quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Convite para o fim-de-semana

D. Francisco de Portugal é das figuras mais notáveis do séc. XVI português. Fero no combate contra os mouros de Arzila e Azamor, cultivou, ao mesmo tempo, a arte do bom cortesão, no galanteio às damas e nos conselhos aos príncipes. Foi conde de Vimioso, nunca tendo esquecido que poderia ser ele o duque de Bragança, em vez de seu primo. Foi poeta da corte de D. João III, a cujo conselho pertencia, sendo um dos autores constantes do Cancioneiro de Garcia de Resende.

O conde do Vimioso não tem papas na língua e diz o que tem a dizer, nem que seja ao rei. É dele a seguinte máxima, dirigida a D. João III: –  “Senhor, quem corta o saio que o cosa”.(1) Disse isto a propósito do conselho que o rei lhe pedira sobre quem deveria acompanhar, até à fronteira com Espanha, a infanta D. Maria, sua filha, que iria matrimoniar-se com o herdeiro de Carlos V (o futuro Filipe II). Ora, como o conde do Vimioso era contra esse casamento, saiu-se com aquela resposta. Infelizmente, não demoraria muito, a História iria tornar concretos os motivos que levavam o conde a opor-se a tal casamento.

Mas o conde, e é por isso que escrevo este artigo, deixou um caderninho cheiinho de máximas (que seriam publicadas por seu neto em 1605) a que foi dado o título de

Sentenças de D. Francisco de Portugal, Conde do Vimioso

Leiam-se algumas delas e afira-se do interessante que é lê-las todas, percebendo-lhes a agudeza e a actualidade:

1. Sobre o comportamento humano
O soberbo contra o fraco é fraco contra o forte
Calando se desonra quem com medo se cala
Menos mal é a culpa própria que ajudar a alheia


2. Sobre o poder
O estado dos reis são os homens, o que os tem melhores é mais poderoso.

Sobre esta pergunto agora: que dizer dos príncipes que convidam os homens a sair dos seus estados?


Bom fim-de-semana.
___
(1) in: Ditos Portugueses Dignos de Memória, de autor anónimo do séc. XVI

3 comentários:

Anónimo disse...

É na qualidade de comentador do blog de Rebordainhos que aceito o desafio de responder à questão pertinente:
“que dizer dos príncipes que convidam os homens a sair dos seus estados?”
O meu público fiel não tem a dimensão numérica daqueles outros que escutam os meus colegas comentadores dos jornais, rádios e televisões, mas a simpatia e elevação cultural que revela com as histórias e comentários publicados neste blog são mais do que suficientes para merecer a minha estima e consideração desinteressadas. Por ser assim, aceito, com todo o prazer, responder gratuitamente a este desafio!
A decadência particular de Portugal (incluindo Rebordainhos) e da civilização ocidental, de uma forma geral, tem andado nos últimos dias nas bocas do mundo. Ainda não tive a oportunidade de ler “Ascensão e Queda” de Nogueira Pinto, mas, pelo que ouvi numa curta apresentação do livro na televisão, concordo com as grandes linhas da análise que o autor faz de alguns acontecimentos e pessoas marcantes no contexto histórico da queda do país. Na abordagem desta realidade deprimente também destaco Vasco Polido Valente.
Voltando diretamente à pergunta de partida, tenho de dizer que tanto Passos Coelho como Paulo Portas não são príncipes portugueses. São duas marionetas presas aos cordelinhos que a troika puxa como quer e pode. É completamente absurdo que seja um Coelho a indicar a uma pessoa o caminho da porta aberta para o estrangeiro!
Quando alguém me pergunta se a nossa expansão ultramarina valeu a pena, remeto-o imediatamente para Fernando Pessoa: “Valeu a pena? Tudo vale a pena. Se a alma não é pequena”.
Na fundação do reino e na época dos Descobrimentos a Igreja em Portugal desempenhou um papel essencial. Nesta última fase de decadência, durante os séculos XIX, XX e XXI, as elites governantes e culturais, quando as há, têm-se afastado vertiginosamente do Cristianismo. Chegou-se ao ponto atual de “casar” homens com homens e mulheres com mulheres!
Temos de recuperar a alma portuguesa!
Será que para evitarmos o colapso da civilização não teremos de voltar às nossas raízes cristãs?

Augusta disse...

Fátima:
Extremamente interessantes as máximas do conde de Vimioso. E de facto, o estado dos governantes são os homens.
Que será dum governante quando já não tiver homens para governar? Então porquê indicar-lhes a porta de saída? Não seria tão melhor fortalecê-los em vez de os enfraquecer espoliando-os d tudo quanto possuem?
Nem de propósito Acabou de passar na TV uma reportagem acerca dum estudo realizado pela universidade de Aveiro. e acordo com o mesmo,se não se tomarem medidas, daqui 30 anos o interior perderá 1/3 da população. Será que esses coelhos não querem que o interior se transforme numa coutada?

Fátima Pereira Stocker disse...

Augusta

Li essa reportagem nos jornais, infelizmente, acentuando uma tendência secular.

Eu, que sempre barafustei contra o "eles são todos iguais", neste momento só me apetece meter os governantes (os de cá e os de todo o mundo) num foguetão e enviá-los a todos para a estratosfera. Como é que um punhado de homens consegue fazer tanto mal à humanidade inteira!

Beijos