terça-feira, 16 de junho de 2015

DE ANTANHO



Ele há coisas...

Enquanto não tenho tempo para publicar mais um lindíssimo texto que o Orlando me mandou, e aproveitando uma deixa dele, aqui descarrego provas de coisas do arco da velha - o livrete do carro das vacas do meu pai. Sei que era do meu pai e sei que era das vacas, mas... como provar? Já se perceberá pelas imagens abaixo. "Clicando" nelas, pode atestar-se que se trata de livrete de veículo de tracção animal. Porém, que animal? Vacas, certamente. E se fossem mulas?

São retóricas todas as perguntas que façamos sobre a informação dúbia, ou omissa, do documento. É que o livrete, no espaço que devia ter sido preenchido com essas informações, está em branco, nomeadamente, o nome do proprietário! E ameaça-se com a sua apreensão em caso de mudança de propriedade do veículo! E o livrete nem sequer tem número!!! Contudo, o número que lá (não) está deveria coincidir com o da chapa que era obrigatório pregar na traseira do carro e, sublinhe-se, tinha que estar sempre visível! Acreditem, ou não, o meu pai, que nunca tirou carta de condução, teve de pagar uma multa de trânsito porque, certo dia, foi apanhado em flagrante delito, com a dita chapa tapada pela carga de feno, situação semelhante àquela que podem observar na primeira fotografia. Parece que não lhe serviu de emenda porque, como a fotografia prova, foi reincidente. Pagaria a dobrar se fosse apanhado?




 Uma boa semana para todos.

15 comentários:

Anónimo disse...

Tás a ver,
Parece que antigamente, se não havia bruxas, havia bruxedo. E falsificações (tentativas) das referidas matrículas.
O Nelzeira dizia que uma tampa das caixas ovais de sardinhas servia muito bem.

E esta Ehim?

Orlando Martins

Filinto disse...

Bela recordação.
Fátima, pede ao Nelzeira se ainda tem o caderno onde apontava a matrícula e a marca das "camionetas" que ele vislumbrava mal chegavam à porta do tio Benjamim. Ninguém como ele dominava as marcas e até algumas matrículas.Corria do Outeiro ao Pradopara se certificar.
A primeira de Rebordainhos pertenceu ao meu padrinho o tio Carlos Chiote. Era uma Hanomague se bem me lembro.
Filinto

Anónimo disse...


Como o tempo passa depressa!

Já dizia o velho Léo Ferré: "Avec le temps, va, tout s'en va".
Agora, é olhar para a frente: com o paintshop acaba-se de preencher o livrete para que nele fique registado "um veículo de quatro rodas, tirado por quatro animais brancos da espécie cavalar e destinado a transporte de turistas, ao serviço da Junta de Turismo da Serra da Nogueira". Depois, é só comprar uma linda charrette, um ou dois tuc-tucs, fazer a promoção turística das belezas naturais da serra, do Largo do Prado e de À Chave, do Pórto, de Afonsim, da Quinta do Fidalgo e demais património cultural material e imaterial de Rebordainhos, e esperar, com tempo, que os turistas apareçam, fiquem mais ricos por dentro e permitam a criação de pelo menos vinte postos de trabalho diretos e uns trinta ou quarenta indiretos nesta grande área da animação social, etnográfica (Caretos de Podence), histórica (Ruínas do Cercado) e gastronómica.

Fátima Pereira Stocker disse...

Orlando

Juro que não percebo a lógica disto: que provará um documento que não documenta? Ou seja: se o meu pai fosse apanhado sem livrete e pedisse ao teu que lhe emprestasse o dele, como poderiam as autoridades provar que o livrete era de terceiros?

Agora vou escarrapachar aqui a minha ignorância: o que é "receita virtual"? O dinheiro entra e depois é devolvido?

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Filinto

Dessa não me vou esquecer! Se tiver o caderno, cá há-de vir parar a informação!

Obrigada!

Beijos

Anónimo disse...

Fátima,
Penso que isto responde à tua dúvida mas os TOCs e ROCs é que sabem:

SECCÃO II
Da cobrança e pagamento
Artigo 71º
Cobrança virtual e eventual dos impostos. Distinção
1. A cobrança das contribuições e impostos poderá ser virtual ou eventual.
2. Na cobrança virtual, o tesoureiro recebe previamente os respectivos títulos, constituindo-se por este acto na obrigação de cobrança, a qual só se extingue pelo pagamento voluntário ou coercivo, pelo encontro com o título de anulação ou pela anulação da própria dívida.
3. Na cobrança eventual, o título é apresentado pelo interessado ao tesoureiro no acto de pagamento, que deve ser efectuado no dia da liquidação, salvo prazo especial. Se o pagamento não for efectuado no prazo prescrito, a cobrança, que dever prosseguir, converter-se-á em virtual.

Orlando Martins

Fátima Pereira Stocker disse...

Anónimo

Caramba, homem, encheu-me de nostalgia. Se...

"Avec le temps, on oublie le visage et l'on oublie la voix;
Avec le temps tout s'évanouit"...

... então tudo se desvanece para nós e pouco se nos dá se tudo permanece para os outros. A isto chama-se dor.

"Alors vraiment... avec le temps... on n'aime plus"

Cumprimentos

Fátima Pereira Stocker disse...

Orlando

Muito obrigada pela lição de finanças! Quer dizer que, enquanto eu não desembolsar o que tenho a pagar de IRS, o Estado contabilizará uma receita virtual.

Já agora, sobre o teu comentário anterior: O Nelzeira era um folgazão e pêras! Alguma vez se atreveria a experimentar?

Beijos

Anónimo disse...

Fátima,
O Nelzeira era um grande amigo meu, passámos muito tempo em Vilar Seco, Ribeirinha e muitos outros sítios, também com o Armindinho.

Tenho "uma" dele que vai ser surpresa e que ainda hoje me rio.

Bjs

Orlando Martins

Filinto disse...

Ó Fátima, o Nelzeira identificava a marca das "camionetas" pelo "roncar do motor". Ele era um artista e divertido, que o diga o Tonho da tia Lídia.
A propósito das vacas: lembro-me de o meu irmão António me dizer: "se vires a guarda e tiveres a vara de tocar as vacas, bate com o ferrão numa pedra". Como protegiam a pele dos animais para os futuros sapatos.
Filinto

Anónimo disse...

Tio Filinto,

Também me recordo dessa sim senhor, e depois com a faca aparava-se a ponta da vara para o ferrão voltar.

Um abraço tio
Orlando

Fátima Pereira Stocker disse...

Orlando e Filinto

Ouvi contar muitas dele - que ele pregava, ou que lhe eram pregadas. De ir às lágrimas, algumas delas.

É verdade que sempre gostou de motores e que tinha ouvido especializado neles. Preciso mesmo de ver se sou capaz de puxar por ele. Mas se o Tonho e o Orlando sabem bem das histórias, é favor adiantarem-se.

Filinto: conselho sábio, o do tio António - e bela ironia a tua!

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Orlando

Eu estou para aqui a encanar a perna a rã. Tenho uma acta monumental para escrever e não me apetece começá-la. Se ao menos sentisse prazer por não cumprir o dever, como dizia o Pessoa...

Anónimo disse...

Fátima,

Touché!

Quand même, agora já não há carros de vacas!...
Neste caso, num país decente, as autoridades camarárias, que ainda passam livretes, já tinham arranjado algo!...
A vida demonstra, como dizem os comunistas ortodoxos, que não chega substituir cada um dos antigos tangedores de juntas de vacas por um Doutor em Desenvolvimento Curricular e Aprendizagem para que o amor cresça e se espalhe como os girassóis em junho nos campos da Normandia.
O poema do Ferré é muito triste, mas suficientemente belo para ser um poema de amor!

Fátima Pereira Stocker disse...

Anónimo

Não basta, não! Como os girassóis, o amor precisa de ser semeado e bem cuidado.

Eu só não sei é se o nosso apego àquilo que marcou a nossa infância não será mais do que a recusa em aceitarmos que o nosso tempo se está a esvair - por isso, vamos virando o olhar para o nosso interior, que é onde tudo continua reconhecível.

O poema de Ferré é lindíssimo, mesmo se (ou porque)lança palavras de realidade sobre a ilusão de que o amor é eterno.

Cumprimentos