MUDAM-SE OS TEMPOS...
por
ANTÓNIO BRAZ PEREIRA
por
ANTÓNIO BRAZ PEREIRA
Também em Rebordaínhos se foi instalando a mudança. Chegavam os primeiros tractores. Isto foi pouco depois da reconstrução da igreja, ainda sob a responsabilidade do Padre Amílcar (as ossadas encontradas foram levadas para o novo cemitério). Primeiro, o do tio Sebastião, um Ford Dextra e o do tio Alfredo Guerra, da mesma marca. Mais tarde, o do Basílio e outros mais. O primeiro automóvel, creio, foi o Anglia do Sr. Padre João, seguido de um Ford-Taunnus – o espadinha - do Sr. Professor, e outro idêntico do Sr. Herculano.
O telefone tinha acabado de chegar, e o primeiro rádio fazia também a sua aparição, para a felicidade
de quem gostava ouvir música, notícias, as novelas da “Maria” mas, sobretudo, o relato de futebol. Creio que o tio João Santo foi o primeiro a comprar um Grundig grande, com quatro ou cinco teclas como as dos acordeões.
Tempos antes começaram as explorações de água, junto da casa da tia Laura, e as canalizações feitas pelo povo, para junto das casas. Aparecia igualmente a electricidade, mas só tempos depois foi comprado um televisor para a casa do povo do Outeiro, obra do Sr. Professor e do Basílio, e mais jogos, como: pingue-pongue do qual se faziam grandes disputas, dominó e damas, para ocupar os domingos chuvosos. Entretanto, para ver jogos de futebol da selecção, fomos várias vezes a pé, pelos Montes, até Bragada, onde uma senhora amável nos acolhia e permitia que os víssemos.
Hoje, é com grande nostalgia que recordo a minha linda terra de outrora e as maravilhas que o progresso derrubou, como a fonte do Espinheiro, onde tantos jovens se sentaram, conversaram e, até, namoraram, fingindo as moças, à noitinha, que vinham buscar água de que nem precisavam, mas tinham a certeza de que, ou pelo caminho, ou junto da fonte, encontrariam jovens das suas idades, e o fingimento devia-se à severidade dos pais e à pouca liberdade com que éramos educados naquele tempo. Também chegou a vez à minha vizinha, a Fonte Grande. Nela, as mulheres vinham encher, de água fresquinha, as “bilhas de barro” compradas nas feiras, porque em Rebordainhos apenas havia a Olaria do “Tio Vento” do livro da terceira classe. Também neste lugar se podem contar histórias verdadeiras, de um viver simples, natural, sem vergonhas ou invejas.
O prado tinha uma magia encantadora. Não era um largo qualquer, construído por arquitecto de renome, pois, nele, apenas o tanque de duas bicas e o poço de lavar deviam a homens bem inspirados a sua construção. As duas árvores magníficas foram plantadas por dois estudantes que, talvez, já tivessem partido quando elas caíram, mas os que ficámos, pequenos e grandes, sentimos um vazio imenso, porque elas faziam parte integrante da nossa vida real. Por sua vez, também a fraga desapareceu: por se encontrar no lugar errado, ou talvez por ser de granito natural, grande demais; quem sabe porquê?...
Aquele espaço do Prado foi sempre considerado suficiente para a realização de jogos ou, simplesmente, trocar impressões junto das tascas, em volta de um “quartilho” de vinho. Os mais novos tinham a Eira do Outeiro para jogar à bola, mesmo sabendo das barafundas do tio Zé Çuca porque lhe partiam as telhas do telhado da casa. O polidesportivo, construído nesse lugar, retirou o encanto de se percorrer a distância que o separa do campo da Cabeça que, de tão pisado, se ia cuidando da invasão das carvalheiras.
Recordo-me de uma aposta feita entre o Sr. Arnaldo e o Carlos Chicheiro que tinha vindo fresquinho dos pára-quedistas. O Carlos partia do Prado e o Arnaldo da eira do Outeiro. Ambos tinham que ir ao campo da bola e voltar ao lugar de partida, para ver quem ganhava. Apesar da grande diferença de idades, o mais novo perdeu, para grande espanto dos presentes, que tinham votado nele!
***
Apesar de haver lugares mais costumeiros, jogava-se e brincava-se em qualquer sítio: ao cepo, ao pingue, à relha, ao bate-cu... mas isso fica para a próxima!
O telefone tinha acabado de chegar, e o primeiro rádio fazia também a sua aparição, para a felicidade
de quem gostava ouvir música, notícias, as novelas da “Maria” mas, sobretudo, o relato de futebol. Creio que o tio João Santo foi o primeiro a comprar um Grundig grande, com quatro ou cinco teclas como as dos acordeões.
Tempos antes começaram as explorações de água, junto da casa da tia Laura, e as canalizações feitas pelo povo, para junto das casas. Aparecia igualmente a electricidade, mas só tempos depois foi comprado um televisor para a casa do povo do Outeiro, obra do Sr. Professor e do Basílio, e mais jogos, como: pingue-pongue do qual se faziam grandes disputas, dominó e damas, para ocupar os domingos chuvosos. Entretanto, para ver jogos de futebol da selecção, fomos várias vezes a pé, pelos Montes, até Bragada, onde uma senhora amável nos acolhia e permitia que os víssemos.
Hoje, é com grande nostalgia que recordo a minha linda terra de outrora e as maravilhas que o progresso derrubou, como a fonte do Espinheiro, onde tantos jovens se sentaram, conversaram e, até, namoraram, fingindo as moças, à noitinha, que vinham buscar água de que nem precisavam, mas tinham a certeza de que, ou pelo caminho, ou junto da fonte, encontrariam jovens das suas idades, e o fingimento devia-se à severidade dos pais e à pouca liberdade com que éramos educados naquele tempo. Também chegou a vez à minha vizinha, a Fonte Grande. Nela, as mulheres vinham encher, de água fresquinha, as “bilhas de barro” compradas nas feiras, porque em Rebordainhos apenas havia a Olaria do “Tio Vento” do livro da terceira classe. Também neste lugar se podem contar histórias verdadeiras, de um viver simples, natural, sem vergonhas ou invejas.
O prado tinha uma magia encantadora. Não era um largo qualquer, construído por arquitecto de renome, pois, nele, apenas o tanque de duas bicas e o poço de lavar deviam a homens bem inspirados a sua construção. As duas árvores magníficas foram plantadas por dois estudantes que, talvez, já tivessem partido quando elas caíram, mas os que ficámos, pequenos e grandes, sentimos um vazio imenso, porque elas faziam parte integrante da nossa vida real. Por sua vez, também a fraga desapareceu: por se encontrar no lugar errado, ou talvez por ser de granito natural, grande demais; quem sabe porquê?...
Aquele espaço do Prado foi sempre considerado suficiente para a realização de jogos ou, simplesmente, trocar impressões junto das tascas, em volta de um “quartilho” de vinho. Os mais novos tinham a Eira do Outeiro para jogar à bola, mesmo sabendo das barafundas do tio Zé Çuca porque lhe partiam as telhas do telhado da casa. O polidesportivo, construído nesse lugar, retirou o encanto de se percorrer a distância que o separa do campo da Cabeça que, de tão pisado, se ia cuidando da invasão das carvalheiras.
Recordo-me de uma aposta feita entre o Sr. Arnaldo e o Carlos Chicheiro que tinha vindo fresquinho dos pára-quedistas. O Carlos partia do Prado e o Arnaldo da eira do Outeiro. Ambos tinham que ir ao campo da bola e voltar ao lugar de partida, para ver quem ganhava. Apesar da grande diferença de idades, o mais novo perdeu, para grande espanto dos presentes, que tinham votado nele!
***
Apesar de haver lugares mais costumeiros, jogava-se e brincava-se em qualquer sítio: ao cepo, ao pingue, à relha, ao bate-cu... mas isso fica para a próxima!
11 comentários:
Só hoje me foi possível actualizar
os contactos no Blogger e ficar a
saber as últimas novidades. Parabéns ao ANTÓNIO BRAZ por este artigo e mais o anterior que não
tive ocasião de comentar mas já li
com muita atenção. Faz-nos recordar
trabalhos, que alguns já passaram
à história, mas para nós estão ainda muito presentes. Parabéns ao
CARLOS ÁGUEDA pela arte com que se
empehou a fazer miniaturas tão
perfeitas. A propósito, alguém
comentou que ficou a saber que
afinal há carros de bois e de vacas
o que para mim também é novidade.
O carro é sempre o mesmo, só depende a que animais é atrelado.
Existia sim um modelo mais pequeno
mas para atrelar a burros.
Com respeito a teares ninguém se
lembrou que existia um por baixo
da primitiva casa do tio ARNALDO e
outro numa casinha isolada a seguir à casa do tio ADRIANO GUERRA
onde trabalhava a tia PERPÉTUA.
Eu ficava horas a ver aquele passar
o fio de um lado para o outro e
para comprimir o tecido havia uma
sonorisação própria que me cativava
a atenção. Bons tempos. É muito
salutar ter alguém que nos prende
a viver momentos tão felizes.
Os meus cumprimentos para todos.
Américo
Tonho
Tive tanta pressa em terminar a publicação deste teu Terra Amada que me esqueci de comentar...
Porque tens mais uns aninhos do que eu, recordas aquilo que não posso lembrar, como a velha Fonte Grande, por exemplo, ou o teu pai a jogar à carreira com o Carlos da tia Ana, algo estranho para mim porque, na minha memória, vejo-o sempre amparado a uma cajata...
Não são as transformações físicas no chão da nossa terra que me doem. O que me dói é a ausência de gente e as minhas saudades estão cheias de nomes de pessoas e de momentos vividos, muito mais do que dos lugares.
Como deves ter reparado, deixei uma ponte para prosseguir a saga dos teus escritos. Como vês, não me esqueci do que escreveste sobre os jogos tradicionais.
Beijos
Sr. Américo
Que bom que voltou ao nosso convívio! As saudades que já tinha de si!
Obrigada pelo esclarecimento sobre os carros. Como digo sempre aos meus alunos, o saber não ocupa lugar nem engorda e é por isso que só traz coisas boas.
Não me lembro de a tia Perpétua ser tecedeira, mas em casa de meus pais sempre se falou do tear que a tia Francisca tinha encostado à janela daquela que, para mim, foi sempre a loje das vacas de meu pai, mas que fora, antes de ele comprar o espaço, uma parte da casa do tio Pereira e da tia Francisca (irmã de minha avó Olímpia).
Beijos
Tonho do Tio Arnaldo:
Tenho andado por aí (como diria o Santana Lopes) meio distraído, mas sempre atento ao que se conta de Rebordainhos. E os teus escritos, além de virem recheados de saudades, enriquecem os meus fracos conhecimentos técnicos, dado que muito cedo deixei a terra.
Nós ainda demos pro aí uns pontapés na bola juntos (lembro-me de uma miserável derrota em Murçós) e não sei se sabes, o meu tio Jaime e o teu tio Arnaldo, na sua juventude, foram também colegas de equipa. Ainda um dia te hei-de contar como o teu pai rachou uns socos da ponta ao calcanhar...
Parabéns e continua com as tuas histórias!
Olá malta: gostava, desde já deixar os meus agradecimentos,a todos quantos leram os meus textos, aos carinhosos comentadores, de todas as publicações, à Fátima ao Carlos e ao Freixedelo, e respeitante a este último, um apreço especial para o Américo, que nos avivou a memória com dois lugares onde se tecia, associando as pessoas que o faziam, aos lugares específicos que eu desconhecia. Quanto ao António Fernandes, aguardo ancioso essa dos socos, sei que o meu pai era "beque", o teu não sei em que lugar jogava. Recordo-me perfeitamente de ti e do Zé nesse tempo, também na bola, onde o teu irmão era um perito do "trivela" por quem o Quaresma copiou.
Fátima: respeito os sentimentos de cada um, pelo que não comento,um parecer pessoal, que assumo sobre a transformação física do solo de Rebordainhos.Sabes estar do teu lado, quanto à parte dolorosa que infelizmente bate à porta de todos nós. Abraços para todos: António Brás Pereira
Olá,
Primeiro quero dar os parabéns ao sr. António por tão descritivos textos e que permitem a quem não conhece ou não viveu nestas épocas (que é o meu caso), perceber um pouco como as coisas se passavam.
Sei que há uma foto com um carro do Pe. João algo antiga lá em Rebordainhos. Não sei se é o do texto, mas de qualquer das maneiras digitalizo no próximo fim de semana!
Virando o assunto 180º se o sr.António quiser saber a ascendência Bráz, já tenho a ligação da minha bisavó com a Srª. Angélica como tinha prometido. Por isso qualquer coisa o contacto é: ruifreixedelo@gmail.com
Cumprimentos,
Rui
António,
Presenteaste-nos, mais uma vez ,com um bonito texto onde nos narras as mudanças mais significativas ocorridas em Rebordaínhos.Marcas duma determinada época.
Saliento a exploração da água, trabalho árduo e comunitário das nossas gentes.
Tal como tu, também recordo com alguma nostalgia a fonte do Espinheiro e o prado, embelezado com a fraga, o tanque e as árvores.
Lembro-me muito bem.Era LINDO.
Continuamos a contar contigo para estes "regressos" à terra que nos viu nascer.
Beijos
Olímpia
Obrigado, Olímpia. Os teus comentários com recordações que sei sentidas, porque vividas, e também por ser natural na tua maneira de estar na vida, repleta de gentileza,são por mim recebidos com alegria, e saudades desses tempos, dos quais ficou muito por dizer para não ferir os sentimentos das pessoas, que guardam discretamente num canto dos seus corações.
Beijos: António Brás Pereira
António, que adjectivos eu poderei utilizar para qualificar a "TERRA AMADA" de tudo o que já foi dito eu só lhe acrescento o seguinte, quem fala da sua terra e das suas lembranças como tu o fazes só pode ser alguém que além de amar a terra onde nasceu cultiva por ela uma afectividade que só é previlégio de alguns, previlégio daqueles que o coração é do tamanho do mundo e o crescimento material não lhe retirou a grandeza nem a nobreza de caracter.
A minha admiração é grande por alguém que ao contrário de mim consegue passar para o papel coisas que nos são tão queridas.
Obrigado Manuel
Obrigado Manuel pelo teu comentário, o qual me deixa um tanto embaraçado com tantos elogoios.É verdade que na minha vida activa, tenho duas paixões para defender com unhas e dentes: A minha família, inclosive a adoptiva, e a minha terra, fazendo-me estremecer, cada vez que os vejo. Lanço um desafio aos dois anónimos dircordantes, se quiserem discutir de Rebordainhos, e de quem lá vive, diga sim ou não e eu espero por si no MSN directamente.
Recebe um grande abraço, e peço desculpas por este acrécimo que não tem nada a ver contigo.
Bom dia António, se te ilugiei é porque na minha mudesta opinião tens merecido todos e mais alguns ilugios que te possam fazer, quem me dera que eu conseguisse passar para o papel tudo o que me vai na alma e fazê-lo tão bem como tu o tens feito. Quanto aos anónimos eu direi, não me dou ao trabalho, o meu tempo é-me precioso de mais para que o perca com o travar de razão, cada um fica na sua.
Um abraço. Manuel
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