segunda-feira, 2 de junho de 2008

Meu menino

Todas as mulheres que por cá casaram, também desposaram a terra. Foram elas que, ombro a ombro, com os maridos que tinham, a forjaram, reviraram torrões e com uma força helénica, vinda não sei de onde, ainda choravam para que, dos secos sulcos esgravatados, com a humidade das lágrimas e de esperança encharcados, pudessem engravidar e dar fruto.

Louvem-nas.

Depois de acordadas antes do sol, alimentando a família, animais e outros, lá iam elas… campos fora, cantando, entre dentes, e baixinho, lembrando o seu menino que ficou a dormir.

E à noite depois de a lida se repetir, hora de deitar, ainda tinham tempo, meu Deus e quanto tempo, para o seu menino embalar.

Mãe, o nada deste soneto, é o que te dou, do nada que era sem ter nascido, sem ter sido tu.

Até já.

MEU MENINO

Dorme meu menino dorme,
Neste regaço de embalar…
Dorme meu menino dorme,
Neste leito de adormecer.

Que a fome nunca há-de chegar,
E juntos iremos saber.
Dorme meu anjinho dorme,
Há muito para acontecer…

Deste regaço terás,
O amor do meu menino.
Dorme então, e verás…

Os sonhos do teu destino
Que te levam para o mar
Num regaço de embalar.

Orlando Martins (08-05-2008 )


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A tia Maria, mãe de Orlando Martins, nasceu em Vilar de Ouro. Desde tenra idade que, com a sua mãe, foram morar para Rebordaínhos e aí casou com António Martins.

9 comentários:

J. Stocker disse...

Orlando

Excelente!

De todos os teus poemas, que gentilmente cedeste ao Blog, este foi sem duvida o que me deixou mais encantado. A simplicidade das palavtas e o amor nelas contido é um verdadeiro hino à Mãr, Mulher e à Terra.

Olímpia disse...

Lindo!
Este poema, é um hino de amor.Num sentido simples de tudo, descreves o grande sacrifício e a extrema dedicação das nossas mães.Daquelas mães de Rebordaínhos ( onde os dias começavam cedo) que, após o terminar do dia, comprido e duro, quando o fresco do anoitecer aligeirava o cansaço da lavoura, faziam ouvidos de mercador à fadiga e...embalavam os seus meninos.
E, o embalar da tua mãe, encaminhou-te com segurança para o tal "mar", esse mundo desconhecido, que fez de ti esse homem de bem que eu tão bem conheço.

Sei que,o facto de não teres publicado nada acerca da tua mãe, não era de forma alguma por a teres esquecido.E, aqui está bem demonstrado o teu grande amor e admiração por ela.
Obrigada, Orlando
Olímpia

Anónimo disse...

Amigo, bela homenagem
A todas as mães do mundo
Mãe é a mais bela imagem
que guardamos cá no fundo

A minha a tua a nossa
Qual delas a melhor
Cada uma mais orgulhosa
P,lo seu rebento de amor.

Parabens pela conjugação entre a prosa da Olímpia e o teu poema.
Abraço para ambos

Anónimo disse...

A Olímpia está-me a obrigar a comentar, -Coacção-, o que mais poderia ser?
Um destes dias, tiram-me do sério, e contarei... Ops!!!... as diabruras.
Por falar nisso, vêem as "Feiticeiras"; Muita giras pá.
E cá nos arranjamos.
Mas, entretanto, falemos assim do amor, que afinal, este sim, é global.

Orlando

Olímpia disse...

Amigo Mananganão:
Agradeço as suas palavras mas...o seu a seu dono.É que, quem fez a introdução a este poema, foi o próprio autor, o Orlando Martins.
Abraço
Olímpia

Augusta disse...

Mais palavras para quê? Lindíssimo e pronto.
Beijocas
Augusta

Anónimo disse...

Orlando

Só na segunda quadra não falaste em regaço. O regaço da mãe - das nossas mães - é uma constante física. Ainda me sinto, deitadinha nele, de pequena que era. Ainda sinto o retesar do avental, preso sob as duas coxas, para que a menina não caísse.

De que me falaste tu, dizendo de tua mãe!

A tua mãe que nunca me enxotou quando, tendo eu já três anos e ela amamentava a Ana Maria, a ela recorria para me dar a teta porque a de minha mãe já secara.

Que faríamos nós sem esses regaço? Quanto de nós se perderia?

Dorme meu menino, que eu nunca te faltarei. Mesmo que não dês por isso. Mesmo que os meus dias tenham chegado a Deus.

Obrigada pela tua mãe. Obrigada por mim.

Manuel Pereira disse...

Adorei ver que muita e boa gente que não vivendo na Aldeia desde tenra idade não esqueceram as raízes de onde nasceram.
Parabéns pela dedicação que demonstrais e assim nos fazeis reviver momentos tão distantes.
Para vós o meu muito obrigado.
Manuel Ant.Pereira (e já agora;Pêras)

J. Stocker disse...

Caro
Manuel António Pereira

(Pêras)

Obrigado pelas palavras amigas que deixou e pela visita feita ao blog da sua terra.
Agradeciamos que nos disesse qual a familia a que pertende pelo nome e pela nomeada não chegamos lá, nem eu nem a minha mulher Fátima (Fouce)

Volte sempre e colabore conosco. Está na aldeia ou fora?

Um abraço