Por:
AIRES MARTINS
AIRES MARTINS
Começou por me dizer que o seu caso era igual a tantos outros e que de todos os lugares onde tinha estado, aquele era sem dúvida o seu preferido. Falou-me dos cheiros que sentia quando o galo cantava, cheiros adocicados, dizia ele, e acrescentava totalmente absorto nos seus pensamentos, era como se entrassem na alma e ali ficassem gravados para sempre. Entendes? Sim, respondi. Olhou-me no momento em que respondi, e como que à espera de sentir se a minha resposta era verdadeira, continuou. Sabes, no dia em que saí de lá, lembro-me de olhar para o lado, dentro de um autocarro, e ver lá no cimo duma pequena serra as casas, os telhados vermelhos, os imensos carvalhais e soutos que as envolviam, lembro-me de chorar por ter de abandonar a minha casa, a minha terra, os meus pais, os meus amigos…mas à medida que o autocarro avançava e as casas ficavam para trás, houve algo que me deu esperança, que acalentou o meu peito. Sabes o que foi? Não, respondi. O fumo que saía das chaminés das casas, e que cobria a aldeia de cheiros. Percebi que esse fumo ia continuar a sair das casas enquanto eu o conseguisse cheirar, estivesse onde estivesse. E hoje, passados estes anos todos, continuo a sentir aqueles cheiros adocicados da minha aldeia.
12 comentários:
Aires
Deus te pague por este texto tão terno que mostra bem a atenção com que contemplas as coisas. Avivas-nos os sentidos e, por isso, tocas profundamente nos nossos afectos.
Bem-hajas, ainda, por te lembrares de colaborar connosco.
Um grande beijo
P.S. As tuas reflexões fizeram-me escrever um ponto na agenda da memória: fotografar os telhados e o fumo a sair das chaminés. Vê bem quer não tinha nenhuma e, por isso, a ilustração teve que ser um remedeio. Creio, aliás, que devo agradecer a fotografia ao meu primo João Manuel.
Parabéns Aires... gostei imenso, e, é sincero. Já tinha comentado o teu texto algures, recebendo com satisfação orgulhosa a publicação neste nosso cantinho. Força puto... tens alma para expressar brilhantemente sentimentos absorventes. Abraço
P.S. Obrigado Fátima, a foto ilustra perfeitamente o texto.. fiquei momentaneamente a fixá-la e senti o cheiro das chaminés... beijos
Aires,
Gostei muito de reler o teu texto aqui no blogue. Tens uma escrita peculiar que nos faz viver e sentir os "cheiros" da nossa terra.
Continua a escrever para eu te poder ler :-) e espero que esta partilha aqui no blogue seja o primeiro de muitos mais que queiras partilhar com aqueles que não te podem ler no facebook.
Beijos
Lurdes
Conheço esse cheiro, que há-de ser igual ao da minha aldeia. :)
Tonho
Obrigada!
Lurdes
Se reparares bem nas etiquetas (barra lateral), já não é a primeira vez que o Aires partilha connosco aquilo que escreve.
Fátima,
Sim já vi e agora lembro de ter lido, embora não tivesse comentado. Tal como o que publicaste hoje já o conhecia do facebook.
Que texto tão terno e tão poetico.
Lindo.
Um abraço e bom fim de semana
REVEJO-ME NO TEXTO QUE ESCREVESTE
SENTI O MESMO EM CRIANÇA .BEM HAJAS UM ABRAÇO
Aires,
este teu terno texto, ilustra bem as lembranças sensoriais de quem, logo de manhã via subir da lareira um fio de fumo. Erguia-se sempre preguiçoso na aragem fria da manhã.Depois, alargava os braços e diluía-se por toda a casa. Aquele cheiro, quem o esquece?
Obrigada, por me recordares esses meigos momentos.
Bjos
Olímpia
Obrigado a todos pelas palavras...Aires
Meu grande e velho amigo, escrevestes as palavras mais belas para descreveres a aldeia mais bela...
Obrigado amigo.
Um abraço.
Grande Helder...Obrigado amigo, tu sabes que se ela é tão importante a ti se deve uma grande parte dessa importancia.Abraço
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