quinta-feira, 22 de abril de 2010

Pascoelas…Putos…Rebordainhos

Por
...........abcd


Passam como que envergonhados pelas ruas onde outrora correram…

Olham, perdidos, para os putos desconhecidos que percorrem as ruas gritando, pontapeando a bola como se pontapeassem a tristeza. Porque, afinal, é desta que todos tentamos fugir quando visitamos Rebordainhos. Quem nos dera termos essa capacidade de pontapear bolas para bem longe, mas não… esta bola que teima colar-se ao pé é algo que nunca conseguiremos chutar. É como se estivesse fundida com a nossa carne, pesando-nos cada vez mais, enchendo com os dias que passam e trazem novos putos à aldeia, atulhando-se com as lembranças constantes que nos invadem à medida que caminhamos e vemos esses putos que não nos conhecem e têm a ousadia de brincar com a nossa aldeia… a minha aldeia! A aldeia que fez crostas na pele inocente que tinha, a aldeia que molhou os cabelos que esvoaçavam pelo campo de futebol, a aldeia que escondeu com o seu manto o primeiro beijo, a aldeia que trouxe amigos não comerciais, a aldeia onde saboreei vitórias e derrotas comuns em miúdos e adolescentes que adoram brincar sem limites geográficos ou raciais.

Essa mesma aldeia é agora deles, desses putos de Lisboa, Porto e Bragança que, nesses quinze dias de férias, a carregam com gritos e dores, obrigando a velha aldeia a mais um esforço na sua incansável obra de formar homens e mulheres duros como o vento serrano e sensíveis como as pascoelas que dão cor aos caminhos transmontanos.

Gozem-na, aproveitem-na, devorem-na, pois serão momentos irrepetíveis que, um dia mais tarde, quando tiverem a infelicidade de pensar muito e, se se derem ao trabalho de ter saudades, então, essa aldeia mágica deixará de existir e dela restará, apenas, a lembrança nas nossas mentes e a constante presença de putos que nos farão ciúmes por terem encontrado o santo graal da aldeia transmontana – talvez a única e verdadeira e velha aldeia a que chamam Rebordainhos.

9 comentários:

Fátima Pereira Stocker disse...

Caro abcd

Mais um texto lindíssimo de quem sente a saudade a pesar mais do que o ânimo para lá regressar, talvez...

O texto é muito sentido; a dor e a saudade são, por força, bem reais.

Beijos e obrigada.

Fátima Pereira Stocker disse...

Nota de edição

A fotografia que ilustra o texto também foi enviada pelo autor, o que muito lhe agradeço.

Lurdes disse...

A saudade está sempre presente e quem um dia conheceu Rebordaínhos vai sentir vontade de lá voltar sempre...

Rebordaínhos a minha aldeia...

Lurdes

EUmesmo disse...

Só quem mora longe, longe mesmo, pode avaliar o que é saudade à vera!
Ao final da leitura de um artigo como este ficar com os olhos marejados de lágrimas e continuar não tendo com quem dividir suas tristezas, mas ao mesmo tempo saber que tem que continuar tocando a vida do jeito que Deus quer. Ficar sonhando 24 horas por dia com a hora ou o dia em que conseguirá juntar uma boa quantia, suficiente para comprar os bilhetes e cobrir os gastos de um ou dois meses de férias na sua tão querida terra natal! Depois, sentir a tristeza invadir seu peito novamente quando a data do retorno se aproxima!... e chorar mais uma vez no silêncio da noite, amargando um pranto solitário, encafuado entre os lençóis de sua velha cama.
E o pós retorno? Esse dói no peito, na cabeça, nas pernas, no corpo todo, mas e principalmente dói na alma! Mas essa é uma outra história que só quem já passou por ela e realmente criou raízes em seu ponto de origem conhece, mesmo tendo vivido pouquíssimo tempo lá!
Obrigado abcd por partilhares connosco tuas lembranças.

eu

Rebordas disse...

Rebordaínhos,
Oh minha terra
onde eu nasci
tantas saudades eu tenho de ti!
Oh terra amada
tu és para o doce toque das trindazes!
Oh terra amada
Disse-te a deus um dia e abalei
E nunca mais lá tornei!
Olhei para trás chorando
Minha terra querida tão longe me estás ficando!

Augusta disse...

Abençoado abcd que faz com que outros regressem, ainda que virtualmente, à terra natal.
Pelo que leio, sinto que sou uma priveligiada em poder visitá-la sempre que me apetece.
Obrigada a todos os que participam, principalmente aos que continuam a preferir usar heterónimos. Independentemente da sua preferência, sabem que mais? Não importa! O importante é que a sua visita é sempre um prazer. Espero sinceramente que um dia nos possamos juntar em REBORDAINHOS.
Particularmente ao abcd, mais uma vez, parabéns por este Rebordainhos "sentido".
Um abraço

Fátima Pereira Stocker disse...

EUmesmo

Rebordas


As vossas palavras comoveram-me muito. Obrigada.

Beijos

Olímpia disse...

Sr. abcd

Que bonita poesia escrita em prosa!
A sua melancolia, a sua memória "do coração", causada pela lembrança e pela saudade (mas nunca esquecimento)é sem dúvida uma bela homenagem à nossa aldeia chamada Rebordainhos.
Acredito que com as suas recordações ajudará outros a "matarem saudades" pois, a casa dessas saudades chama-se memória, aquela cabana pequenina a um canto do coração.

Continue a brindar-nos com estes pensamentos!

Bem-haja

Olímpia

António disse...

É pena que o excesso de modéstia de ABC o impeça de se dar ao conhecimento, pois todos os Rebordainhenses teriam prazer em conhecer este seu seu compatrício poeta.
De qualquer modo, parabéns por este naco de bela poesia em prosa, impregnado de tão densa melancolia, sobre o nosso Rebordainhos que já só pela memória nos pertence.
António