sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

ACTIVIDADES ECONÓMICAS


II

PAULO MARTINS e a PADARIA DIANA

Vamos ver se conseguimos dar um pouco de alegria à sr.ª Irene que tem andado muito triste por estes dias.

Estarei a dar conta de uma evidência se disser que os pais e as mães de Rebordaínhos, mais do que com os seus, se comprazem com os sucessos dos filhos. Não é de estranhar que assim seja porque, se pensarmos com justiça, veremos que os filhos devemos quase tudo aos nossos pais que não mediram sacrifícios para nos porem a mão por baixo, como Deus faz ao menino e ao borracho. Assim fizeram a sr.ª Irene e o sr. Victor (ele que me perdoe, mas é o labaredas).

Quando eu era menina e eles eram meus vizinhos na casa junto ao pelourinho, a Sr.ª Irene era tecedeira e o toc-toc do tear ecoava pelo bairro, marcando o compasso das melodias que entoava enquanto trabalhava. Nem sei o que era mais perfeito, se as mantas de retalhos que lhe saíam do tear, se a lindíssima trança que enrolava em crucho e lhe dava ao rosto aquele aspecto de rainha que só víamos nas estampas dos livros. Do tear, à família de boas posses que hoje é, medeia uma história que merece ser contada, mas terá de ficar para outra vez. Hoje falarei do seu Paulo.

O Paulo, depois de andar uns anos por fora, estabeleceu-se em Rebordaínhos. Percebeu que nas aldeias já são poucas as pessoas que cozem o próprio pão e o seu sentido de oportunidade levou-o a abrir uma padaria – a padaria Diana – que instalou em Vale da Frunha. Encostado à estrada e virado para o vale dos Pereiros que se avista plenamente, o edifício da padaria é amplo e arejado como convém. À entrada, sob um telheiro, pilhas de lenha informam o visitante de que, ali, também se coze à maneira antiga.

A reportagem fotográfica data, já, de 2008 e foi a sr.ª Irene que me guiou a visita, devido aos muitos afazeres do Paulo e aos horários difíceis que a sua actividade implica. Mas explicou-me tudo muito bem.

Para facilitar a limpeza, o interior está integralmente revestido de azulejos e a maquinaria – fornos, masseiras, batedeiras – é de aço, com a robustez que convém. O asseio do conjunto pode atestar-se pelas fotografias. Da Padaria Diana saem produtos regionais como o folar da Páscoa, mas o que lhe granjeou a fama inicial foi o pão, cozido de acordo com os modelos e receitas tradicionais aplicados à maquinaria moderna.

O pão de Rebordaínhos, designação por que é conhecido aquele que o Paulo produz, vende-se, principalmente, nos hipermercados de Bragança, mas as encomendas que recebe de todo o concelho e, até, de fora dele, esgotam-lhe toda a produção. Diz-se, por Bragança, que o pão de Rebordaínhos é o primeiro a acabar-se. Bom sinal! Quem quiser comprovar o que digo, pode ler a reportagem publicada no Jornal do Nordeste em 2008 (clicar sobre o sublinhado).

O Paulo e a mulher asseguram, quer a produção, quer a distribuição. A sua carrinha, que um lindo logotipo identifica, logo de manhãzinha segue pelas estradas que tem de percorrer até aos destinos aprazados e, só no regresso, é que os dois se dão o direito a umas horas de sono. É uma vida dura, mas é muito bom que haja quem assente arraiais na terra e a mantenha povoada e activa. O Paulo é uma daquelas pessoas que prova que, com as ideias certas, é possível trazer algo de novo ao povo e crescer economicamente na aldeia. Bem-haja ele!

12 comentários:

Alexandre disse...

Nada melhor do que o pão da aldeia de rebordaínhos....

Augusta disse...

Mana:
Primeiro, felicito-te por teres retomado o tema. Aqui está um exemplo de como é possível prosperar numa aldeia rural e extremamente envelhecida do nosso Nordeste.
Segundo, quero felicitar o Paulo e a esposa porque tão bem sabem aplicar a mestria de quem os ensinou. Também pelo esforço, porque passar as noites em claro, não é "pêra doce". Mas esse esforço é realmente reconhecido pelos consumidores. Aqueles que conheço e são clientes são unânimes em afirmar que o PÃO DE REBORDAINHOS É O MELHOR!
Terceiro, felicitar a srª Irene porque soube aproveitar o seu saber, para ajudar os filhos a escolherem um rumo.
Quarto, não posso deixar de felicitar também o Victor, porque com esforço, conseguiu conquistar a PULSO, aquilo que hoje é.
E já agora, eu também sou daquelas que afirmam que NÃO HÁ PÃO COMO O DE REBORDAINHOS.
Beijinhos e, bom ano para todos.

Céu disse...

Fatima,

Falas-nos aqui de um tema ineteressante e de pessoas de grande exemplo laboral.
Lembro-me que a tia Irene bem me desafiou, quando eu era jovem, para aprender a tecer, mas a vida não permitiu que isso acontecesse, com muita pena minha.
Felicito aqui o Paulo, alias, como ja o fiz pessoalmente varias vezes, pela qualidade inigualavel,e confirmo que o pão se aguenta oito dias sem ganhar bulor, como noticia o Jornal.
é um bem para todos nos, termos uma padaria Diana em Rebordainhos.
Um obrigada a familia Martins e a Fatima pela publicação.
Bjs
Céu

antonio disse...

Como não podendo ser de outra maneira, também queria felicitar o Paulo, sua esposa e o Vitor assim como a tia Irene, como ela todos os seus filhos enfrentaram o "touro pelos cornos," para grande prazer e alegria minha, porque o resultado é bém visível. Quanto á padaria, apesar de não ser seu conssumidor, porque felizmente minha esposa também se dedica a essas tarefas, para nós exclusivamente, mas já a minha mãe dizia que não havia melhor na região. Parabéns.
felicitações também para ti Fátima, honraste-nos com a 1ª leitura magnificamente interpretada. Tive pêna não poder falar convosco mas ainda vos vi às três quando vinhas certamente da visita aos vossos pais. Havia muita gente sem erem residentes presentes na Eucaristia, o que significa apesar de tudo temos lá as nossas raizes. Também não pode falar com a Céu o que me deixa penoso.
Aproveito para dar uma noticia triste: a Sra. Ester locatária com minha mãe na casa de repouso, faleceu hoje de manhã, que Deus guarde a sua alma. Tinha por ela grande afecto e carinho, os meus sinceros pêsames para toda a família. um abraço António B. Pereira

Olímpia disse...

É verdade sim senhor!...O pão de Rebordainhos é o melhor.
Claro que para isso, muito contribuiram com os seus saberes, a Srª Irene e o Victor.O trabalho e a dedicação, cabe ao Paulo e à esposa.
A todos eles, os meus parabéns por nos manterem vivo o gostinho do pão acabadinho de cozer, num forno a lenha.
Beijos
Olímpia

Fátima Pereira Stocker disse...

Olá, Alexandre

Feliz ano novo!
Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Augusta

O tema é importante e não estava esquecido, mas escrever exige uma disponibilidade que, nem sempre, temos. Mas como vi a sr.ª Irene tão triste - e o sr. Víctor também, por causa dela - achei que, deste modo, estaria a dar-lhe alguma alegria. Espero que alguém da família leia e lhe diga.

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Céu

Tens muita razão no que dizes.

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho [Braz]

Tu és um dos privilegiados que ainda te regalas com o pão feito em casa!

Eu não vi, mas por momentos achei que te tinha visto... no adro, à entrada para a missa de Natal, fui direitinha a um cavalheiro, convencida de que eras tu. Já lhe tinha posto a mão no ombro quando olhei melhor e percebi que não conhecia a pessoa! Felizmente, o homem era bem educado e, dando conta da minha atrapalhação, só me disse: "olhe que me não deve conhecer!" Faço cada uma!
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Obrigada por dares a notícia do passamento da tia Ester. A Céu já fez um artigo no blog da ASCRR e já lá deixei as condolências à família.

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Olímpia

Lembro-me bem, no início da actividade do Paulo, de ouvir a sr.ª Irene dizer que foi ela a ensinal-lhes a fazer o pão e a explicar, com a vivacidade que lhe é tão característica, como é que as máquinas funcionavam e como tudo se processava.

Beijos

Alexandre disse...

feliz 2010 para ti também fátima!!

Anónimo disse...

Todos temos mesmo que comer o pão que o amassou.