quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Sr.ª Rosa


A Sr.ª Rosa é daquelas pessoas que povoa as minhas memórias de infância, de idas constantes a Arufe. A casa dela pegava com aquela que tínhamos lá, por isso, entrar em casa dela e do Sr. Jeremias era como entrar em casa de família. Um e outro, amigos muito próximos de meus pais; os filhos deles nossos amigos, até que a vida se encarregou de nos separar.

A Sr.ª Rosa foi hoje a sepultar. Apesar de residir em Rossas, foi no nosso cemitério que se acolheu, forma terrena de viver a eternidade entre aqueles que são a sua gente. Deus há-de acolhê-la, e à sua alegria, junto de Si e dos justos.

Ao Luís e à Lurdes, os seus filhos, manifesto as minhas mais profundas condolências.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

ECOS DO MEU SENTIR - XI

 II – NOVA GERAÇÃO? GERAÇÃO NOVA?

por filinto martins


“Na cidade não havia trigo para vender… No logar onde costumavam a vender o trigo, andavam homens e moços esgaravatando a terra, e se achavam algum grão de trigo metiam-n’o na boca sem tendo outro mantimento…” (1)


Quando em tempos íamos para a escola (ainda está no mesmo sítio) passávamos por um “monumento” que, ao contrário do outro fronteiriço à igreja, não se destinava ao castigo, mas antes era alívio das dores ou “calçado seguro”, sucedia que algum, com melhor pontaria, tentava acertar com uma pedra no monumento ou galinha que por aí andasse, logo o Patinge (boa pessoa…) dizia: “vou dizer ao senhor professor”. Por vezes era mais assertivo e enquanto com uma peliqueira cortava um carolo de centeio acrescentava: “prendo-vos no tronco e as pedras servem par vos dar com elas nos cornos”. Acho que a maioria optaria pela segunda opção.
Ora se muitos optaram por transformar Rebordainhos na vila que já foi, melhorando suas casas, o dito monumento mudou de poiso. Foi para o Outeiro… ainda pensei: “se o posto médico era ali, também ali deveria ser o “posto veterinário”. Mas hoje quase não há gente e muito menos “juntas” e se a forja também foi para o Cobelo, também o dito lá foi parar, à sombra de umas árvores. Não vá o dito parar à entrada da aldeia, pois aí é o local onde todos vão parar nesta passagem terrena… Quantas aldeias se podem orgulhar de monumento igual?

Como Rebordainhos está transformada…
Nessas eiras havia fartas medas de centeio que iam alimentar as gentes… onde ecoava o pregão do
Santa Combinha: “À eira que o bacalhau está na caldeira”. Bacalhau assado na brasa, cebola, azeitonas, nas travessas colocadas nas compridas toalhas de linho, onde cada um ia espetando o seu garfo e mastigando, enquanto algumas gotas de azeite iam escorrendo queixo abaixo à espera dum naco de trigo cozido no dia anterior, que servisse de guardanapo. O pipo ia passando de mão em mão para que o fiel amigo não secasse. Depois o “verde”… quem não se recorda do “verde”? (não era tinto, nem branco) A essas horas já a “canhona” estava no pote ao lume, para o almoço, acompanhada das saborosas e sorridentes batatas. O Santa Combinha era o homem da malhadeira que ia “aparelhando” com todo o gosto, acariciando as correias… era sempre o último a sentar-se num molho de palha ou de pé, olhando para a sua “amiga”. Não foi por ele, que malhadeira e motor foram também morar perto dele, mas antes porque seus donos ali moravam.

No fim da malha havia uma surpresa: nas malhas que duravam um ou mais dias, era hábito dar a cada mulher um ou dois rebuçados (não mais) e aos homens um cigarro, repito, um cigarro e não um maço de cigarros. E ainda tenho presente o prazer que os mais novos ostentavam, levando o cigarro na orelha para que todos vissem que tinha sido da malha, sendo um certo sinal de maioridade.
Ainda soam aos meus ouvidos as palavras de minha mãe: “vou ali à eira, onde estava a malhadeira, ou no assento da meda, apanhar “penim”… as galinhas gostavam muito. Momentos depois chegava ela com o avental cheio e toda radiante com a maquia.

Andavam os moços de três e quatro annos pedindo pão pela cidade, por amor de Deus, como lhe ensinavam suas madres… e se lhe davam tamanho pão como uma noz, haviam-n’o por grande bem…” (2)


O que há hoje na eira do Outeiro para não ir às outras? Não vi medas, antes um moderno ringue de Futsal. Infelizmente também não vi jovens. Se a tia Emília fosse viva poderia aí ter os seus perus, que alegravam quem passava com o seu andar vaidoso e “monca vermelha”. Ali parei uns momentos e pensei para com os meus botões: “Não há gente para jogar futebol, não há perus… seria um óptimo lugar para secar as “casulas”, porque mesmo em dias de vento da serra não iriam para longe e no inverno, cozidas e acompanhadas dum “pisperno” faziam esquecer o frio com o calor do verão passado.

“… a geração que depois veiu, o povo bemaventurado, que não soube parte de tantos males, nem foi quinhoeiro de taes padecimentos…” (3)    


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 (1),(2),(3) - Crónica d’El Rei D. João I – F. Lopes       

A fotografia do campo de jogos foi tirada daqui. A fotografia da eira do Outeiro foi-me enviada há já bastante tempo (e já usada) pelo Baptista do tio César.                                              

domingo, 18 de janeiro de 2015

ECOS DO MEU SENTIR - XI

I - QUEM TE VIU E QUEM TE VÊ
por: filinto martins

“Ora esguardae, como se fosseis presente, d’uma tal cidade assim desconfortada…”  (1)
18 de Novembro de 2014.


Acho que me enganei na estrada… à entrada da povoação cruzo-me com um carro da recolha do lixo… só faltava a placa identificativa “Rebordainhos City”, mas não, era mesmo verdade.
Parei no Prado, lugar amplo e de grandes desafios de fito e lançamento da relha nos meus tempos de miúdo. Que diferença! Não pude esquecer o senhor Ernesto, repito, senhor Ernesto, pois só o professor Ribom e o Carlos sapateiro eram assim chamados… acho que ele merecia tal distinção, porque na minha memória ficou o uso de suspensórios e não o cinto, como os demais homens de bem de Rebordainhos.

Para o senhor Ernesto, e outras casas de lavradores mais abastados, trabalhavam os moços da aldeia, que o dinheiro não abundava, porém ele era mesmo muito sovina, não apertava o cinto… que o diga o “Santa Combinha”. Após um dia de trabalho, diz-lhe:
- Um pingacho e dez tostões fica o menino bem pago…
Logo D. Denérida (santa mulher) acrescentou: “leve umas batatas”.
- Não, D. Denérida, batatinha não, D. Denérida. Um pingacho e dez tostões fica o menino bem pago.
Poucas vezes falei com D. Denérida, mas o seu falar e olhar eram uma doçura e penso que só não lhe deu as batatinhas às escondidas se não pôde.

Um azar nunca vem só. Quando o Santa Combinha andava a fazer um “apanhadouro” dum castanheiro do senhor Ernesto, teve necessidade de evacuar, como sucede com os caçadores que andam pelo mato. Nada melhor que junto ao tronco do castanheiro, embora o vento da serra não fosse nada agradável.
O senhor Ernesto, que gostava de ir ver os trabalhos feitos e contemplar o seu pombal, logo que deparou com tal situação exclamou:
- Ai menino, preferia que mo tivesse feito no prato!

Era assim naqueles tempos em que o adubo “nitremoncal” dos campos era substituído pelas “estrumeiras” que cada um fazia na rua em frente à sua casa, recolhendo folhas dos carvalhos e deitando palha dos medeiros a fim de com as neves e a chuva poder ser depositado nos campos… cultura biológica. Era aí que nós, miúdos, dávamos pulos, corríamos, jogávamos, dando “pincha-carneiras”. Hoje não. Ainda bem, pois até o carro da recolha do lixo vai a Rebordainhos e a civilização está aí.
Tempos idos e difíceis. Quando D. Denérida ia para Espadanedo onde era mestra na escola pública, o senhor Ernesto despedia-se num lamurio:
- Lá vai o meu “ganha-pãozinho”.

 “… a geração que depois veiu, o povo bemaventurado, que não soube parte de tantos males, nem foi quinhoeiro de taes padecimentos…” (2)
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½ (Crónica d’El –Rei D. João I – F. Lopes)

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Inverno

Com o decorrer dos dias de inverno frios e secos, as geadas deixam a paisagem que circunda a nossa aldeia lindíssima. 
O nevoeiro que persiste em ficar nas zonas mais baixas e com as temperaturas negativas forma-se o sincelo que deixa as árvores brancas que mais parecem cobertas de neve...
Estas fotos foram tiradas na Galiana e no pinhal da Quinta Vila Boa de Arufe...













segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

MAIS MÚSICA COM A NOSSA JOANA

Foi na noite do dia de Natal, em Bragança, integrando o projecto "A Música Portuguesa a Gostar dela Própria". A belíssima voz da Joana aí está a dar razão de ser ao título do projecto. Agradeço ao Duarte, seu pai, o favor de me ter alertado para a iniciativa que, com todo o gosto, partilho com os nossos leitores. Espero que se encantem como eu me encantei.

Joana, Deus te permita cantar assim por muitos anos!



sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

ARES DO NATAL

Em Rebordaínhos tenho as baixas temperaturas, mas aqui é que sinto frio. Respondo com estas palavras a quem me pergunta sobre como passei o Natal.

Verdadeiramente, só houve dois dias de frio intenso e os restantes quase pareciam de Primavera - até as pascoelas estavam a florir! Para nós, que habitamos o alto da serra, o Sol brilhou quase sempre, dando-nos aquele céu profundo tingido de azul refulgente. Bastava, porém, que descêssemos alguns quilómetros para vermos Rossas ou Teixedo mergulhados em nevoeiro. Admirá-lo é privilégio da gente dos cimos - privilégio nosso!


Apesar de se sentir pouco o frio e de quase se não ver a geada à superfície, a verdade é que a água gelava, se exposta ao ar.
 A maior parte dos dias, contudo, dava-nos de presente um nascer do Sol esplendoroso a que ninguém consegue ficar indiferente.

As poucas nuvens que, às vezes, se acumulavam sobre o ocaso, mandavam-nos recolher a casa com a alma repleta de beleza


quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

OS FEIOS E BURROS TÊM MEDO DO RISO

Não tem a ver com Rebordaínhos, mas tem a ver com o Mundo em que vivemos e com a liberdade que tanto prezo.

Contra a canalha, é rir meus senhores.

Vençamo-los à gargalhada !

Francisco Javier Olea, cartoonista chileno


Joep Bertrams, cartoonista holandês


terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Mais fotografias do Natal

A Lurdes do tio Hermínio, que tem melhor olho (e melhor mão e máquina) do que eu, fez o favor, que agradeço, de me enviar as fotografias que tirou. Aqui as deixo, para que tudo fique mais bonito, sem esquecer que, além do presépio, a igreja foi lindamente enfeitada, como é costume. Boas vistas