quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

JOGOS


Vamos lembrar e inventariar as nossas brincadeiras?

Proponho que comecemos por aquelas que podíamos fazer dentro de casa e que, embora possam ser de qualquer lugar e altura do ano, as fazíamos preferencialmente quando as nossas mães nos não deixavam sair para a invernia.

À cabeça vem-me, agora, uma, mas preciso da vossa ajuda para as descrever, porque me lembro de pouco mais do que do nome:


1 - Porca Perrincha

Faz-se um montinho de cinza com um pau espetado ao meio. Esse pau era a porca perrincha. À vez, cada um dos jogadores diz:

-Ó compadre! Dá-me umas ripinhas de feno para a minha burrinha?

- Vá lá ao palheiro, está lá a porca perrincha, nem morde nem rincha, mas olhe lá a ver se a pincha!

Depois de receber a autorização, o jogador (e cada um dos outros na sua vez) tira uma parcela de cinza, com muito jeitinho para não tombar o pau.

O jogador que tombasse o pau seria aquela que ira agachar-se de olhos tapados, tentando adivinhar o que lhe iam pondo nas costas, respondendo à pergunta: "O que é que te pesa, burro da abadesa? Enquanto não advinhasse não se podia levantar.

Vindo da memória do comentador anónimo, como pode ver-se na caixa de comentários.


2 - Cerrobico

Os jogadores põem uma mão cada um, com os dedos bem abertos. Um deles encarrega-se de, com a mão livre e à medida que dá pequenos beliscões em cada dedo, ir dizendo (cada espaço é um leliscão num dedo):

Cerro - bico - bico - bico
quem - te deu - tamanho -bico
foi o - ouro - e a - prata
senta-dinho - na - buraca
em - busca - da - perdiz
para - o filho - do - juiz
senhora - mãe
senhora - filha
empreste-me - uma - vas-sourinha:

(Nesta altura, esse jogador abre bem a mão, a fingir de vassoura, e desenha círculos sobre as outras mãos, a fingir que as varre. Vai dizendo:)
Varre, varre vassourinha,
se varreres bem dou-te um vintém,
se varreres mal dou-te um real!

Mal acaba a lenga-lenga, fecha a mão em punho e vai dando pequenas nozadas nas cabeças dos jogadores. Cada cabeça corresponde a uma palava:

Çola, Çapata, Rei, Rainha
Vai ao mar buscar a grainha
A casa da Dona Inês
Vai lá tu, que é tua vez!

O jogador em cuja cabeça calhou a palavra "vez" afasta-se o mais possível. Todos os outros juntam-se e escolhem duas coisas para cada um: algo de apetitoso e algo que corresponda a uma partida. Só um deles escolhe trazer o que perdeu às carrichas. Depois de feitas as escolhas, perguntam o seguinte (suponhamos) àquele que se afastou:

- Mais queres vir numa cesta ou no lombo de um burro (mas dizem alternativas para cada um dos jogadores)?
Se escolher vir na cesta e à cesta correspondesse, por exemplo, vir de gatas, era isso que teria que fazer. Mas se escolhesse vir de burro e a isso correspondesse vir às carrichas, o jogador correspondente teria que o ir buscar!

Vindo da memória da Augusta.


3 - O que é isto?

Os jogadores fecham uma mão em punho e, de modo alternado, põem os punhos uns sobre os outros. Um dos jogadores fica com uma mão livre.

O jogador com a mão livre serve-se dela para ir tocando, de cima para baixo, nos punhos dos outros e pergunta:

- O que é isto?
- Um punho! (responde o jogador em cujo punho se toca. E pergunta o mesmo a todos, até chegar ao último)
- O que é isto?
- É uma arquinha velha! (Responde o jogador com o punho no fim da pilha. E prossegue o diálogo:)
- O que é que tem dentro?
- Pão bolorento!
- E por fora?
- Cordinhas de viola
- O primeiro que se rir leva uma castanhola!

Depois deste diálogo, os jogadores fecham a boca e fazem carantonhas uns aos outros, para ver qual se ri primeiro. Ao que se rir, todos os outros dão castanholas na cabeça.


3 - Esconde, esconde não digas nada a ninguém

À volta da lareira, um dos jogadores esconde um botão (ou uma pequena pedra) entre as suas mãos, juntas e esticadas. Os outros jogadores colocam as suas mãos na mesma posição.

O jogador que tem o botão,passando as suas mãos por entre as dos outros jogadores, tem que entregar o botão a um qualquer, sem deixar perceber a quem. Ao mesmo tempo, vai dizendo "esconde, esconde, não digas nada a ninguém!". Por seu lado, quem receber este botão também não pode demonstrar que o tem em sua posse.

Depois de passar as mãos por todos os jogadores vai perguntando, alietoriamente, qual será o jogador que está em posse do botão.
Ganha quem adivinhar e passa a ser este a esconder o botão.

Vindo da memória da Olímpia.



___
A imagem é pouco apropriada mas, visualmente, foi o que achei de mais sugestivo para avivar memórias.

16 comentários:

Anónimo disse...

oi

fátima Pereira Stocker disse...

Anónimo

Saudações para si também! E um resto de bom feriado!

Anónimo disse...

porca perrincha!!!

oh!! compadre!
da-me umas ripinhas de feno para a minha burrinha?
va la ao palheiro esta la a porca perrincha, nem morde nem rincha, mas olhe la haver se a pincha!
(entretanto fazia-se um monte de cinza e um pau espetado no meio)
depois as pessoas iam dizendo essa lenga lenga e cada um ia tirando com muito jeitinho a cinza para nao tombar o pau. que supostamente esse pau seria a porca perrincha...
e quem fosse a pessoa a tompar o pau seria aquela que ira agachar-se de olhos tapados adivinhando o que lhe iam pondo nas costas. enquanto nao advinha-se nao se podia levantar...

Anónimo disse...

gostaria que me disse se se era esta a resposta correcta desta imaginaçao.

Augusta disse...

Assim de repente, só me lembro do sarrubico, bico, bico
Quem te deu tamanho bico
foi o d'ouro e o de prata
e o que estava na buraca...

Boa ideia mana

Fátima Pereira Stocker disse...

Caro anónimo

É ISSO MESMO! Vou já copiar

Constatei que cometi um erro: afinal eu pensava que eram dois jogos (porca perrincha / o que é que te pesa?) quando, afinal, ambos são um só!

Muito obrigada!
Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Augusta

Mas lembraste-te de algum! Vou acrescentá-lo porque me lembro dele todo. Escrevê-lo é que não será fácil por causa de algumas palavras. Por exemplo - e corrige-me se estou errada - creio que dizíamos cerrubico (cerrobico?).

Entretanto lembrei-me de outro: "o que é isto?"

Beijos

Joaquina Salgueiro S. C. disse...

Fátima , interessante , na Beira ,pelo menos na minha terra também tinhamos uma brincadeira parecida com a última que refere,mas chamavamos -lhe . «Blico ,tico ,sanabico...»
Um abraço
Quina

Olímpia disse...

Olá,
Tenho andado um pouco atrasada com estas notícias.
Mas que boa ideia!
De momento, lembro-me do jogo "esconde, esconde não digas nada a ninguém".
Então é assim: à volta da lareira, um dos jogadores esconde um botão (ou uma pequena pedra) entre as suas mãos, juntas e esticadas. Os outros jogadores, colocam-nas na mesma posição.
O jogador que tem o botão,passando as suas mãos por entre as dos outros jogadores, tem que entregar o botão sem que tal ser percebido. Ao mesmo tempo, vai dizendo "esconde, esconde, não digas nada a ninguém". Por seu lado, quem receber este botão, também não pode demonstrar que o tem em sua posse.
Depois de passar as mãos por todos os jogadores,vai perguntando alietoriamente, qual será o jogador que está em do botão.
Ganha quem adivinhar e, passa a ser este a esconder o botão.
Prometo que vou pensar em mais alguns jogos. Lembro-me ligeiramente daquele que diz "pena um, pena dois, pena três,...pena ocho", mas tenho que pensar bem na forma de como se desenvolve.

Bjinhos

Olímpia

Fátima Pereira Stocker disse...

Quina

Creio que, com algumas variações, muito do que era praticado numas terras, também o era noutras. Vai ver, ainda descobrimos mais afinidades!

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Olímpia

Chegas tarde mas trazes farnel para todos! Vê lá tu que eu juntava esse do "esconde esconde" ao "Que te pesa burro da abadesa", mas não me conseguia lembrar da parte que tu contaste. Felizmente, o anónimo explicou a "Porca Perrinca" e só então é que percebi que eram o mesmo jogo...

Vou já acrescentar iste e cá fico à espera que te lembres do do "pena ocho".

Beijos

Anónimo disse...

pois mas na brincadeira da porca perrincha depois eque vinha a porca da abadesa, mas como eu ainda sou muito novo e nunca joguei esse tal jogo nao sabia como era a seguir...
ja nao foi muito mau.

Fátima Pereira Stocker disse...

Anónimo

Pois sim, e foi o meu amigo quem mo lembrou. Ou não se trata da mesma pessoa?

Beijos

Augusta disse...

Ora bem. Lembrei-me doutra mas, como habitualmente, a memória continua a atraiçoar-me. Desta feita só me lembra do fim.
...
... Chega daqui ó Marão
ó Maria dá-me pão
para mim e pró cão
o primeiro que falar
leva dois mil carroa de cagalhões.

Alguém se lembra do que falta?

Fátima Pereira Stocker disse...

Augusta

Esse não é um jogo, é uma lenga-lenga, que também faço tenções de reunir. Lembro-me muito bem dela toda:

Amanhã é domingo
canta o pintassilgo
pintassilgo é dourado
não tem asas nem cavalo
tem um burriqueinho cego
daqui ao castelo
do castelo ao Mourão
ó Maria dá-me pão
pra mim e pró cão
o primeiro que falar
leva dois mil carros
de cagalhões!


Só agora é que reparei que escreveste "Marão" e eu escrevi "Mourão". O teu existe, o meu não faço ideia do que seja, mas tenho a certeza de que dizia assim. Vamos ver.

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Augusta

Não sabia, mas agora já sei porque fui ao meu fiel amigo dicionário. Segundo ele, em Trás-os-Montes, mourão é o mesmo que trasfogueiro.

Ora viste, já não morro burra!

Beijos