sábado, 21 de dezembro de 2013

Amanhã, se Deus quiser, já estarei em Rebordaínhos. Pela minha parte, esta página ficará em descanso até depois do Ano Novo. 


Para todos

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domingo, 15 de dezembro de 2013

O presépio da aldeia

A Junta de Freguesia e a Associação Social Cultural e Recreativa de Rebordainhos deram as mãos para fazerem o presépio da aldeia. Ontem, várias foram as pessoas que se juntaram para irem ao musgo e para construírem a cabana que acolheu o presépio que hoje tomou forma.
Também hoje se procedeu à elaboração do presépio da Igreja. Ficou, como é costume, lindíssimo. Deste, não tive oportunidade de recolher imagens, mas outras oportunidades surgirão e então serão também publicadas.
Deixo algumas imagens aproveitando a oportunidade para desejar a todos um Santo e feliz Natal.

(Nota: está publicada uma reportagem mais completa  e muito interessante no blog da ASCRR.)










segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Dias frios

Não sei precisar o ano, nem se era Dezembro, Janeiro ou Fevereiro. Tenho, no entanto, muito presentes na memória duas imagens.

1. Fazia um frio de escacha-pessegueiro que piorara durante a manhã. Calhara-me a mim, nesse dia, levar para a escola as brasas que, uma vez postas na braseira, aqueceriam as meninas, classe por classe, pois assim éramos chamadas, à vez, pela Senhor Dona Maria. Não tenho ideia de sermos chamadas de outra forma, mas a minha irmã Amélia recita a expressão da senhora professora: “vêm primeiro as dos Vales, que já andaram uma légua!” Se assim era, bem estava!

As ruas ainda não estavam calcetadas e, porque chovera nos dias anteriores, à medida que o frio crescia, todo aquele lodo ia enrijecendo. A carambina que se formou trataria de conservar o registo daquilo que, ou de quem, fora o último a passar: carros de bois, pitas, perus ou gansos, pessoas, enfim, como se de esculturas rasas se tratasse. Não eram esculturas de gelo, porque essas são transparentes; eram esculturas de lama preta gelada. Nas poças mais fundas, a água choca brilhava.

Durante o Inverno, todos calçávamos os çocos que o tio Grilo nos fazia à medida – os das crianças protegidos com preguinhos; os dos mais velhos cravados com brochas. Trazíamos os pés enxutos, era o que importava, se bem que preguinhos e brochas sobre chão gelado fossem chamariz do perigo.

Assim me vi, de çocos nos pés e lata das brasa vazia na mão, a enfrentar a caminhada de regresso a casa à hora de almoço. Com tanto garoto na escola, certamente estaria acompanhada, mas não me lembro de ninguém. Recordo, sim, que, mal chegando ao Prado, deixei de ser capaz de me equilibra em pé e tive que fazer o resto do caminho de gatas, ferindo mãos e joelhos naquela carambina cortante e enlameada. O que vale é que o pote das casulas, acabadas de cozer, me reconfortou corpo e alma, sensação que só um transmontano consegue imaginar.

2. Foi no mesmo dia, da parte da tarde. Quando chovia, dos bairros de cima corriam autênticos rios para os bairros de baixo. Em alguns lugares, onde a lama era pouca e a água muita, o carambelo era transparente. Assim se mostrava ele, encostado às escadas dos senhores professores, meus vizinhos, também junto à casa da Senhor Dona Denérida, na parte que dava para a taberna de cima e junto à eira de à Chave. Estava a realizar-se um enterro e lembro-me bem do esforço enorme que faziam os homens que transportavam a urna, apesar de terem embrulhado o calçado com aquilo que tinham à mão, palha ou plásticos. A certa altura, não aguentaram mais: desequilibraram-se e o esquife lá foi, sozinho, esbarando pelo carambelo.


Hoje, se conto estas coisas, não é por ter saudades delas, é para lembrar o quanto caminhámos em quarenta anos de democracia e para dizer aos arautos da inevitabilidade que a pobreza é uma coisa muito triste.
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A lindíssima fotografia que ilustra o artigo é da Milita, a quem agradeço, apesar da sem-cerimónia de lhe não ter pedido autorização. Mostra o lado belo do frio.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Convite para o fim-de-semana

D. Francisco de Portugal é das figuras mais notáveis do séc. XVI português. Fero no combate contra os mouros de Arzila e Azamor, cultivou, ao mesmo tempo, a arte do bom cortesão, no galanteio às damas e nos conselhos aos príncipes. Foi conde de Vimioso, nunca tendo esquecido que poderia ser ele o duque de Bragança, em vez de seu primo. Foi poeta da corte de D. João III, a cujo conselho pertencia, sendo um dos autores constantes do Cancioneiro de Garcia de Resende.

O conde do Vimioso não tem papas na língua e diz o que tem a dizer, nem que seja ao rei. É dele a seguinte máxima, dirigida a D. João III: –  “Senhor, quem corta o saio que o cosa”.(1) Disse isto a propósito do conselho que o rei lhe pedira sobre quem deveria acompanhar, até à fronteira com Espanha, a infanta D. Maria, sua filha, que iria matrimoniar-se com o herdeiro de Carlos V (o futuro Filipe II). Ora, como o conde do Vimioso era contra esse casamento, saiu-se com aquela resposta. Infelizmente, não demoraria muito, a História iria tornar concretos os motivos que levavam o conde a opor-se a tal casamento.

Mas o conde, e é por isso que escrevo este artigo, deixou um caderninho cheiinho de máximas (que seriam publicadas por seu neto em 1605) a que foi dado o título de

Sentenças de D. Francisco de Portugal, Conde do Vimioso

Leiam-se algumas delas e afira-se do interessante que é lê-las todas, percebendo-lhes a agudeza e a actualidade:

1. Sobre o comportamento humano
O soberbo contra o fraco é fraco contra o forte
Calando se desonra quem com medo se cala
Menos mal é a culpa própria que ajudar a alheia


2. Sobre o poder
O estado dos reis são os homens, o que os tem melhores é mais poderoso.

Sobre esta pergunto agora: que dizer dos príncipes que convidam os homens a sair dos seus estados?


Bom fim-de-semana.
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(1) in: Ditos Portugueses Dignos de Memória, de autor anónimo do séc. XVI