domingo, 12 de julho de 2009

CONTAS

III

Lembram-se de como nos ríamos com estes disparates?

Era uma vez um gato que não estava satisfeito com o dono. Resolveu ir correr mundo. Encontrou um cão. Chamou-o. Encontrou um burro, também o chamou. Encontrou um galo. Também. Chegaram à porta de uma estrebaria. O gato foi para o borralho, o cão para detrás da porta, o burro foi para a estrebaria e o galo para o telhado.

Vieram os ladrões. Um foi a chiscar o fósforo nos olhos do gato. O gato arranhou-o na cara. O ladrão deitou a correr e despertou o cão que o mordeu numa perna. Foi para a estrebaria, o burro zurrou e o galo começou a cantar.

Ele foi desvairado para ao pé dos companheiros, a dizer que estava lá o medo, detrás da porta, que o tinha arranhado na cara, o ferreiro que lhe tinha deitado as tenazes às pernas, o burro que lhe deu quatro coices e o galo cantou do alto do telhado, córicócó!
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Lembro que escrevo as contas, tal e qual, como as ouvi.

12 comentários:

Augusta disse...

É pá, que bela memória! Confesso que desta, eu não me recordava. De qualquer forma fez-me regredir no tempo e passar novamente os serões à lareira, quer da nossa casa, quer na da tia Maria. E que bem se passavam. Conversas desfiadas, ouvidos atentos, comuniação efectiva!
Beijos

Chanesco disse...

Estas "contas" do antigamente, que hoje, contadas à luz encandescente da lâmpada eléctrica, soam a disparates, eram porventura mais pedagógicas que as alienantes novelas que invadem o universo televisivo e nos preenchem os serões.

Mais uma recolha a juntar ao inventário de memórias deste blog.

Um abraço para Rebordaínhos

Olímpia disse...

Estas contas, fazem parte ainda hoje, da colectânia de histórias tradicionais infantis.De momento, não me lembro do título (actual) mas, a história começa quando um galo, se apercebe de que poderá fazer parte da ementa dos donos e, resolve fugir.
Era uma conta que habitualmente a nossa irmã Amélia me contava, antes de adormecer.Era uma das minhas histórias preferidas quando muito pequenina.
Enquanto educadora e, recordando-me bem deste gosto especial, sempre a contei aos meus alunos, com todas as variantes que foram aparecendo mas, onde o conteúdo principal, sempre foi o mesmo.
Parabéns pela tua "memória de elefante".
Bjos
Olímpia

Lurdes disse...

Fátima tens um jeito peculiar para historiar que eu admiro imenso.
Temos quase a mesma idade e também eu ouvia "contas" ao serão à lareira, mas não tenho lembranças com essa exactidão.
Parabéns!

Beijos
Lurdes

Fátima Pereira Stocker disse...

Augusta

Nesses serões, quando se contavam as contas, parece que toda eu me transformava em olhos e ouvidos. Guardo com grande nitidez os rostos, os risos e as vozes de quem contava: mãe, pai, tia Helena. Até sei quem contou o quê, por entre o crepitar da lenha no lume. E que bem me fazem!

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Meu caro Chanesco

Não há melhor pedagogia que a do riso e do afecto. O Eça dizia que o que a mãe ensina fica como que gravado na pedra - nunca se apaga. Quando a mãe/família é substituída pela televisão, nada fica que importe, porque a televisão não nos abraça nem nos sussurra ao ouvido.

Um grande abraço

Fátima Pereira Stocker disse...

Olímpia

Creio que a do galo é outra e, se a memória me não falha, essa vinha nos livros da escola. Tu que os tens, vai lá confirmar. No cimo da página estava um desenho muito bonito de um galo que tinha uma pena numa pata porque estava a escrever uma carta num papel onde se viam algumas garatujas. Não sei se o galo tinha muitas cores (devia ter) mas lembro-me dele num azul petróleo lindíssimo. Mas posso estar errada, claro!

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Lurdes

BONS VENTOS TE TROUXERAM DE VOLTA A CASA! Estou muito contente com este teu regresso. Fazias-nos falta!

Quanto à escrita, sempre te digo que é só começar e perder a vergonha. Força, que tens muito para contar tu também!

Beijos

Anónimo disse...

Fátima: desculpa por ter demorado a comentar, mas ando às turras com a net, não sei qual de nós ganhará.
Histórias como esta fazem falta. Dão-nos outras faculdades de pensar, para depois seguir em frente.
Como sempre és tu quem leva a bamdeira...Obrigado com beijos: António Brás Pereira

Olímpia disse...

Fátima,
Tenho muita pena mas... estás mesmo enganada.Mesmo assim, fui consultar os nossos livros da escola primária.
A história a que tu te referes, tem o título "O Esgravata e o Bicadinha".E é assim:
Um galo e uma galinha tinham dez pintos. Achando-se muito gordos e com os filhos já criados( penas fortes, crista grandinha e vermelhinha),resolveram viajar, ir às descobertas.Só não sabiam como dar notícias aos filhos.
Um pato que os ouviu,ofereceu-lhes uma pena.
Resolveram então partir.
Andando por montes e vales durante dias sem descobrirem nada, viram ao longe um moinho. Resolveram caminhar até lá.
À medida que se aproximavam, sentiam-se de quando em vez empurrados pela ventania.
Chegados ao moinho, observaram, formularam e...descobriram que era o vento quem fazia girar as suas velas.Felizes, resolveram comunicar a novidade.
Numa folha de couve, escreveram aos filhos e ao pato a primeira descoberta:
"O moinho
Anda de roda a girar.
Não é ninguém lá de dentro
Mas o vento a empurrar.
Dá saudades aos meus filhos
A quem levo muitos milhos.
Para ti vai um abraço
( Se com isto não te maço )
Teu amigo patarata
Pimpão Galaró Esgravata".

Ao cimo da página, está de facto um desenho muito bonito (em grande plano um moinho; na relva, um galo e uma galinha a correrem)
Na página seguinte, na parte inferior e do lado direito, lá está o galo com uma pena na pata e, a escrever numa folha de planta verde.
Curiosamente, o galo é somente castanho, mas a pena é azul petróleo.
O livro onde consta esta história, é o teu livro da segunda classe que, apesar de termos idades próximas, já foi diferente do meu.
Não leves a mal mas, quando se tratar de histórias infantis...não teimes comigo.Tenho obrigação de as conhecer.
Como já te disse, há muitas variantes da conta que apresentaste.
Beijos
Olímpia

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho (Braz)
Os servidores de internet, às vezes, deixam-nos com a paciênca desfeita.

Não peças desculpa: cada um vem quando quer, quando pode e se quer e se pode!

Fizeste-me rir com a da bandeira: se fosse na cantiga, eu seria o padrinho!...

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Olímpia

Não era bem teima, era lembrar-me da história do galo viajante (obrigada pela transcrição) e não associar galo nenhuma àquela que escrevi e que me lembro de ouvir o pai contar.

Beijos