domingo, 29 de novembro de 2009

SINAIS DO TEMPO A PASSAR


Enquanto a neve não chega, o nosso olhar pode alegrar-se com o tapete rubro que cobre o chão dos soutos. Aquele vermelho, tão forte e tão vivo, cola-se à retina e permanece nela como memória de calor para o Inverno que chega. Houve tempos em que esse tapete, retirado do seu natural, era estendido pelas ruas e, por breves instantes, o lodaçal em que as primeiras chuvas as tinham transformado via-se ocultado por aquela garridice. Mais tarde, em lição que a ecologia moderna deveria aprender, cada um recolhia o que lhe calhara à porta, transformado no mais perfeito estrume, o húmus que nos sustenta.

Os castanheiros ficaram nus e, assim despidos, têm a aparência transparente dos anjos. Os castanheiros são os anjos da guarda das gentes que deles tira o sustento e que deles cuida com desvelo.

Na paisagem, o nevoeiro cria um véu atmosférico lembrando-nos que o Natal está à porta. As casas estão abastecidas de pão para a vida e de lenha para o lume. Deus nosso Senhor cuidou de nós mais um ano.

11 comentários:

António Brás Pereira disse...

Fátima: a neve, que num gesto lento e silencioso, percorre a atmosfera dançando, para se fixar em terras alheias, por tempo indeterminado, com seu manto de alvura, síbolo da virgindade e da pureza, que já ameaçou vir brevemente, é definitivamente um fascínio ocular, estimulador da boa disposiçao, alegrando os que choram sofendo, brinquedo do menino,sorriso do idoso; seja bem-vinda e recebida, até pelos castanheiros, que despem as suas capas tecendo o solo colorido vivo, atraente, e já despidos, comprimentam-se, não ralhão uns com os outos nem sentem inveja, pelo que aos seus donos deram em benifício da sobrevivencia. A nevoeirada ajuda a fortalecer, escondendo-os de olhares traidores, que só vem visitá-os uma vez por ano, como fazem a muitos idosos, passientes, mas que com o tempo, refletem nos rostos, o desespero, aguardando numa sala de espera, ao que eles chamam: o dia da última viagem.
Neste inverno, pensem nos nossos queridos idosos. eles já foram pequeninos... Obrigado

António Brás Pereira disse...

Fátima: voltei para corrigir (ralham) e dar-te os parabéns pelo texto, porque me esqueci.BJS

António disse...

Olá Fátima:
Tenho andado um tanto alheado do blog (não da sua consulta quase diária) e com uma apatia pela escrita a roçar a "metempsicose em pilriteiro" no dizer do Eng Aquilino Ribeiro Machado, mas desta vez não podia deixar de sacudir a minha preguiça e vir trazer-te o muito obrigado por esta mensagem natalícia e rebordainhense. Lindo teu texto, captando os idos de um Rebordainhos mais rural,mais pobre é certo, mas tão autêntico.
E tão apropriadas as fotografias dos castanheiros dos nossos soutos que, esses, quase não mudam: "trezentos anos a crescer, trezentos em seu ser e trezentos para morrer". Vão direitinhas para o meu álbu, de memórias telúricas da aldeia de antanho.
Um abraço
António

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho [Braz]

Que bonito é aquilo que escreveste! E tão justo! Eu só espero é que me não incluas entre os traidores que fazem poucas visitas... (estou a brincar, sabes bem).

Quanto às correcções, deixa-as para lá, que isso não importa nada.

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho

Ah!Ah!Ah!Ah! Metempsicose em pilriteiro?!!! (antes nesse que é bem lindo). Mas não, a tua metempsicose foi de "António" em "Fercaminha".

Apesar de ter saudades de te ler, sempre te digo: vai gozando a preguiça que é um direito dos abençoados. E bem-hajas pelas tuas palavras.

Beijos

Mare Liberum disse...

A paisagem transmontana é esplendorosa seja Verão ou Inverno. A terra cobre-se de um castanho dourado embelezado pela nudez dos castanheiros.

Bem-haja, Fátima, por me trazer a beleza natural das suas terras serranas.

Um abraço

Olímpia disse...

Fátima,
Também a mim, os afazeres me têm alheado deste blog.
Bonita mensagem e lindíssimo texto.
Parabéns e bem-hajas
Bjos
Olímpia

Augusta disse...

Finalmente, num bocadinho do fim-de-semana, consigo ter um pouco de tempo para aqui vir.
Pois é, depois do trabalho árduo do apanhar da castanha, os castanheiros como que nos agradecem, oferecendo-nos ainda mais. Estas belas cores de beleza sem igual, indicam-nos que estes "monstros" da natureza estão prestes a entrar num período de um bem merecido descanso. Não sem antes prepararem a terra com aquilo que há-de ser também o húmus com que se alimentarão durante mais uns tempos.
Beijos mana, e obrigada pela bela mensagem que nos dás.

Fátima Pereira Stocker disse...

Cara Isabel

Nem imagina como me sabem bem as suas visitas. Não importa onde fica a serra, porque os serranos sempre falarão a mesma língua.

Um grande abraço

Fátima Pereira Stocker disse...

Olímpia

Pois é, vá o diabo entender o desemprego... despede-se quem faz falta e quem fica é transformado em burro de carga. Diabos levem os da ideia peregrina!

Obrigada e beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Augusta

Obrigada pelo teu acrescento, muito belo.

O último relatório sobre o nosso ensino superior apresenta, entre outras, a crítica, da sobrecarga de trabalho dos professores... a tutela há-de importar-se muito com isso!!!...

Beijos