Por
ANTÓNIO BRAZ PEREIRA
1.ª parte
Tanto quanto me é permitido recordar, através dos cinquenta e nove invernos passados, dezassete dos quais permanentemente naquela aldeia, pacata como muitos lhe chamariam, para mim maravilhosa terra, Rebordainhos, ou idealizei, ou então sonhei, é um mundo lindo no interior dos seres e das coisas, pacífico, íntegro, com a sua movimentação natural virada quase sempre para o sentido da alegria e respeito.
Desejava poder evitar a narração da parte negativa pela qual milhares de famílias passaram, e passam ainda no século em que vivemos, para não ser julgado como infeliz, coitadinho, ou simplesmente desprezado, sendo a descriminação uma deficiência mental das mais defeituosas da nossa existência. Contudo, eu vivi assim.
Vale dos Amieiros fica distanciado da aldeia uns três ou quatro quilómetros, mas não era a distância que me metia medo quando tinha os meus seis anos. Enfiado nos socos de amieiro, feitos pelo tio Grilo, com terra já calcada no interior, lá ia eu e meu pai, atrás de um burro velho e ruço, lavrar um cantinho que possuíamos, ou seria baldio, no topo da grande encosta, quase na Malhada Velha onde o povo se revoltou contra a plantação dos pinheiros nas terras que alimentavam numerosas famílias. O Sol era abrasador, a poeira entrava-me pelas narinas, água só na Ribeira e, para cúmulo do infortúnio, à nossa volta ouvia-se apenas o cuco cantar, sempre e sempre a mesma moda. E eu que gostava tanto de brincar no Prado ou na cerca da escola!...
Faltava ainda um ano para entrar na primária, e enquanto o tempo ia passando com aquela lentidão desconcertante, encontrávamo-nos, grandes e pequenos, nos tanques construídos para a rega - Vale da Frunha, Chãera e Covinha eram os mais frequentados - onde tomávamos banho, ou melhor, eram a nossa praia de nudismo, sendo poucos ou nenhum a possuir calções de banho. Ali permanecíamos horas a nadar, aqueles que já sabiam; os outros iam aprendendo à sua custa. Eram lançados pelos mais idosos para dentro do poço, sendo apenas socorridos quando já tinham engolido grande quantidade de água, como se deve compreender, “não potável”. É assim que se aprende a nadar – diziam eles, enquanto os pobres ainda sufocavam, tossindo, esperando que a água ingerida fosse ejectada.
Recordo-me também dos grandes nevões. Num deles, talvez o maior, o meu pai tentou abrir a porta da rua mas não conseguiu. Abriu a porta que dava para casa da tia Helena, e o espectáculo era digno de um filme de ficção científica. Para retirar água na fonte grande, os homens abriram um túnel, idêntico ao das galerias onde os franceses guardam preciosamente os vinhos millésimes, à temperatura desejada.
Finalmente abriu novo ano lectivo, o dos meus sete anos. Éramos seis rapazes e só duas ou três raparigas, a entrar para a primeira classe. Nesse dia, os pais faziam sempre um esforço pela boa apresentação dos filhos. Iam mais lavadinhos, penteados, com risca do lado esquerdo. Também ia assim, calças remendadas, socos, e uma camisa que alguém caridoso deu à minha mãe. Para mim o que levávamos vestido não tinha qualquer importância. Queria aprender a ler, escrever, contar, falar e conviver com gente da minha idade. Começava a dar os primeiros passos na vida. Marcou-me o facto de quase todos levarem uma “pedra” (ardósia) enquanto eu ia de mãos vazias. No dia seguinte minha mãe esclareceu-me: Ó meu filho! Custa uma coroa, e nós não a temos, para a comprar. Como quando se é pequeno não se liga muito às coisas insignificantes, desenrasquei-me, pedindo a uns e outros, sempre que necessitava, aliás também não tive qualquer livro, nem sequer na quarta classe, aprendendo nas aulas a gramática, os problemas, redacções e reduções, geografia, português e história, marcando-me o livro de terceira classe que me emprestava o Tarcísio para decorar a Barca Bela, Vozes dos Animais, não esquecendo aquele poema de que tanto gostava, a Balada da Neve de Augusto Gil:
Desejava poder evitar a narração da parte negativa pela qual milhares de famílias passaram, e passam ainda no século em que vivemos, para não ser julgado como infeliz, coitadinho, ou simplesmente desprezado, sendo a descriminação uma deficiência mental das mais defeituosas da nossa existência. Contudo, eu vivi assim.
Vale dos Amieiros fica distanciado da aldeia uns três ou quatro quilómetros, mas não era a distância que me metia medo quando tinha os meus seis anos. Enfiado nos socos de amieiro, feitos pelo tio Grilo, com terra já calcada no interior, lá ia eu e meu pai, atrás de um burro velho e ruço, lavrar um cantinho que possuíamos, ou seria baldio, no topo da grande encosta, quase na Malhada Velha onde o povo se revoltou contra a plantação dos pinheiros nas terras que alimentavam numerosas famílias. O Sol era abrasador, a poeira entrava-me pelas narinas, água só na Ribeira e, para cúmulo do infortúnio, à nossa volta ouvia-se apenas o cuco cantar, sempre e sempre a mesma moda. E eu que gostava tanto de brincar no Prado ou na cerca da escola!...
Faltava ainda um ano para entrar na primária, e enquanto o tempo ia passando com aquela lentidão desconcertante, encontrávamo-nos, grandes e pequenos, nos tanques construídos para a rega - Vale da Frunha, Chãera e Covinha eram os mais frequentados - onde tomávamos banho, ou melhor, eram a nossa praia de nudismo, sendo poucos ou nenhum a possuir calções de banho. Ali permanecíamos horas a nadar, aqueles que já sabiam; os outros iam aprendendo à sua custa. Eram lançados pelos mais idosos para dentro do poço, sendo apenas socorridos quando já tinham engolido grande quantidade de água, como se deve compreender, “não potável”. É assim que se aprende a nadar – diziam eles, enquanto os pobres ainda sufocavam, tossindo, esperando que a água ingerida fosse ejectada.
Recordo-me também dos grandes nevões. Num deles, talvez o maior, o meu pai tentou abrir a porta da rua mas não conseguiu. Abriu a porta que dava para casa da tia Helena, e o espectáculo era digno de um filme de ficção científica. Para retirar água na fonte grande, os homens abriram um túnel, idêntico ao das galerias onde os franceses guardam preciosamente os vinhos millésimes, à temperatura desejada.
Finalmente abriu novo ano lectivo, o dos meus sete anos. Éramos seis rapazes e só duas ou três raparigas, a entrar para a primeira classe. Nesse dia, os pais faziam sempre um esforço pela boa apresentação dos filhos. Iam mais lavadinhos, penteados, com risca do lado esquerdo. Também ia assim, calças remendadas, socos, e uma camisa que alguém caridoso deu à minha mãe. Para mim o que levávamos vestido não tinha qualquer importância. Queria aprender a ler, escrever, contar, falar e conviver com gente da minha idade. Começava a dar os primeiros passos na vida. Marcou-me o facto de quase todos levarem uma “pedra” (ardósia) enquanto eu ia de mãos vazias. No dia seguinte minha mãe esclareceu-me: Ó meu filho! Custa uma coroa, e nós não a temos, para a comprar. Como quando se é pequeno não se liga muito às coisas insignificantes, desenrasquei-me, pedindo a uns e outros, sempre que necessitava, aliás também não tive qualquer livro, nem sequer na quarta classe, aprendendo nas aulas a gramática, os problemas, redacções e reduções, geografia, português e história, marcando-me o livro de terceira classe que me emprestava o Tarcísio para decorar a Barca Bela, Vozes dos Animais, não esquecendo aquele poema de que tanto gostava, a Balada da Neve de Augusto Gil:
Batem leve, levemente
Como quem chama por mim
Será chuva, será gente!
Gente não é certamente;
E a chuva não bate assim
Como quem chama por mim
Será chuva, será gente!
Gente não é certamente;
E a chuva não bate assim
Enquanto duraram os meus quatro anos escolares, e à medida que ia crescendo, tantas coisas passaram e voltaram a passar, na minha cabecita! Vivia alegre e feliz, quando jogávamos à pedrada, com os dos Pereiros, ou, mesmo, quando um dia ficámos presos; também ao saber que o Ferreira esteve caindo do forro do telhado da escola, deixando um grande buraco aberto, enquanto procurava uns pardalinhos - e não era tão fácil subir lá cima! O Ferreira foi sempre um quebra-cabeças, para os professores. Noutro dia, no adro da Igreja, enquanto decorria o terço, o Ferreira dava pontapés a um pau que ia embater com força na porta central. Saiu de repente o Sr. Professor, e desatou a correr atrás dele, enquanto ameaçava: olha que eu toso-te! Olha que eu toso-te! Já foi tempo... – respondia este, esquivando-se pelourinho a cima.
Um dia lindo de Primavera, por volta das nove horas, o Sr. Manuel do tio Amadeu dava de comer à sua torina, que tinha na loje junto da casa do Foguete; e como todos os dias, também o Gilberto, (Tição) à ida para a escola, passava por ali por junto da porta, para lançar para dentro: Ó barbas d’alho! O tio Manuel, por quem eu tinha grande respeito e admiração, com grandes dons para o teatro, apesar de eu só lhe ter visto encenar e realizar um, ou melhor uma mistura de “esterlóquio” lançando fogo pela boca e histórias diversas, mas também porque recebia, creio, de um irmão que tinha na Régua, material escolar que oferecia em troca de outros jeitos, naquele dia esperava de pé firme o gaiato. Mal se aproximou da porta, já estava colhido por um braço forte de homem. – Então sou barbas de alho? E pegando numa bosta de vaca, encheu-lhe a boca com ela, enquanto murmurava: para que não voltes a chamar-me isso. E o garoto lá foi lavar a cara ao tanque, enquanto os que presenciámos a cena desatávamos a rir, é claro, contando de seguida na escola.
Enquanto frequentava a 2ª classe, os mais velhos não nos ligavam. Mesmo assim, eu tinha os meus ídolos. O Amadeu, que faleceu em Angola desenhava tão bem, que enquanto vivi em Paris, exercendo a profissão de motorista de táxi, sempre que levava clientes à praça do Tèrtre, também conhecida, por Montmartre dos pintores, o recordava com saudades. O Pilatos e as asneiras que engendrava fumando o seu Kentucky; o Zequinhas, irmão da Teresa, a quem chamavam “burro” por ter passado da 2ª para a 1ª, e de quem se riam, mas a mim me revoltava por compreender que o rapaz teria, por força, outros valores que não os das letras; mas sobretudo a Albertina, uma inteligência rara, superdotada, direi mesmo. Quantas vezes nos ajudou!... Não havia exercício que lhe resistisse.
Aproximou-se o exame de quarta classe, só quatro dos oito fomos propostos: duas raparigas e dois rapazes. Devo dizer que o apoio de que falava a Albertina, uma das eleitas, nos ajudou bastante. Eu e o meu primo Tarcísio fizemos exame na Estacada, após oito dias de estadia em Bragança. Voltámos com aprovação, e as moças que também foram aprovadas, creio que ficaram, pelo menos uma delas, para fazer a admissão ao liceu, já que a outra tinha seguido para Lisboa, onde realizou a mesma prova.
Esta foi uma época em que grande parte dos rapazes era encaminhada a estudar para padre, excepto as famílias carentes, com poucos ou nenhuns meios, das quais eu fazia parte. Tinham já partido para Mogofores, ou Arouca, o António e o Zé Fernandes, seguidos do Filinto e Domingos Caixeiro, o Evaristo. Agora era a vez do Tarcísio, meu primo, enquanto eu meditava nos porquês da vida de uns e de outros. Gostava tanto de poder ir também! Mas como? Quem não pode comprar livros aos filhos vai poder enviá-los a estudar? Meio resignado, lembro-me de um dia, sentado no tanque do prado, tristonho, ver chegar a minha madrinha junto de mim e dizer: não posso mandar-vos aos dois!... Os miúdos compreendem logo tudo. Não tinha inveja, contudo, quando os via voltar, todos vestidos de azul, com sapatinho baixo engraxado, no tempo das férias, e ouvi-los contar, naquela linguagem já diferente da nossa, coisas lindas que por lá viviam… No ano seguinte foi a vez de o José Maria embarcar para lá.
Ressurgiu em mim a esperança de haver uma alma caridosa na Aldeia, que me mandasse também, e mais convencido fiquei quando, um dia, o Sr. Padre João me chamou à sacristia, querendo falar comigo. Tinha realmente uma proposta para mim, mas não era a que esperava. Contudo, dadas as circunstâncias de não poder ir para lado nenhum, aceitei vir para casa dele, ou melhor, ainda do Sr. Ernesto, uma casa nova e grande, onde vivia a Sra. D. Denérida, a Sra. Virgínia sua mãe, o Padre João, duas criadas e, é claro, o proprietário que viria a falecer pouco tempo depois, como rapaz de recados. Para os trabalhos agrícolas tinha um caseiro, o tio Guerra, homem vindo não se sabe ao certo de onde, já idoso, mas muito querido dos patrões, e que sempre me dizia: ainda um dia vais ser alguém!...
Foi nesta casa de acolhimento, perante uma família com numerosos e valiosos valores, que eu vivi cinco anos de felicidade indescritível. A Senhora Virgínia, que por certo está no céu, tão bondosa e carinhosa, na casa dos noventa anos, tantas vezes me convidou – como ela dizia – não só com carinhos, como com moedas que retirava da gaveta do quarto onde dormia o Sr. Padre, sobretudo na época de ofícios ou visita pascal, e o filho que sabia de tudo, nunca o deu a saber nem sequer entender, tal o respeito que tinha pela mãe. Vinha com um lenço atado nos quatro cantos, tilintando pelo longo corredor fora e dirigia-se a mim dizendo: se me fores buscar uma “gabela” de lenha convido-te. Outras vezes pedia: ó meu filho, vai buscar-me um cântaro de água, vais? É claro que ia, mesmo que não houvesse convite, bastava-me aquele lindo sorriso com o qual sempre agradecia. Nunca vi esta Senhora zangada. Era uma jóia de pessoa, que Deus lhe retribua os valores que me transmitiu.
A Sra. D. Denérida dava aulas em Espadanedo. Herdou da mãe tudo o que era de bom. Foi caridosa ao ponto de perdoar letras de empréstimos vindos do marido – que fazia no seu tempo como a banqueira do povo, emprestando a juros muito altos, fazendo assinar um fiador com meios, no caso de não pagarem. Havia no quarto do escritório, onde eu ia muitas vezes preencher os boletins com os nomes das pessoas carenciadas, para quem “a Cáritas” enviava géneros de alimentação, como queijo, leite, farinha etc., um cofre todo de ferro, enorme, ao qual davam o nome de burra. Era lá que o Sr. Ernesto metia a sua fortuna e a miséria dos outros.
A Sra. D. Denérida vinha passar todos os fins-de-semana a Rebordainhos, mais uma mocita que vivia com ela. Aos domingos à tarde, lá tinha que ir eu com elas, deixando a bola que tanto gostava jogar, montado numa mula grande e má, com uns alforges cheios de mantimentos para a semana. Um dia pensei bem pensado, como devia fazer para não perder a bola. Foi então que me ocorreu a ideia que a mula tinha medo de passar onde houvesse um charco de água, ainda que este fosse pequeno. Preparámos tudo como de costume, e lá íamos em direcção a Espadanedo, eu montado na mula e a Sra. mais a garota a pé. Quando chegámos a meio do caminho, entre Soutelo e Rebordainhos, havia ali uma nascente, por conseguinte tudo cheio de lama. É daqui que vou voltar para trás! – pensei. Comecei por apertar as rédeas que ligavam ao freio da mula, a qual recuava mal se aproximava da lama. Desce e pega-lhe na rédea, - dizia a Sra. Isso era pior! – Retorquia eu. Então dá a corda que traz ao pescoço à garota. A miúda pegou na corda, mas como eu em cima apertava o freio, a mula continuava a não querer passar. Andámos nesta jigajoga durante quinze minutos, até que a Sra. disse com ar desolado: agora já não dá para ires à volta, pelo caminho de cima! Voltas amanhã. Era o que queria ouvir. Dei meia volta, e toca a galopar com toda a força, batendo com os calcanhares dos pés no ventre da mula. Dentro dos alforges ia um garrafão de vinho, que se partiu, aleijando o pobre animal que fugia como selvagem. Chegados à estrebaria, como a porta estava aberta, entrou como um foguete tendo eu apenas tempo para deitar as mãos à parte superior da porta e deixar-me cair. No dia seguinte, entregaram-me um burro podre, do Malino, que mal podia com a carga, tendo eu que fazer todo o caminho a pé, para os dois lados.
Quanto ao Sr. Padre João, creio que merece uma homenagem digna do seu valor sacerdotal, pelos moradores de Rebordainhos, a quem baptizou, outros mais idosos casou, enfim, prestou valiosos serviços à Paróquia. Eu, que vivi com eles durante cinco anos, tinha uma relação, para além da religiosa porque ajudava à missa, de companheiro. Se saíamos juntos à caça, entregava-me o chamariz das perdizes, enquanto ele ia com a espingarda. Passávamos dias trepando pela Ladeira, Eiras, até à hora de comer a merenda, deveras desejada, e saboreada, porque me entristecia ver matar os pobres coelhos. Também saíamos a caçar no Inverno, desta vez com um furão, o qual, por vezes, esperávamos durante horas à saída dos buracos.
O Sr. Padre era diferente da mãe e da irmã. Forreta, – sai ao pai - dizia a Sra. Virgínia, enquanto me contava coisas fabulosas passadas com o marido - e quando lhe davam os “facanitos”!...
Um dia, quando o P. João estava montando para o cavalo, e como sempre, eu pegava no estribo com uma mão, para que o selim não vasculasse, enquanto com a outra segurava as rédeas, eu respondi-lhe de mau humor, com uma palavra que ele interpretou mal. Desceu, furioso, do cavalo e pegou a bater em mim, com tanta raiva, que partiu um guarda-chuva nas minhas costas. Passaram-se dias sem que falássemos um com o outro, e já não fui recitar uns versos que ele tinha escrito, e eu decorado, para uma festa qualquer.
Nutria, também, o meu orgulho e não era nenhum santo. Um dia de Inverno, com nevoeiro cerrado, mandaram-me levar um saco de centeio às pombas, ao pombal da Tempa. Cheio de medo, pois não via um palmo de caminho à minha frente, ao chegar ao tanque da Chave, peguei no saco e despejei-o no alcadute de maneira que ninguém visse. Por este e outros motivos não me confessava a ele, escolhia sempre outro Padre.
Tinha já quinze anos quando, num dia lindo de Verão, o Sr. Guerra veio procurar-me dizendo: eu sempre disse, ainda um dia serás alguém!... Andava atrás da casa, entretido no meio das flores, sem compreender o que significavam aquelas palavras. Virei-me para ele e perguntei: - O Senhor que diz?
Um dia lindo de Primavera, por volta das nove horas, o Sr. Manuel do tio Amadeu dava de comer à sua torina, que tinha na loje junto da casa do Foguete; e como todos os dias, também o Gilberto, (Tição) à ida para a escola, passava por ali por junto da porta, para lançar para dentro: Ó barbas d’alho! O tio Manuel, por quem eu tinha grande respeito e admiração, com grandes dons para o teatro, apesar de eu só lhe ter visto encenar e realizar um, ou melhor uma mistura de “esterlóquio” lançando fogo pela boca e histórias diversas, mas também porque recebia, creio, de um irmão que tinha na Régua, material escolar que oferecia em troca de outros jeitos, naquele dia esperava de pé firme o gaiato. Mal se aproximou da porta, já estava colhido por um braço forte de homem. – Então sou barbas de alho? E pegando numa bosta de vaca, encheu-lhe a boca com ela, enquanto murmurava: para que não voltes a chamar-me isso. E o garoto lá foi lavar a cara ao tanque, enquanto os que presenciámos a cena desatávamos a rir, é claro, contando de seguida na escola.
Enquanto frequentava a 2ª classe, os mais velhos não nos ligavam. Mesmo assim, eu tinha os meus ídolos. O Amadeu, que faleceu em Angola desenhava tão bem, que enquanto vivi em Paris, exercendo a profissão de motorista de táxi, sempre que levava clientes à praça do Tèrtre, também conhecida, por Montmartre dos pintores, o recordava com saudades. O Pilatos e as asneiras que engendrava fumando o seu Kentucky; o Zequinhas, irmão da Teresa, a quem chamavam “burro” por ter passado da 2ª para a 1ª, e de quem se riam, mas a mim me revoltava por compreender que o rapaz teria, por força, outros valores que não os das letras; mas sobretudo a Albertina, uma inteligência rara, superdotada, direi mesmo. Quantas vezes nos ajudou!... Não havia exercício que lhe resistisse.
Aproximou-se o exame de quarta classe, só quatro dos oito fomos propostos: duas raparigas e dois rapazes. Devo dizer que o apoio de que falava a Albertina, uma das eleitas, nos ajudou bastante. Eu e o meu primo Tarcísio fizemos exame na Estacada, após oito dias de estadia em Bragança. Voltámos com aprovação, e as moças que também foram aprovadas, creio que ficaram, pelo menos uma delas, para fazer a admissão ao liceu, já que a outra tinha seguido para Lisboa, onde realizou a mesma prova.
Esta foi uma época em que grande parte dos rapazes era encaminhada a estudar para padre, excepto as famílias carentes, com poucos ou nenhuns meios, das quais eu fazia parte. Tinham já partido para Mogofores, ou Arouca, o António e o Zé Fernandes, seguidos do Filinto e Domingos Caixeiro, o Evaristo. Agora era a vez do Tarcísio, meu primo, enquanto eu meditava nos porquês da vida de uns e de outros. Gostava tanto de poder ir também! Mas como? Quem não pode comprar livros aos filhos vai poder enviá-los a estudar? Meio resignado, lembro-me de um dia, sentado no tanque do prado, tristonho, ver chegar a minha madrinha junto de mim e dizer: não posso mandar-vos aos dois!... Os miúdos compreendem logo tudo. Não tinha inveja, contudo, quando os via voltar, todos vestidos de azul, com sapatinho baixo engraxado, no tempo das férias, e ouvi-los contar, naquela linguagem já diferente da nossa, coisas lindas que por lá viviam… No ano seguinte foi a vez de o José Maria embarcar para lá.
Ressurgiu em mim a esperança de haver uma alma caridosa na Aldeia, que me mandasse também, e mais convencido fiquei quando, um dia, o Sr. Padre João me chamou à sacristia, querendo falar comigo. Tinha realmente uma proposta para mim, mas não era a que esperava. Contudo, dadas as circunstâncias de não poder ir para lado nenhum, aceitei vir para casa dele, ou melhor, ainda do Sr. Ernesto, uma casa nova e grande, onde vivia a Sra. D. Denérida, a Sra. Virgínia sua mãe, o Padre João, duas criadas e, é claro, o proprietário que viria a falecer pouco tempo depois, como rapaz de recados. Para os trabalhos agrícolas tinha um caseiro, o tio Guerra, homem vindo não se sabe ao certo de onde, já idoso, mas muito querido dos patrões, e que sempre me dizia: ainda um dia vais ser alguém!...
Foi nesta casa de acolhimento, perante uma família com numerosos e valiosos valores, que eu vivi cinco anos de felicidade indescritível. A Senhora Virgínia, que por certo está no céu, tão bondosa e carinhosa, na casa dos noventa anos, tantas vezes me convidou – como ela dizia – não só com carinhos, como com moedas que retirava da gaveta do quarto onde dormia o Sr. Padre, sobretudo na época de ofícios ou visita pascal, e o filho que sabia de tudo, nunca o deu a saber nem sequer entender, tal o respeito que tinha pela mãe. Vinha com um lenço atado nos quatro cantos, tilintando pelo longo corredor fora e dirigia-se a mim dizendo: se me fores buscar uma “gabela” de lenha convido-te. Outras vezes pedia: ó meu filho, vai buscar-me um cântaro de água, vais? É claro que ia, mesmo que não houvesse convite, bastava-me aquele lindo sorriso com o qual sempre agradecia. Nunca vi esta Senhora zangada. Era uma jóia de pessoa, que Deus lhe retribua os valores que me transmitiu.
A Sra. D. Denérida dava aulas em Espadanedo. Herdou da mãe tudo o que era de bom. Foi caridosa ao ponto de perdoar letras de empréstimos vindos do marido – que fazia no seu tempo como a banqueira do povo, emprestando a juros muito altos, fazendo assinar um fiador com meios, no caso de não pagarem. Havia no quarto do escritório, onde eu ia muitas vezes preencher os boletins com os nomes das pessoas carenciadas, para quem “a Cáritas” enviava géneros de alimentação, como queijo, leite, farinha etc., um cofre todo de ferro, enorme, ao qual davam o nome de burra. Era lá que o Sr. Ernesto metia a sua fortuna e a miséria dos outros.
A Sra. D. Denérida vinha passar todos os fins-de-semana a Rebordainhos, mais uma mocita que vivia com ela. Aos domingos à tarde, lá tinha que ir eu com elas, deixando a bola que tanto gostava jogar, montado numa mula grande e má, com uns alforges cheios de mantimentos para a semana. Um dia pensei bem pensado, como devia fazer para não perder a bola. Foi então que me ocorreu a ideia que a mula tinha medo de passar onde houvesse um charco de água, ainda que este fosse pequeno. Preparámos tudo como de costume, e lá íamos em direcção a Espadanedo, eu montado na mula e a Sra. mais a garota a pé. Quando chegámos a meio do caminho, entre Soutelo e Rebordainhos, havia ali uma nascente, por conseguinte tudo cheio de lama. É daqui que vou voltar para trás! – pensei. Comecei por apertar as rédeas que ligavam ao freio da mula, a qual recuava mal se aproximava da lama. Desce e pega-lhe na rédea, - dizia a Sra. Isso era pior! – Retorquia eu. Então dá a corda que traz ao pescoço à garota. A miúda pegou na corda, mas como eu em cima apertava o freio, a mula continuava a não querer passar. Andámos nesta jigajoga durante quinze minutos, até que a Sra. disse com ar desolado: agora já não dá para ires à volta, pelo caminho de cima! Voltas amanhã. Era o que queria ouvir. Dei meia volta, e toca a galopar com toda a força, batendo com os calcanhares dos pés no ventre da mula. Dentro dos alforges ia um garrafão de vinho, que se partiu, aleijando o pobre animal que fugia como selvagem. Chegados à estrebaria, como a porta estava aberta, entrou como um foguete tendo eu apenas tempo para deitar as mãos à parte superior da porta e deixar-me cair. No dia seguinte, entregaram-me um burro podre, do Malino, que mal podia com a carga, tendo eu que fazer todo o caminho a pé, para os dois lados.
Quanto ao Sr. Padre João, creio que merece uma homenagem digna do seu valor sacerdotal, pelos moradores de Rebordainhos, a quem baptizou, outros mais idosos casou, enfim, prestou valiosos serviços à Paróquia. Eu, que vivi com eles durante cinco anos, tinha uma relação, para além da religiosa porque ajudava à missa, de companheiro. Se saíamos juntos à caça, entregava-me o chamariz das perdizes, enquanto ele ia com a espingarda. Passávamos dias trepando pela Ladeira, Eiras, até à hora de comer a merenda, deveras desejada, e saboreada, porque me entristecia ver matar os pobres coelhos. Também saíamos a caçar no Inverno, desta vez com um furão, o qual, por vezes, esperávamos durante horas à saída dos buracos.
O Sr. Padre era diferente da mãe e da irmã. Forreta, – sai ao pai - dizia a Sra. Virgínia, enquanto me contava coisas fabulosas passadas com o marido - e quando lhe davam os “facanitos”!...
Um dia, quando o P. João estava montando para o cavalo, e como sempre, eu pegava no estribo com uma mão, para que o selim não vasculasse, enquanto com a outra segurava as rédeas, eu respondi-lhe de mau humor, com uma palavra que ele interpretou mal. Desceu, furioso, do cavalo e pegou a bater em mim, com tanta raiva, que partiu um guarda-chuva nas minhas costas. Passaram-se dias sem que falássemos um com o outro, e já não fui recitar uns versos que ele tinha escrito, e eu decorado, para uma festa qualquer.
Nutria, também, o meu orgulho e não era nenhum santo. Um dia de Inverno, com nevoeiro cerrado, mandaram-me levar um saco de centeio às pombas, ao pombal da Tempa. Cheio de medo, pois não via um palmo de caminho à minha frente, ao chegar ao tanque da Chave, peguei no saco e despejei-o no alcadute de maneira que ninguém visse. Por este e outros motivos não me confessava a ele, escolhia sempre outro Padre.
Tinha já quinze anos quando, num dia lindo de Verão, o Sr. Guerra veio procurar-me dizendo: eu sempre disse, ainda um dia serás alguém!... Andava atrás da casa, entretido no meio das flores, sem compreender o que significavam aquelas palavras. Virei-me para ele e perguntei: - O Senhor que diz?
-Vai rápido, à sala de jantar, ter com os senhores. Sem fazer mais perguntas, dirigi-me para o local onde, sentados e silenciosos, me esperavam o Sr. Padre, a Sra. D. Denérida e sua mãe sorridente, parecendo mesmo feliz, provavelmente sabendo já o que os filhos tinham para me dizer. De pé, calado, sem saber o que pensar, eu fixava-os com um ponto de interrogação no olhar. Foi o Sr. Padre João quem tomou a palavra, e indo directo ao assunto perguntou:
- Tu gostavas ir a estudar?
- Tu gostavas ir a estudar?
13 comentários:
Nota de edição
O Tonho (Braz) escreveu um belo texto, mas excessivamente longo para ser publicado de uma só vez. Apresento hoje a primeira parte e, provavelmente, depois de amanhã publicarei a parte restante.
As fotografias foram todas enviadas pelo autor do texto que se deu ao trabalho de ír ao cemitério fotografar as fotografias (passo a redundância) que estão nas sepulturas da Sr. D. Denérida, Sr. P.e João e mãe.
Tonho
Obrigada pela partilha.
Já te disse que a tua história me emocionou muito - história de esperanças às vezes desfeitas, mas de alternativas encontradas: por ti e pela força do teu querer.
Mas não falaste só de ti. Conduziste-nos pelos caminhos da memória, preenchidos pelos rostos e nomes da nossa infância e deste substância a esses nomes, escrevendo sobre eles com sensibilidade e prazer de dizer bem.
Foi muito bom constatar que a vida te não amargurou. Obrigada mais uma vez.
Beijos
Cara...
Confesso que fiquei impressionado com o teu dom literário e quero ser um dos primeiros a parabenizar-te por compartilhares connosco tuas memórias de Rebordainhos e dos rebordainhenses.
Quero também manifestar-te publicamente minha gratidão pelas diversas ocasiões em que te vi brigando com os da tua idade e mais velhos em defesa dos mais novos, que nessa época não podiam participar de conversas ou brincadeiras dos "grandes".
Um grande abraço
César
Sim senhor, ANTÓNIO BRAZ PEREIRA,
aqui está um texto de quem soube
aproveitar bem a oportunidade que
lhe foi dada. António, ao que julgo
filho do tio Arnaldo e Srª.Angélica
os meus sinceros parabéns pela tão
simples descrição de memórias que
ninguém consegue apagar. Eu entendo
que mais qualidade e vida para as
tuas narrações seria impossível de
encontrar. Aguardo com interesse o
resto do texto porque ao ler estas
memórias de Rebordainhos, para mim
é como se estivesse a vivê-las.
Um grande abraço.
Américo
Tonho do tio Arnaldo
Podes ser Braz, podes ser Pereira, mas para mim serás sempre o Tonho do tio Arnaldo.
Comoveste-me com as tuas memórias que, são simultaneamente as memórias de muitos nós. Elas evidenciam bem as dificuldades vividas e sentidas pelos nossos pais e, o amargo de boca que sentiam ao não poderem "fazer mais" pelos filhos. Tempos bem difíceis esses que se viviam por todo o país, onde apesar de trabalharem de sol a sol, pouco ou nada conseguiam juntar para poderem proporcionar aos filhos uma vida bem diferente da sua.
Grata pela referência que fazes à minha irmâ Tina. Ela merece e tenho a certeza que te vai agradecer pessoalmente.
Sei que as tuas sobrinhas consultam frequentemente o blog, e por isso aproveito para, mais uma vez, lhes lançar aqui o desafio de apresentarem uns comentários. TU MERECES.
Beijos grandes para ti, e para elas também (tenho a certeza que vão ler), e espero a publicação da segunda parte.
António
Mas que grande revelação! Parabéns por tudo. Comovi-me imenso com a realidade das tuas memórias que são muito semelhantes às minhas. Isto porque também vivi alguns anos da minha vida felizes, tal como tu, na casa farta e respeitada da minha tia Lídia e do meu tio Jaime, onde cresci, aprendi e onde nasceu a minha vontade de estudar tal como os meus primos, sonho que realizei em parte, passados alguns anos. Tal como tu, não teria tido a possibilidade de ter livros, não fossem os que herdei do Tonho e do Zé.
Sendo tu um ano mais velho que eu, e porque fizémos pelos menos três anos de escola juntos, desculpa-me o atrevimento uma vez que aqui não comentas esse facto. Uma coisa que me marcou imenso, foi que os professores muitas vezes davam-te tareia por não levares livros. Ora, sabendo eles que a culpa não era tua, dizia para comigo: por que raio havias de ser castigado? E sendo tu inteligente como eras, achava que te deviam poupar esse castigo. Era qualquer coisa que me custava a entender.
O teu texto é de uma beleza que, deixa-me dixer-te: Serias um segundo Tonho Fernandes.
Também como tu, admirava o Amadeu, filho do tio Zé Luis, que desenhava como ninguém. Retenho na memória um desenho que ele fez do Infante Santo, era uma perfeição. E eu que nunca tive jeito para desenho, nem imaginas como o admirava.
Tens também uma sensibilade rara para a defesa dos mais desfavorecidos. Mais uma vez obrigada por partilhares tão belas memórias, tão bem transmitidas, tão bem escritas. Fico a aguardar a 2ª. parte.
Bjs
Céu
Tonho,
Apesar do adiantado das horas e da extenuante semana que está a acontecer, não quis deixar de comentar de imediato o teu texto.
PARABÉNS.
Texto lindo, comovente e enternecedor.
Apesar do deslizar do tempo, tu manténs vivas as memórias da tua infância.E, porque deste importância a pequenos pormenores, conseguiste escrever este maravilhoso texto.Foi um começo.
Apesar de não teres concretizado o sonho de estudares, foste feliz à tua maneira.E conseguiste-o, porque de certeza que nunca sentiste um vazio de palavras ou gestos de ternura por parte dos teus pais.
Relataste-nos a realidade rural duma época, tão familiar a tantos de nós!...Lembranças que representam um capítulo da tua e das nossas vidas.
Obrigada
Beijos
Olímpia
António
Houve passagens na nossa meninice que nos marcaram para a vida inteira. Tu soubeste transcrevê-las e muito bem para aqui coisa que muitos não saberiam fazê-lo e talvez com outras habilitações. Parabéns!
Um beijo
Amélia
Olá sr. Bráz; Tenham as fotos vindo de que parte for o importante é que elas nos fazem recordar tempos de muitas e boas memórias, recordações que o tempo não apaga e a verdade é que gostei muito de ver o Pdre. João de quem eu guardo lembranças de afecto muito profundo, transmitiu-me valores que não tivesse sido ele ainda hoje não saberia o que é um valor sem valor material e de tão grande valor moral.
Aquele abraço...Manuel Pereira
Fátima: o teu comentário diz tudo, aliás como sempre, um grande beijo de gratidão.
Baptista: obrigado pelos elogios, e pela gentileza de comentares. No "cara" encontrei o Baptista alegre, como quando eramos pequenos.
Américo: a sua presença neste Blog e nos comentários é sempre uma prenda caída do Céu. Bem-haja.
Augusta: para ti, com quem mais convivo, o teu comentário ficou arquivado no coração. Beijos
António Brás pereira
Fátima: o teu comentário diz tudo, aliás como sempre, um grande beijo de gratidão.
Baptista: obrigado pelos elogios, e pela gentileza de comentares. No "cara" encontrei o Baptista alegre, como quando eramos pequenos.
Américo: a sua presença neste Blog e nos comentários é sempre uma prenda caída do Céu. Bem-haja.
Augusta: para ti, com quem mais convivo, o teu comentário ficou arquivado no coração. Beijos
António Brás pereira
Céu: estou duplamente grato. 1º pelo comentário tão elugioso atrvés de palavras carinhosas, e ao mesmo tempo marcantes para ti.Em segundo lugar vem a subtileza de um abordo reflector daquilo que és realmente, e que todos consideram de grande mérito intelectual.BJS
Olímpia:como as manas, a tua generosa gentileza, é prova marcante duma família coesa, sincera com muito apreço.Bjs
Amélia: agradeço a tua intervenção abordada em termos que te são bém próprios. Só se é pequeno uma vez e é pena...BJS
Sr. Manuel: trato-o assim porque sempre o respeitei como sendo a pessoa mais importante da Aldeia. Como já disse era para mim, um ìdolo. Apesar da diferença de idade, que até não é tão grande assim,para mim era aquela pessoa que podia encaminhar no bom sentido da vida quem quer que fosse. Um enorme muito obrigado pela sua vinda comentar, ou melhor foi uma honra. Um abraço.
António Brás Pereira
Manuel Pereira, da tia Élia, a quem já tive oportunidade de agradecer o seu comentário pessoalmente, peço desculpa por ter pensado ser outra pessoa.
Mais uma vez um abraço.
António Brás Pereira
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