quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Sementeira


Este é o meu comentário para o António Braz Pereira.

Por tudo o que me fez lembrar, sementeira, acarreja e outras recordações que se adivinham, dedico-lhe este soneto. Sem o comentar

Desculpem-me todos
SEMENTEIRA

E com fios de lágrimas caindo,
No sulco que o arado vai rasgando,
Atiravas sementes de alegria,
Palmo a palmo lançadas todo o dia.

Com teus pés, descalços abraçando,
A terra que Deus lhe abençoou,
Sentia o ser do fruto que saindo,
Calava a dor da fome que matou.

Lá ao fundo uma roseira brava,
Mil braços abertos de liberdade,
Como cantos da minha amizade…

Canto-te só a ti rosa brava,
Que das lágrimas só que tu lançaste,
Este feto para sempre marcaste.

Orlando Martins

25 comentários:

Olímpia disse...

Orlando
Aguardei que me enviasses a fotografia do quadro que tu fizeste,inspirado nesta fotografia do teu pai.Para aqueles que não sabem, este é mais um dos teus dons ( o desenho).
Assim, na ausência dessa, publiquei a fotografia que a Fátima amavelmente me cedeu.
Quanto ao poema...
O que mais te poderei dizer, para além do que já te disse em conversas telefónicas?

Um belíssimo hino às nossas mães, aos nossos pais, a todos aqueles que lutaram, se esforçaram e, ansiosamente aguardaram o germinar das suas sementes e o vingar dos seus frutos.
Bem-hajas
Bjinhos
Olímpia

Augusta disse...

Orlando:
Quanta criatividade e quão bela a tua arte de nos conseguires incluir nos teus pensamentos e nostalgias. Que bela homenagem aos nossos pais, desbravadores solitários destes montes que nos são tão queridos. Por companhia, tinham as plantas, as vacas, o cheirinho da terra que revolviam com a ajuda do arado ou da charrua e...os pensamnetos e sonhos que por vezes não se concretizavam!
Entendi que este poema homenageia o teu pai. E olha que não foi apenas pela foto que fiz tal dedução! Mas permite-me que estenda esta homenagem ao meu pai e a todos os pais, particularmente aos pais de Rebordainhos. Agradeço-te por isso, e peço-te desculpa pela ousadia.
Beijos grandes

Augusta disse...

Fininha:
Umas vezes peca-se por excesso... outras por defeito. Neste caso, foi por defeito. Se tivesses falado comigo, já te tinha arranjado a foto do desenho do Orlando. Tenho-a algures aqui no computador. Mesmo que não tivesse, sempre tinha mais oportunidade de a adquirir mais rapidamente... que o autor.
É que, pelos vistos, a minha net é mais rápida que a dele.
Beijos e obrigada por seres a intermediária deste pinote

Fátima Pereira Stocker disse...

Orlando

Ainda que mal pergunte: de que pedes tu desculpa?

Que bem conseguida está essa antítese entre a alegria dos frutos colhidos e a dor sofrida até os colher!

As roseiras bravas que são os nossos pais são frágeis e singelas porque qualquer geada as faz encaroscar, mas as raízes que têm, se as prendem à terra, também lhes asseguram o recomeço - deles próprios e em cada um de nós. Nós somos mais eles do que poderíamos supor.

Um grande beijo

Fátima Pereira Stocker disse...

Olímpia

Obrigada pela publicação.

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Augusta

Se tens o desenho do Orlando, podes mandá-lo para mim ou para a Olímpia: qualquer uma de nós pode, rapidamente, fazer a substituição.

Beijos

Anónimo disse...

Maravilhoso artista!!! Que qulificativos posso eu arranjar que dignifiquem os sentimentos expressos no teu soneto?. Arrasa-me ainda mais, a situação do teu pai,"Aquela roseira Bravíssima" robusto como poucos, Sempre disponível para servir o próximo, posso eu afirmá-lo em voz alta, onde quer que esteja, porque com os meus dezasete anos, acompanhei-o dezenas de vezes, até à Malhada Velha, ou Pórto, arranjando os caminhos, desde a Fonte do Sapo, para que as vacas podessem transportar carradas de batatas certificadas para Rossas, onde às vezes ás seis da manhâ já nós lá tinhamos também chegado para essilar grande quantidade de sacas.
Como patrão nunca ninguém lhe ouviu um comentário desfavorável a meu respeito. Tantas vezes falamos nisso, quando de passagem paravamos para recordar, outras vezes à saída da Igreja, no adro.
Que agradável surpreza, menino...
Só mais um abraço...

Manuel Pereira disse...

Orlando antes de mais parabéns, sabias que te estás a revelar muito mais sensível do que eu imaginava? e que grande elogio que o anónimo faz a teu pai! E eu acrescento-lhe o teu pai não só é um homem com um H grande como para muitos de nós foi sempre uma referência, comportamental, caràcter e imagem, diria mesmo para miudos como eramos quando aí estavamos ouvi-lo era escutarmos a razão, sabedoria e a verdade.
para nós os nossos pais não só são uma referência como também alguém que além de respeitarmos são a imagem de tudo que são os valores da vida; Sociais, afectivos e morais.Os tempos de companheiros de carteira já vão distantes mas foi nessa carteira e nessa fase da vida que nós nos formamos tanto como homens como indivíduos com mais ou menos formação académica o mais importante é que saibamos respeitar a sociedade, o homem passa mas as acções ficam.
É com grande prazer que te vejo por aqui, um abraço Manuel.
PS Há, ainda estou à espera daquela visitinha tua e da Olímpia.

Anónimo disse...

São só balelas! A maior parte dos que aqui escrevem nunca sentiram o peso dessa vida árdua. No entanto, escrevem como se fossem grandes conhecedores dela!

Manuel Pereira disse...

Sr. Anónimo; Não sei com que direito se expressa dessa maneira, o quão conhecedor será você dessa vida árdua, o que não tem o direito é de por em causa os conhecimentos de cada um, será vcê daqueles que só reconhece o engasso depois de lhe ter pisado os dentes e de ter levado com o cabo na testa? Eu posso-lhe dizer que ainda sei o que é decruar nos meses de Fevereiro e levar com o vento arisco que corre do norte, o que lhe poderia inumerar aqui, a charrua ou o arado, o carro ou o agrade, o estadulho ou o timoeiro, o jugo ou as molidas, as varas dum carro ou as tarrachas; por falar em tarrachas, aperte as suas antes de fazer julgamentos tão levianos e depois quem somos nós para julgar seja o que for ou alguém?
Passe bem.
Manuel Pereira

Anónimo disse...

Ora bolas, pra quê discutir o que é óbvio? Estou de acordo com esse anónimo aí de cima: A verdade é essa mesma porque a maior parte dos que escrevem, se não a sua totalidade, não moram mais no lugar desde bem novitos, época em que tiveram que sair da aldeia e ir para a cidade estudar ou então procurar outras plagas onde pudessem arranjar um trabalho menos sacrificante...
A verdade nua e crua é que quem realmente sofreu com esse trabalho árduo de aldeão foram nossos pais, avós, etc., etc. e tal. E desses nós não vemos os nomes no rodapé dos artigos do blog. Mas eles sim, são os verdadeiros heróis que se sacrificaram ao extremo para nos proporcionaram a instrução que eles não puderam ter. São também esses que continuam até hoje a morar na aldeia, alguns nas suas casas temporárias e a maioria já na “casa permanente”, onde todos fixaremos residência um dia. A maioria de nós, mais jovens, provàvelmante não voltaremos nem pra fixar “residência permante".
Peço perdão por não mostrar a cara, mas faço isso porque não quero entrar em polémicas e não responderei a nenhum comentário futuro.
Obrigado e tenhamos todos uma vida feliz, democrática, sem discussões improdutivas e infantis.

Anónimo disse...

Meu caro,
Também sei o que é decruar nos meses de Fevereiro e levar com o vento arisco que vem de Espanha ou seja, o vendo de Vidoedo. Também sei o que é a charrua, o arado, o carro, o agrade, o estadulho,o tamoeiro, o jugo, as mulidas, as varas do carro e até as tarraxas. Como vê não me ensina nada.
Quanto ao engaço também sei bem que utensílio é e para que serve. De uma coisa pode ter a certeza. Na testa nunca levei com ele mas pelas mãos passou-me muitas vezes.
Cumprimentos.

Fátima Pereira Stocker disse...

Anónimo n.º 1

Se são só balelas, há-de convir que são belas balelas!

Dou-lhe toda a razão naquilo que à minha pessoa diz respeito. De facto, o mais que fiz foi levar meia dúzia de vezes as vacas ao lameiro. Em todo o caso - e vai concordar comigo outra vez (espero...), o facto de não ter passado por elas não fez de mim cega nem me tornou incapaz de compreender a dimensão da luta que os meus pais travaram.

Continuo a dizer que só posso falar por mim, mas tenho a certeza que todos quantos honram esta casa com o seu contributo fazem-no, não para se engrandecer, mas para enaltecer os nossos pais e os nossos avós, porque eles foram, verdadeiramente, pessoas de grande heroísmo. Do meu ponto de vista, claro!

Agora que lhe fiz o ponto da situação, espero que o seu olhar seja mais benevolente ou então, quiçá, nos possa oferecer o seu contributo para tornar esta página mais rica. Pode fazê-lo de duas maneiras: ou escreve directamente nesta caixa de comentários e eu encarrego-me de transformar o seu comentário em artigo ou escreve para o mail do blog e eu asseguro-lhe que a sua identidade será, exclusivamente, do meu conhecimento, pois só eu tenho acesso a esse endereço. Para o não maçar a procurar, o e-mail é o seguinte:

blog.rebordainhos@gmail.com

Cumprimentos

Fátima Pereira Stocker disse...

Anónimo n.º 2

Nem imagina o quanto me feriu por ter dito aquilo que disse! Para minha profundíssima tristeza, os meus pais já faleceram. Não podem, por isso, assinar artigos, uma vez que os artigos vêm assinados por quem os publicou e por quem os escreveu!

Mas o senhor pode e, nesse caso, seria o seu nome a aparecer. Certamente ficaríamos todos mais ricos!

Quanto à sua assinatura, lamento mas tenho que o informar que a Inquisição foi abolida em 1822 e que a censura da ditadura foi abolida, de facto, no dia 25 de Abril de 1974, ou seja: já ninguém sofre represálias por emitir opiniões. Mas também lhe garanto que, mesmo que a censura existisse, esta página seria sempre um espaço de liberdade, em que as opiniões diferentes seriam sempre bem-vindas - mesmo que contrárias às minhas (que faço a gestão do blog). É do contributo de todos, ou seja, da discussão franca e elevada, que nascem as coisas boas.

Custa-me que este diálogo esteja a sacrificar um poema lindíssimo do Orlando, que bem merecia palavras de estímulo em vez de uma discussão enviesada. Mesmo assim, agradeço-lhe a sua participação e, já agora, se me quiser dizer alguma coisa cara a cara, no próximo fim-de-semana estarei em Rebordaínhos.

Cumprimentos

Américo Amadeu Pereira disse...

Os meus cumprimentos para todos,que
de alguma forma acompanham o Blog
de Rebordainhos.
Creio que seria muito desagradável
que sensibilidades mais vulneráveis
dessem origem a uma sequência de
polémicas indesejáveis.
Faço um apelo ao bom senso para que
não haja ninguém a ferver em pouca
água, deixando para o dia seguinte
a resposta que nos surgiu a uma
opinião que nos caiu no goto.
Lembro que nesta vida, não perdemos
nada por isso, todos devemos ter
uma ocasião de ser surdos, cegos e mudos. Desta forma já estamos a responder, e da maneira mais adequada, a quem não se dirige a
nós em termos civilizados.
Um abraço para todos.
Américo

Olímpia disse...

Colaboradores e membros do blog:
Após ler os comentários destes dois anónimos,lembrei-me (sabe-se lá porquê...), duma canção de Carlos Paião, cantada por Cândida Branca Flor. O refrão era o seguinte:
"Ai, ai são trocas baldrocas,
Altas engenhocas
Que eles sabem inventar!

São palavras ocas,
Faz orelhas mocas,
Não te deixes enganar!"

Srs. anónimos:
É por muito amarmos essa terra e essa gente, que todos nós aqui deixamos "balelas" que, para engano seu, são verdadeiras e sentidas.Alguns, conhecem muito bem esse trabalho árduo.É o caso do autor deste belíssimo poema que, nas férias de Verão, labutava lado a lado com os pais na azáma agrícula.O esforço conjunto dele e dos progenitpores,foi presenteado com o êxito no curso superior (é engenheiro) e o sucesso na carreira.
Não tenham ilusões porque....NÃO VAMOS DESISTIR

Beijos a todos os que aqui vêm por bem

Olímpia

Fátima Pereira Stocker disse...

Sr. Américo

Bem-haja por ser a voz da sensatez e da concórdia.

Um grande beijo

Augusta disse...

Sr. Américo:
Como a minha irmã, também eu lhe quero agradecer as sábias palavras que nos dirigiu. E acredite, são também estas trocas de emoções que nos dão ainda mais força... PARA CONTINUAR.
Continuaremos seguramente, porque Rebordainhos MERECE.
Beijos

Manuel Pereira disse...

Dejá-vu; Não sou juiz, não julgo nem me deixo cair na pequenez de dar respostas, quando as quiserem deiam a cara, aí saberei se são merecedoras delas.

Anónimo disse...

Este parte e aquele parte,
E todos todos se vão,
Ó terra ficas sem gente,
Que possam cortar teu pão.

Manuel Pereira disse...

Fátima, pela consideração que tu e tua família me merecem quero pedir desculpa se por algum momento não fui correcto ou se desrespeitei este bloog que com o teu empenho tens trazido até nós tantos momentos de alegria e com ele temos vivido lembranças que nos são tão queridas. Espero continuar a viver momentos agradáveis nesta vossa página e poder continuar a expressar a minha opinião.
Um beijo Manuel

Anónimo disse...

Há, esqueci-me.
Desculpe Sr. Engenheiro e Senhores DOUTORES!

Fátima Pereira Stocker disse...

Manuel

Não tens que pedir desculpa de nada. Pelo contrário, tenho que te agradecer a tua sempre gentil e pronta colaboração. Espero que saibas que a estima e consideração são mútuas.

Beijos

Susie disse...

Acompanho este blog á cerca de 2 meses e devo de dizer que me alegro muito com todos estes contos e contas. Sou filha e neta de gente de rebordainhos( boa gente)e felicito esta iniciativa. Todos nós sabemos que por todo o lado há gente invejosa e má, mas continuem com este excelente trabalho. Bem hajam.
Um beijinho a todos
Susana Pereira

Fátima Pereira Stocker disse...

Olá Susie, boa noite!

Nesta altura estamos, de facto, a precisar de umas palavrinhas de estímulo: bem-haja por elas!

Beijos