quarta-feira, 10 de junho de 2015

"SE DE TI ME NÃO LEMBRAR, JERUSALÉM..."

Por voltas que dêem e epítetos que lhe acrescentem, este é o dia dele - de CAMÕES. E ele bem merece ter dia próprio. O que não sei é se nós o merecemos a ele.


Sôbolos rios que vão
Por Babylonia, me achei,
Onde sentado chorei
As lembranças de Sião,
E quanto nella passei.
Alli o rio corrente
De meus olhos foi manado;
E tudo bem comparado,
Babylonia ao mal presente,
Sião ao tempo passado.

Alli lembranças contentes
N'alma se representárão;
E minhas cousas ausentes
Se fizerão tão presentes,
Como se nunca passárão.
Alli, despois d'acordado,
Co'o rosto banhado em ágoa,
Deste sonho imaginado,
Vi que todo o bem passado
Não he gôsto, mas he mágoa. 
(...)
Canta o caminhante ledo
No caminho trabalhoso
Por entre o espêsso arvoredo;
E de noite o temeroso
Cantando refreia o medo.
Canta o preso docemente,
Os duros grilhões tocando;
Canta o segador contente;
E o trabalhador, cantando,
O trabalho menos sente.

Eu qu'estas cousas senti
N'alma de mágoas tão cheia,
Como dirá, respondi,
Quem alheio está de si
Doce canto em terra alheia?
Como poderá cantar
Quem em chôro banha o peito?
Porque, se quem trabalhar
Canta por menos cansar,
Eu só descansos engeito.
(...)
Terra bem-aventurada,
Se por algum movimento
D'alma me fores tirada,
Minha penna seja dada
A perpétuo esquecimento.
A pena deste destêrro,
Qu'eu mais desejo esculpida
Em pedra, ou em duro ferro,
Essa nunca seja ouvida,
Em castigo de meu êrro.
(...)
Ditoso quem se partir 
Para ti, terra excellente,
Tão justo e tão penitente,
Que despois de a ti subir,
Lá descanse eternamente!

22 comentários:

Anónimo disse...


Portugal nasce, pequenino, no século XII, como um fruto da união entre cavaleiros "bárbaros", que invadiram e retalharam entre si os territórios do antigo Império Romano do Ocidente, e o Papado, que detinha as chaves de S. Pedro que abre as portas dos céus.
O reino foi crescendo, mais por força da espada que mata do que pelo arado do povo e das ordens religiosas que dá vida, e, durante as últimas décadas do século XV e as primeiras do século XVI, foi grande no mundo, quer nos campos ensanguentados das batalhas, quer ao serviço da expansão da santa fé católica.
Porém, na velha Europa, as façanhas dos portugueses geraram muita inveja que, apoiada numa gigantesca campanha de mentiras tenebrosas, foi roubando o nosso riquíssimo património material e espiritual, até nos reduzir à triste condição de súbditos de uma troica estrangeira.
O mundo deu muitas voltas desde o tempo de Camões, de maneira que a sublime imagem da Jerusalém Celeste perdeu muito da sua beleza e força. Quem atualmente manda na Jerusalém terrestre são as metralhadoras dos descendentes espirituais dos salmistas.
A esperança em dias melhores só voltará no dia em que fizermos nossa senhora e rainha a doutora Catarina Martins.

Fátima Pereira Stocker disse...

Catarina

Se há irracionalidade colectiva que nunca hei-de entender, e que me repugna em absoluto, é essa de atribuir todas as culpas do Mundo aos judeus.

Nossa Senhora e S. José cumpriram rigorosamente, nas suas vidas e com Jesus, todos os preceitos da Antiga Aliança. Eles eram judeus e sem essa matriz o cristianismo não existiria. Ignorar a origem de Maria e de Jesus significa a negação de Cristo e dos Evangelhos. Ler a Bíblia - toda a Bíblia - ajuda a compreender muitas coisas.
________

O Salmo 137 foi escrito tendo por referência o cativeiro na Babilónia, que, por ser terra de exílio, se opõe a Sião, terra de nascimento e terra prometida por Deus aos antepassados. Além das alusões platónicas e das sugestões agostinianas, este portentoso poema de Camões pode ter leitura biográfica e, nesse caso, Babilónia simbolizaria as terras por onde Camões andou (o seu exílio) e Sião significaria Portugal. O tema não poderia ser mais actual, há-de concordar comigo, com a nossa juventude emigrada à força

Cumprimentos

Anónimo disse...

Olá Fátima,
Parafraseando o nosso amigo António Fernandes podia dizer:

São coisas de antanho que ainda hoje são atuais.

Vou voltar a ler e a reler.

Obrigado
Orlando Martins

Fátima Pereira Stocker disse...

Orlando

Actualmente consegue ser pior, porque somos sacudidos da Pátria!

Este poema de Camões é dos textos mais sublimes que alguma vez se escreveram em língua Portuguesa. Foi por isso que deixei o link. Obrigada por aproveitares.

Beijos

Anónimo disse...

Fátima;

Confesso-lhe que nunca li a Bíblia, de fio a pavio. Já ouvi e li alguns excertos de grande beleza e outros mais complicados como é aquele do "olho por olho, dente por dente", ou quando se fala no "povo escolhido por Deus". Seja como for, eu não atribuo todas as culpas do mundo aos judeus. Sou mais racional do que possa parecer à primeira vista. Sou um simples cidadão de um pobre país católico que se pode considerar ultrapassado, cultural e religiosamente, por outras conceções mais modernas do mundo, cristãs e não cristãs. Já fomos bem vistos quando expulsávamos mouros para o norte de África e mesmo lá não os deixávamos em paz ; nesse tempo a nossa honra cristã achava preferível o martírio de um príncipe real a cumprir a palavra dada e devolver a cidade de Ceuta que havíamos conquistado passando à espada uma população indefesa.
Mas nessa época ainda tínhamos o apoio do papado, afinal de contas, Ceuta, ainda hoje, é terra católica, graças aos portugueses.
Era assim que as diferentes religiões “conviviam” umas com as outras.
Uns dois ou três séculos mais tarde começaram a dizer que só Portugal e Espanha é que tinham Tribunal da Santa Inquisição. Depois, também diziam que os portugueses eram os únicos que tinham escravos. Por fim, chegando-se ao cúmulo do ridículo, apareceu um programa de televisão, em que nos pediam que escolhêssemos os dez maiores portugueses de uma História quase milenar, e um dos mais votados foi um tal Aristides de Sousa Mendes!!!
E mais longe não vou!... Do lado certo da História estão países com potencial bélico suficiente para riscar o meu país do mapa em menos de meia hora!
Valha-nos a doutora Catarina Martins do Bloco de Esquerda!

Fátima Pereira Stocker disse...

Anónimo

Do lado certo da História e do lado errado também. E não só Portugal: o Mundo inteiro pode desaparecer em menos de um fósforo.

Tenho dificuldade em responder ao "Quod erat demonstrandum" sem que me tenha sido fornecida a demonstração. Desculpe, deve ser limitação minha.

Independentemente dos concursos patetas, sempre lhe digo que qualquer Pátria se deveria orgulhar de contar entre os seus com um Homem Bom como foi Aristides de Sousa Mendes. Infelizmente, ganhou Salazar, aquele que o demitiu por ter salvo vidas.

Cumprimentos

Anónimo disse...

É muito perigoso apresentar-lhe uma demonstração às claras. Atualmente quem determina onde está o bem e onde está o mal são os países protestantes ricos e os seus amiguinhos – eles é que têm o dinheiro e os arsenais atómicos de destruição maciça. A voz do Papado e dos países latinos, como o Portugal das Descobertas, já mal se ouve no mundo! Os que agora falam grosso e que se autoavaliam como bons, também já estiveram na mó de baixo e eram considerados maus pelo Papado que detinha a última palavra sobre quem podia ir para o céu. Esta síntese sobre o poder material e espiritual no mundo de hoje demonstra que os vencedores, mesmo cometendo as maiores atrocidades contra as crianças e os velhinhos durante a invasão do Iraque, por exemplo, que era um “autêntico ouriço-cacheiro eriçado de espinhos”, serão sempre uns anjos alados descidos dos céus.
Já agora, corroborando a minha tese de que a cultura latina já não vai na crista da onda, o "Quod erat demonstrandum" já se emprega, no mundo de raiz anglo-saxónica, com um novo significado: QED – Quantum Electrodynamics.
Por fim, desculpe, mas dizer que o Presidente do Conselho de Ministros do Governo da República Portuguesa, Professor Doutor António de Oliveira Salazar, demitiu o Aristides porque ele salvou vidas é uma mentira cruel.
Imensa gente, fugida da guerra, teve um acolhimento temporário de luxo em Portugal, no Luso e nas Caldas da Rainha, por exemplo, com conhecimento e aprovação, como é evidente, do ditador que sabia de tudo, incluindo operações secretas de salvamento utilizando os caminhos de ferro estatais.
Já li, num livro escrito por um intelectual historiador da mais alta craveira, que o Aristides, em colaboração com agentes da PIDE, falsificou e vendeu, por quantias elevadas, algumas centenas de vistos. Ele, embora sendo um simples cônsul, como tinha ligações familiares a figuras gradas do regime do Estado Novo não foi demitido, passaram-no apenas à situação de aguardar a reforma. Os cúmplices da PIDE foram julgados e demitidos por serem corruptos e não por eventualmente terem salvado vidas.
Conclui-se assim que o grande salvador de refugiados da guerra foi o Doutor Salazar.

Filinto disse...

Fátima:
Parabéns pelas formações e não só informações que nos vais dando.
Queria apenas fazer-te uma pergunta: Este anónimo é da pide ou tem medo de se saber quem é? Lata tem.
Filinto

Fátima Pereira Stocker disse...

Anónimo

Tenho que partir este comentário em dois porque excedi o espaço disponível.

I

"Os dias 23 e 24 de Junho foram os de maior tormenta. Chegaram à fronteira nestes dois dias umas duas mil pessoas, de comboio e de automóvel. (...) À medida que estas hordas de forasteiros entravam e sem saber já onde alojá-las, por Lisboa estar sobrelotada, a Polícia Internacional começa a encaminhar os recém-chegados para cidades de província, estâncias termais e balneares. Desejosos de chegar à capital, onde se encontravam as embaixadas e os consulados estrangeiros, muitos ficavam desapontados, leia-se desesperados, com o novo destino que lhes tinha sido atribuído (...)"
"Às vezes, ao fim da tarde [só a essa hora por excesso de trabalho] o Magro [chefe da PVDE, antecessora da PIDE] atrevia-se a sair do seu gabinete (...). E atravessava a multidão com os braços à frente a abrir caminho, como quem vai às escuras à procura de fósforos"
"Havia já oito dias que nenhum de nós tinha horas de dormir nem de comer. Das oito da manhã até às quatro da madrugada e durante oito dias seguidos, a polícia, a Alfândega e a Guarda Fiscal funcionaram sem descanso, dormindo três ou quatro horas por noite e comendo quando calhava, a qualquer hora e de qualquer maneira. Para mim, tal como para outros funcionários da Fronteira, também o comer e o dormir normalmente eram coisas esquecidas".
"Tudo isto nos fazia prever o mau bocado que nos estava reservado, a avalancha humana que por fim veio (...)."
"Homens, mulheres, crianças, velhotas e velhinhas dormiam no chão, na gare do caminho de ferro nos armazéns da Alfândega entre as malas e os caixotes, numa promiscuidade indiferente, transpirando - apesar do frio - desalento e esgotamento físico".

Transcrevi-lhe passagens do Diário do chefe do posto de turismo de Vilar Formoso, António Hartwich Nunes referentes aos dias em que chegaram a Portugal, na sua maioria, pessoas com visto de Aristides de Sousa Mendes. Foram essas pessoas que, por terem sobrevivido, deram o seu testemunho e organizaram o processo que levaria Israel a proclamá-lo "Justo" e a plantar uma oliveira com o seu nome. Em nenhum momento se menciona falta de lisura ou outro qualquer interesse que não seja o da prática do bem

Transcrevo-lhe, agora, a entrada "Aristides de Sousa Mendes" no “Dicionário de História de Portugal”: "(...) Após a invasão da França concede milhares de vistos, nomeadamente a judeus, desobedecendo às ordens que proíbem essa concessão, sem autorização do Ministério, a várias categorias de pessoas, incluindo as destituídas de nacionalidade, as de países ocupados e os judeus expulsos dos seus países. Após processo disciplinar, é condenado por Salazar a «um ano de inactividade com direito a metade do vencimento da categoria, devendo em seguida ser aposentado». Morre na miséria, em Abril de 1953."

Eu não sei que livros lê, mas talvez deva escolher melhor, quiçá, pedindo conselho a quem o saiba orientar. Evitaria escrever frases tremendas como aquelas com que encerrou o último comentário: a pessoa pode escrever bem (como é o seu caso) e, ao mesmo tempo, estar a aviltar-se com aquilo que diz (o vilipêndio não mancha a vítima, mancha quem o profere)

Fátima Pereira Stocker disse...

II

Sobre o resto do(s) seu(s) comentário(s): abarcam uma sequência temporal tão grande que tornam o conteúdo confuso o que impossibilita uma resposta clara e organizada (mesmo que concorde em algumas partes). Quero, no entanto, deixar duas recomendações, se me permite:

a) Nunca, por nunca, se pode interpretar o passado com os (pré)conceitos do presente porque obteremos, inevitavelmente, uma imagem profundamente distorcida;

b) A História, como muitos outros saberes, ensina-nos que tudo se transforma; que nada é imutável, sobretudo as construções humanas. Roma demorou 700 anos a construir um império, no entanto, caiu (embora a queda tenha demorado mil anos). Não exija a perpetuidade para Portugal (ou melhor: para o seu apogeu, que é o tempo das Descobertas), porque isso é querer o impossível. Que outros nos tenham substituído é o mais natural que pode ter acontecido, assim como esses (leia-se ingleses) foram substituídos por outros (leia-se EUA) e estes hão-de também dar lugar a um novo império dominante que ainda estamos para ver qual será. Já agora: quando se trata de poder económico, a religião importa pouco aos seus agentes.

Isto já vai muito longo. Resta-me fazer aqui aquilo que me esqueci de referir na segunda resposta que lhe dei: estava tão longe de politiquices (sou assim quando falo da minha Pátria) que li mal o modo como terminou o seu primeiro comentário. Pareceu-me uma assinatura mas, percebi depois, era uma "boutade" sua.

Cumprimentos

Fátima Pereira Stocker disse...

Filinto

Obrigada pela gentileza.

Não sei quem é o anónimo, mas parece-me que escreve com correcção demasiada para ser da PIDE.

Beijos

Rebordas disse...

Obrigado Fátima, pela cultura que me tens passado e que eu desconhecia quase totalmente.
Aqui pra nós: tudo indica que esse anónimo é um cara bastante culto, mas também muito chato.

Bjs
César

Anónimo disse...

O mal-estar que alguns blogueres sentem com a minha presença é perfeitamente compreensível: eu entrei aqui sem ser convidado! Acreditem que não levo a mal se me fecharem a porta na cara.
Quanto ao caso vertente:
Não há insultos, a não ser que por trás tenham arsenais de destruição, "perfeitamente justificados" quando servem para exterminar árabes e persas, que me convençam de que estou errado ao afirmar que o presidente do conselho António Salazar teve, enquanto governante, um papel insignificante no acolhimento (temporário, evidentemente, o país era pobre e nessa época havia fome nos campos e nas cidades) de cerca de um milhão de refugiados quando comparado com o papel de um simples cônsul irresponsável, apesar de ter discriminado positivamente muitos judeus.
Resumindo, o Aristides para mim continua a não ser o maior português de sempre, mas inadvertidamente, não resistindo aos desafios de Fátima Stocker, acabei por o tornar um pouco mais famoso.

Anónimo disse...

O que tu precisas é,urgentemente, de uma consulta de psiquiatria! Vai-te a embuligar a um linho ho!

Fernão de Bulhões disse...

Sobre essas duas figuras deixo uma frase do nosso presidente-rei, que num contexto diferente, parece-me adaptar-se:

Iguais todos perante o túmulo, são vidas que, ou foram, ou poderiam ser úteis à pátria e à humanidade.

Fátima Pereira Stocker disse...

Anónimo

1.
Esta é uma casa transmontana e, por conseguinte, a sua porta não se fecha. Porém, como casa transmontana, nela cultiva-se a franqueza (que, em caso algum, deve ser confundida com hostilidade), rejeitando-se a infâmia e a falta de caridade.

2.
"Portugal não tem nenhum problema judeu, mas seria insensato permitir que tal viesse a acontecer." Estas são palavras do Secretário-Geral do MNE que, à data, era tutelado pelo próprio Salazar. Extraordinária mostra de boa vontade, como se depreende!

Pode ler aqui um excelente contributo para esclarecer algumas dúvidas.

As transcrições que faço a seguir foram retiradas de "O Paraíso Triste", de Maria João Martins. O título é uma frase de Saint-Exupéry sobre Lisboa no tempo da guerra:

"O apoio humanitário e burocrático (...) foi centralizado pela Comissão Portuguesa de Assistência aos Judeus Refugiados, presidida pelo médico e escritor Augusto d'Esaguy (...)[que a PVDE considerava] «pessoa suspeita».
"Isto, com o financiamento (...) da American Jewish Distribution Commitee (...) a que se acrescentam em breve outras duas organizações, a Hicem e a Hisam."
"Se, segundo cálculos recentes, a actuação de Portugal salvou a vida a cerca de 100 mil pessoas, esse facto não se deve inteiramente à generosidade do governo salazarista. No Paraíso Triste, que era a Lisboa de meados de 40, combinavam-se muitas vontades particulares e pressões e interesses internacionais que viam a boa recepção aos refugiados condição sine qua non para tolerar a neutralidade portuguesa. À Inglaterra coube, aliás, papel determinante neste processo (...)"
"Outras e numerosas pressões vieram, em diferentes datas, de entidades como a Sociedade das Nações [predecessora da ONU] ou o Alto Comissariado para os Refugiados (...). Por fim, a 24 de Agosto de 1943, Armindo Monteiro, então embaixador de Portugal em Londres, comunicará ao Governo que o Comité Inter-Governamental para os Refugiados voltara a convidar Portugal e a integrá-lo, mesmo depois de algumas recusas".
___

Um milhão de refugiados? Onde foi vossemecê desencantar esse número?
Encargos enormes para o Estado Português? Com a burocracia, não duvido, mas olhe que o grosso das despesas com os refugiados, para além dos acima referidos (que serão os mais vultuosos)esteve a cargo da sociedade civil que se movimentou e organizou para angariar e distribuir auxílio (uma boa amiga minha, já falecida, foi particularmente activa num desses movimentos).

3.
Eu não desafiei ninguém; limitei-me a desmontar teses comprovadamente infundadas sobre Sousa Mendes. Acabei de fazer o mesmo sobre o papel de Salazar.

Os Homens bons não perseguem a fama; sentem-se recompensados pelo bem que praticam. Contudo, é dever de todos falar desses Homens para que os seus actos possam servir de modelo de boa conduta. É assim que uma sociedade civilizada transmite os valores que considera fundamentais. Se considera que, por seu intermédio, Sousa Mendes ficou "mais famoso", ainda bem, assim se provando que Deus escreve direito por linhas tortas.

4.
Sobra-me uma dúvida: como pode alguém escrever "A esperança em dias melhores só voltará no dia em que fizermos nossa senhora e rainha a doutora Catarina Martins" ao mesmo tempo que defende com unhas e dentes o professor Salazar?

5.
Como não percebi as associações que fez no início do seu comentário, não sei que lhe possa responder.

Cumprimentos e sinta-se sempre bem-vindo.






Fátima Pereira Stocker disse...

Rebordas

Desculpa, não reparei e saltei o teu comentário.
Muito obrigada pelas tuas palavras.

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Anónimo que assina com o nome de Santo António

Então foi buscar o Sidónio?! Olhe que os nossos soldados na Flandres, nos seus túmulos, não devem ter ficado satisfeitos...
Percebi bem? Em seu entender Aristides de Sousa Mendes e Salazar equivalem-se? Se sim, só lhe posso responder que discordo absolutamente.

P.S. Santo António é uma figura intelectualmente superior e humanamente admirável.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Por favor, no meu comentário anterior, onde leem "...que me convençam de que estou errado ao afirmar que...", devem ler "...que me convençam de que...", e onde leem "...apesar de..." devem ler "...apesar de este..." - muito obrigado!

Fátima Stocker,

Mais uma vez não vai concordar comigo e ser muito apoiada pelos seus admiradores habituais, mas EU retiro do seu último comentário que, já na época da Segunda Guerra Mundial, Portugal era visto pela comunidade internacional como uma mosca morta, usando nessa apreciação, evidentemente, palavras um pouco mais diplomáticas; mas, realmente, não me custa muito aderir, como ponto de partida do nosso diálogo, a esse ponto de vista humilhante para a nação portuguesa. A dada altura da guerra, os Estados Unidos precisaram de uma base nos Açores e as nossas ilhas de país "atrasado" e mesmo "selvagem", como o Iraque de Sadam Hussein uns anos mais tarde, só não foram bombardeadas porque os ingleses disseram-lhes que era um desperdício gastar bombas connosco, os portugueses deixavam pacificamente de ser neutrais mal fosse necessário, como se veio a verificar. Partindo deste princípio, perfeitamente defensável de que Portugal já então era uma carta fora do baralho, isso leva-nos imediatamente à conclusão de que Salazar era um gigante de pés de barro, numa caraterização benévola, ou um grande espantalho, se dispensarmos os eufemismos. Mas, sendo assim, havendo honestidade intelectual, o Aristides, que era um português com problemas económicos, e apenas cônsul, tinha tanto poder de livre decisão como uma marioneta que se mexe para lá e para cá conforme os fios que a prendem. Acresce que houve mais cônsules e embaixadores que não cumpriram as ordens de Salazar relativas à necessidade de um maior rigor na passagem de passaportes e vistos pois, a manter-se a anarquia dos serviços, o nosso estatuto de neutralidade poderia ser posto em causa pelas potências beligerantes, com consequências gravíssimas - porquê só UM "herói"!
Para acabar, para que possa ter uma ideia do sentimento dos refugiados, cristãos ou não cristãos, não sei, mas com um nível de vida a anos-luz da miséria portuguesa, sobre a possibilidade de fazerem vida em Portugal, transmito-lhe, em primeira mão, a frase espontânea saída dos lábios de um desses expatriados após dois ou três dias de permanência na aldeia fronteiriça de onde é originária a minha família direta:
- Que mierda es esta!
Ah..., já me esquecia da Catarina. Pobre Catarina!...

Fátima Pereira Stocker disse...

Anónimo

Confesso-lhe que estou a ficar sem paciência...

Usando a sua expressão, embora não goste dela, Portugal já era "mosca morta" bem antes disso. E daí?

Não vou retomar o assunto Aristides, que está mais do que esgotado, e a forma brusca (impertinente?) como respondeu prova-o à saciedade. Aliás, ao reconhecer que ele foi um entre outros diplomatas que desrespeitaram as ordens de Lisboa, está a dar-me razão (ele salvou muitas vidas) e, agora, dou-lha eu a si: não foi o único. Se falei dele, foi porque o anónimo o trouxe à colação.

Embora considere também esgotado o assunto "Salazar", não resisto a pegar na interpretação que fez do meu comentário anterior: como pode admirar a acção dessa pessoa, reconhecendo, ao citar o expatriado, que a vida em Portugal era una "mierda"? É que, sabe, as contas públicas estavam equilibradas desde 1929 e, por conseguinte, já se poderia ter dado início a um processo de melhoria das condições de vida das populações. Está a ver porque gosto pouco de ouvir falar em "cofres cheios" quando o povo passa necessidades?

Finalmente: porque o Iraque não era "carta fora do baralho" é que ele foi bombardeado! A sua comparação é, pois, destituída de sentido. Portugal jamais seria bombardeado pelos Aliados na II Guerra Mundial, devido à aliança inglesa. Já o contrário não aconteceu por puro acaso, pois são sobejamente conhecidos os planos de Hitler para o fazer e se Franco não entrou fronteira dentro foi porque Hitler, devido às vicissitudes da guerra, o dissuadiu (tinha atacado a URSS e estava com problemas sérios), pois a consequência seria a intervenção directa dos Aliados em Portugal que, desse modo, ganhariam uma base de apoio fundamental e os Nazis teriam de dividir, ainda mais, o seu exército.

A base das Lajes foi concedida aos ingleses que fundamentaram o pedido ao abrigo, exactamente, da aliança luso-britânica. Os americanos passaram a gerir a base somente depois de 1949(?) devido à criação da OTAN que integra Portugal como país fundador (a data está interrogada porque, neste momento, não lha sei precisar bem).

As inferências que faz ao longo de grande parte dos seus textos traduzem profundas confusões epistemológicas que, pela sua natureza e dimensão, não podem ser tratadas aqui. Talvez não fosse má ideia que, ao invés de os tomar como fundamento dos dogmas que perfilha, praticasse o exercício da dúvida sobre os livros que lê. Acredite que é conselho amigo e quem o pratica pode dedicar-se ao prazer de uma discussão aberta, elevada e límpida.

Cumprimentos, dando, pela parte que me toca, o assunto por encerrado.

Anónimo disse...

Fátima Stocker,

No meio desta refrega, tocou-me muito a maneira elogiosa como classificou a minha maneira de escrever porque acho que a senhora escreve mais bem do que eu. Mais bem, no aspeto formal, porque quanto ao conteúdo dos assuntos discutidos acho que a razão pende mais vezes para o meu lado.
Com que então destruir um país independente, fazendo orelhas moucas aos apelos de paz do papa, e sem respeito nenhum pelas normas de direito das organizações internacionais, chegando ao ponto de ter provocado milhares de mortos e refugiados que ainda hoje se vão arrastando e morrendo nas areias escaldantes do deserto, justifica-se como sendo a coisa mais natural do mundo!!!
Muitas vezes os seus comentários deixam transparecer uma grande ingenuidade, mas garanto-lhe que por mais absurdos que sejam os argumentos que venha a utilizar em defesa do Cherne e dos seus amigos Aznar, Blair e Bush, as minhas limitadas capacidades mentais não serão suficientes para a imaginar integrada no retrato de família que os invasores tiraram nos Açores. A Fátima não é desses!
Quer dizer, um país com sete ou oito milhões de habitantes (Portugal, dizem que tem 10 milhões) pode ter armas nucleares e, ainda por cima, dispor da ajuda dos seus aliados para limpar as casas dos seus vizinhos que estavam cheias de "armas de destruição maciça". Isto tem tudo a ver com o caso Aristides.
Para mim, toda esta confusão resulta do "herói" Aristides ter sido imposto, com requintes próximos de uma lavagem cerebral coletiva, de dentro para fora.
Heróis verdadeiros são homens como o comandante Carvalho Araújo que, durante a primeira guerra mundial, foi morto pelos alemães porque teve a coragem de defender as vidas dos passageiros de um vapor português que, sem a sua proteção, teria sido facilmente afundado por um submarino inimigo. Espero que na homenagem a Carvalho Araújo estejamos todos do mesmo lado!

Anónimo disse...

Onde se lê "de dentro para fora" deve ler-se de "fora para dentro".

Peço desculpa!