domingo, 20 de fevereiro de 2011

SENTIMENTO


Descerra a porta, ferreiro,
porque a manhã já nasceu
e dentro da forja tens,
à espera do teu saber,
três potes pra remendar,
cinco enxadas para aguçar
e cem pregos de encomenda
para cravar em portões altos
que o dono quis que fizessem
inveja aos dos castelos!

Acende o fogo, ferreiro,
para contentares tua filha
quando vir dependurado
da parede, sobre o lume,
um perfeito cadeado
onde o caldeiro da vianda
ficará mais belo ainda
do que pingente caindo
do colar de uma dama!

De tuas mãos sai um trabalho
tão sem defeito nem mácula
que mais parece lavrado
em fina prata e acabado
por mãos de anjos dos céus!

Acende o teu fogo, ferreiro,
volta à vida
como Túndalo!

________
Fotografia do Rui Freixedelo

10 comentários:

Olímpia disse...

Encantador este poema que, com toda a ternura julgo dedicares ao avô Ramos.
Esse cadeado, ainda está connosco e é com todo o amor que o havemos de conservar.

Obrigada

bjos

Olímpia

Isamar disse...

Um poema lindíssimo dedicado a um artista que trabalha o ferro como ninguém. Por aqui ainda os há mas com forja à antiga já não conheço.

Bem-haja, amiga!

Um abraço

Idanhense sonhadora disse...

Fátima :
Belo e comovedor poema . Na minha terra também ainda há quem faça lindos trabalhos em ferro,mas as técnicas já não são as da velha forja .
Deixo-lhe aqui uma nota de que já procurei responder à sua dúvida no meu blogue.

Um abraço
Quina

Augusta disse...

Garota:
Só tenho pena por não termos nenhum registo fotográfico da forja do avô. E hoje, já não é nada daquilo que foi.
Fizeste uma linda homenagem ao avô, e acredito que também ao tio Fernado. Afinal, ele foi o único que deu continuidade à arte.
Beijos

Idanhense sonhadora disse...

Fátima . Estou aqui hoje para lhe agradecer a sua colaboração ,que tão útil tem sido ao meu blogue . Digo-lhe que tem razão quando diz haver uma , ainda que ténue , ligação entre as suas mouras e as minhas moiras . Fico feliz por contar com a sua participação franca , frontal e sabedora .
Um grande abraço
Quina ou a beirã XQUINA

Fátima Pereira Stocker disse...

Olímpia

Percebeste bem. Obrigada por teres gostado.

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Isabel

Restam-nos, felizmente, alguns objectos saídos daquelas mãos de artista.

Infelizmente, já ninguém trabalha o ferro. O que nos sobra são memórias e pouco mais.

Um abraço

Fátima Pereira Stocker disse...

Quina

Felizmente, a sua terra é maiorzinha do que a minha, permitindo mais sobrevivência. Nós temos desaparecido aos poucos!

Um abraço

Fátima Pereira Stocker disse...

Augusta

O avô merecia-me uma referência! O tio Fernando também, claro, mas como os tempos eram outros, não teve oportunidade de mostrar que tinha mestria igual à do pai.

Tenho a mesma pena que tu em relação à forja. Seria mais correcto se ilustrasse o texto com uma fotografia em que se visse a casa do avô com a forja, mas ainda não tive coragem de ir à procura. Quem é da terra sabe muito bem que a fotografia mostra a forja do povo e não a do avô...

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Quina

Sou eu que tenho que agradecer porque me ensinou uma coisa que não sabia! Além disso, deu-me ideia para um artigo que escreverei assim que tiver tempo.

Um abraço