Desembarque do exército português em Arzila (pormenor)
Este artigo não é sobre, nem a propósito de Rebordaínhos. Escrevo-o, apenas, por saber que muitos, no gozo das suas férias, se deslocam a Lisboa onde, como é inevitável no tempo do ócio, há dias que se gastam entre bocejos e a sensação de aborrecimento provocada pela inacção. Proponho, por isso, que se desloquem ao Museu Nacional de Arte Antiga (rua das Janelas Verdes) onde podem ver em exposição as “Tapeçarias de Pastrana”. São quatro panos de armar, de dimensões enormes (cada um com cerca de 10m x 4m), mostrados em condições excepcionais.
Por motivos misteriosos, as tapeçarias de Pastrana encontram-se em Espanha, mas foram encomendadas por D. Afonso V de Portugal a oficinas flamengas. Três delas contam a história da conquista de Arzila (1471), enquanto a quarta mostra a entrada dos portugueses em Tânger, abandonada pelos mouros imediatamente a seguir à tomada de Arzila.
São obras sublimes pela execução e únicas pela temática (e pelas dimensões) já que, através delas, D. Afonso V pretende fixar a imagem que a posteridade deverá fazer de si: a de um rei vencedor empenhado na expansão da fé. Infelizmente, por ter sido ofuscado pela grandeza do filho (D. João II), a posteridade inventou-lhe imagem contrária, a de rei fraco e perdulário.
Rei vencedor, sim, mas também pai dedicado a seu filho, mandando que seja representado a seu lado, legitimando o poder futuro do sucessor e, quiçá, querendo dizer, como Deus no rio Jordão: “Este é o meu filho muito amado, escutai-o”.
Por toda a parte, na área das tapeçarias, estão espalhadas as quinas nacionais e o rodízio, símbolo de D. Afonso V. A escolha do rodízio é um mistério. O cronista Rui de Pina diz-nos, apenas, que o rodizio com gotas de água ao derredor espargidas o tomara El-Rei pela Rainha D. Isabel, sua mulher, sendo acompanhado pelo número VII e pelas palavras ja mais e a letra E. Há uma explicação mirabolante para isto: no entender do grande escritor António Caetano de Sousa (séc. XVIII), tais símbolos, que se encontram num confessionário do convento do Varatojo (mandado construir pelo rei), devem ler-se do seguinte modo: E + rodízio = Erro dizio (diz o erro; confessa-o) e o número VII poderia aludir aos sete pecados capitais. Bendita imaginação!
Cá para mim, que sou mais prosaica, o que D. Afonso V quer dizer com o rodízio é que há-de levar a água ao seu moinho! Pode ter demorado mais de 500 anos, mas estas tapeçarias estão a obrigar-nos a olhar para o Africano com outros olhos!
Cerco de ArzilaPor motivos misteriosos, as tapeçarias de Pastrana encontram-se em Espanha, mas foram encomendadas por D. Afonso V de Portugal a oficinas flamengas. Três delas contam a história da conquista de Arzila (1471), enquanto a quarta mostra a entrada dos portugueses em Tânger, abandonada pelos mouros imediatamente a seguir à tomada de Arzila.
São obras sublimes pela execução e únicas pela temática (e pelas dimensões) já que, através delas, D. Afonso V pretende fixar a imagem que a posteridade deverá fazer de si: a de um rei vencedor empenhado na expansão da fé. Infelizmente, por ter sido ofuscado pela grandeza do filho (D. João II), a posteridade inventou-lhe imagem contrária, a de rei fraco e perdulário.
Rei vencedor, sim, mas também pai dedicado a seu filho, mandando que seja representado a seu lado, legitimando o poder futuro do sucessor e, quiçá, querendo dizer, como Deus no rio Jordão: “Este é o meu filho muito amado, escutai-o”.
Por toda a parte, na área das tapeçarias, estão espalhadas as quinas nacionais e o rodízio, símbolo de D. Afonso V. A escolha do rodízio é um mistério. O cronista Rui de Pina diz-nos, apenas, que o rodizio com gotas de água ao derredor espargidas o tomara El-Rei pela Rainha D. Isabel, sua mulher, sendo acompanhado pelo número VII e pelas palavras ja mais e a letra E. Há uma explicação mirabolante para isto: no entender do grande escritor António Caetano de Sousa (séc. XVIII), tais símbolos, que se encontram num confessionário do convento do Varatojo (mandado construir pelo rei), devem ler-se do seguinte modo: E + rodízio = Erro dizio (diz o erro; confessa-o) e o número VII poderia aludir aos sete pecados capitais. Bendita imaginação!
Cá para mim, que sou mais prosaica, o que D. Afonso V quer dizer com o rodízio é que há-de levar a água ao seu moinho! Pode ter demorado mais de 500 anos, mas estas tapeçarias estão a obrigar-nos a olhar para o Africano com outros olhos!
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As imagens são scanner do catálogo (que vale bem os 30€ para quem gosta de ter obras de arte em casa), mas as suas grandes dimensões não permitem a reprodução integral (a do cerco é uma montagem rudimentar, mas que me deu uma trabalheira enorme)
2 comentários:
Amiga Fátima:
Acabadinho de desembarcar de uns dias de praia e preguiça, venho deparar com esta magnífica lição de cultura de que tão precisados andamos.
Num dia destes que desça à capital do Império, irei seguir o teu conselho e demandar as Janelas Verdes, onde , além do Museu de Arte Antiga, morava também o Carlos da Maia do Eça.
Obrigado.
António
Viva, Tonho, as saudades que tinha de ti!
Se queres ver a expoição despacha-te, porque só estará patente até 15 de Setembro (se não estou em erro).
Lembraste bem, o "nosso" Carlos da Maia vivia nas Janelas Verdes.
Beijos
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