alguém saber escrever-lhe o nome: pelos vistos, o dito assina-se segundo trinta maneiras diferentes, ou mais!). O nome da província vem-lhe da mais importante das cinco cidades localizadas naquela península: Cirene, fundada por colonos gregos de Tera, algures no séc. VII a.C.

Os tempos correm e os impérios passam. No séc. II a.C., Cirene estava integrada no império dos Ptolomeus do Egipto e a Palestina no império Selêucida da Síria, sendo ambos fragmentos das vastas conquistas de Alexandre Magno. Nesse tempo vivia na Palestina, provavelmente em Jerusalém, um judeu natural de Cirene – Jasão de Cirene – que escreveu cinco livros cujo conhecimento chegou até nós através de um anónimo que os compilou num só: o “II Livro dos Macabeus” que integra o Antigo Testamento da Bíblia católica. Esse livro relata a luta dos judeus contra as tentativas levadas a cabo para lhes fazer perder a sua fé e tradições, contando a potência dominadora com a colaboração activa e entusiástica de alguns judeus, como se pode constatar pela transcrição seguinte:

Jasão matou sem piedade os seus próprios concidadãos, esquecido de que uma vitória ganha sobre compatriotas é a maior das desgraças, agindo como se alcançasse um troféu dos seus inimigos e não dos seus concidadãos. [Este Jasão não é o autor, é o sumo sacerdote nomeado pelo rei selêucida]

Apesar disso, não conseguiu usurpar o poder e, por fim, recebeu o opróbrio como prémio da sua traição (…). O fim da sua perversa vida foi este: acusado junto de Aretas, rei dos árabes, fugiu de cidade em cidade, e, perseguido por todos, detestado como violador das leis, desprezado como carrasco da sua pátria e dos seus concidadãos, foi desterrado para o Egipto. Deste modo, aquele que expulsara tanta gente da sua própria pátria, morreu desterrado dela (…). E aquele que tinha deixado tanta gente sem sepultura não foi chorado por ninguém, nem recebeu honras fúnebres, nem na sua própria terra nem na terra estranha.
II Livro dos Macabeus, 5, 6-10


O coronel Kadafi faria bem em meditar nestas palavras escritas há vinte e três séculos por um “líbio”, embora judeu!

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

ACTIVIDADES ECONÓMICAS

CASA DOS CAPELAS



Quem sai do IP4 e se dirige a Rebordaínhos encontra, na rotunda de Rossas, uma placa que diz "Casa dos Capelas", informando que se trata de turismo rural. Essa casa fica em Paçó e pertence ao Duarte "Pacheco" (desculpa lá...) e família.

Soube-o pela minha irmã Augusta e, creio, fica bem ao blog de Rebordaínhos dar a informação. Pesquisei e encontrei uma página sobre a "casa" (
ver aqui) que nos dá conta da qualidade do produto que é oferecido (e de onde retirei a fotografia, mas o dono não se deve zangar comigo), destacando-se que, embora se trate de casa antiga, ela foi adaptada de modo a conceder conforto moderno a quem demandar os seus serviços.

Todos nós temos amigos que, mais do que viajar, gostam de ficar num sítio para conviverem com as pessoas. Quando nos perguntarem sobre a nossa região já saberemos, com propriedade, indicar-lhes um bom lugar.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

SENTIMENTO


Descerra a porta, ferreiro,
porque a manhã já nasceu
e dentro da forja tens,
à espera do teu saber,
três potes pra remendar,
cinco enxadas para aguçar
e cem pregos de encomenda
para cravar em portões altos
que o dono quis que fizessem
inveja aos dos castelos!

Acende o fogo, ferreiro,
para contentares tua filha
quando vir dependurado
da parede, sobre o lume,
um perfeito cadeado
onde o caldeiro da vianda
ficará mais belo ainda
do que pingente caindo
do colar de uma dama!

De tuas mãos sai um trabalho
tão sem defeito nem mácula
que mais parece lavrado
em fina prata e acabado
por mãos de anjos dos céus!

Acende o teu fogo, ferreiro,
volta à vida
como Túndalo!

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Fotografia do Rui Freixedelo

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Fevereiro quente, traz o diabo no ventre




O que não me parece que seja o caso deste Fevereiro de 2011.

Aqui, um pouco depois das 21h nevava assim.




Amanhã, caso seja possível, mostro mais e com mais branco.




Augusta
PS: E que venham as de Rebordainhos

DITOS DO POVO


Fui ao facebook e roubei esta fotografia portentosa do Valter Cavaleiro. Está lá outra do mesmo autor e igualmente bela. Porque não estou registada nessa rede social, não lhe pude pedir autorização. Espero que ele me não leve a mal pelo atrevimento.


FEVEREIRO

Fevereiro matou a mãe ao soalheiro.

Fevereiro quente traz o diabo no ventre.

Janeiro geoso e Fevereiro chuvoso fazem o ano formoso.

Quando não chove em Fevereiro, nem prados nem centeio.

Tantos dias de geada terá Maio, quantos de nevoeiro teve Fevereiro.


Só me lembro destes dois. Fico à espera de que alguém aceite partilhar aqueles que conhece.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

ARES DA SERRA

A DIVINA PROVIDÊNCIA E A GORRA DO PRIMO MANUEL

por

ANTÓNIO AUGUSTO FERNANDES

Imagem retirada daqui


Era sábado. A euforia da perspectiva do feriado de domingo (o conceito de fim-de-semana estava por inventar), podia-nos ter dado para pior, mas não, em vez de jogarmos ao pirogalo ou à bilharda, depois das aulas, deu-nos o diabo para surripiar a gorra nova do Nelzeira, ou melhor, do meu primo Manuel do Outeiro, e fazê-la esvoaçar de uns para os outros à laia desses boomerangs ou bresbees com que hoje as crianças se divertem na praia. O Nelzeira bem corria duns para os outros na tentativa de recuperar o que era seu, bem berrava que a boina era nova, que lha tinha comprado o pai ao contrabandista que trazia a mercância da Galiza. Mas a malta divertia-se à brava. Até que, num lançamento mais incauto, por efeitos imprevistos da aerodinâmica, a boina, pairou manso, mansinho e foi aterrar no telhado da escola. Consternação geral! Mas, após breve conciliábulo, logo ali se combinou que, a seguir às aulas, iríamos buscar uma escada de mão que andava pela eira do senhor Amadeu e resolveríamos o assunto.

E assim foi: mal a senhora D. Maria, a caminho de casa, dobrou a esquina do pátio onde morava o Patinge, os mais afoitos correram em demanda da dita escada. Eu ainda hesitei em associar-me à empresa, que o meu pai não era para cócegas. Mas como nessa altura já frequentava a catequese com grande quantidade de devoção e de puxões de orelhas da Aninhas da Eira, nossa catequista, veio-me à mente o sumo preceito catequético de amar o próximo como a nós mesmos. Além do mais, o Nelzeira, ainda era um próximo ainda mais próximo que os outros próximos, pois até era meu primo direito e compincha de reinação! E todo exaltado pelo espírito evangélico de bem-fazer, como cruzado que parte na guerra contra os mouros, atirei-me à boa acção, convencido de que Deus havia de me recompensar… se calhar até com uma bicicleta.

Dávamos por finda a empreitada, já o primo Manuel descia com a gorra enfiada até às orelhas, e reaparecia a D. Maria ao pé da casa do Carriço, pressurosa em seu caminhar e furiosa em seu aspeito. Acontecera que, quando atravessava o Prado, alguém a advertira que os garotos andavam aos ninhos no telhado da escola e partiam as telhas todas.

Alguns dos comparsas ainda se escamugiram a tempo. Ao alcance das iras da professora ficámos uns quatro ou cinco, entre eles o Nelzeira que escalava na demanda do seu bem, o Zequinha Lelé que segurava a escada e eu que, de nariz no ar, dava orientações, aguardando a libertação da boina e as bênçãos de Deus pela minha boa acção. A D. Maria, como estava cansada da semana a aturar a ganapada, não deu uso imediato à palmatória: introduzindo-nos na sala de aula das meninas, apontou os nossos nomes no quadro, sem querer saber das nossas boas intenções e dos ensinamentos evangélicos aprendidos na catequese com a Aninhas da Eira. Na segunda-feira ajustaríamos contas!...

Saímos inconsoláveis, porque sabíamos que a D. Maria quando pegava na palmatória para castigo dos nossos desvarios não era nada peca a distribuir bolos. Ainda estava bem presente na nossa memória a sorte de um dos Pereiros (seria o Sabido?) que tivera a infeliz ideia de ir espreitar como é que as meninas faziam as suas necessidades na sua casa de banho privativa, isto é, ao ar livre, entre as giestas e escarambunheiros que bordejavam o carreirão das Ribas. Como os tempos eram outros, pouco dados a investigações sobre fisiologia feminina, a D. Maria não apreciara muito esta aula de auto-educação sexual e premiara-lhe a curiosidade científica com vinte palmatoadas, dez em cada mão.

Quanto a mim, para além da perspectiva acabrunhante da meia dúzia de bolachas, fiquei abalado pela primeira grande crise de fé: sentia-me profundamente descrente dos ensinamentos da Aninhas da Eira sobre o amor ao próximo e a disposição da Divina Providência para recompensar as boas acções. E pensava com os meus botões que, se me tivesse posto na alheta em vez de amar a gorra do próximo como a mim mesmo, o primo Manuel que me perdoasse, mas não estaria agora metido em sarilhos! Enfim, passei um domingo atormentado, na perspectiva das palmatoadas de segunda-feira.

Só na segunda-feira é que recuperei a fé na Providência e a crença nos ensinamentos da catequese, quando me certifiquei de que as ameaças da D. Maria tinham caído no esquecimento. Ainda hoje creio firmemente que foi a Divina Providência quem guiou a mão da primeira rapariguinha a entrar na sala das meninas pela manhã inspirando-a a praticar a boa acção de limpar o quadro sujo. Se calhar também era aluna da Aninhas na catequese… e com a sua boa acção apagou do quadro os nossos nomes, a memória da nossa boa acção e as mais que certas palmatoadas da D. Maria.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

BREVE

Os Deolinda são um dos fenómenos mais interessantes da música portuguesa actual. Há pouco tempo actuaram no Coliseu de Lisboa e ofereceram ao público um tema inédito: Que parva que eu sou!"

O poema nada tem de belo, mas tem tudo de verdadeiro no modo como retrata a geração dos nossos filhos ou netos. Gostei de ouvir o tema, por aquilo que é dito, pela forma como está cantado (a voz da Ana Bacalhau é portentosa) e porque a melodia me fez lembrar o lirismo do José Afonso.

Apeteceu-me partilhar isto convosco. Aqui vo-lo deixo.



Que Parva que eu Sou

..............................Sou da geração sem remuneração
..............................E não me incomoda esta condição
..............................Que parva que eu sou!

..............................Porque isto está mal e vai continuar
..............................Já é uma sorte eu poder estagiar
..............................Que parva que eu sou!

..............................E fico a pensar
..............................Que mundo tão parvo
..............................Onde para ser escravo é preciso estudar!

..............................Sou da geração “casinha dos pais”
..............................Se já tenho tudo, pra quê querer mais?
..............................Que parva que eu sou!

..............................Filhos, maridos, estou sempre a adiar
..............................E ainda me falta o carro pagar
..............................Que parva que eu sou!

..............................E fico a pensar
..............................Que mundo tão parvo
..............................Onde para ser escravo é preciso estudar!

..............................Sou da geração “vou queixar-me pra quê?”
..............................Há alguém bem pior do que eu na TV
..............................Que parva que eu sou!

..............................Sou da geração “eu já não posso mais!”
..............................Que esta situação dura há tempo demais
..............................E parva não sou!

..............................E fico a pensar,
..............................Que mundo tão parvo
..............................Onde para ser escravo é preciso estudar!
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Porque sinto uma repulsa visceral pelo novo acordo ortográfico, continuarei a escrever como antes. Quem quiser utilizar as novas normas sinta-se à vontade para o fazer, porque esta é uma casa de liberdade.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

MATAR SAUDADES

Tal e qual como o José Fernandes fez o favor de enviar, para que todos possamos aproveitar. Bem-hajas, Zé!

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