quarta-feira, 18 de julho de 2012

Os sinos da minha aldeia

Já se calaram os sinos da minha aldeia.
Ficaram belos, pintados de novo,
Alpendurados no seu cabrestante,
Mas já não tocam…

Os sons do sino e da sineta,
Pendurados no campanário granítico da Igreja
Relevam-nos para os tempos idos dos nossos avós.
Mas já não tocam…

Já não se dobram os joelhos na arada húmida
Ao som das Trindades,
Em meditação e descanso vespertino.
Não, já não tocam as Trindades.

A corrente de ferro presa à cabeça do sino
Apenas está para memória,
Dos que ainda a hão-de ver…


Os badalos morrem de tédio,
Não seja um funeral chamar por eles,
E ali se mantêm quietos pendurados e pensativos.

Os sinos da minha aldeia tocam…
Dão horas e meias horas,
Com um robótico mecanismo
Cuja alma lhe expurgaram, mas
Mais segundo menos segundo dão o toque.

........................................Insensibilidade humana…
Os sinos são nossos,
E por mais que os pintem ou adornem
Permanecem na nossa vida,.
Embora não toquem.

Aleluia…..
Redobrem os sinos,
Façam-nos voltar,
Porque hoje é a festa das almas que os ouviram tocar.

Toquem os sinos…
Não a rebate para fogos,
Mas com o som angélico,
Que é de todos,
E no qual todos ficaremos.

.........................................Toquem os sinos da nossa aldeia,
.........................................Porque eu afinal, vou adorar.

Orlando Martins (2012)

7 comentários:

Olímpia disse...

Que bom é ter-te de volta!
É verdade Orlando, agora os sinos da nossa aldeia tocam
vezes de mais :horas, meias horas, quartos de hora...
E eu que o diga!
No entanto, já não falam. Sim, porque em cada um daqueles toques, aqueles que costumávamos ouvir, havia um significado. Todo o povo os entendia.

Bem-hajas Orlando por partilhares connosco o teu sentir.

Bjos

Olímpia

Fátima Pereira Stocker disse...

Orlando

Os sinos tocam. Tocam as trindades (que eu rezo mentalmente), também "picam" à terceira chamada para a missa de domingo e choram muitas vezes em "sinais". A rebate não tenho ouvido, nem tenho saudades.

Os sinos tocam... porém, não são tocados porque o cadeado deixou de pender ao mesmo tempo que o sr. Eduardo perdeu as forças para puxar por ele. Mas se temos saudades, porque nos não revezamos nós e fazemos alguma coisa para tornar vivos os sons que marcaram o correr das nossas vidas? Porque não baptizamos ou casamos lá os nossos filhos? Porque não atamos o baraço à sineta e a fazemos "dlim dlar" em Sábado de Aleluia (tenho a certeza que, do céu, o tio António Piloto iria bater palmas...)?


Orlando

Há verdades que doem - a quem as escreve e a quem as lê. A ti doeu-te escrever; a mim fere-me ter que te dar razão. Mas a harmonia das palavras está lá, mais uma vez, a tornar plangente a tua poesia (como cristal partindo-se plangente / no fundo da memória perturbada. Lembras-te, certamente, desta Canção com Lágrimas de Manuel Alegre).

Um grande beijo e o meu muito obrigada pela generosidade da partilha

Ribordayn disse...

Pois, Rebordainhos também migrou para a modernidade. Pior que isso só morando numa cidade que tem várias igrejas, mas nenhuma tem sinos nem mesmo para lembrar da hora a cada quarto, meia ou hora completa...
Felizes daqueles que ainda podem ver e escutar os sinos, ainda que seja apenas para lembrar que as horas continuam passando e nós envelhecendo a cada segundo

abraços

antonio disse...

Orlando: que agradável surpresa a tua volta ao cantinho dos que ainda acreditam, sem vaidades nem cinismo, no som dos sinos da nossa terra ecoando melodiosamente, mesmo automatizados pelo progresso furtando-nos recordações de putos...olhando o campanário extasiados, enquanto os forçudos, tentavam "revirá-lo"!!!
Como dizia Moustaky: avec le temps tout fout le camp!
Grande abraço, e parabéns!

Eduarda disse...

Olá Orlando
Que bom voltares.
Sabes que para mitigar um pouco as saudades de um sino, tenho que ir até à aldeia que adoptei. É perto de Lisboa, mas lá ainda dobram trindades.
Aqui, pela aldeia/cidade onde vivo o uníco som que ainda me consegue e obriga a despertar, é mesmo o do despertador.
Tal como tu gostas do canto dos sinos, também nós da tua poesia, vá lá, não preguices... vai escrevendo.
Um beijo
Eduarda

Augusta disse...

Orlando:
Como podes verificar, é um dado adquirido que as pessoas te querem de volta. E gostam quando regressas.
Sabe bem ler-te e admirar-te, porque nos faz bem recordar.
Pois bem, como dirão os mais novos, "hoje já não dá pica", nem sequer para subir aquelas escadas de ferro que conduzem ao cimo da torre sineira e fazer repenicar uns sinos acabadinhos de pintar num tal sábado de aleluia...
Mas olha, ainda bem que as memórias existem e que há alguém que as sabe transmitir de forma tão bela.
Como diz a Eduarda, deixa-te de preguicites, e manda para cá mais. Nós agradecemos.
Beijinhos

Anónimo disse...

Obrigado a todos e que os sinos toquem

Orlando Martins