X - PAIXÃO SERRANA
por
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António Augusto Fernandes
O carro vermelho e de cromados reluzentes estacou mesmo em frente do grupo que palestrava no Prado, junto à taberna. Abriu-se a porta: do interior emergiram cheias de glamour umas pernas altas encabadas em sapatinhos de verniz e salto alto; depois desenharam-se as coxas roliças moldadas pela minissaia escarlate e as ancas pródigas de deusa da fertilidade. Finalmente, os seios, fartos, empinados na blusa rubra como papoila. Um todo incandescente de pétala vermelha que se desprende de farfalhuda rosa vermelha.
O pessoal, que gozava a tarde de domingo no Prado em frente das tascas da aldeia, suspendeu a pedra do fito, o lançamento da relha, o gesto de levar o copo aos beiços e quedou-se, de olho guloso e boca entreaberta, a mirar os movimentos coleantes da Vénus, imprevista em tal sítio e a tais horas.
Por instantes a mancha vermelha do automóvel faiscou mais ainda, como um desejo sob o sol escaldante de Agosto, recortado contra a cal branca da casa do Pe João. Depois, abriu-se a porta do condutor, também numa lentidão de celebração litúrgica, e um sujeito baixote, em fato verde-rã, engravatado, pena de catatua ondeando no chapeuzinho xadrez de aba curta, atirou-se para fora com arreganho, desenhando um meio sorriso entre o desdenhoso e o triunfal por debaixo do bigodinho catita − tirinha escura bordejando o lábio superior. Um momento de pasmo suspenso… e murmúrios incrédulos correram entre os espectadores:
− Ele não é o Tobias dos Vales!?...
− Quem haveria de dizer! …
− Homessa! Olhem-me p’ra isto! O que não fazem estas Franças!...
O ranhosito que poucos anos antes largara para a aventura de França, saído de trás das urgueiras dos Vales, lapoiço de todo …
− Ora vejam só!
E ela, então, tinha que ser a Miquelina, está bom de ver!
− O que não fazem os ares da estranja! Rica febra!
E eram de facto o Tobias mais a Miquelina.
O pessoal, que gozava a tarde de domingo no Prado em frente das tascas da aldeia, suspendeu a pedra do fito, o lançamento da relha, o gesto de levar o copo aos beiços e quedou-se, de olho guloso e boca entreaberta, a mirar os movimentos coleantes da Vénus, imprevista em tal sítio e a tais horas.
Por instantes a mancha vermelha do automóvel faiscou mais ainda, como um desejo sob o sol escaldante de Agosto, recortado contra a cal branca da casa do Pe João. Depois, abriu-se a porta do condutor, também numa lentidão de celebração litúrgica, e um sujeito baixote, em fato verde-rã, engravatado, pena de catatua ondeando no chapeuzinho xadrez de aba curta, atirou-se para fora com arreganho, desenhando um meio sorriso entre o desdenhoso e o triunfal por debaixo do bigodinho catita − tirinha escura bordejando o lábio superior. Um momento de pasmo suspenso… e murmúrios incrédulos correram entre os espectadores:
− Ele não é o Tobias dos Vales!?...
− Quem haveria de dizer! …
− Homessa! Olhem-me p’ra isto! O que não fazem estas Franças!...
O ranhosito que poucos anos antes largara para a aventura de França, saído de trás das urgueiras dos Vales, lapoiço de todo …
− Ora vejam só!
E ela, então, tinha que ser a Miquelina, está bom de ver!
− O que não fazem os ares da estranja! Rica febra!
E eram de facto o Tobias mais a Miquelina.
***
Aqueles amores tinham dado que falar por toda aquela corda de povos e haviam mesmo passado à crónica montesina como a versão serrana de Romeu e Julieta.
Os Vales eram (ainda são) uma quintarola de meia dúzia de casinhotos entalados numa prega da serra, lá para cima, a dois passos da capela da Senhora da Serra que punha aquela mancha branca no ponto mais alto da serra da Nogueira, onde, nos começos de Setembro, arrecadadas as colheitas, se pagavam as promessas de quinze aldeolas em redor, numa procissão em que campeava o andor da Senhora todo revestido de cravos brancos e de notas de banco.
As gentes do sítio viviam de uns quantos alqueires de centeio que os coelhos deixavam vingar por aqueles crueiros calvos e de alguma batatita que medrava nos conchos mais lentos onde borbulhasse nascente que lhes acudisse nas sedes do Verão. Mas a faina maior fora a da pastorícia, enquanto não chegaram os engenheiros do Estado e lhes coutaram os baldios da vasta serra livre para o plantio de pinheiros e bétulas. Atidos ao saber do provérbio que reza que “o trabalho do menino é pouco mas quem o despreza é louco”, era a ganapada quem de ordinário se ocupava de acompanhar os gados pelo espinhaço da serra.
Crescidos em tal solidão, as crianças eram ariscas como musaranhos, esgueiravam-se como trasgos para trás dos sequeiros da lenha ou para as lojas da bicheza doméstica sempre que lobrigavam estranho, que aquilo era um cu-de-judas onde só se ia parar por engano. E assim, isolados do mundo, eles enrijavam ao sol e às intempéries, no comestio do pão centeio e da batata, e os que a malina não mondava nos primeiros anos de vida medravam que nem cabaços em terra de horta, pequenitos no tamanho, que o sustento não era de luxo, mas caldeados em aço.
A serra e as estações, as cabras e as canhonas eram a grande escola da vida que ministrava as primeiras lições sobre a magna tarefa de se desenrascar e os mistérios da propagação da espécie. Como os zagais eram atrevidotes e as pastoritas não alinhavam a sua conduta pelo platonismo das éclogas de Bernardim, nem ocupavam os seus ócios a declamar ao desfastio as endechas de João de Lemos à lua de Portugal, seria quase milagre da Senhora da Serra que alguma levasse impoluto ao altar o ramo de laranjeira.
Nessa lei cósmica que a natureza ditava, que os montes proclamavam e os bichinhos ensinavam, crescera também a Miquelina, de tal modo que aos dezasseis anos era já uma mulherzinha nas suas graças feminis, muito sabida nos mistérios da vida e aprazida nas celebrações de Afrodite. Mas também arrojada como Hércules para conduzir a cabrada aos pastos dos píncaros e a brandir o cajado com que açulava os cães do gado, de pescoço cilhado por coleiras de enormes puas, quando por lá ecoava o uivo do lobo. Não se atormentava com fantasmas nem almas do outro mundo e, nos dias curtos de Inverno, era já noite cerrada quando, enroscada num daqueles tremendos cobertores de lã saídos do tear da Isménia, tocava o rebanho a caminho do curral. Nas noites do luar vivo de Janeiro, os chocalhos do gado tinindo no ar fino da geada, o balir desaforado dos cordeirinhos em demanda do úbere farto das ovelhas e os berros estridentes dos cabritinhos tenros momentaneamente perdidos da mãe ensaiavam uma perturbante sinfonia rusticana evolando-se sobre o cheiro acre das folharascas de carvalheira e da palha centeia a curtir nas quelhas para estrumar as belgas na Primavera.
Os Vales eram (ainda são) uma quintarola de meia dúzia de casinhotos entalados numa prega da serra, lá para cima, a dois passos da capela da Senhora da Serra que punha aquela mancha branca no ponto mais alto da serra da Nogueira, onde, nos começos de Setembro, arrecadadas as colheitas, se pagavam as promessas de quinze aldeolas em redor, numa procissão em que campeava o andor da Senhora todo revestido de cravos brancos e de notas de banco.
As gentes do sítio viviam de uns quantos alqueires de centeio que os coelhos deixavam vingar por aqueles crueiros calvos e de alguma batatita que medrava nos conchos mais lentos onde borbulhasse nascente que lhes acudisse nas sedes do Verão. Mas a faina maior fora a da pastorícia, enquanto não chegaram os engenheiros do Estado e lhes coutaram os baldios da vasta serra livre para o plantio de pinheiros e bétulas. Atidos ao saber do provérbio que reza que “o trabalho do menino é pouco mas quem o despreza é louco”, era a ganapada quem de ordinário se ocupava de acompanhar os gados pelo espinhaço da serra.
Crescidos em tal solidão, as crianças eram ariscas como musaranhos, esgueiravam-se como trasgos para trás dos sequeiros da lenha ou para as lojas da bicheza doméstica sempre que lobrigavam estranho, que aquilo era um cu-de-judas onde só se ia parar por engano. E assim, isolados do mundo, eles enrijavam ao sol e às intempéries, no comestio do pão centeio e da batata, e os que a malina não mondava nos primeiros anos de vida medravam que nem cabaços em terra de horta, pequenitos no tamanho, que o sustento não era de luxo, mas caldeados em aço.
A serra e as estações, as cabras e as canhonas eram a grande escola da vida que ministrava as primeiras lições sobre a magna tarefa de se desenrascar e os mistérios da propagação da espécie. Como os zagais eram atrevidotes e as pastoritas não alinhavam a sua conduta pelo platonismo das éclogas de Bernardim, nem ocupavam os seus ócios a declamar ao desfastio as endechas de João de Lemos à lua de Portugal, seria quase milagre da Senhora da Serra que alguma levasse impoluto ao altar o ramo de laranjeira.
Nessa lei cósmica que a natureza ditava, que os montes proclamavam e os bichinhos ensinavam, crescera também a Miquelina, de tal modo que aos dezasseis anos era já uma mulherzinha nas suas graças feminis, muito sabida nos mistérios da vida e aprazida nas celebrações de Afrodite. Mas também arrojada como Hércules para conduzir a cabrada aos pastos dos píncaros e a brandir o cajado com que açulava os cães do gado, de pescoço cilhado por coleiras de enormes puas, quando por lá ecoava o uivo do lobo. Não se atormentava com fantasmas nem almas do outro mundo e, nos dias curtos de Inverno, era já noite cerrada quando, enroscada num daqueles tremendos cobertores de lã saídos do tear da Isménia, tocava o rebanho a caminho do curral. Nas noites do luar vivo de Janeiro, os chocalhos do gado tinindo no ar fino da geada, o balir desaforado dos cordeirinhos em demanda do úbere farto das ovelhas e os berros estridentes dos cabritinhos tenros momentaneamente perdidos da mãe ensaiavam uma perturbante sinfonia rusticana evolando-se sobre o cheiro acre das folharascas de carvalheira e da palha centeia a curtir nas quelhas para estrumar as belgas na Primavera.
***
Foi por essa altura, quando as noites são longas como as léguas da Póvoa e povoadas de solidão, que o Tobias, muito morfanho e casmurro, deu em rentar a porta da Miquelina, com grandes vagares e olhinhos de carneiro mal morto. De mãos enterradas nas pantalonas, raspando com a bota de couro cru as lajes do caminho, assobiando com sentimento uma modinha de amor, passava e repassava… E nada.
Fora bater a boa porta! Ela queria lá saber de amorios! Bem lhe bondavam os trabalhos da sua cabrada e a gandaia pela serra com os outros pegureiros. Mas, como água mole em pedra dura… ela lá condescendeu em lhe aceitar o namoro que ele lhe propusera com uns versos canhestros, oscilando entre o lírico e o erótico, passados como legado literário de geração em geração desde o tempo da Maria Castanha e comummente aceites como formalização do acto. Mais para se ver livre do emplastro do que por convicção.
O rapaz andava que nem que tivesse o rei na barriga, muito ufano da sua conquista, que a moça era de arreguilar o olho. Já nem as jornadas a picar roço pelas arribas da serra lhe rendiam como dantes e começara até a fumar Três-vintes para se dar mais ares de homem, quando, pela noitinha, demandava a caleja da Miquelina para dois dedos de prosa.
Mas, tal como à linda Inês, também esta felicidade a fortuna não deixou durar muito. No céu azul da paixão do Tobias começaram a acastelar-se as nuvens aziagas do ciúme. Por meias palavras mal apanhadas no ar, aqui e acolá e uns sorrisinhos marotos surpreendidos dos mariolas da sua criação, ia-se-lhe figurando no juízo tardo que, pelos dias compridos lá pela serra, a sua conversada não desdenhava de outros amores de ocasião. Uma coisa má entrou de lhe roer os por-dentros e vinham-lhe ganas de esganar a malvada e depois atirar-se a um poço.
E foi neste entrementes que, num dia de começos da Primavera, quando pelos soutos soava já a cantiga alvissareira do cuco, pela meia tarde, se ouviram para os lados do Fetal, uns gritos aflitivos de aqui-d’el-rei, ai Jesus! Acudam! Uns trabalhadores, que por ali surribavam uma barreira do Arraul, acorreram, guiados pelo estridor da gritaria. Nem queriam acreditar: com uma corda atada ao pescoço, o Tobias não cessava de esbarregar como vitelo desmamado, as veias do pescoço encordoadas, não do enforcanço, mas da convicção que punha na gritaria. O alma de cântaro não era tão lorpa como o faziam e tivera artes de escolher uma carvalha ainda tenra que dobrasse com o seu peso de forma a permitir-lhe berrar com os pés bem assentes no chão. Está visto que encenara aquilo para impressionar a ovelha tresmalhada da Miquelina e chamá-la de novo ao seu redil. Lá o soltaram da corda e o Tobias, entre combalido e heróico, deixou-se amparar até à aldeia, cogitando com íntimo regozijo que a calhondra não deixaria de se comover perante tão subido gesto de desespero. Mas quando, ao descer da serra com cabrada, lhe contaram o sucedido, a moçoila saiu-se com um obsceníssimo manguito de total insensibilidade perante tão acendrado martírio de amor. O Tobias anunciava para quem o queria ouvir que aquilo ainda acabava mal, que ainda se matava. − Haviam de ver!... E, de facto, de novo agarrou numa corda, de novo escolheu uma carvalheira nova e de novo foi salvo por quem lhe acudiu aos berros.
A bem-amada começava a achar graça àquilo e ria a bandeiras despregadas dos dislates do seu Romeu, continuando na sua libérrima vida de pastora sem peias de qualquer feitio. E o Tobias, que já ganhara gosto a tal encenação, voltou a ameaçar e voltou a agarrar num bocado de corda.
E foi um sardinheiro, que subia das bandas da Ribeira com seu burrico na esperança de vender o meio caixote de sardinhas que lhe sobejara na freguesia, quem acudiu aos berros desesperados do namorado incorrespondido. Foi dar com o Tobias, as cordoveias do pescoço muito inchadas e a língua já roxa a saltar-lhe da boca. Desta vez o mofino avaliara mal a resistência da carvalha escolhida e faltava-lhe um palmo para que os pés tocassem o chão.
Está bom de ver: o amor derruba montanhas e tamanha persistência tinha mesmo que dar em casório. E ali os tinham gordos e felizes, gozando a felicidade de embasbacar o povo com o seu carro rubro de cromados reluzentes.
− Carai! Guardado está o bocado!... − comentava o nosso conhecido Aidinhas com os seus lumes de filósofo.
− Pois é! − rematava outro, de olho lânguido − casamento e mortalha no céu se talha.
Fora bater a boa porta! Ela queria lá saber de amorios! Bem lhe bondavam os trabalhos da sua cabrada e a gandaia pela serra com os outros pegureiros. Mas, como água mole em pedra dura… ela lá condescendeu em lhe aceitar o namoro que ele lhe propusera com uns versos canhestros, oscilando entre o lírico e o erótico, passados como legado literário de geração em geração desde o tempo da Maria Castanha e comummente aceites como formalização do acto. Mais para se ver livre do emplastro do que por convicção.
O rapaz andava que nem que tivesse o rei na barriga, muito ufano da sua conquista, que a moça era de arreguilar o olho. Já nem as jornadas a picar roço pelas arribas da serra lhe rendiam como dantes e começara até a fumar Três-vintes para se dar mais ares de homem, quando, pela noitinha, demandava a caleja da Miquelina para dois dedos de prosa.
Mas, tal como à linda Inês, também esta felicidade a fortuna não deixou durar muito. No céu azul da paixão do Tobias começaram a acastelar-se as nuvens aziagas do ciúme. Por meias palavras mal apanhadas no ar, aqui e acolá e uns sorrisinhos marotos surpreendidos dos mariolas da sua criação, ia-se-lhe figurando no juízo tardo que, pelos dias compridos lá pela serra, a sua conversada não desdenhava de outros amores de ocasião. Uma coisa má entrou de lhe roer os por-dentros e vinham-lhe ganas de esganar a malvada e depois atirar-se a um poço.
E foi neste entrementes que, num dia de começos da Primavera, quando pelos soutos soava já a cantiga alvissareira do cuco, pela meia tarde, se ouviram para os lados do Fetal, uns gritos aflitivos de aqui-d’el-rei, ai Jesus! Acudam! Uns trabalhadores, que por ali surribavam uma barreira do Arraul, acorreram, guiados pelo estridor da gritaria. Nem queriam acreditar: com uma corda atada ao pescoço, o Tobias não cessava de esbarregar como vitelo desmamado, as veias do pescoço encordoadas, não do enforcanço, mas da convicção que punha na gritaria. O alma de cântaro não era tão lorpa como o faziam e tivera artes de escolher uma carvalha ainda tenra que dobrasse com o seu peso de forma a permitir-lhe berrar com os pés bem assentes no chão. Está visto que encenara aquilo para impressionar a ovelha tresmalhada da Miquelina e chamá-la de novo ao seu redil. Lá o soltaram da corda e o Tobias, entre combalido e heróico, deixou-se amparar até à aldeia, cogitando com íntimo regozijo que a calhondra não deixaria de se comover perante tão subido gesto de desespero. Mas quando, ao descer da serra com cabrada, lhe contaram o sucedido, a moçoila saiu-se com um obsceníssimo manguito de total insensibilidade perante tão acendrado martírio de amor. O Tobias anunciava para quem o queria ouvir que aquilo ainda acabava mal, que ainda se matava. − Haviam de ver!... E, de facto, de novo agarrou numa corda, de novo escolheu uma carvalheira nova e de novo foi salvo por quem lhe acudiu aos berros.
A bem-amada começava a achar graça àquilo e ria a bandeiras despregadas dos dislates do seu Romeu, continuando na sua libérrima vida de pastora sem peias de qualquer feitio. E o Tobias, que já ganhara gosto a tal encenação, voltou a ameaçar e voltou a agarrar num bocado de corda.
E foi um sardinheiro, que subia das bandas da Ribeira com seu burrico na esperança de vender o meio caixote de sardinhas que lhe sobejara na freguesia, quem acudiu aos berros desesperados do namorado incorrespondido. Foi dar com o Tobias, as cordoveias do pescoço muito inchadas e a língua já roxa a saltar-lhe da boca. Desta vez o mofino avaliara mal a resistência da carvalha escolhida e faltava-lhe um palmo para que os pés tocassem o chão.
Está bom de ver: o amor derruba montanhas e tamanha persistência tinha mesmo que dar em casório. E ali os tinham gordos e felizes, gozando a felicidade de embasbacar o povo com o seu carro rubro de cromados reluzentes.
− Carai! Guardado está o bocado!... − comentava o nosso conhecido Aidinhas com os seus lumes de filósofo.
− Pois é! − rematava outro, de olho lânguido − casamento e mortalha no céu se talha.
13 comentários:
Tonho
Isto hoje remete-nos logo para o Cesário... Belas papoilas!
Fizeste-me rir mais uma vez com tais amores que desconhecia em absoluto. A história das tentativas de enforcamento fizeram-me lembrar uma conta - verdadeira e com gente de Rebordaínhos - que a minha Amélia me disse. Daqui a três ou quatro dias publico-a.
Entretanto vou-me lembrando desta tua. Obrigada por ela.
Beijos
Para os que estiverem menos dentro do assunto, aqui ficam uns excertos das citadas endechas de João de Lemos à lua:
A LUA DE LONDRES
É noite. O astro saudoso
rompe a custo um plúmbeo céu,
tolda-lhe o rosto formoso
alvacento, húmido véu,
traz perdida a cor de prata,
nas águas não se retrata,
não beija no campo a flor,
não traz cortejo de estrelas,
não fala de amor às belas,
não fala aos homens de amor.
(...)
Oh! que foi!... Deixaste o brilho
nos montes de Portugal,
lá onde nasce o tomilho,
onde há fontes de cristal;
lá onde viceja a rosa,
onde a leve mariposa
se espaneja à luz do Sol;
lá onde Deus concedera
que em noite de Primavera
se escutasse o rouxinol.
(...)
Na minha pátria, uma aldeia,
por noites de lua cheia,
é tão bela e tão feliz!...
Amo as casinhas da serra
co'a Lua da minha terra,
nas terras do meu país.
(...)
deixo os meus parabens ao antonio pelo fantastico texto nao esquecendo a fatima adorei ler os dois ..... voçes sao fantasticos ....abraços
Tonho:
Mais um excelente "Ares da Serra", que os olhos não se cansam de ler.
Também eu desconhecia estes amores e desamores. E que bem que tu nos retratas o regresso dos nossos conterrâneos para umas férias bem merecidas!
Grata por estes momentos com que nos brindas
Augusta
Mais um texto para regalar o espírito.
Uma imagem fiel das paixões assolapadas do antigamente e de como a persistência satisfaz todas as vontades.
Ou como diz o povo: "água mole em pedra dura...."
Um abraço para Rebordainhos
António
Mais um fantástico texto bem ao teu jeito e que nos deixa sempre com vontade de ler mais e mais.
Parabéns
Beijos
Um texto fantástico, mais um,elaborado por um transmontano cuja escrita nos delicia. Assim não há textos grandes, meu amigo. Assim nós pedimos mais.
Bem-haja!
Um abraço
Anónimo
Bem-haja pelas suas palavras.
Cumprimentos
Bem-hajas António, por nos dares o privilégio de lermos os teus textos.
Que beleza!
Beijos
Olímpia
Queridos amigos Fátima, Augusta,, Chanesco, Céu, Isamar, Olímpia Anónimo...
Peço perdão por não ter a paciência franciscana e muito menos a delicadeza gentil da nossa amiga Fátima para agradecer individualmente cada uma das vossas mensagens tão simpáticas.
Ainda que o meu ser racional reconheça a hiperbolização praticada pelos vossos elogios, a outra parte, a emocional fica encantada e o meu ego vai inflacionando desmesuradamente, na proporção inversa do discernimento. Humanas fraquezas que me impelem a ir escrevendo mais umas linhas para ir ouvindo mais uns elogios que são para mim, diria o Eça, "como rebuçadinhos celestes".
Abraços deste vosso grato amigo
António Rebordainhense
ANTÓNIO, parabéns pelos "ARES DA SERRA" que eu tenho acompanhado
com muito interesse embora não
tenha comentado. Admiro a descrição
tão cheia de pormenores e farta de
imaginação. As expressões usadas
são tão reais que deixam uma pessoa
presa a viver todas as cenas. Não
há para mim melhor entretimento
que recordar pessoas e locais.
Recordo também os dias em que tu
mais o ZÉ eram os donos da taberna.
Havia sempre entre os dois uma
luta (amigável claro) que parecia
interminável, só interrompida pela
chegada de algum cliente, mas que
logo a seguir recomeçava.
Os meus cumprimentos e continuo
a contar com os "ARES DA SERRA".
Américo
Caro Américo:
Suponho que se trata do Américo do sr. Amadeu - que no meu imaginário infantil ocupa o lugar do ancião mais venerável de Rebordainhos, sempre mito bem posto, mais observador que falador, embrulhando com método o seu Kentucky.
Não nos vemos, suponho, há mais de 40 anos, talvez 50 anos. De ti apenas recordo o S. Domingos Sávio que trouxeste de Mogofores e pregaste na porta da vossa casa, e de te ver a derrubar uma careta de barro, colada no alto da parede que dava para a rua do Prado, com tiro certeiro de uma bola de ténis. E ficaste na minha ideia como o rei do tiro certeiro. Vê lá tu o que fica na cabeça da gente quando somos miúdos!? Nem chega a dar para uma crónica dos Ares da Serra...
Também leio sempre os comentários sagazes e oportunos que deixas neste lugar de encontro dos Rebordainhenses.
Obrigado pelas palavras amáveis.
ANTÓNIO, obrigado pela simpática
resposta ao meu comentário. As
tuas memórias a meu respeito estão certas, o que eu não me lembro é do tiro ao alvo. Mais
uma vez admiro os termos que usas
para classificar as pessos, neste
caso com referência ao meu pai:
"mais observador do que falador".
Pormenor sábio e bem aplicado. É
por tudo isto que os teus textos
são completos e prendem o leitor.
Um abraço
Américo
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