quinta-feira, 15 de outubro de 2009

TERRA AMADA


MODO DE SUBSISTÊNCIA

por

ANTÓNIO BRAZ PEREIRA


Ilustrações: peças de artesanato da autoria de Carlos Águeda


A BATATA

Vivia-se essencialmente da agricultura: batata, centeio, um pouco de trigo, linho, castanha, mas também da posse de gados de ovelhas, cabras ou vacas. A batata, cultivada nas terras mais férteis, ditas “fundas”, era semeada manualmente, trabalho da competência exclusiva das senhoras que as iam deixando cair, uma a uma, no espaço de um palmo, à medida que iam marcando o passo pelo sulco fora, rectificando alguma que ficasse menos alinhada, pois só assim condizia com o aprumo do lavrador. Deste, a grande proeza destacava-se no movimento lento e certo dos animais, bois ou vacas, a quem ensinara o ritmo e o passo.

Quatro meses depois surgia a arranca. No Largo do Prado, ao lado do tanque de duas bicas de água corrente onde tanta gente se refrescou e saciou a sede, o olmo e o freixo estavam repletos das sequelas deixadas pelos pregos espetados pelas mãos de sucessivas gerações. Era à sombra do olmo e do freixo que, aqueles que tinham uma safra de toneladas, esperavam o rancho de homens e mulheres, de proveniências diversas mas, sobretudo, de Caravelas (perto de Mirandela), a fim de os contratarem, já que o pessoal residente não chegava para as encomendas. Davam-lhes pousada durante os dias de serviço, num palheiro ou casa apropriada e, quando se acabava o que fazer, o mesmo rancho passava para outro patrão. As batatas eram minuciosamente escolhidas em três categorias: consumo, semente e miúda (para os porcos).

Para melhor conservação, a maior parte das batatas eram metidas em ”silos”: abriam-se covas com cerca de vinte centímetros de profundidade e metro e meio de largura, variando o comprimento de acordo com a quantidade a ensilar. As batatas eram depositadas em pirâmide e rigorosamente emparedadas, depois cobriam-se com a palha alta e direita do centeio, numa espessura de dez centímetros, e, por fim, acrescentavam-se três de terra por cima. As certificadas eram levadas para Rossas e as outras guardavam-se nos palheiros.

OS CEREAIS

Cultivar o centeio e o trigo era mais um dos grandes acontecimentos da Aldeia. As segadas realizavam-se no Verão, durante o mês de Julho. Como acontecia para a apanha da batata, grandes ranchos de homens juntavam-se no Prado debaixo das duas árvores favoritas. Vinham equipados com seitoura, dedais, colete e camisa de quem se mostra disposto a trabalhar. Alguns calçavam uns tamancos abertos atrás e vestiam calças idênticas às dos cow-boys. Musculosos, apresentando um rosto severo ou ar alegre e juvenil, os que vinham pela primeira vez ofereciam os seus serviços e os outros reencontravam-se com os patrões antigos, se no ano anterior tinham deixado boa impressão e ficado referenciados como bons trabalhadores. A gente da terra chamava-lhes camaradas de segadores, havendo-as pequenas, médias e grandes, chegando estas a atingir os vinte homens. Entre eles havia alguns com funções bem definidas: aquele que animava o rancho, tocando concertina, realejo, viola ou guitarra e começava a cantoria, e aquele que dava de beber, levando vinho num pipo ou cabaça, ou água em bilhas de barro ou em remeias feitas de zinco.

Feita a distribuição pelos diversos patrões, quase sempre ao domingo, os segadores instalavam-se com os apetrechos que traziam e voltavam ao largo do Prado a tocar e a cantar até alta noite. Pela manhã, bem cedo, seguiam a pé, conduzidos pelos patrões, para o local da segada onde se organizavam rapidamente, metendo mãos à obra. Um ou dois de entre eles eram atadores, e não tinham tempo para se coçar. Juntavam as gabelas necessárias para fazer um molho, retiravam uma mão cheia de palha com espiga e, com ela, apertavam, pondo o joelho esquerdo por cima, para melhor unir: num virar de olhos, estava concluída a operação, que parece fácil, mas acreditem que era necessário muito exercício e força para ficar bem. O calor a apertar, o efeito do vinho, e outros factores, contribuíam para haver despiques entre eles, pois nenhum gostava ficar para trás. A água corria-lhes pelas faces e o cansaço notava-se nos rostos. Mesmo assim, cantavam versos dirigidos aos que não aguentavam aquele ritmo desenfreado! Quando terminavam e ceifa naquele prédio, juntavam o centeio numa “murnalheira” em forma de U: molhos ao alto, com a espiga para cima, contando as “pousadas”. Cada quatro molhos fazia uma pousada, que dava um alqueire de centeio, cujo peso correspondia a onze quilos, se não estou errado.

Tanto esforço requeria boa alimentação e em grande quantidade. Pelas nove e meia matavam o bicho com salpicão, chouriça, bacalhau frito ou desfiado, queijo e café. Ao meio-dia, lá ia a dona da casa, ou uma pessoa contratada, levar o almoço bem recheado em colorias, num grande cesto feito de verga e transportado à cabeça. Outras vezes, metia-se o almoço em alforjes e carregava-se um burro com elas. Matava-se uma canhona, ovelha das mais velhas, que se refogava e acompanhava com batata cozidas. Também se preparava arroz com galinha, e muitas outras coisas que ficariam para a merenda, programada para as quatro da tarde. Á noite, era uma alegria vê-los voltar a casa. Tocavam, cantavam e dançavam, como se voltassem de uma excursão ao Algarve. Qual fadiga, qual carapuça! Eram rijos como o ferro!

As malhas eram mais uma obra de entreajuda. Muitas vezes ia-se à torna jeira, mas contava-se também com os que vinham ajudar porque deviam favores. Apesar do sacrifício para suportar o calor intenso e a poeira, nunca havia queixas. As pessoas punham-se nos lugares cujas funções desejavam desempenhar. O lugar mais procurado era o dos sacos, pois havia quase sempre vinho doce, às vezes com ovos batidos.
A arquitectura, tanto das medas como dos medeiros, era outro dos orgulhos dos Lavradores. Havia um pormenor que não passava despercebido: quando a meda estava quase no fim, e se o patrão tivesse filhas solteiras, iam dois ou três rapazes buscar uma delas, para ser transportada, até à malhadeira, nos quatro molhos do começo da meda. Levada no virgo, assim se dizia! No final do almoço, a menina transportada distribuía rebuçados às senhoras e cigarros aos homens.

Pelo ano fora, os cereais seriam moídos nos moinhos de água, com um rodízio e duas pedras devidamente colocadas e picadas segundo a qualidade das farinhas. Do centeio saía apenas farinha e farelo; do trigo extraía-se, o “relão” de cor mais negra, a sêmea, farinha mais fina, e um pouco de farelo. O milho moído fazia igualmente parte dos alimentos desse tempo, assim como os”cussecos”, hoje especialidade dos Países Árabes, feitos da farinha do trigo, amassada e enrolada em pequenas porções, para depois cozer no forno, dentro de cântaras de zinco perfuradas com centenas de buracos.


ACTIVIDADES ARTESANAIS

Profissões exercidas eram várias: havia dois sapateiros. O mais idoso era o Sr. Carlos, homem simpático e brincalhão, com a sua sovela que, de tempos a tempos, passava na bola de cera, para melhor perfurar a sola, batida sobre um seixo, o seu avental de couro, e as cicatrizes deixadas pelas linhas nas mãos, quando as puxava, enquanto realizava com proeza um belo par de sapatos. O Sr. Carlos contava histórias que nunca me cansava de ouvir. Estávamos uma vez à braseira, quando um rapaz, filho de agricultor abastado, lhe veio encomendar uns sapatos em nome do pai. Ouve lá ó rapaz...Tu queres que os sapatos chiem? O puto reflectiu e respondeu: Claro!... Então tens que dizer ao teu pai que me mande uma posta boa de bacalhau, se não, não chiam.
Havia, ainda, um soqueiro, três carpinteiros, um “chicheiro”, cesteiros, latoeiros, tecedeiras, ferreiros dois, alfaiates e costureiras, etc. Figura inesquecível era o tio Hermenegildo Caixeiro que fazia os carros de bois desde eixo ao pinalho, passando pelas rodas e ferragens, engarelas, arado, trasga e até o jugo! Este homem fazia tudo na perfeição, não esquecendo as tarraxas que, bem apertadinhas, eram o orgulho dos que, ainda longe, se ouviam chiar, como a querer dizer que aquele carro vinha carregado com alimentos ou coisa no género. O tio Hermenegildo tinha, também, o dom de saber cantar o fado à desgarrada, como poucos, e a sua reputação era tão grande como a de carpinteiro.

Também se cultivava linho em Rebordaínhos. Semeado em terras mais ou menos férteis, existiam, segundo me consta, duas variedades: o Mourisco, que crescia mais, e o Galego. No tempo da recolha, era arrancado e posto ao alto, em pequenos ”molhos”, para acabar de secar. Depois seria levado para os ribeiros e metido debaixo de água até estar curado. Terminado este processo, levavam-no para junto das casas, ou eiras, onde permanecia mais algum tempo para voltar a secar. Seguidamente era maçado com uns maços feitos de madeira rija, em forma de “quilhas” de “bowling”, sobre cantarias apropriadas. Depois de bem maçado, era passado num “sedeiro para lhe ser extraída a estopa, a qual por sua vez, seria fiada, servindo para tecidos mais grosseiros, como tapetes, meias, panos de limpar etc.. O linho, mais fino e delicado, era tecido em teares, de onde saíam lindas toalhas, lençóis, cortinados e muitas outras coisas indispensáveis ao viver desse tempo. Sobejavam os “tascos” sem utilização, que eram postos em montes e queimados, fazendo a alegria dos mais novos, que os levantavam ao ar, enquanto ardiam. Quase parecia fogo de artifício!
Os Teares eram manuais, ouvindo-se, de longe, a funcionar. A tia Irene, naquela casa do Pelourinho, foi, talvez, uma das últimas tecedeiras a exercer na Aldeia.

29 comentários:

Fátima Pereira Stocker disse...

Carlos

(O Tonho não vai levar a mal que eu comece por ele)

Achei deliciosa a tua forma de matar saudades realizando em tamanho pequeno aquilo que, de mais querido, povoa a tua memória. Parece-me admirável que te lembres das diferenças entre os carros; que recordes que uns eram de vacas e outros de bois! Eu já nem me lembrava que o Rufino tinha carro de cavalo (mas lembrava-me do carreto do tio Frederico), quanto mais lembrar-me das diferenças que tinham os carros do Rafael, do tio César ou do tio Amador!

Obrigada por partilhares o teu trabalho connosco. Tenho a certeza que todos quantos nos lêem se vão encantar com ele e muitos recordarão aquilo que julgavam esquecido.

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho [Braz]

O pormenor dos tamancos abertos atrás; o preciosismo com que descreves a sementeira das batatas e a canseira das segadas mostram a alegria que povoa a tua memória - alegria contagiante, que transmites de forma notável. Deus te abençoe por ela.

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Aos mais distraídos

Clicando sobre cada uma das fotografias abre-se uma página que as amplia e, no cimo dessa página, surge inscrita a identificação da imagem que se observa.

Estou com estas coisas para que todos possam saber qual é cada um dos carros que o Carlos fez.

Augusta disse...

Tonho:
Mais um matar de saudades com esta fotografia descritiva que nos apresentas. Matar saudades de algumas coisas e aprender relativamente a outras porque, apesar das nossas idades não serem muito distantes, há pormenores que referes que, ou não vivenciei, ou me passaram completamente ao lado. Apesar de me recordar da minha mãe ter cultivado linho na horta da capela em Arufe, não me lembro assim com tanta clareza de toda a canseira que o seu ciclo envolvia.
Da tia Irene a tecer, lembro-me muito bem. E como eu gostava de a ver trabalhar naquele tear! Ver o trabalho, e ouvir as canções que entoava emquanto tapetes, mantas e outras peças se iam desenhando à medida que o tear trabalhava!
Como vês, o ter mais anos, tem as suas vantagens. Traz-nos o saber da vida. E que bem é partilhar esse saber com os demais.
Beijos

Augusta disse...

Carlos:
Desculpa, mas fizeste sentir-me a pessoa mais ignorante no que diz respeito a carros de bois e de vacas. Olha, para mim eram todos iguais, e foi preciso chegar a esta idade, para seber que eram diferentes.
Lembro-me muito bem do carreto do tio Frederico e do carro de cavalos do Rufino, mas das diferenças...nada!
Já vês como me fizeste sentir ignorante?
Olha, dou-te os meus parabéns pela tua arte. Pena que não a possamos ver sem ser em fotografia!
Quem sabe um dia, não o possamos fazer?
Um beijo grande para ti

António B. Pereira disse...

Carlos: como salienta a Fátima,sempre certa nas decisões, incansável no concepto do bém-fazer, ao que aproveito para agradecer,fiquei admirávelmente surpreendido com a ilustrção do texto, trabalho teu, dando o exemplo a outros, que também podem participar, seja lá com o que for. A leitura e as imagens casam e fazem filhos maravilhosos...
Queria pedir-te desculpas pelo facto de ainda não te conseguir identificar, mesmo quando mandaste um abraço para o Vitor, dou voltas e reviravoltas mas...nada. Muitos parabéns pelas fotos e obrigado com um abraço grande.

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho

Obrigada pelas palavras que me dirigiste.

Dou-te uma ajuda em relação ao Carlos: ele é filho da sr.ª Teresa e do sr. Avelino (Latoeiro) que moravam naquela casa ao lado da da tia Isabel (Pelada).

Beijos

António B. Pereira disse...

OK. obrigado Fátima bjs

Manuel Pereira disse...

Grande Bras, já havia hontem ilugiado o teu trabalho, levei quase meia hora a fazer um rol de elugios e não só, hoje não me sinto assim tão inspirado mas pelos motivos de cansaço e não porque não continue com a mesma vontade,também gostaria de deixar uma palavra de apreço ao Carlos pelo belo trabalho com que nos brinda e como diz o Bras casam perfeitamente com o belo texto que nos dás, à F´tima que sempre cuidadosa e criteriosa consegue fazer estes belos casamentos, (texto/fotos). Também eu não imaginava que Carlos seria, ainda pensei no teu irmão (chedre) e sendo assim é um irmão do Avelino que deus guarda certo? Um abraço para vocês; António,Carlos e um muito especial à Fátima.
Quanto aos comentários de hontem eu imaginei que não chegariam pois estava com problemas na net, mais parecia que estava a lavrar com uma charrua de vacas já que se tivesse sido à velocidade dum trator ainda teriam chegado.
Não me alongo mais deixando o meu manifesto de orgulho de pertencer a esta família de Blogger de Rebordaínhos.
Muito obrigado Manuel

Olímpia disse...

António,
Neste belíssimo texto, deste-nos uma maravilhosa lição sobre agricultura e sobre os recursos de Rebordaínhos.
Escreves com paixão e com a sabedoria de quem muito viveu todos estes momentos.
Para o Carlos quero deixar-lhe também o meu testemunho de admiração, pois revelou-se um extraordinário artista.
À Fátima, os meus parabéns por, mais uma vez tão bem combinar o texto com a ilustração.
Bjos
Olímpia

carlos disse...

Fatima
Desculpa pela minha tardia respospa mas so hoje li esta maravilha.
confesso que me senti emocionado.
Um obrigado grande por mostrares aos rebordainhenses esta minha maneira de recordar esta terra amada.
Sim,trago na memoria cada rua cada casa cada terra cada costume e tradiçoes.....
Nao tens de agradecer ,por partilhar o meu trabalho,eu e que fico muito feliz por poder participar.
Parabens pelo lindo trabalho que fizes-te.
Obrigado
Beijos
Carlos

Carlos disse...

Augusta
Nao foi essa minha intençao...
Os carros eram todos fabricados da mesma maneira,mas eram todos tratados de maneira diferentes,tanto nos arranjos como nas pinturas.
Cada um tinha a sua vaidade.
Quanto a verem os carros ao vivo , sim, quem sabe um dia.
eles encontram-se na Amadora se alguem estiver por perto, eu terei prazer em mostrar.
Obrigada
Beijos
Carlos

carlos disse...

Antonio Braz
Concordo plenamente contigo, a Fatima foi fantastica ao ilustrar o teu magnifico texto com o meu trabalho de maos,e como tu dizes e muito bem, casaram lindamente.
Os meus parabens pelo teu trabalho.
Podes nao te recordares de mim,
era amigo do vitor e frequentava a casa dos teus pais,a ti encontrava-te sempre em Agosto,joguei algumas vezes com o teu jogo das bolas de aluminio,o nome do jogo ja nao me lembro.
Um abraço
Carlos

carlos disse...

Manuel
Obrigado pelo teu elogio.
Penso que sejas o irmao do vaz,verdade?
Abraço
Carlos

Manuel Pereira disse...

Carlos:
É isso, sou o irmão do Vaz embora uns anitos mais velho mas para ser sincero se calhar o mais parecido com ele. Falaste da Amadora, a minha filha mora aí e eu passo a maior parte das folgas pela falagueira mais propriamente na Rua de Macau no Bosque, sabes onde fica? Um abraço e mais uma vez parabéns pelo trabalho que compartilhas-te connosco.Fica bem

António B. Pereira disse...

Malta: gostaria dar uma palavrinha de apreço e consideração, às pessoas que ainda o
não fiz, ou seja as irmãs, Augusta e Olímpia, e Manuel da tia Élia, para não andar sempre à volta com os agradecimentos, "ao que as minhas filhas chamam: graxa". Contudo os vossos comentários ficam gravados na caixa dos sentimentos afectivos.
Quanto ao Carlos, o qual vejo agora, tal como quando era pequeno, magricelas e desemvolto, jogando talvez "á pétanque", ´pêna eu viver tão longe da Amadora, porque seria um prazer visitar as tuas obras de arte. O meu irmão Henrrique tem uma pastelaria, creio aí, ou perto, imfelizmente não te sei dizer onde ao certo.
Um Abração para todos, como diria o Baptista que deve andar de férias à volta do Mundo.

Céu disse...

Antonio

Mas que maravilha de memoria a tua!
Delicioso texto que nos aviva as nossas, tantas vezes adormecidas e que tu tão bem soubeste transmitir os feitos da nossa mocidade. é como se voltassemos quarenta anos atras nas nossas vidas, obrigada Tonho, contunua a deixar aqui o teu testemunho e o teu talento. Podes crer que é muito apreciado.
Tambem ao Carlos os parabens pelas mãos de ouro e pelo grande testemunho que aqui nos deixa, tocando a minha sensibilade em especial com o carreto do tio Frederico, homem de grande riqueza humana, obrigada, Carlos.
Quando tiver oportunidade, acredita que gostaria de poder ir a Amadora admirar o teu delicioso artesanato.
Beijinhos aos dois
Céu

Anónimo disse...

Agradecimentos para ti, Céu, apesar das complicações ainda arranjaste tempo para comentar e de uma maneira igual a ti própria.Desejo-te que estabilizes a tua vide, realizando os sonhos projectados. Beijos: António Brás Pereira

carlos disse...

Ceu
Dormi muitas vezes nesta casinha,
mais o ti federico e o Rui passava-mos la umas grandes noitadas.
Que belos tempos
Obrigado
Beijos
Carlos

Carlos disse...

Manuel
Sim,conheço minimamente a reboleira,
nao sei se ja ouviste falar no david da buraca
eu moro ai perto
Abraço
Carlos

Amélia disse...

Pois é António.
Eram tempos muito difíceis, mas havia muita alegria. As pessoas eram amigas umas das outras. Recordo com grande saudade momentos que vivi com pessoas que já partiram e nos deixaram muitas saudades. O tio Sebastião e o tio Aniceto de quem eu guardo com muito carinho boas recordações, eram pessoas muito divertidas e eu gostava da companhia deles.
Era a malha do tio Adriano no Outeiro e quando chegou ao fim a Lúcia distribuiu gelados às raparigas (supermax) e cigarros aos rapazes. O tio Sebastião chegou ao pé da Lucinda do tio Chefe e diz-lhe:
Ó Lucinda tu dás-me um cacho do teu chiculate?
Eu dou tio Sebastião!
Mas olha que se lhe boto os dentes como-te metade?
Não faz mal! Tome lá!
O tio Sebastião dá uma grande denta no gelado e repentinamente deita-o fora e exclama:
Ó caralho ele é carambelo! Ai os meus dentes!..
Também era no Outeiro a malha, penso que era a do tio Manuel Frade. O Tio Aniceto andava a trás das raparigas para lhe fazer a céguinha. Eu e a Teresa Brava tiramos-lhe o chapéu e metemos-lho na roda do motor da malhadeira. O tio Aniceto aflito começa a gritar:
Calho foda! João, para a malhadeira!
Paro a malhadeira porquê?
Calho, aquelas mulas meteram o meu chapéu no motor!
O João Santa Combinha parou a malhadeira e tirou o chapéu todo esfarrapado o que deixou o tio Aniceto bem irritado. Eu e a Teresa fomos pedir uma agulha e linhas à Lúcia da tia Olímpia e fomos cose-lo para as carvalheiras. Ficou bem cosido e bem enfeitado pois pusemos-lhe bulharacos em toda a volta. Quando aparecemos na eira com o chapéu a má disposição do tio Aniceto passou e foi uma risota completa.
Na minha memória existem mais recordações como estas. Trabalhava-se muito mas era divertido.
Um beijinho e parabéns pelo belo texto.
Amélia

Anónimo disse...

É verdade Amélia. Acredito que todos tenhamos lembranças dessa época, uns mais e outros menos, umas boas e outras nem tanto.
Uns partilham-nas com extrema facilidade e outros, não sei se por egoísmo ou timidez, não conseguem se expressar com tanto pendor.
Parabéns a todos os que conseguem expressá-las e partilhá-las
abraços

Anónimo disse...

É verdade Amélia. Acredito que todos tenhamos lembranças dessa época, uns mais e outros menos, umas boas e outras nem tanto.
Uns partilham-nas com extrema facilidade e outros, não sei se por egoísmo ou timidez, não conseguem se expressar com tanto pendor.
Parabéns a todos os que conseguem expressá-las e partilhá-las
abraços

Anónimo disse...

Amélia os meus sinceros agradecimentos, não só pelo comentário, que verdade seja dita, esperava vê-lo aparecer, mas nunca mais chegava, como também pelo acréscimo, de, "cenas" como dizem os mais novos,passadas e narradas à tua maneira, sem rodeios nem simulações. O meu padrinho e o tio Aniceto Ferreira, eram realmente duas personagens de se lhe tirar o chpéu, especialmente com as meninas nas malhas.Lamento não ter sido sabedor particularmente dessas partidas engraçadas, e como dizes guardar outras, que por acaso podem ajudar no meu próximo trabalho, tendo como referência de partida, as moças do nosso tempo, e da nossa terra, é claro! Durante a adolesçencia se quiseres participar-me casos pedes o e-mail à Fátima, se não fá-lo tu, um texto à tua maneira tenho a firme certeza do sucesso garantido.
Recebe um abração, e divide com os restantes familiares, Especialmente o Pedro e Artur, com quem tenho tido menos contactos. António B. Pereira

Anónimo disse...

Sr. Anónimo: começo por agradecer a totalidade do seu comentário, pedindo desculpas pela intrusão, na parte dirigida à Amélia. Tem toda a razão no raciocínio apresentado, embora eu pense que há remédio a tudo, menos à morte.Julgo não haver no mundo pessoa que sofra tanto do, "trac" que a tradução é, Medo, mas eu direi angustia ou imoção incontrolável, contudo, gosto do diálogo, do convivio, da expresão em todas as suas formas desde que formal,inofensiva.Quanto ao iguismo, acha que no semitério existem discos rígidos para guardar o que nos pertenceu? Concordo com o pudor das pessoas, e com a selecção do que pode ou não ser dito, preferindocoisas alegres e engraçadas, àquelas que o Sr. diz menos boas, que todos temos, mas que não alteram o passado, seguindo o mesmo critério com as boas,salvo que umas já feriram e ferem, equanto que com as outras apenas revivemos. Este é o meu ponto de vista, esteja certo ou errado.
Abraços, também para si, mais um obrigado pela visita e comentário. António Brás Pereira

Fátima Pereira Stocker disse...

Carlos

Sou eu que tenho que te agradecer por teres querido partilhar connosco o teu trabalho que fala das tuas memórias mas que são, ao mesmo tempo, as memórias de todos e de cada um de nós. Oxalá o teu exemplo frutifique, assim como o do Tonho. Esse teu saber fazer, em Rebordaínhos, só o conhecia ao meu primo Rafael (e ao Octávio, cunhado dele e também meu primo, mas que era das Cabanas).

Agora uma nota pessoal: se manténs contacto com a tua irmã Maria Emília, dá-lhe beijos meus.

Fátima Pereira Stocker disse...

Amélia

O Tonho tem toda a razão: bem podias, aos poucos, ir escrevendo essas coisas de que te lembras... e são tantas! Depois era só dar um jeitinho e publicavam-se: ria-se toda a gente, porque assim só nos vamos rindo nós que tas ouvimos contar! A história dos bulharacos faz-me rir sempre até às lágrimas!

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Caro anónimo

Estamos inteiramente de acordo. Eu acredito que seja por inibição que as pessoas se coíbem de escrever. Esta não é uma página de doutores para doutores - é uma página de gente de Rebordaínhos para quem é de lá e também para quem não é! Todos têm aqui lugar, sejam anónimos ou assinantes, novos ou velhos, letrados ou iletrados. A única coisa que tem que ficar de fora são os maus fígados. E, já agora, se as boas lembranças são para partilhar, as más também não devem ficar de fora, porque todos somos feitos de umas e de outras!

Obrigada, pois, pelo que escreveu e por me permitir dizer estas coisas.

Beijos
______

Aproveito para pedir a todos os que sentem que têm alguma coisa para contar que se não inibam por pensarem que escrevem com erros: mandem-me os vossos textos e prometo trabalhá-los com cada um. Não tenho, nem o intuito, nem a pretensão de corrigir (quem sou eu!): pretendo, apenas, pôr-me à disposição de todos para que se sintam apoiados. Lembro que o endereço do blog é:

blog.rebordainhos@gmail.com

Manuel Pereira disse...

Amélia! até me senti com treze anos a viver esses momentos das malhas, parabéns é um pedaço das nossas vidas de crianças, tens razão era duro mas era uma alegria continua, eram as malhas, as castanhas, as batatas, os fenos e as segadas, tudo era árduo mas vivia-se com muita felicidade, como tu mesma dizes toda a gente era amiga, não me alongo mais mas não quero sair sem primeiro te desejar muitas felicidades e te dizer obrigado por tão bonita memória partilhada connosco.
Um beijo carinhoso, Manuel.