[Variante do anterior]
Hoje é dia de S. Martinho, o monge bondoso que foi abençoado por Deus por ter oferecido a sua capa a quem, no Inverno, precisava dela.
Por esta altura, nas terras da castanha, os donos dos castanheiros autorizam o "rebusco". O rebusco é uma prática secular e funciona como uma interrupção no direito de posse. No tempo do rebusco, aqueles que nada têm são livres de procurar em qualquer terra e em volta de qualquer castanheiro, os frutos que haja ainda por apanhar. No tempo do rebusco lembra-se que Deus deu a Terra e os seus frutos a todos os homens e, por isso, uma pessoa sem alimento é uma ofensa à pessoa de Deus. Deus irmana os homens e, em certas ocasiões, os homens lembram-se disso. Castanha era caldo e era pão; castanha era sustento e sobrevivência. Como negar isso aos irmãos?
Nos campos enlameados da Flandres, a morte era o sustento da raiva. Nas trincheiras nem sequer se sobrevivia: apenas os corpos escapavam à morte. Nas trincheiras, o inferno era de frio e de lama e os danados eram os corpos dos jovens em putrefacção.
Nos campos da morte, talvez alguém se tenha lembrado que era o tempo da castanha. No tempo da castanha assinou-se a paz. Os irmãos só existem se houver paz. No tempo da castanha assinou-se a vida.
Por esta altura, nas terras da castanha, os donos dos castanheiros autorizam o "rebusco". O rebusco é uma prática secular e funciona como uma interrupção no direito de posse. No tempo do rebusco, aqueles que nada têm são livres de procurar em qualquer terra e em volta de qualquer castanheiro, os frutos que haja ainda por apanhar. No tempo do rebusco lembra-se que Deus deu a Terra e os seus frutos a todos os homens e, por isso, uma pessoa sem alimento é uma ofensa à pessoa de Deus. Deus irmana os homens e, em certas ocasiões, os homens lembram-se disso. Castanha era caldo e era pão; castanha era sustento e sobrevivência. Como negar isso aos irmãos?
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Nos campos enlameados da Flandres, a morte era o sustento da raiva. Nas trincheiras nem sequer se sobrevivia: apenas os corpos escapavam à morte. Nas trincheiras, o inferno era de frio e de lama e os danados eram os corpos dos jovens em putrefacção.
Nos campos da morte, talvez alguém se tenha lembrado que era o tempo da castanha. No tempo da castanha assinou-se a paz. Os irmãos só existem se houver paz. No tempo da castanha assinou-se a vida.
Nov. 2005
O Armistício que pôs fim à I Guerra Mundial faz hoje 90 anos
4 comentários:
Estava ficando cada vez mais surpreendido e desiludido com a falta de energia dos nossos comentadores, mediante um esforço sempre apreciável da Fátima, a qual no mínimo merecia uma palavrinha amiga, para além da importantíssima narrativa, referente ao S. Martinho e 11 de Novembro, fim da guerra mundial, (1914-1918)Armistício. Este tratado foi assinado, na mata de Copiègne, dentro de um vagão, que serviu de quartel ao Estado maior Françês e Alemão, pelos seus representantes, à cabeça dos quais estavam o Marechal Foch e Matthias Erzberger, tendo-se terminado às 5h15. Depois aparecem vários tratados, em diferentes datas, mas este pôs fim a uma guerra que matou 18 milhões de pessoas, mais dois milhões de mutilados. Será que as pessoas são insencíveis, às frazes horriveis da ilustração!!!
Quanto ao S. Martinho, "vai à adega e proba o vinho", compreende-se por não haver videiras em Rebordainhos, mas olhem que não faltam lá "cepas". Era sobretudo o dia do famoso magusto que faziamos, quando não dava no 1º de Novembro,entre rapaziada jovem, para os lados de Cadavez, cada um lebava algo para comer ou beber, como marmelada nozes ou figos secos, aguardente, ou vinho doce, porque a jerupia não se encontrava fàcilmente. Mas sobretudo, enforretar-nos todos, cantando e bailando, em volta das castanhas, assadas no meio das giestas, cheias de cinza, estoirando como se fossem os foguetes da festa.
Bem-hajas Fátima, e parabéns pelas duas versões. Abraços para todos.
Tonho [Braz]
Bela lição de História deixas aqui! Já agora, esse vagão a que te referes, Hitler fez questão de assinar nele (e no mesmo lugar) o armistício da humilhação que acabara de impôr à França invadida (20 de Junho 1940). Depois, o vagão foi levado para Berlim, para ser visitado pelos alemães e viria a ser destruído em 1945. O que existe actualmente é um gémeo do original, ambos pertencentes a uma Companhia de Wagons-Lits.
Os nossos magustos eram uma alegria pegada. Tanto fuliço, tanto bailarico! Que saudades!
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Não te amofines com a falta de comentários. As pessoas têm o ditreito de não gostar do que leram, ou de não quererem dizer nada, ou de acharem que este artigo não tem nada a ver com Rebordaínhos. Em todo o caso, obrigada pela tua defesa e por tudo quanto escreveste.
Beijos
Ó "piquenos".
Mas que é isso de não gostar? Essa tá boa. Pois é Fatinha, tu dizes que eu tenho pilhas "Duracel", mas as tuas parece que se recarregam automaticamente! A quantidade de trabalho é tanta, que...olha, hoje por ser sábado, saí de casa às oito da manhã, e entrei cerca das nove da noite.
Quanto aos magustos em Rebordainhos, apenas me lembro deles no dia 1 de Novembro. E que paródia. Um dos últimos culminou com a prova da aguardente que o Rafael estava a fazer! Bem, não imaginam a figura dos pares dançantes, no baile que se seguiu na casa do povo!
Quanto à guerra, devo dizer-vos que os dois avós do meu marido, foram combatentes em França e, depois que vieram, todos os dias 11 de Novembro, festejavam e, nomeadamente em casa dos pais do meu sogro, era dia de rancho melhorado. Ano, após ano, assava-se um cabrito, para comemorar este dia.
Vá lá garota. Sei que os contributos têm sido poucos, mas...
Quando o trabalho aliviar, prometo outro empenho.
Beijos especiais à Fátima e Tonho.
Claro está que os beijos são extensivos a todos os amigos do blog e de Rebordainhos
Garota
Todos temos as nossas vidas e ninguém tem que justificar nada. Da tua, então, eu nem sei como é que fazes para que as horas te rendam mais do que as dos comuns dos mortais.
Com este pretendi alargar o tema de conversa da castanha para, depois, fazer um artigo colectivo que registasse as memórias, afectos, sensações, etc. do maior número possível de pessoas. Tu e o Tonho destes já um excelente contributo que me serviu de base para o tal artigo. Espero, agora, que mais se afoitem, com memórias próprias ou ouvidas, tanto faz.
Beijos
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