domingo, 15 de novembro de 2009

EM TORNO DAS CASTANHAS

Pretende-se que este seja um artigo colectivo subordinado a um tema e não a uma ordem.
Espero o contributo de todos e, à medida que forem surgindo na caixa de comentários (ou no e-mail), tratarei de os acrescentar aqui.

Começo com os comentários que o Tonho do tio Arnaldo e a Augusta escreveram ao artigo anterior:

O S. Martinho] era o dia do famoso magusto que fazíamos (quando não dava para o fazer no 1.º de Novembro) entre rapaziada jovem, lá para os lados de Cadavez. Cada um levava algo para comer ou beber: marmelada, nozes ou figos secos, aguardente ou vinho doce, porque a jeropiga não se encontrava facilmente. Enforretávamo-nos todos, cantando e bailando em volta das castanhas assadas no meio das giestas, cheias de cinza, estoirando como se fossem os foguetes da festa.
António Braz Pereira


Quanto aos magustos em Rebordainhos, apenas me lembro deles no dia 1 de Novembro. E que paródia. Um dos últimos culminou com a prova da aguardente que o Rafael estava a fazer! Bem, não imaginam a figura dos pares dançantes, no baile que se seguiu na casa do povo!
Os dois avós do meu marido foram combatentes em França e, depois que vieram, todos os dias 11 de Novembro festejavam e, nomeadamente em casa dos pais do meu sogro, era dia de rancho melhorado. Ano, após ano, assava-se um cabrito, para comemorar este dia.

Augusta Mata


Gosto de dizer "magosto" porque foi assim que aprendi, soando-me aquele -o- de "gôsto" mais apelativo e conforme à quantidade de sensações boas que, na minha infância, associo à castanha. É verdade que castanha me lembra bailarico e cantigas (como era aquela que dizia que os homens são como a folha do castanheiro?), dedos espetados à cata delas por entre as brasas e, depois, mãos a atirá-las ao ar, como quem está a jogar às jogas, para as arrefecer. Lembra-me, ainda, os sopros que eram risos, a algazarra e o cheiro bom do fruto assado na brasa perfumada da giesta.

Mas o que mais me lembra é o riso bom do meu pai que regressava a casa, sempre, com os bolsos cheios de bilhós. O riso dele era de deleite pela alegria que, sabia, proporcionaria aos filhos e nessa alegria estava toda a paga que contava receber da vida.
- "Ora mete a mão no meu bolso!", dizia, pondo-se a jeito. E nós tirávamos mãos cheias de castanhas assadas, já descascadas, que nos sabiam muito melhor do que quaisquer outras.
Em garotos aceitamos as coisas como são, mas agora ponho-me a pensar qual seria o milagre que fazia com que os bilhós mornos nunca se acabassem nos bolsos do meu pai.
Fátima Pereira Stocker

Chegava Novembro, chegava o magusto.
Acontecia sempre antes de o tempo começar a enfarruscar, antes de as silvas adormecerem brancas nas sebes. Era o despedir dos longos dias quentes de Verão.

Viviam-se alegres momentos de convívio. Lembro-me que, para o efeito, se colocavam as castanhas num buraco previamente cavado na terra. Em cima...lenha, muita lenha, que fazia com que longos tufos de fumo se erguessem abertos no céu.
As pessoas enfarruscavam-se e as cantigas desafiavam-se o mais rumorosamente possível. E, à volta de qualquer castanheiro da idade do mundo, os pares levantavam nuvens de pó.

Enquanto as castanhas duravam, prolongavam-se os magustos em casa de cada um e, em cima da lenha a arder, com os movimentos ritmados do mexer do assador enfarruscado, faziam-se bilhós que todos nós íamos descascando e saboreando. Ao mesmo tempo, deixava-se a imaginação correr desenfreadamente e contavam-se curiosas histórias de ladrões ou almas penadas.
Havia sempre novidades a discutir e memórias para lembrar.
Jogava-se ao "esconde esconde, não digas nada a ninguém...", ao "arrebunhana, sobraldana" até cedermos às leis do sono e do cansaço para, depois, sonharmos com castanhas, castanheiros e soutos.

Olímpia Pereira

Dos magustos transmontanos não tenho memórias. Mas da palavra "BILHÓ"... Oh, se tenho... Era assim que o meu pai chamava à minha filha mais velha, quando nasceu, era pequenina,(2,750), e lembro:- Ó Bilhó, vem daí, que (b)vou a conta-te, uma historieta. Feliz, a Bilhó lá se sentava no colo, e o conto acontecia. Já passaram 30 anos, mas ainda tenho saudades!

Eduarda Santos Pereira

Lembro também a delícia das castanhas mamotas "furtadas" do caldeiro da vianda dos cevados! E o jogo a arrebunhana ao serão com os mais velhos, em que eles nos ganhavam quase sempre, mas que no final, para nossa satisfação, generosamente nos devolviam todos os bilhós.
A minha lembrança nesta diversão é com o meu tio Jaime e tio Zé.

Céu Fernandes

17 comentários:

Anónimo disse...

... -- .- .-. ...- --- .- -... . -. -.-. --- . .- --. -.

Olímpia disse...

Chegava Novembro, chegava o magusto.
Acontecia sempre antes de o tempo começar a enfarruscar, antes das silvas adormecerem brancas nas sebes.Era o despedir dos longos dias quentes de Verão.
Viviam-se alegres momentos de convívio.
Lembro-me que para o efeito, se colocavam as castanhas num buraco previamente cavado na terra.Em cima...lenha, muita lenha que fazia com que longos tufos de fumo se erguessem abertos no céu.
As pessoas enfarruscavam-se e as cantigas desafiavam-se o mais rumorosamente possível.
E, à volta de qualquer castanheiro da idade do mundo, os pares levantavam nuvens de pó.
Enquanto as castanhas duravam, prolongavam-se os magustos em casa de cada um e, em cima da lenha a arder, com os movimentos ritmados do mexer do assador enfarruscado,faziam-se bilhós que todos nós íamos descascando e saboreando.Ao mesmo tempo, deixava-se a imaginação correr desenfreadamente e contavam-se curiosas histórias de ladrões ou almas penadas.
Havia sempre novidades a discutir e memórias para lembrar.
Jogava-se ao "esconde esconde, não digas nada a ninguém...", ao "arrebunhana, sobraldana" até cedermos às leis do sono e do cansaço para depois, se sonhar com castanhas, castanheiros e soutos.
Bjinhos
Olímpia

Anónimo disse...

Olá,
Só espreitei para deixar um alô!... há, há, há…

Fátima Pereira Stocker disse...

Anónimo

Essas grinaldas são difíceis de acrescentar às memórias. Mas não ficam mal aqui!

Fátima Pereira Stocker disse...

Olímpia

Belo texto que vou acrescentar agora mesmo.

Beijos

Augusta disse...

Bolas, Fininha!... que bela narrativa. De vez em quando decisde-te pela surpresa. Mas um dia destes começamos a pedir mais.
Beijinhos e até segunda.

eduarda disse...

Olá a todos.
Dos magustos transmontanos não tenho memórias.
Mas da palavra "BILHÓ"... Oh, se tenho...
Era assim que o meu pai chamava à minha filha mais velha, quando nasceu, era pequenina,(2,750), e lembro:
- Oh Bilhó, vem daí, que (b)vou a conta-te, uma historieta.
Feliz a Bilhó, lá se sentava no colo, e o conto, acontecia.
Já passaram 30 anos, mas ainda tenho saudades!
Bjs a todos.
Eduarda

Fátima Pereira Stocker disse...

Dadinha

Bons ventos te trazem, a ti e às tuas memórias!

Já tinha saudades.

Beijos

Eduarda disse...

Fátima
Não foi para publicar o que quer que fosse, que escrevi.
Foi simplesmente para dizer,que a castanha além de me tornar lambona, tráz-me recordações (patetices minhas).
Beijos
Eduarda

Augusta disse...

Eduarda:
Publicou, e está muito bem publicado. A isso se propôs e, a minha mana, não deixa as coisas pela metade.
Beijos para ti e para os teus "bilhós" todas

Fátima Pereira Stocker disse...

Dadinha

Bem sei que não, mas ficam lá muito bem. E, porque as gerações se sucedem, será a tua vez, agora, de contar uma história à tua bilhozinha mais nova... que deve estar grande e linda.

Beijos para vós

Mare Liberum disse...

É um prazer ler os vossos testemunhos.Que estas memórias, aqui bem vivas, continuem a passar de geração em geração.

Bem-hajam!

Céu disse...

Fatima


é com grande satisfação que vejo aqui comentada mais uma das boas recordações comuns, da vivencia na nossa aldeia.
Além do que ja foi aqui testemunhado, cujas recordações partilho e confirmo, lembro também a delicia das castanhas mamotas "furtadas" do caldeiro da vianda dos cevados! E o jogo a arrebunhana ao serão com os mais velhos, em que eles nos ganhavam quase sempre, mas que no final, para nossa satisfação,generosamente nos devolviam todos os bilhos.
A minha lembrança nesta diversão é com o meu tio Jaime e tio Zé.
Bjinhos
Céu

Fátima Pereira Stocker disse...

Cara Isabel

Deus a oiça, já que foi Deus quem a trouxe.

Um grande abraço

Fátima Pereira Stocker disse...

Céu

Afinal, este artigo sempre se vai compondo. Obrigada pela tua colaboração.

Beijos

Céu disse...

Fatima

o comentario é de Céu Fernandes e nao da Céu Pereira
Beijos
Céu

Fátima Pereira Stocker disse...

Céu

Desculpa, tens toda a razão. Não sei que me deu, porque sei muito bem que és Fernandes. Vou já corrigir.

Beijos, esperando que tudo te esteja a correr como planeaste.