Isto nada tem a ver com Rebordaínhos, mas há coisas que gosto de partilhar. Hoje trata-se da Líbia.
Temos ouvido falar da Cirenaica, província Líbia onde se iniciou a revolta contra o déspota Kadafi (vá lá alguém saber escrever-lhe o nome: pelos vistos, o dito assina-se segundo trinta maneiras diferentes, ou mais!). O nome da província vem-lhe da mais importante das cinco cidades localizadas naquela península: Cirene, fundada por colonos gregos de Tera, algures no séc. VII a.C.
Os tempos correm e os impérios passam. No séc. II a.C., Cirene estava integrada no império dos Ptolomeus do Egipto e a Palestina no império Selêucida da Síria, sendo ambos fragmentos das vastas conquistas de Alexandre Magno. Nesse tempo vivia na Palestina, provavelmente em Jerusalém, um judeu natural de Cirene – Jasão de Cirene – que escreveu cinco livros cujo conhecimento chegou até nós através de um anónimo que os compilou num só: o “II Livro dos Macabeus” que integra o Antigo Testamento da Bíblia católica. Esse livro relata a luta dos judeus contra as tentativas levadas a cabo para lhes fazer perder a sua fé e tradições, contando a potência dominadora com a colaboração activa e entusiástica de alguns judeus, como se pode constatar pela transcrição seguinte:
Jasão matou sem piedade os seus próprios concidadãos, esquecido de que uma vitória ganha sobre compatriotas é a maior das desgraças, agindo como se alcançasse um troféu dos seus inimigos e não dos seus concidadãos. [Este Jasão não é o autor, é o sumo sacerdote nomeado pelo rei selêucida]
Apesar disso, não conseguiu usurpar o poder e, por fim, recebeu o opróbrio como prémio da sua traição (…). O fim da sua perversa vida foi este: acusado junto de Aretas, rei dos árabes, fugiu de cidade em cidade, e, perseguido por todos, detestado como violador das leis, desprezado como carrasco da sua pátria e dos seus concidadãos, foi desterrado para o Egipto. Deste modo, aquele que expulsara tanta gente da sua própria pátria, morreu desterrado dela (…). E aquele que tinha deixado tanta gente sem sepultura não foi chorado por ninguém, nem recebeu honras fúnebres, nem na sua própria terra nem na terra estranha.
O coronel Kadafi faria bem em meditar nestas palavras escritas há vinte e três séculos por um “líbio”, embora judeu!
Temos ouvido falar da Cirenaica, província Líbia onde se iniciou a revolta contra o déspota Kadafi (vá lá alguém saber escrever-lhe o nome: pelos vistos, o dito assina-se segundo trinta maneiras diferentes, ou mais!). O nome da província vem-lhe da mais importante das cinco cidades localizadas naquela península: Cirene, fundada por colonos gregos de Tera, algures no séc. VII a.C.
Os tempos correm e os impérios passam. No séc. II a.C., Cirene estava integrada no império dos Ptolomeus do Egipto e a Palestina no império Selêucida da Síria, sendo ambos fragmentos das vastas conquistas de Alexandre Magno. Nesse tempo vivia na Palestina, provavelmente em Jerusalém, um judeu natural de Cirene – Jasão de Cirene – que escreveu cinco livros cujo conhecimento chegou até nós através de um anónimo que os compilou num só: o “II Livro dos Macabeus” que integra o Antigo Testamento da Bíblia católica. Esse livro relata a luta dos judeus contra as tentativas levadas a cabo para lhes fazer perder a sua fé e tradições, contando a potência dominadora com a colaboração activa e entusiástica de alguns judeus, como se pode constatar pela transcrição seguinte:
Jasão matou sem piedade os seus próprios concidadãos, esquecido de que uma vitória ganha sobre compatriotas é a maior das desgraças, agindo como se alcançasse um troféu dos seus inimigos e não dos seus concidadãos. [Este Jasão não é o autor, é o sumo sacerdote nomeado pelo rei selêucida]
Apesar disso, não conseguiu usurpar o poder e, por fim, recebeu o opróbrio como prémio da sua traição (…). O fim da sua perversa vida foi este: acusado junto de Aretas, rei dos árabes, fugiu de cidade em cidade, e, perseguido por todos, detestado como violador das leis, desprezado como carrasco da sua pátria e dos seus concidadãos, foi desterrado para o Egipto. Deste modo, aquele que expulsara tanta gente da sua própria pátria, morreu desterrado dela (…). E aquele que tinha deixado tanta gente sem sepultura não foi chorado por ninguém, nem recebeu honras fúnebres, nem na sua própria terra nem na terra estranha.
II Livro dos Macabeus, 5, 6-10
O coronel Kadafi faria bem em meditar nestas palavras escritas há vinte e três séculos por um “líbio”, embora judeu!
imagem retirada daqui