quarta-feira, 16 de junho de 2010

MEMÓRIAS DE TRAGÉDIA ALHEIA


........................................Tudo se vestiu de luto
........................................A Nação estava de Paixão,
........................................Ao ver correr tanto sangue
........................................Mostra cruel compaixão!

........................................Lá na Nação de Espanha
........................................Foi uma barbaridade:
........................................Queimaram conventos e frades
........................................E mataram muitos padres!

........................................Entravam pelas casas dentro
........................................Sem pedir obediência;
........................................Matavam os donos das casas
........................................Sem ter dó nem consciência!

........................................Matavam grandes famílias,
........................................Matavam filhos e pais:
........................................Dentro daquela cidade
........................................Só se ouvem gritos e ais!

........................................Também as tristes mulheres
........................................Sofriam os seus martírios:
........................................Cortavam-lhes os bicos dos peitos,
........................................Ficavam c'o eles doloridos.

........................................Diziam que era o anti-Cristo
........................................Que andava a trabalhar.
........................................Rezavam as profecias:
........................................Isso tínhamos de passar!

Muito obrigada ao tio Manuel por me ter ensinado as quadras. Também me esclareceu sobre o significado da terceira e da quarta: pessoas armadas que se não identificavam entravam numa casa e perguntavam: "Quem vive?" A resposta só podia ser uma de duas: "Caballero" ou "Franco". Se as pessoas se calassem ou se dessem o "viva" errado, rebentavam-lhes uma granada dentro de casa com elas lá dentro. Esta explicação é magnífica pelo modo como ilustra a arbitrariedade da guerra!

O teor das quadras identifica bem o autor, um simpatizante dos nacionalistas de Franco, e a explicação sobre o "quem vive?" remete a informação para o início da guerra. Com efeito, Francisco Largo Caballero foi primeiro-ministro da Espanha republicana entre 1936 e 1937 (derrotados os Republicanos, viria a exilar-se em França onde foi capturado pelos nazis e levado para o campo de concentração de Sachsenhausen na Alemanha).

A história dos exilados espanhóis (nacionalistas no início, republicanos no fim) em terras portuguesas ou francesas é uma história de vergonha e desumanidade. Há por aí quem saiba outras quadras?
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Escusado será dizê-lo, mas a pintura que ilustra o artigo é Guernica, obra admirável de Pablo Picasso.

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