![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCeMmTEHC6SWdhtzHaQfgbveemA4kV6De5tfypQHEm4TxhIDEy8J9Zwrgs4MGLFXwp9kmfNHIKW9cQIll2IeRM3pz5Cnzqa7m6zHstJQOxIcIRNPbtxE7EFOzd7RUGAortH-le33CDCbB2/s320/Manuel-reis-buica.jpg)
Agora que falamos tanto de República, vem a propósito lembrar que tudo começou com um crime horrendo: o regicídio. Este é dos assuntos que gera debates mais acesos entre os historiadores, mas isso não é para aqui chamado. O que vem a propósito é que um dos dois assassinos se chamava Manuel da Silva Buíça e era natural de Vinhais, embora vivesse em Lisboa. Os transmontanos não lhe louvaram o acto e escreveram uns versos a propósito. Assim, mais uma vez da memória do tio Manuel:
...............................O Buíça de Vinhais
...............................filho de boas pessoas
...............................matou el-rei D. Carlos
...............................à entrada de Lisboa.
...............................Logo à primeira descarga
...............................el-rei D. Carlos falou:
...............................-Adeus mulher e meus filhos,
...............................a minha vida acabou!
...............................Ó Buíça, ó Buíça,
...............................ó Buíça, ó ladrão,
...............................mataste el-rei D. Carlos,
...............................tu te deste à prisão.
...............................Ó Buíça, ó Buíça,
...............................ó Buíça de Vinhais
...............................mataste el-rei D. Carlos
...............................com quatro tiros mortais!
...............................E o rei D. Manuel de Bragança,
...............................filho de D. Carlos I
...............................para se livrar da morte
...............................fugiu para o estrangeiro!
Nitidamente, estes versos foram escritos após a implantação da República, porque há um salto no tempo entre as duas últimas quadras.
Diz-me, também, o tio Manuel que uma sobrinha (ou prima?) do Buiça, chamada Gracinda, ia frequentemente a Rebordaínhos (normalmente no Verão) e ficava em casa do tio Pereira. Diz ele que o tio Pereira a conheceu em Vinhais, vila onde ia muito para tratar dos seus negócios. Essa rapariga chorava com vergonha, sempre que alguém lhe falava do familiar assassino.
O regicídio foi amplamente falado na imprensa nacional e internacional. Como não havia a disponibilidade que temos hoje de tirar fotografias, os artigos eram ilustrados com desenhos que tentavam ser fiéis aos factos. Deixo aqui algumas.
.........
.... ![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjo3yl1lPULWX-jQ9rVUXgj0p-28M5AuqQ2qPDWgMVtG1A4BjFd_FExelkbOTtPfOtPUyG1uCxt6-YLGL0-Fv2FWg_Pyrqfdrb9IOJ1XTjwkdMHWqLSSVpW3Y4F5X6JFYiaBQ8fKFxG8u_I/s320/REGICIDIO1.jpg)
...............................O Buíça de Vinhais
...............................filho de boas pessoas
...............................matou el-rei D. Carlos
...............................à entrada de Lisboa.
...............................Logo à primeira descarga
...............................el-rei D. Carlos falou:
...............................-Adeus mulher e meus filhos,
...............................a minha vida acabou!
...............................Ó Buíça, ó Buíça,
...............................ó Buíça, ó ladrão,
...............................mataste el-rei D. Carlos,
...............................tu te deste à prisão.
...............................Ó Buíça, ó Buíça,
...............................ó Buíça de Vinhais
...............................mataste el-rei D. Carlos
...............................com quatro tiros mortais!
...............................E o rei D. Manuel de Bragança,
...............................filho de D. Carlos I
...............................para se livrar da morte
...............................fugiu para o estrangeiro!
Nitidamente, estes versos foram escritos após a implantação da República, porque há um salto no tempo entre as duas últimas quadras.
Diz-me, também, o tio Manuel que uma sobrinha (ou prima?) do Buiça, chamada Gracinda, ia frequentemente a Rebordaínhos (normalmente no Verão) e ficava em casa do tio Pereira. Diz ele que o tio Pereira a conheceu em Vinhais, vila onde ia muito para tratar dos seus negócios. Essa rapariga chorava com vergonha, sempre que alguém lhe falava do familiar assassino.
O regicídio foi amplamente falado na imprensa nacional e internacional. Como não havia a disponibilidade que temos hoje de tirar fotografias, os artigos eram ilustrados com desenhos que tentavam ser fiéis aos factos. Deixo aqui algumas.
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Se alguém tiver curiosidade em ler uma descrição dos acontecimentos, aqui fica a página da revista "Ocidente".
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CARTA TESTAMENTO DE BUÍÇA
CARTA TESTAMENTO DE BUÍÇA
Manuel dos Reis da Silva Buiça, viuvo, filho de Augusto da Silva Buiça e de Maria Barroso, residente em Vinhaes, concelho de Vinhaes, districto de Bragança. Sou natural de Bouçoais, concelho de Valpassos, districto de Vila Real (Traz-os-Montes); fui casado com D.Herminia Augusta da Silva Buíça, filha do major de cavalaria (reformado) e de D.Maria de Jesus Costa. O major chama-se João Augusto da Costa, viuvo. Ficaram-me de minha mulher dois filhos, a saber: Elvira, que nasceu a 19 de dezembro de 1900, na rua de Santa Marta, número… rez do chão e que não está ainda baptisada nem registada civilmente e Manuel que nasceu a 12 de setembro de 1907 nas Escadinhas da Mouraria, número quatro, quarto andar, esquerdo e foi registado na administração do primeiro bairro de Lisboa, no dia onze de outubro do anno acima referido. Foram testemunhas do acto Albano José Correia, casado, empregado no comércio e Aquilino Ribeiro, solteiro, publicista. Ambos os meus filhos vivem commigo e com a avó materna nas Escadinhas da Mouraria, 4, 4º andar, esquerdo. Minha família vive em Vinhaes para onde se deve participar a minha morte ou o meu desapparecimento, caso se dêem. Meus filhos ficam pobrissimos; não tenho nada que lhes legar senão o meu nome e o respeito e compaixão pelos que soffrem. Peço que os eduquem nos principios da liberdade, egualdade e fraternidade que eu commungo e por causa dos quaes ficarão, porventura, em breve, orphãos. Lisboa, 28 de janeiro de 1908. Manuel dos Reis da Silva Buiça. Reconhece a minha assignatura o tabelião Motta, rua do Crucifixo, Lisboa.
Repare-se na data. Mataria o rei no dia seguinte, em conluio, pelo menos, com outro regicida, António Costa.
7 comentários:
Obrigado por ir deixando aqui todos estes pedaços de História. Sempre bem escolhidos e ainda melhor relatados.
Em vinhais, ele é também recordado:
http://www.jornalnordeste.com/noticia.asp?idEdicao=336&id=14689&idSeccao=3022&Action=noticia
Beijos,
Rui
Realmente só tu, para na horinha certa, nos dares a conhecer os factos que fazem parte da nossa história.
Já sabia que eras "rata de biblioteca", mas com esses pormenores todos, deves ser é "leirão de bibliotecas e arquivos"
Beijos
Rui:
Obrigada e parabéns por também tu mostrares ser uma pessoa muito atenta.
Beijos
Olá colega ,uma boa aula de História .Certamente, muitos ignorarão estes pormenores desta fase da nossa passagem para a .
República , a começar por mim que desconhecia o poema . Sempre a aprender...
Ab.
Quina
Rui
Obrigada eu!
Sobre o Buíça... sabes que me confunde muito que se homenageiem assassinos.
Beijos
Augusta
Creio que foi a primeira vez que se usou "leirão" como elogio. Obrigada!
Beijos
Quina
É normal que não conhecesse os versos porque fazem parte de uma tradição oral que, penso, é apenas, local.
Um abraço
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