7 de Dezembro de 1640. Em Madrid, a corte espanhola assiste a uma tourada que, naqueles tempos, era o modo mais directo de os reis conviverem com os súbditos. A certa altura, o conde duque de Olivares, superministro de Filipe IV, é abordado por um mensageiro que lhe segreda alguma coisa. O rei, que não tira os olhos da arena e concentra toda a atenção nas estocadas desferidas pelos cavaleiros, não se apercebe da movimentação que se gera à sua volta, nem do arruído que cresce por entre os "olés". O segredo espalhara-se!
Olivares não pode protelar mais: tem de dar conhecimento dos factos ao rei de Espanha, não vá ele ficar sabedor por outras vias! Quer dourar a pílula, de modo a que os brios régios saiam pouco chamuscados e, arregimentando toda a solércia que acumulara ao longo das décadas de permanência no poder, sai-se com esta:
Meu senhor, dou os parabéns a Vossa Majestade; acaba de ganhar um ducado e doze milhões. Sentindo-se, provavelmente, interrogado pelo olhar do rei, explica como: Sim, meu senhor, o duque de Bragança cometeu a loucura de se aclamar rei de Portugal, e o confisco dos seus bens vai encher os cofres de Vossa Majestade!
Eis a fina arte da política que consiste em transformar em boa, a notícia de uma desgraça. Desgraça, claro, para Espanha. Alívio enorme para Portugal que se soltara, finalmente, da coleira com que fora atado havia 60 anos.
Passados cinco anos, por decisão das cortes reunidas em Lisboa (Março de 1646), Nossa Senhora da Conceição foi proclamada padroeira do Reino de Portugal. D. João IV ofereceu-lhe a sua coroa, tornando-a nossa rainha e, por esse motivo, nunca mais os reis de Portugal puseram coroa na cabeça. Por tudo isto, o dia 8 de Dezembro assume, para nós portugueses, uma importância redobrada.
Salve Nobre Padroeira!
14 comentários:
1640 Dez 08 o dia da restauração, que bonito texto para o dia em questão, parabéns Fátima pelo sentido de oportunidade. Isso é que é estar atenta, faz-me lembrar o Prof. Ribom e as suas palestras sobre os quarenta fidalgos que com a sua bravura restituiram o poder à nossa monarquia, para aqueles que não saibam existe um monumento na Av. da Liberdade em Lisboa alusivo a esse dia tão marcante da nossa Istória. Beijos Manuel
História? será que isto é um sintoma de velhice? Estou a ver o Sr. Ribom com a régua em riste.
Já agora devo dizer que não tenho estado ausente simplesmente nesta époco o trabalho é tanto que quando abro o comp. dou uma vista às novidades e falta-me a disposição de fazer ou dizer seja o que for, por isso é de admirar a disposição que a Fátima tem demonstrado perante o empenho que dedica a este bloog.
À Fátima um beijo e parabéns, muito obrigado pelas coisas bonitas que nos tens oferecido. Manuel
Fátima:apesat da História, ser para mim, uma disciplina de menor gosto, juntamente com a política, para desespero da minha sobrinha no ensino, vou comentar felicitando-te pelo empenho dos registos, e pela perfeição relembrando as datas comemorativas, pelas divídas razões,através de um texto escrito à tua imagem, perfeito, explicito,e ilustrado com a imagem, da Imaculada Conceição o dia Santo guardado, que talvez muitos como eu ignorassem o verdadeiro significado. Parabéns pelo que me ensinaste, obrigado porque aprendi. Beijos
Pois é, história é mesmo "a tua praia". É impressionante o amor e o empenho que lhe dedicas... As reticências significam aquilo que me apetecia escrever dando continuidade à minha linha de pensamento. Mas como não sei se irias gostar, fico-me com os três pontinhos.
Agora as curiosidades. Certo que o dia 8 é o dia da Nossa senhora da Conceição, Rainha de Portugal. Mas olha que o D. João IV foi bem malandro ao pensar no dia - oito dias após o aniversaário da Restauração! Foi ainda para meter mais ferrinho aos Espanhóis!
Lembro-me da sra D. Maria nos contar a história, mas à semelhança de outras histórias, tinha ficado arquivada num cantinho qualquer do meu cérebro. Fizeste com que a relembrasse. Obrigada por isso, e toma lá beijinhos
Quero, com o meu testemunho, agradecer à FÁTIMA o facto de nos
manter informados e dentro dos
acontecimentos que fazem parte da
História com alusão às datas.
A propósito quero lembrar e mais
pròpriamente trazer ao conhecimento
de muitos que a data da Restauração
já foi reconhecida em Rebordainhos
com uma representação teatral na comemorização dos trezentos anos.
Não posso confirmar o ano exacto
mas creio que foi no ano de 1940.
Lembro-me de ouvir contar que,
entre outros, também fizeram parte
o meu pai e o tio Ismael que morava na casa que é agora do Mário
Couceiro. Quem ensaiou esta peça
teatral foi o Professor Ribom. Os
ensaios eram feitos num palheiro
junto à fonte onde está agora a
casa da Junta. O palco foi montado
na eira ao lado da casa da Amélia
junto à escola. Tenho ainda bem presente na memória uma trave de grande porte que ficou durante
muito tempo encostada à parede ao
cimo da eira. Esta representação
teatral creio que ainda foi levada
a outro ou outros locais fora de
Rebordainhos. Talvez ainda seja
possível obter uma descrição em
pormenor junto de pessoas com mais
idade e aí residentes no ano de
1940. Haja algém que se disponha a fazer a recolha desses elementos.
Os meus cumprimentos para todos.
Américo
Manuel
Se te fiz regressar memórias, é porque elas lá estavam guardadas, sinal do bom trabalho dos senhores professores - apesar da régua!
Não quis pegar directamente no 1.º de Dezembro, mas apeteceu-me ligar ao dia 8, por ser dia de Nossa Senhora, figura a quem os portugueses queremos muito e os de Rebordaínhos, mais ainda: até lhe dedicamos a festa maior, em vez de ser à padroeira!
Beijos e obrigada!
Tonho
Sou eu que tenho, sempre, que te agradecer, sobretudo por te não incomodares que tenha um texto teu à espera e esteja a atrasar a sua publicação.
Beijos
Foi pertinente esta tua "curiosidade" e, nestes assuntos,tu nadas como peixe na água.
Agora percebo em que cartilha é que alguns dos nossos governantes foram buscar os ensinamentos!...dão-nos as notícias pela positiva mas, quem se lixa ...é sempre o mexilhão.
Bjos
Olímpia
Augusta
O outro perguntava-se "o que fazer com este livro?" e eu pergunto-me o que fazer com tantos elogios? Ide-me enchendo de proa, e daqui a nada não me aturais!
O D. João IV não escolheu o dia: o 8 de Dezembro, festa da Imaculada Conceição, era celebrado desde o século XV (embora o estabelecimento como dogma católico venha só do séc. XIX) Para D. João, a data apenas calhou bem, foi uma feliz coincidência que a nossa Restauração se desse oito dias antes da festa de Nossa Senhora.
Mas Nossa Senhora anda muito associada à nossa História: D. Afonso Henriques regressa vitorioso da batalha de Ourique, nas vésperas da festa da Assunção de N.ª Senhora; D. João I trava a batalha de Aljubarrota (14 de Agosto) na mesma época do calendário e dedica-Lhe a vitória (manda, para isso, construir o Mosteiro de Santa Maria da Vitória da Batalha) e Nuno Álvares Pereira faz a mesma coisa, mandando construir o convento do Carmo onde passou os últimos dias. Depois, vem a Restauração da Independência. Digamos que temos motivos de sobejo para sermos o povo mariano que somos, porque Nossa senhora sempre nos acompanhou e protegeu nos momentos mais difíceis. Mas isto é a Fátima a falar, não a professora de História...
Beijos e obrigada.
Senhor Américo
Ora muito bem-haja pela excelente informação que nos deu!
É bem provável que a data tenha sido essa mesmo, porque em 1940 o Estado Novo organizou grandes cerimónias de comemoração do duplo centenário - o de 1640 e o de 1143 (data a partir da qual comemoramos a nossa independência, curiosamente, a 5 de Outubro). Houve numerosas iniciativas por todo o país e o mais certo é que os professores tenham sido envolvidos nas comemorações. Os senhores professores, com o seu enorme saber e talento, devem ter contribuído dessa forma que, já agora, gostaria de conhecer melhor. Se houve crianças a participar, devem ter, agora, à volta de 80 anos, por isso não deve ser difícil encontrar alguém que se recorde, mesmo que não tenha participado.
Alguém se adianta e prontifica a perguntar aos mais velhos? Gostaria muito de publicar alguma coisa sobre o assunto!
Beijos
Depois de ler a crónica da Fátima mais os comentários, só me falta acrescentar: o que a gente não aprende com esta mulher!...
Obrigado por mais esta lição de história pátria, sobretudo agora que ela quase desapareceu dos curricula do ensino e um abraço
António
Olímpia
Não sei o que aconteceu, mas deixei escapar o teu comentário.
Agora que já não há perigo com os casamentos temos que mudar o ditado: de Espanha, nem bom vento nem bom exemplo...
Beijos
Tonho
Eu bem digo: encheis-me de proa!
Beijos
Tónho,
Fizeste-me chorar a rir. A matança era um dos convívios que eu mais gostava e eu tenho muitas saudades deles. Era a matança da minha Madrinha (Tia Helena) e quem matou o porco foi o Tio Alípio acompanhado do filho Tito. Ao almoço comíamos o tal fígado estufado acompanhado com batatas cozidas. O Tito quando via o Mário da Tia Celeste distraído tirava-lhe o fígado do prato e metia-lhe as batatas.
Ó Tia Helena! A mim some-me a chicha do prato e crescem-me as batatas! Bote cá mais uns bucados.
Das atraganices do tio Leque também me lembro bem. Uma vez esta em casa da Tia Gloria e ele na dele peidava-se e gritava. Ó Glória incheste o lume de castanhas e não as mordiscaste primeiro! A tia Glória não lhe respondia. Dali o bocado voltava ele à carga, dava outro valente peido e gritava. Caralho, Glória! Ou já te dixe para mordiscares as castanhas antes de as meteres ao lume!
É bom recordar estes momentos. Obrigada António. Um beijo e um feliz Natal
Amélia
Enviar um comentário