domingo, 31 de outubro de 2010

MEMENTO



............................ Deus, Senhor nosso!...

............................ Quantos são hoje já os olhos
............................ que nos fitam de além-terra!...
............................ Tantos já os sorrisos
............................ cristalizados no barro original
............................ a que volveram,
............................ e volveremos,
............................ no após ódios e paixões!...

............................ Rodeados, dia após dia,
............................ de cada vez mais ausências,
............................ torna-se despovoado
............................ o nosso vasto mundo.
............................ E mais perdidos nele somos,
............................ gasalhados apenas
............................ da frialdade das sombras
............................ dos que partiram,
............................ nossa perene
............................ e silente companhia.

............................ Guarda-os Tu, Senhor,
............................ em teu seio.
............................ E a nós protege-nos
............................ pelos dias breves deste peregrinar,
............................ enquanto aguardamos,
............................ para os nossos ossos,
............................ o aconchego
............................ da mãe-terra que nos gerou,
............................ e, para o espírito,
............................ o regresso à pátria definitiva
............................ de que provimos.

............................ Amen.
.................................................................... AA.


quinta-feira, 28 de outubro de 2010

ROSTOS

[Vou estar fora entre amanhã e segunda-feira. Por esse motivo só posso, em princípio, adicionar as sugestões que surgirem até hoje. Às restantes, adicioná-las-ei quando voltar.

Entretanto, tenho já agendado para publicação automática no dia 1 um belíssimo poema/oração sobre estas datas tão significativas do nosso calendário religioso.]

O Tonho do tio Arnaldo teve a gentileza de me enviar esta fotografia, alargando o desafio de nos (re)conhecermos uns aos outros. Obrigada a ele e a quem lha fez chegar.


Lugar -Casa da tia Olímpia no Outeiro

........................ 1 - tia Julieta do Gomes
........................ 2 - tia Ester
........................ 3 - tia Julieta do tio Eurico
........................ 4 - Aninhas da Eira
........................ 5 - Luisa do tio João Picarete
........................ 6 - D. Clara
........................ 7 - Lúcia
........................ 8 - Adozinda do tio Amadeu Couceiro
........................ 9 - Júlia do Tio César
........................ 10 - Isilda do tio Arnaldo
........................ 11 - Teresinha da tia Isabel Caldeireira
........................ 12 - Hermenegildo "Brotas"
........................ 13 - Tonho do tio Alípio Piqueno
........................ 14 - Baptista Grilo
........................ 15 - Carlos do tio António Atilano
........................ 16 - Gilberto da Tia Delfina
........................ 17 - Elisa do tio Amadeu Couceiro
........................ 18 - Manuel Ferreira do tio Aniceto

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Para Ti


......................................Para Ti

......................................Vamo-nos sentar…

......................................Por hoje já chega, bem sabes…

......................................O sol de meia encosta já quer abalar,
......................................E com o gado acomodado,
......................................Contigo aqui ao lado,
......................................Já podemos conversar.

......................................O que tenho para te dizer,
......................................São sentimentos que trago
......................................De um sentir cândido e amargo,
......................................Deste olhar só para ti.

......................................Sabes Pai,

......................................Aquele dia em que me acordaste,
......................................Para a vida que me entregaste,
......................................Julguei até renascer.

......................................E tu, estavas lá.

......................................Ao acordar, já o sol raiava…
......................................E os teus braços paternais,
......................................Como almofadas reais,
......................................Fizeram-me erguer.

......................................Dos rumos que me traçaste,
......................................Da vida que me ensinaste,
......................................Em parte, eu consegui.

......................................Não penses que fugi,
......................................Por vezes não fui capaz,
......................................Mas levei a vida que escolhi.

......................................Sabes Pai

......................................Agora compreendo,
......................................O afável longo tempo
......................................Que do teu peito abriste
......................................Para me fazer feliz.

......................................Até já.

................................................Orlando Martins - 2010

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

SILÊNCIO...


Por

abcd


Sabem o que me deixa mais feliz quando visito Rebordainhos?

O silêncio…

Este continua o mesmo, não mudou, não necessita de saudades, nem de pedras, nem de putos e muito menos de evolução. Não necessita de saudades porque não as consente na sua ambiguidade, não necessita de pedras ou de suportes porque é em si mesmo um forte indestrutível, não necessita de putos porque os devora nas noites frias de Inverno e não necessita de evolução porque simplesmente não há evolução no divinal.

Atrevo-me mesmo a dizer que só volto a Rebordainhos porque existe esse silêncio, o silêncio da minha mãe reflectido nos seus olhos quando me vêem, o silêncio das paisagens que mudam ciclicamente há décadas sem nunca consentirem essa mudança, mas principalmente o silêncio que me cobre à noite quando vou dormir e ouço as vozes antigas pairarem sobre mim como fantasmas que revejo nas férias. É assim o silêncio em Rebordainhos, puro como a água da Ribeira e ameaçador como os lobos das antigas histórias que nos devoravam em sonhos…

Pergunto-me se será um silêncio só meu, ou se pertencerá aos demais?

Não sei, mas é um silêncio gratuito, que nos é oferecido desde a mais tenra idade e nos é tirado quando nos impomos a vaidade das terras longínquas. Para mim, que deixo hoje as minhas participações neste magnifico blogue, é de longe a característica mais marcante desta pequena aldeia, pois tudo o que antes foi escrito por mim se resume no fundo a esta palavra, ao seu significado, ao seu peso…

...............Silêncio… para que as Saudades sejam sentidas
...............Silêncio… para que as pedras da velha aldeia se ouçam
...............Silêncio… que os putos estão a chegar
...............Silêncio... que eles decidiram ficar
...............Silêncio… pois só assim existe o verdadeiro perdão
Antes de terminar gostaria de agradecer a todos pelas palavras calorosas com que sempre comentaram os meus textos. Obrigado a todos…

Depois gostaria de deixar um abraço especial à Fátima pela simpatia sempre demonstrada e por ter sido verdadeira comigo quando precisei da sua preciosa ajuda.

Por último, espero que não levem a mal o facto de manter o anonimato, é uma escolha minha, e sinceramente não tenho nenhuma explicação válida para vos dar, é apenas uma escolha.

Espero sinceramente que o blogue continue neste caminho, e que continue a desbravar a “ignorância” daqueles que infelizmente não conhecem Rebordainhos…

Cresci e passei os meus anos entre os sábios, e não encontrei nada melhor do que o silêncio
Pirkei Avot 1,17

_________________
Que pena!
Fátima

terça-feira, 19 de outubro de 2010

ROSTOS

Para encerrar o espólio da tia Etelvina, aqui ficam mais estas fotografias. Cá espero as vossas sugestões.


......
... 1 - sr. Casimiro.................................................... 2 - tia Etelvina

3 - tia Eduarda (Seca)

......
... 4 - ................................................. 5 -

Esta destina-se, apenas, a figurar no nosso arquivo porque, naturalmente, todos sabemos quem são: a tia Etelvina e o sr. Casimiro

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

ARES DA SERRA



MALHA À EIRA!...

por

ANTÓNIO AUGUSTO FERNANDES



Ainda o dia vem em casa de Pilatos. Apenas a oriente o céu se carmina de leves tons de cereja madura e já pelas ruas da aldeia se movimentam os mais madrugadores, que, em Agosto, embora os dias sejam compridos como as léguas da Póvoa, os afazeres abundam e nunca as tarefas se dão por findas, por mais que um cristão cirande e moa o esqueleto debaixo da torreira desde que se levanta até ao último bocejo antes de se enfiar nos lençóis de estopa: esta vai à fonte encher os cântaros para os gastos do dia, aquele vai regar o talhãozito de horta nas cortinhas do Prado, outro vai acomodar a cria, que hoje não sobra quem a toque para o lameiro… É um formigueiro álacre correndo por quelhas e canadas.

Se bem que ainda estejamos no pino no Verão, pela manhã já corre uma brisa brejeira que arrepia, e até sabe bem este corre-corre que acalenta o coiro de quem acaba de largar o quentinho da cama.

Subitamente, sobre casas e hortas, soa o clamor, lento e longo, ondulando ao sabor da brisa: MALHAAAaaa… À… EEEeeei…raaaa…! – É a voz tonitruante do maquinista da malhadeira do tio Alfredo Guerra, o João Santa Combinha que gatinhou até ao alto da meda do tio Manuel Frade e de lá lança o pregão anunciando que a máquina está a postos para mais um dia de malha. MALHA À EIRA! e uns decibéis mais baixo, completa o recado: QUE ESTÁ O BACALHAU NA CALDEIRA!...

Homens ajeitando ainda sobre os ombros o casaco de cotim, mulheres ultimando o nó do lenço no cocuruto da cabeça, garotos traquinando em corrimaças, familiares e amigos, mais aqueles que já tornam ou ainda vão ganhar a jeira, enfim, um rio de gente desliza pela rua do Outeiro e desagua na eira do tio Zé Çuca.

Dentre a rapaziada nova, com o viço da idade a incitá-los à folestria, lá se adianta um a desafiar que põe o motor em funcionamento só com uma mão. E põe mesmo! Começa a faina: o dono da malha, o tio Manuel Frade, no seu passo largo e escangalhado, movimenta-se como maestro mal ensaiado pelo meio das gentes, dando ordens e distribuindo ferramentas: espalhadouras de pau de freixo para os que vão atirar os molhos da meda para cima da malhadeira, um engaço para arrebanhar os cuanhos, uma molhada de sacas em que se vai transportar o grão para a tulha, as cordas de palha entrançada, ainda húmidas, para as feixeiras que transportarão a palha para o medeiro, cuja construção em cone é confiada a um esteta mais entendido na arte das pirâmides, desta vez o pequeno tio Bagueixe.

Entretanto algum moço de sangue mais esquentado lá ensaia já beliscão lascivo na moçoila que passa, enquanto um velhote, de queixo encostado ao cabo da ferramenta, recorda, com sorriso maroto a que faltam dentes, os tempos em que era ele o protagonistas de idênticas façanhas.
Iniciava-se assim o ritual de celebração das colheitas a fechar todo um ciclo de canseiras e trabalhos desmedidos. Por isso se sentia no ar uma alegria brejeira de festa pagã, gratos a Deus que é Pai de todos e à mãe terra de cujo ventre nascem os frutos que dão sustento a todos os viventes. Agora as malhas, dentro de pouco a arranca das batatas e, mais lá para os Santos, quando as névoas já descem da serra e a molinha encharca os campos, a apanha das castanhas. A isto se resume a riqueza da serra.

Era assim uma malha há cinquenta anos: uns lançam os molhos do alto da meda para o estrado da malhadeira, com cuidado para que o grão não se esbagoe à toa; aqui, um moço, destro de gestos e flexível de rins, desenvencilha o molho e passa-o ao maquinista, o Santa Combinha, orgulhoso do seu fato-macaco e óculos descomunais de piloto da primeira grande guerra, que o enfia às gabelas pelas goelas da máquina. Pela frente desta, uma passadeira, aos soluços, vai largando a palha que dois homens atiram para longe com as espalhadouras de pau. As raparigas, apapoilando as cabecinhas de alvéloas com os garridos lenços de ramagens, com a ajuda do seu par, engabelam em altos feixes que põem à cabeça e depois, esforçadamente, mas com o donaire de elfos, transportam pela escada de mão esguia, até ao alto do medeiro; por outro lado, em mantas velhas, enfardam-se os cuanhos que outras mulheres transportam para o palheiro. Atrás da malhadeira, os mais maduros ensacam e contabilizam o cereal em sacas de oitenta quilos que os moços mais garbosos transportam para a tulha. E, pela cadência com que os sacos se vão enchendo, comenta-se a fartura ou escassez do ano a partir da proporção entre a palha entrada e o grão saído.

À medida que o sol se eleva para o zénite e o calor aperta, os malhadores despicam-se com gritos guerreiros e, de quando em vez, um grito fino de moça sobreleva o ruído de feira quando algum mariola, ao ajudar a apertar o feixe, adianta em demasia mão lampeira em direcção à parceira que parece não estar pelos ajustes. Percalços ligeiros que depressa se esquecem no ardor do mourejar.

Pelas nove horas, as mulheres que ficaram em casa, à volta dos potes, aparecem com o almoço. Estendem longa fila de toalhas de estopa mesmo ali na eira, à sombra, se puder ser, sobre umas manchocas de palha fresca acabadinha de malhar. Em volta os malhadores agacham-se, como em celebração de rito primitivo. Os de joelhos mais comidos pela artrose lá arrastam um tanganho em que pousem a rabadilha. Salpicando a brancura das toalhas aparecem os mimos que se reservam para estas alturas: primeiro, as travessas do bacalhau tostadinho nas brasas de carvalho, salpicado de rodelas de cebola e aloirado com um fio de azeite, que fazem anelar as narinas famintas. Circulam os enormes pães de centeio e cada um serve-se a gosto com a navalha peliqueira própria ou emprestada pelo vizinho. Começa o repasto e o pipinho de esguicho ou a cabaça vão circulando pelo adjunto: um despesão só em vinho que tem que se comprar, porque a serra não o dá! Por toda a extensão da mesa, as meias esferas de queijo flamengo ou aqueles queijinhos de cabra, maneirinhos e rijos que nem castanhas piladas, provenientes de detrás da serra, Vilardouro ou Cabanas, que os da tia Perpétua e os da tia Zulmira não chegam para as encomendas. Estranhamente e ao arrepio do menu consagrado de qualquer maître, este primeiro repasto finda com largas malgas de café de cevada com leite atulhadas de sopas de trigo.

Assim retemperadas as forças, a faina recomeça com redobrado arreganho. No ar adensa-se a poeira e o suor tomba às bagadas. O patrão, atento, vigia para que o pipinho ou a cabaça cirandem a dar alento, que o calor aperta e o labor é pesado. As meninas mais biquinho de lêndea lá bebericam o seu golito de laranjada (quando o patrão é mais mãos rotas) ou copos de água fresca da Fonte Grande (que a da Canada do Outeiro há muito que não presta para beber). E os dos sacos, porque a tarefa é mais dura e a tia Maria dos Santos é generosa, sempre avezaram meia dúzia de ovos para bater com vinho e cerveja mais uns pozitos de açúcar, néctar de se lamber o beiço com que retemperam as forças e que ciosamente ocultam da lambarice dos demais.


O ar tolda-se de poalha, o calor aperta, a moinha cola-se à garganta e o pessoal vai limpando a testa à manga da camisa com grande ênfase. E, se o pipinho tarda a passar, lá aparece um mais zãino que atira um molho quase inteiro para as goelas da malhadeira: o motor começa a arquejar, a máquina engasga-se e quase sempre a correia de transmissão salta. Aí temos o percalço transformado em momento de repouso, enquanto o Santa Combinha pula do seu poiso, simulando zanga e com ares de entendido, para proceder ao desengasganço da máquina. O patrão bem protesta pelo tempo perdido e pelo grão que vai na palha, declamando que só lhe saem malandros…
Após breve pausa para umas larachas, tudo recomeça.

Por volta da uma da tarde, aparece um miúdo com o recado das cozinheiras: o jantar está pronto!

Ainda bem, que corpo já estava a pedi-lo. Agora, como o sol está a pino, recolhem à sombra do cabanal em frente da casa do patrão e cada um ajeita-se conforme pode para dar início à função.

O prato de resistência é a infalível canhona guisada. O apetite do trabalhador rural é proporcional à dureza das tarefas a que se entrega. Por isso, era coisa digna de se ver aqueles pratos de esmalte comprados na feira dos Chãos, atulhados com pirâmides de batata farinhota coloridas pela molharanga do guisado e acolitada por dois ou três bons nacos da carne do ovino sacrificado para a função. E repete-se, que a tarde é comprida! A findar, um perfumado caldo de ervanços em que se cozeu o pisperno do cevado e em que a tia Maria dos Santos é mestra consumada.

Pena era que, desta feita, os patrões não tenham descendência, porque, quando da meda já só restassem quatro molhos, a que se dava o nome de virgo, a filha (ou filho, quando só houvesse descendente varão) seria transportada de charola até à malhadeira. Por tal homenagem competia ao homenageado a obrigação da oferta de rebuçados para as malhadeiras e cigarros para os malhadores.

Decerto as gentes daqueles tempos não eram melhores nem piores que as de hoje. Mas havia uma maneira genuína de viver as pequenas alegrias que a vida proporcionava, uma capacidade para se ser feliz com coisa pouca e um sentimento de pertença à comunidade suficiente para ultrapassar as quezílias e pequenas invejas do quotidiano, o que dava lugar a uma disponibilidade permanente para dar uma mão ao vizinho e partilhar das suas alegrias ou desgraças.

Acontecia estas malhas grandes terminarem ainda com duas ou três horas de sol. Então aproveitava-se para despachar uma malha de pobre, daquelas com menos de cem pousadas. Desta vez calhou ao tio Chancas aproveitar esse bocado de sorte que lhe permitia malhar sem mais despesas. Velhote benquisto pelo povo, vivendo da enxada, do muito esgravatar numas leiras pobres e da boa vontade das ajudas, lá agenciava, ano por outro, os seus sessenta, setenta alqueires. Atendendo a quem era, o pessoal avontadava-se e num rufo lá despacharam a deprecada.

É bem verdade que um pobre, quando é mesmo pobre, nem do que é seu é dono: em dia de malha caíam sobre a colheita todos os cobradores como corvos sobre a carniça: ele era a avença do barbeiro, ele era a côngrua do padre, ele era a renda da lameireca das Almas, ele era o diabo a quatro…E, sobretudo, para desonra da Serra, os juros do empréstimo à onzena: para se acudir à fome, quando o ano era mais comprido que a colheita, havia que pedir pão para a boca. Aí, por cada dez alqueires tinham que se pagar onze (daí o negregado nome de onzena). E lá se ia em maquias grande parte da colheita.

O dia findava. O sol despencara já para trás da Serra dos Pereiros e o pessoal ia dispersando. O tio Chancas, que não era homem para desmoralizar e alegrete das pingas bebidas à custa do Manuel Frade, olhava para o pouco que lhe sobrava e agitando uma ciranda acima da cabeça como sevilhana bailando o seu bolero, cantarolava:

Depois da malha acabada,
Aqui está o que me calha:
Uma bebedeira nos cornos
E uma gabela de palha.

________
Na realidade não havia nenhum Chancas em Rebordainhos. A anedota é verdadeira apenas na sua substância.

domingo, 10 de outubro de 2010

ROSTOS

Vamos lá ver se reconhecemos os rostos humanos e a face do lugar. Creio que não será difícil. Peço desculpa pela numeração um pouco desordenada, mas só depois de tudo feito é que reparei que me tinha esquecido da criança com o n.º 19.


........................LUGAR - Eira em frente à casa do tio Júlio, etc. Era dia 13 de Maio (de 1962), dia que, em Rebordaínhos, se dedicava à festa da Sr.ª de Fátima e à realização das primeiras comunhões.

Tendo em conta um comentário que chegou hoje (13 de Outubro), referindo que o Armando nasceu em 1965, torna-se evidente que não pode ser ele a criança ao colo da Marquinhas. Assim sendo, proponho nova identificação: a criança deve ser o Norberto, filho da sr.ª Eduarda. O Norberto tem, exactamente, a minha idade, o que bate certo com aquilo que vemos na fotografia.


........................1 - tio Júlio "Jarrete"
........................2 - tio César
........................3 - tia Helena (irmã da tia Teresa)
........................4 - "Marquinhas"
........................5 - Zequinhas (da tia Estefânia)
........................6 - tia Estefânia
........................7 - D. Lurdes
........................8 - tio João "Fouce"
........................9 - Sr. P.e Amílcar
........................10 -
........................11 - Maria Beatriz
........................12 - Augusta (da tia Teresa e do tio João Fouce)
........................13 - tia Teresa (do tio João Fouce)
........................14 - Fátima (da tia Teresa e do tio João Fouce)
........................15 - Olímpia (da tia Teresa e do tio João Fouce)
........................16 - António "Cornecho" (da tia Benedita)
........................17 - Teresa "Brava" (da tia Estefânia)
........................18 - Amélia (da tia Teresa e do tio João Fouce)
........................19 - Norberto (da Sr.ª Eduarda)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O BUÍÇA




Agora que falamos tanto de República, vem a propósito lembrar que tudo começou com um crime horrendo: o regicídio. Este é dos assuntos que gera debates mais acesos entre os historiadores, mas isso não é para aqui chamado. O que vem a propósito é que um dos dois assassinos se chamava Manuel da Silva Buíça e era natural de Vinhais, embora vivesse em Lisboa. Os transmontanos não lhe louvaram o acto e escreveram uns versos a propósito. Assim, mais uma vez da memória do tio Manuel:



...............................O Buíça de Vinhais
...............................filho de boas pessoas
...............................matou el-rei D. Carlos
...............................à entrada de Lisboa.

...............................Logo à primeira descarga
...............................el-rei D. Carlos falou:
...............................-Adeus mulher e meus filhos,
...............................a minha vida acabou!

...............................Ó Buíça, ó Buíça,
...............................ó Buíça, ó ladrão,
...............................mataste el-rei D. Carlos,
...............................tu te deste à prisão.

...............................Ó Buíça, ó Buíça,
...............................ó Buíça de Vinhais
...............................mataste el-rei D. Carlos
...............................com quatro tiros mortais!

...............................E o rei D. Manuel de Bragança,
...............................filho de D. Carlos I
...............................para se livrar da morte
...............................fugiu para o estrangeiro!

Nitidamente, estes versos foram escritos após a implantação da República, porque há um salto no tempo entre as duas últimas quadras.

Diz-me, também, o tio Manuel que uma sobrinha (ou prima?) do Buiça, chamada Gracinda, ia frequentemente a Rebordaínhos (normalmente no Verão) e ficava em casa do tio Pereira. Diz ele que o tio Pereira a conheceu em Vinhais, vila onde ia muito para tratar dos seus negócios. Essa rapariga chorava com vergonha, sempre que alguém lhe falava do familiar assassino.

O regicídio foi amplamente falado na imprensa nacional e internacional. Como não havia a disponibilidade que temos hoje de tirar fotografias, os artigos eram ilustrados com desenhos que tentavam ser fiéis aos factos. Deixo aqui algumas.

.............


Se alguém tiver curiosidade em ler uma descrição dos acontecimentos, aqui fica a página da revista "Ocidente".

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CARTA TESTAMENTO DE BUÍÇA

Manuel dos Reis da Silva Buiça, viuvo, filho de Augusto da Silva Buiça e de Maria Barroso, residente em Vinhaes, concelho de Vinhaes, districto de Bragança. Sou natural de Bouçoais, concelho de Valpassos, districto de Vila Real (Traz-os-Montes); fui casado com D.Herminia Augusta da Silva Buíça, filha do major de cavalaria (reformado) e de D.Maria de Jesus Costa. O major chama-se João Augusto da Costa, viuvo. Ficaram-me de minha mulher dois filhos, a saber: Elvira, que nasceu a 19 de dezembro de 1900, na rua de Santa Marta, número… rez do chão e que não está ainda baptisada nem registada civilmente e Manuel que nasceu a 12 de setembro de 1907 nas Escadinhas da Mouraria, número quatro, quarto andar, esquerdo e foi registado na administração do primeiro bairro de Lisboa, no dia onze de outubro do anno acima referido. Foram testemunhas do acto Albano José Correia, casado, empregado no comércio e Aquilino Ribeiro, solteiro, publicista. Ambos os meus filhos vivem commigo e com a avó materna nas Escadinhas da Mouraria, 4, 4º andar, esquerdo. Minha família vive em Vinhaes para onde se deve participar a minha morte ou o meu desapparecimento, caso se dêem. Meus filhos ficam pobrissimos; não tenho nada que lhes legar senão o meu nome e o respeito e compaixão pelos que soffrem. Peço que os eduquem nos principios da liberdade, egualdade e fraternidade que eu commungo e por causa dos quaes ficarão, porventura, em breve, orphãos. Lisboa, 28 de janeiro de 1908. Manuel dos Reis da Silva Buiça. Reconhece a minha assignatura o tabelião Motta, rua do Crucifixo, Lisboa.


Repare-se na data. Mataria o rei no dia seguinte, em conluio, pelo menos, com outro regicida, António Costa.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

PARABÉNS



Acabei de saber a notícia e é com muito gosto que a divulgo:

A Sofia Pires, filha do Rui e da Silvie, entrou para Enfermagem Veterinária no Instituto Politécnico de Bragança. Muitos parabéns para a Sofia e para os seus pais que, merecidamente, devem estar felizes e orgulhosos.

Que a vida te sorria sempre, Sofia!

sábado, 2 de outubro de 2010

MEMÓRIAS

Vinha num dos velhos livros de leitura (3.ª classe?) e foi-me dita, de cor e de cabo a rabo, pelo tio Manuel:



........................................Em certa aldeia indigente,
........................................isto em tempos já passados,
........................................viviam muito santamente
........................................dois velhinhos bem casados.

........................................A mulher dizia ao companheiro,
........................................juntos os dois:
........................................- Se tu morreres primeiro,
........................................morrerei logo eu depois!

........................................E num coro afectuoso,
........................................ambos diziam ali:
........................................- Eu só peço ao Deus bondoso
........................................que me leve antes de ti!

........................................Nisto, uma pancada forte
........................................na porta se fez ouvir.
........................................Perguntam: Quem é? - A morte!
........................................Venham abrir!

........................................- Diacho, diz o marido,
........................................como há-de isto agora ser?
........................................Tenho aqui um pé dorido...
........................................Vai lá tu abrir, mulher!

........................................Mas ela logo se queixa:
........................................- Valha-me Nosso Senhor,
........................................este flato não me deixa...
........................................Vai lá tu, faz o favor!

........................................E a morte, enfadada,
........................................investiu pelo postigo:
........................................levou os dois velhos consigo!