sexta-feira, 10 de junho de 2011

10 de JUNHO


..................................Eis aqui, quase cume da cabeça
..................................De Europa toda, o Reino Lusitano,
..................................Onde a terra se acaba e o mar começa
..................................E onde Febo repousa no Oceano.
..................................Este quis o Céu justo que floreça
..................................Nas armas contra o torpe Mauritano,
..................................Deitando-o de si fora; e lá na ardente
..................................África estar quieto o não consente.

..................................Esta é a ditosa pátria minha amada,
..................................À qual se o Céu me dá que eu sem perigo
..................................Torne, com esta empresa já acabada,
..................................Acabe-se esta luz ali comigo.
..................................Esta foi Lusitânia, derivada
..................................De Luso ou Lisa, que de Baco Antigo
..................................Filhos foram, parece, ou companheiros,
..................................E nela antam os íncolas primeiros.

Camões, Os Lusíadas, Canto III (fala de Vasco da Gama que conta a História de Portugal ao rei de Melinde, est. 20-21)


Aceitamos pacificamente que o 10 de Junho seja o dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas, por ser o dia de Camões, o cantor maior da nossa Pátria. Cá para mim, a designação é redundante, mas isso não vem agora ao caso.

Ao caso vêm os “dias de”, mas primeiro quero partilhar convosco a leitura que faço dos versos que transcrevi. Camões põe as palavras na boca de Vasco da Gama, porém, o sentimento é inteiramente seu. Luís Vaz está longe da Pátria e anseia pelo regresso “com esta empresa já acabada”. Tal “empresa” – Os Lusíadas – sabia-o ele muito bem, era de um valor incalculável! Queria regressar vencedor porque a esta Pátria (tamanha!) só a merece quem porfia a vitória. Depois, podia morrer, porque a obra realizada engrandecia a ambos.

“Acabe-se esta luz ali comigo.” Aquele "ali" é o ferrete da saudade. Foi escrito pelo Poeta e viria a moldar-nos o retrato. A saudade é, pois, este modo de ser que nos impede a felicidade fora da nossa terra.

Porque lhes conheço a dor da distância e o enlevo pela Pátria, dedico este artigo aos nossos emigrantes.

5 comentários:

Fátima Pereira Stocker disse...

Ó Tonho da tia Lídia, tu não te zangues muito com esta liberdade interpretativa...

Anónimo disse...

Dia de São Tonho.

Olá, Fátima:

Fiquei um bocado sem jeito por este teu apelo, com se eu fora mestre em interpretações ou especialista camoniano.
No caso vertente acho a tua interpretação brilhante ao sobrepores os sentimentos do narrador (Vasco da Gama) e do autor (Camões). De facto, quando este, poucos anos depois daquele faz a mesma viagem tem já uma consciência muito mais lúcida de quanto tinha a ganhar e sobretudo a perder, já que do Oriente nada mais trouxe que miséria ( o cronista João do Couto vai encontrá-lo em Moçambique a "viver de amigos") e o "molhado poema" que viria imortalizá-lo.
Obrigado por celebrares este dia de Portugal e de Camões e de... mais uma data de coisas, que para tudo dá este 10 de Junho.

Um abraço do

Tonho da Tia Lídia

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho

Foi um meter-me contigo, porque conheces de sobejo as liberdades a que me dou para interpretar poesia. Tal brincadeira é o reconhecimento de que, no assunto, estou ao nível do sapateiro de Apeles.

Mas o que acho é que espantei o público, não sei se por causa do assunto, se por causa d'Os Lusíadas, ou se por causa daquilo que disse de minha lavra. Cá estiveste tu, no entanto, para salvar a honra patriótica dos da nossa terra.

Obrigada pelo que, tão a propósito, acrescentaste. Da minha parte vou deixar de lado a intenção que tinha de escrever acerca dos "dias de".

Beijos

Anónimo disse...

Fátima:
É apenas um acrescento, desta vez para pedir desculpas ao Diogo do Couto (e aos leitores, se os houver)a quem crismei de João.

António

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho

Foi um lapso sem importância e que toda a gente compreendeu.

Beijos