quinta-feira, 2 de julho de 2015

ACARREJA

por: orlando santos martins

Fiamos os nossos destinos,
bons ou maus, e
nunca poderemos desfazê-los.
O mais leve sopro de virtude
ou de vício
deixa a sua cicatriz indelével.
WILLIAM JAMES

- Bora lá meu…, são dez horas e tu ainda na cama, … joguinhos, facebook e depois deitas-te às tantas.
- Eh pá… já vou, só um bocadinho, dói-me a cabeça.
- Desliga o Smartphone e deixa-te de mensagens agora, não ouviste o despertador?
- É só mandar um mail, e ver o tempo, tá…
- Olha, vai rápido ali à padaria, ou lá em baixo ao Super, e traz pão fresco pró almoço, tu se quiseres traz para ti um leite com chocolate e um pacote de cereais.

Esfreguei os olhos com os dedos indicadores, achei-os um pouco húmidos, … Uhmm, ou é vista cansada ou estou com sono, coloquei os óculos, … será que é da velhice? Será que tinham passado assim tantos anos?
Eram cinco horas, na morna penumbra matinal que ainda envolvia a eira da cabecinha, apenas se vislumbravam os recortes longínquos do castelo de Pinela, matizados de um negro vazio e adormecido até ao clarear mais elevado de uma purpúrea e sombria mancha celeste. A aragem estava agradável e o ar puro que envolvia aquele despertar entrava pelas narinas e despertava o paladar numa mescla de sabores retidos na memória daqueles que o viveram.

O “Armindinho” despedira-se com um até logo dos pais, Laurinda e António, desceu a rampa de acesso à eira da cabecinha, percorreu a canada da canteira onde a tia Ana Costa e a Sra. Aurora de Bragança, mulher do Sr. Mário, tinham umas hortas com viçosas árvores de fruta.
Saltitando na pequena agueira vinda da canteira que atravessava o caminho e corria em direcção ao Pelourinho, e fintando as pedras do caminho que conhecia de olhos fechados, chegou em frente à casa do António, sem antes não ter deixado de dar uma espreitadela à loja das vacas.
Ali permanecia ao fundo das escaleiras de degraus em granito, efectuava pequenos passeios, observava a fraga que formava a parede Norte do cabanal da Eduarda e pegava num galhozito do sequeiro que ia fazendo girar entre os dedos como se de um catavento se tratasse e um leve sorriso moldava-lhe a face.

Como a demora do António era mais que a conta, tirou a boina preta, eterna companheira, segurou-a pelo cornicho e limpou-a como se fosse um animal de estimação, deixando a descoberto uma calvície precoce e pronunciada, com rosto oval, olhos escuros profundos, pequenas rugas no canto dos olhos e um nariz um tanto adunco com narinas estreitas implantadas de lado que lhe dava o ar de um bonacheirão pensador.

- Uhm… Bom dia Armindo, já aqui estás? Sobe, … sobe cá, para comeres qualquer coisa.
- Bô, … Ah… Ah… já matei o bicho, António. Vamos lá ao trabalho?
- Vamos la, atão, jungir as vacas.

E assim aquele par dirigiu-se à loje das vacas, cada um já com as tarefas bem decoradas. Enquanto o Armindo retirava do jugo a trasga que no dia anterior servira para prender o timão que puxava o arado, o António já trazia de dentro da loje, pegando-lhe por um corno, a “Carriça”, uma vaca pequena, escura, guicha e com uma raça como nunca se vira. O Armindo colocou-lhe de imediato as molidas (meleias), acarinhou-lhe a cabeça entre os cornos e comunicando com ela disse em surdina: - Bom dia… Carriçoca… então,… então menina,… enquanto a encaixava do seu lado esquerdo do jugo.
Deu uma volta com a cornal à cabeça da carriça e levantou o jugo do lado da “Marela” que já trazia a molida colocada pelo António e encaixou-a no seu lugar, como um animal há muito amestrado.
A “Marela” era uma vaca mais corpulenta que a “Carriça”, mas um pouco mais molengona, deixando que a conduzissem e necessitando de uma picadela da aguilhada quando se desejava mais empenho da sua parte.

Agora, com as vacas aparelhadas, levaram-nas para junto do carro onde, com uma curta marcha para trás, as colocaram no exacto espaço para poder prender o cabeçalho das varas ao jugo, com o tamoeiro a dar duas ou três voltas às orelhas das varas do carro e à cavilha de segurança.

Verificaram todos os pormenores, tinham arrumado as caniças, que no dia anterior serviram para transportar erva e algumas gabelas de milho, e substituíram-nas pelas engarelas e à frente, na travessa das varas, espetaram dois estadulhos que ficaram em forma de V.
Como alfaias, colocaram no sobrado do carro duas espalhadouras, uma enxada, caso houvesse necessidade, e três grupos de cordas compridas enroladas em oito, também chamadas carrais, que serviriam para prender os molhos do centeio ao carro.

E lá partiram, Prado acima, a caminho do Blagoto para a primeira carrada da acarreja desse ano. O morro junto à casa da Escola já tinha sido desbastado, à base de força braçal, picaretas e muitas carretas de terra, e o caminho era agora mais chão, permitindo a vista de Vale da Frunha até à cruzinha onde o Sr. Jaime tinha o seu segundo e estimado poço de rega. O carro deslizava com um chiar em surdina, quer fosse pelo sebo colocado no eixo, quer pelo novo percurso menos acidentado.
Para se ir até ao Blagoto contornava-se a ladeira muito acidentada à esquerda, mais parecida com uma ribanceira, terra do Sr. Lopes, e ia-se até à Chãera onde o caminho trifurcava para o Lombo do Sirgo seguindo para a fonte do Sapo, em frente para a serra em direcção a Soutelo Mourisco e Vilar d’ Ouro e à esquerda para os Pereiros, povoado de meia dúzia de almas que ficava a uns quinhentos metros a seguir ao Blagoto.

Esta trifurcação, bem conhecida de toda a gente dos povoados vizinhos, encontra-se actualmente redesenhada por uma bela rotunda que, para os mais incautos ou desprevenidos, poderá servir, com a toponímia existente, de orientação geográfica com a sua informação vertical  direcional, coisa que, para a “Carriça” e para a “Marela” que tantas vezes, já fartas de pastar, vinham do lameiro, adivinhem, sozinhas, até ao repouso nocturno da loje, pouco ou nada teria adiantado e teriam decerto desobedecido às regras obrigatórias de a contornar pela direita.

Aliás, penso que seria de todo interessante, e espalhados pelo termo, existirem orónimos, como por exemplo, Cabeço Cercado, Lombo de à Igreja, Nossa Senhora da Serra, Ladeira, Vale das Vinhas, Outeiro, Cabecinha, Fraga da Anta, Fraga da Ladeira, Lameirão, Vales, Navalho, Vale das Vinhas, Torre Queimada e tantos outros…

Numa ingenuidade ou ignorância que ainda mantenho, não compreendo, e na altura também não compreendi, a obrigatoriedade que a Câmara impôs de colocarem chapas metálicas ovais nas traseiras das varas dos carros dos bois, como se de uma matrícula se tratasse, ou livrete do veículo, que pelos vistos não referia proprietário nem cilindrada. – Modernices.

Muitos anos mais tarde, desempenhando eu um papel de humilde servidor do Estado, e numa reunião sobre regulamentação de profissões, feriram-me os tímpanos e afastaram um pouco o tédio de horas de conversa quando foi pronunciada a saída profissional de Agente de Geriatria, pensando, erradamente, não ter qualquer utilidade, mas estranhando o nome floral que foi proposto.
Então, despertando de um sonho de imaginação, perguntei:

- Muito bem, e o meu Pai que é Lavrador qual será a correcta designação profissional dele?
- As terras que cultiva são dele? – Perguntaram.
- São.
- Então é Empresário Agrícola. – Responderam pronta e convictamente.

Ora toma lá, pensei para comigo, com que então, filho de empresário, Eh!…Eh!…
Poucos anos depois, descobri que todos esses empresários, que praticamente exerciam uma actividade secular de sobrevivência, teriam que se colectar nas finanças, passar facturas (electrónicas?), entregar IRS, … enfim seriam mais uns daqueles que contribuem para milhares de rotundas, milhares de carros de luxo, milhares de enormes barrigas de homens de mãos sem calos. E aqui me calo.

O “Armindinho” e o António viraram para o Blagoto por uma canada ladeada à direita por morros de terra e à esquerda por um muro baixo e irregular de pedras, coberto de quando em vez por silvas, e amparado por algumas carvalheiras enfileiradas. O carro ia tamborilando nas pedras gastas com as rodas de madeira, de meão e cambas pintadas de vermelho cornalina, com o aro de ferro a transmitir-lhe uma agreste tonalidade metálica.

Chegados ao Blagoto já o sol espreitava e ia acendendo os picos da serra dos Pereiros, embora no lameiro a penumbra ainda se mantivesse, pelo menos até o astro rei se empinar um pouco mais e espreitar por cima dos cabanais da eira do Outeiro.

O “Armindinho” espetava os quatro compridos ganchos da espalhadoura na zona da cinta de palha que atava os molhos, para estes não se desfazerem, dava um balanço ao cabo e colocava-os ao ombro e a partir daí atirava-os ao António que os compunha alinhados no sobrado do carro, de toros para a parte de fora com a camada seguinte ao contrário, para efeitos de travar a carga, ficando assim apertadinhos como sardinhas em lata.

Conforme a base ia sendo preenchida, dos estadulhos às traseiras das varas, e a altura da carga passava as grades de travamento da engarelas, os molhos eram espetados pelas cintas nas engarelas e transbordavam por cima das rodas e das vacas formando abas laterais dando à carrada uma maior capacidade no número de molhos a transportar. Ficavam lindas, e era com  orgulho que regressavam com carradas altas e bem amanhadas, parecendo desafiar as leis da gravidade e até as actuais construções Lego. 

É claro que as cordas lançadas e apertadas em cruz ao longo de toda a extensão do carro garantiam, salvo algum azar, o caminho até à eira onde as mulheres já tinham varrido qualquer lixo ou ervas daninhas no assento da meda.
A viagem de regresso tinha decorrido sem qualquer sobressalto, e já na eira começaram a descarregar o carro. O António, com os primeiros molhos com os toros para fora, foi desenhando um círculo que iria definir o tamanho da meda.

- Ó Armindo, achas que é bastante este tamanho pró pão deste ano?
- Parece-me bem, … sabes, … também o tamanho da base só vai interferir com a altura final da meda, mas acho que está bem assim, e ainda ficas aqui com um espaçozito para encostares a meda do trigo.
- Então bota cá Armindo, e depois de descarregarmos vamos comer qualquer coisa que a minha Maria já está à nossa espera, e na próxima carrada levamos o garoto connosco.

Fui o primeiro a sentar-me à mesa. Chegados à sala, cumprimentei-os de imediato:
- Bom dia Pai, … Bom dia Sr. Armindo.
Ao que eles responderam com um ar menos cerimonioso: - Bom dia rapaz.

Sentaram-se os dois e ambos, com as mãos postas em prece, ligeiramente elevadas, agradeceram ao Senhor os alimentos que iam tomar, pedindo que o pão nunca faltasse à mesa dos homens. Penso que também orei com eles em silêncio e de seguida, com alguma sofreguidão, bebi o meu café com leite ansioso por partir para aquela aventura de adultos.

As minhas tarefas, além de andar de carro de bois, limitavam-se a iniciar-me na condução das vacas nos locais menos acidentados, com a vara ao ombro e uma mão no bolso, como via fazerem aos mais crescidos e virar-me de vez em quando e incitar: - Vamos lá vaquinhas, vamos lá. E eu também ia feliz.
Enquanto carregavam o carro, limitava-me a ficar especado em frente às vacas, com a vara na mão, especado que nem um fuso para evitar que elas andassem ou fizessem algum movimento brusco por causa das moscas. E assim foi o meu dia de acarreja. Os seguintes seriam efectuados com auxílio do tractor. Uma máquina moderna onde não queria perder, por nada deste mundo, uma voltinha naquela deslumbrante modernice.

A mecanização já tinha chegado à agricultura. Após a recepção do primeiro tractor “comunitário”, penso que vindo da Cooperativa do Cachão, alaranjado da marca EBRO (penso) e com uma variedade de alfaias atreladas, para lavrar, agradar, escarificar e transportar, a vida na aldeia começara a sofrer uma transformação económica e social irreversível.
Se não me falha a memória, o Basílio do tio João Seco fora incumbido da operação da nova geringonça, com a ajuda do Mário do tio “Couceiro”.

Com o tempo, e dada a imensa procura destes serviços, outros tratores particulares foram sendo adquiridos, prestando os seus serviços aos agricultores que o solicitavam quer para transporte simples de lenha, estrume, batatas, centeio ou outras cargas, quer para o arranjo das terras para cultivo, foi o caso dos tractores azuis FORD adquiridos pelo Chico do tio Sebastião e pelo “Nelzeira” do tio José Çuca.
Estes serviços eram contratados pelos agricultores mediante a disponibilidade dos mesmos a troco de um preço acordado e raras vezes por troca de favores.
Foi o caso do António “Piloto”, meu Pai, que, para efectuar a acarreja do pão dos locais mais longínquos (Vila Seco e Malhada Velha), tinha recorrido aos serviços do Chico, ficando a acarreja mais próxima para o tradicional transporte no carro das vacas com a “carriça” e a “marela”,… duas vacas que me deixaram saudades.

E lá iam empoleirados no atrelado o Tio António “Piloto”, o Tio João “Fouce”, o “Armindinho” da eira, muito douto em questões filosóficas às quais chamava  Filatelia, e eu, um puto. Na condução, o Chico ia animando com graçolas todo o pessoal, não transportasse ele, sentada no guarda-lamas da roda grande direita do tractor, a Berta, rapariga muito jeitosa de cabelo aloirado ao vento e com a mão apoiada no espelho retrovisor da máquina.

No alto da Fonte do Sapo tinha que se virar à esquerda e depois fazer um cotovelo de quase 360 graus à direita tão apertado que ali até os carros de bois tinham dificuldade em passar, o que faziam arrouçando o carro numa chiadeira estridente como se as tarraxas estivessem apertadas.
Antes da curva anterior à esquerda, disse o Chico com ar de aventureiro: - Com esta máquina podemos descer já directos que ela agarra-se e escusamos de dar aquela volta.

- Hum…Hum…, bom, eu acho que devíamos ter cuidado e pensar, … olhai que atalhos normalmente acabam em mais trabalhos. - Disse o “Armindinho” muito calmamente e num tom de voz impregnado de sabedoria e perspicácia.

Se o Vitor assim o pensou, assim o fez. Só que a meio da descida, o rodado grande do tractor apanhou uma pedra maior que, ou ele não a viu, ou “a Berta lhe tapou a visão”.
Eu só me apercebi do tio João “Fouce” gritar “Saltai todos caralho!” Foi o que fizeram o Armindinho, o tio João “Fouce” e o Chico. Eu agarrado à barra de ferros da frente do atrelado, nem me mexi, o meu Pai deu um passo ao lado para me agarrar, mas era tarde demais.

Tractor e atrelado viraram-se e, aos trambolhões, caíram por uma rampa de quase dois metros até se estatelarem no caminho de terra junto aos lameiros da Fonte do Sapo.
Eu, mais leve, voei sobre o caminho e fui aterrar num colchão de silvas que tapavam por completo um pequeno regato, o meu pai caiu de traseiro no caminho e a Berta, com ferimentos mais graves, estava a gritar à minha beira entre o caminho e as silvas.

Só me lembro que, ao retirarem-me das silvas, me pareceu estar a deslizar em cima de um colchão de plumas, porem-me de pé, e vendo que estava relativamente bem, mandaram-me ir ao povo pedir socorro.
Fui a correr, e já no prado sem conseguir falar, esgravatado e todo a tremer encontro o meu tio Filinto que me perguntou: “Então meu rapaz, o que se passou?” Finalmente que, entre os meus soluços e gaguejos, o meu tio lá conseguiu perceber a situação, pelo que se encarregou de dar o arrebate.

Como todos ficaram bem, apesar de a Berta e o meu pai terem recorrido ao hospital, isto tornou-se para mim mais uma aventura que nunca iria esquecer e, desde esse dia, as descidas a mim causam-me arrepios.
Uma coisa vos garanto: semanas volvidas, e já com os arranhões como lembrança, quando coçava a cabeça ainda arrancava alguns picos de silvas encravados no couro cabeludo, e vinham-me à memória as palavras do “Armindinho”.

As medas foram crescendo pelas eiras da aldeia. O aspecto bucólico destes aglomerados, que pareciam tufos de cogumelos dourados, antevia uma certa estabilidade e conforto para o resto do ano, até para os galináceos, galinhas, perús, parrecos, pardais e os gansos da Tia Telvina, que nesta altura rondavam as medas debicando as espigas e comendo os grãos caídos que nem maná celeste, os grãos de trigo eram os seus preferidos.

A seguir viriam as malhas, as batatas, as castanhas e o mata-porco, até à nova época das sementeiras.

Este ciclo da vida repetir-se-ia ano após ano.


15 comentários:

Fátima Pereira Stocker disse...

Boa tarde, Orlando, e bem-hajas por não teres feito ouvidos moucos aos desafios que te foram lançados.

Fixaste o teu texto num momento de transição - o do início da substituição do carro de bois pelo tractor. Fizeste-o, deixando prova testemunhal de quem viveu os acontecimentos (o do tractor esbarrado ficou nos anais da nossa terra), ao mesmo tempo que sacudiste o pó que começava a acumular-se sobre a memória daquela pessoa tão especial que era o Armindo da Eira. E fizeste mais: deixaste registados os instrumentos e demais apetrechos relacionados com os trabalhos (já me não lembrava das "carrais"), assim como o modo como eram usados. Em suma, ofereceste-nos um texto precioso.

Importa que deixe um esclarecimento: foi aquela passagem em que falas da chapa de matrícula dos carros de bois e do respectivo livrete que me inspirou a escrever o artigo: "De Antanho". Ou seja: fui eu que me inspirei em ti, não o contrário. O seu a seu dono.

Resta-me pedir-te desculpa pela demora na publicação

Um grande beijo

Olímpia disse...

Orlando,
mais uma vez nos brindaste com um belo texto e um fiel retrato das azáfamas desta época. Um texto repleto de recordações e escrito com ternura onde, mais uma vez, homenageaste não só os que te são queridos, como também todos aqueles que tão arduamente trabalharam os nossos campos.
Foi uma delícia ler-te.
Bem hajas por mais este miminho.

Beijos

Olímpia

Anónimo disse...

Fátima
Não tens que pedir desculpas por nada, aliás as recordações são para partilharmos, quer sejam boas ou más, mas todas elas são como um laço que, de qualquer maneira, nos une a todos.
É com alguma nostalgia que me apercebo hoje que os nossos filhos para saberem de onde vem o pão, ou como se faz o pão, tenham que recorrer a estas memórias ou incitá-los a verem um programa na net de “Como é que isto se faz?”.
Tenho uma amiga aqui na capital, mais ou menos da aminha idade, que há já alguns anos me perguntava se as cenouras nasciam de uma árvore.
O privilégio que nós tivemos…

Olímpia,
São recordações que com os anos vão ficando mais doces e douradas onde a dor e o sofrimento se diluem talvez nalguma saudade.
Obrigado a ambas pela oportunidade

Beijos

Orlando Martins

Rebordas disse...

Lembro ainda muito bem dessa ocorrência, felizmente sem maiores consequências.
Minha irmã passou muito tempo com dores de cabeça, não sei se consequência do acidente ou não.
Obrigado a ti, Orlando, por nos trazeres tantas boas lembranças da nossa belíssima infância.
Diz-se por aqui que hoje as crianças já nascem manuseando um tablet ou então um smartphone.
Abraço
César

Anónimo disse...

Viva Cesar,

A tua irmã Berta era e ainda é uma joia.
Muito obrigado

Um grande abraço Baptista

Orlando Martins

Anónimo disse...

Orlando,

Recordo-me bem desse episódio! Foi uma grande aflição para o povo todo principalmente, para a Tia Maria e para a minha mãe. O meu pai dizia, que o Chico se havia distraído com a Berta e que, da próxima vez, teria que ir para o atrelado.
O Armindinho dizia: " Estes ganapos não se fintam naquilo que os mais velhos dizem"
Obrigada Orlando, por mais esta lembrança. Conseguiste pornos no local do assidente!

Bjs .

Amélia da tia Teresa
Bjs .

Amélia da tia Teresa

Anónimo disse...

Olá Amélia,

Sabes que já tenho saudades das tuas gargalhadas.

Como vão os teus? espero que sempre bem dispostos

Orlando Martins

Anónimo disse...

Esta história (ou estória, em mirandês) é um hino de louvor ao suor e lágrimas derramados pelas gentes de Rebordainhos na sua luta de todos os dias pelo pão e por outros alimentos e bebidas que também fazem parte da dieta mediterrânica.
As descrições dos trabalhos e técnicas usados no amanho das terras são tão profundas, pormenorizadas e ricas em termos eruditos que não estão ao alcance das capacidades de leitura e interpretação de qualquer bacharel ou doutor formado numa universidade privada, ou num instituto superior politécnico, depois do 25 de abril de 1974. Refiro, a título de exemplo, as “carrais” e os “estadulhos”.
Àqueles que se dão ares de superioridade quando se colocam “acima de provincianismos anacrónicos”, tenho de lembrar que a maior parte das narrativas evangélicas referem-se a acontecimentos que se desenrolam em ambiente rural. E lá estão os apriscos, os estábulos, os odres de vinho, os frutos da vinha e do trabalho do homem, a semente deitada à terra, os vitelos assados para receber condignamente o filho pródigo que tinha andado a guardar varas de porcos, os lírios do campo, ... Tudo isso faz parte do caldo de cultura cristã que tem saciado a fome do povo pelos séculos dos séculos.
Atualmente, o povo abandona as aldeias, cego pela luzes elétricas das cidades, numa corrida desenfreada atrás do ouro e do petróleo, mas, se nesse êxodo deixar ficar para trás a sua cultura nativa, no fim da linha irá encontrar, fatalmente, o empobrecimento moral e material que já nos bate à porta.
Não aceito as reticências que o autor coloca, ainda que de uma forma velada, à proliferação de rotundas por todo território nacional. Se a sua crítica viesse acompanhada de um pacote de medidas compensatórias que incluísse a redução, por via administrativa e compulsiva, do número de carros particulares em circulação que diariamente conspurcam os ares, os mares e os solos da nossa bela e frágil Terra, eu metia a viola no saco e ia pregar para outra freguesia. Assim, tenho de fazer o esclarecimento de que, em termos de controlo de tráfego e segurança rodoviária, a solução “rotunda” ainda é a menos má!
As causas diretas do infeliz acidente com o trator estão à vista na sujidade sebenta das mãos dos que, bem instalados em gabinetes de paredes totalmente forradas de madeiras exóticas, desviaram rios de dinheiro do FEDER (Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional) e do FEOGA (Fundo Europeu de Orientação e Garantia Agrícola) com que fizeram belas moradias com piscina, aquecimento central com caldeira a gasóleo, enormes antenas parabólicas e dois ou três BMW de alta cilindrada estacionados à porta.

Anónimo disse...

Caro Anónimo,
Agradeço desde já o seu comentário. Quero expressar que também sou a favor das rotundas, neste caso concreto apenas questionei a sua pertinência dado o tipo e o volume de tráfego naquelas artérias. Penso, e é estritamente pessoal , que seria de mais utilidade existir a indicação não só das localidades mas também dos locais que moldaram e ainda envolvem a vida e o ser de todos os que por lá decidem viver ou simplesmente passar.
Cumprimentos

Orlando Martins

António barbas disse...

Orlando: não me vou alongar no meu comentário, até porque ando desgostoso
com as redes sociais, refugio-me nos jogos culturais, deixando esta incumbência para os formados na católica…
Gostei imenso de mais uma narrativa verídica dos tempos lugares e ocupações que tão bem sabes contar… o lombo do sirgo tentou muitos a não dar a volta e os mais temerosos ponderaram bem. Acontece que o risco atrai-nos desafiando a nossa coragem, e foram várias essas tentativas com o Ford Dexta azul:… felizmente só houve sempre arranhões para os condutores e passageiros engarupados onde não se devia. Sublime ilustração,.
As minhas costas vão + ou – e o futebol só no sofá. Fico radiante que tu voltes a comunicar com os que te prezam, compensando os comentários do teu irmão Zé no recinto da escola junto do bar improvisado para o concurso de sueca. Abraço saudoso.
PS. Desculpa Fátima eu vou…

Anónimo disse...

Tonho,

Não acredito que um homem como tu desista tão facilmente. Olha, para coxo estou cá eu e o meu futebol também é na TV. Se olhares à tua volta verás que há muita gente que te admira.
Um conselho:

OLHA BEM...

Um grande abraço

Orlando Martins

Filinto disse...

Olá Orlando.
Ainda bem que te lembraste do Armindo,nosso ilustre barbeiro que me deu umacrecada quando lhe pedi que me cortasse o cabelo "à escovinha" sem saber do penteado. Soube depois na escola.
Belo trecho, com dois pormenores: acho que o primeiro trator de Rebordainhos foi do João Santo e quem o experimentou foi o Vítor do tio Sebastião, precisamente na terra do teu pai junto à eira. Olha que era eu ainda pequenote.
Quanto às rotundas, são uma maravilha. A primeira vez que fui a Madrid com um colega passei umas seis vezes à volta mesma rotunda e quando eu lhe disse que já era a quinta vez que ali passávamos ele respondeu: "eu sei, mas não sei para onde devo ir". Olha a vantagem das rotundas.
Em Portugal abundam, para também nós andarmos à roda.
Abraço

Anónimo disse...

Olá Tio,

As minhas lembraduras não chegam tão longe, nem a imaginação. O andar às voltas também eu ando, vamos lá a ver quantas rotundas faço.

Bora lá com essas recordações que o tio tem e que as sabe exprimir de forma magistral.

Um grande abraço extensível a toda a família.

O sobrinho

Orlando Martins

Rebordas disse...

Olha, em 1997 fui eu a Portugal com meus filhos e no mesmo vôo também estavam mais uns trinta e poucos brasileiros.
Não me encalacrei em nenhuma rotunda, mesmo rodando um pouco mais de 6000 Km. nos pouco mais de 30 dias que passei por aí, mas no regresso ao Brasil também voltaram uma dúzia de brasileiros que tinham ido no mesmo vôo que eu e um deles vinha contando uma aventura que passou aí numa rotunda. Segundo ele, que falava bem alto para todos escutaram, passou meia hora só circulando na rotunda porque foi parar na última faixa e não conseguia retornar à primeira para sair. Até que um guarda se compadeceu dele, parou o fluxo e mandou que ele encostasse já fora da rotunda e pediu os documentos. Virou para ele e disse: "Tinhas que ser brasileiro, agora vê se não te metes noutra porque podes não encontrar outro polícia bonzinho. Lá no Brasil não tem rotundas?"
Foi uma gargalhada geral. Diversão para as mais de oito horas de viagem.
abraço
Baptista

Anónimo disse...

Andam todos muito preguiceiros! Se calhar o calor dá-lhes a molenga! Nunca mais aqui escreveram nada.