segunda-feira, 7 de abril de 2008

A proposito de ... Água

Lembro-me que, na primeira vez que visitei a aldeia (1984), para conhecer a família da minha mulher, tive uma grande dificuldade em me adaptar à impossibilidade de tomar o meu duche matinal. Decorria o mês de Julho e, apesar da existência de água canalizada (instalada havia já muitos anos pelo povo, durante a presidência do tio António Piloto, com materiais fornecidos pela CMB) a mesma só chegava às casas umas escassas horas por dia, aproveitando-se para se encher baldes, banheira e mais alguns recipientes disponíveis para se armazenar o precioso líquido para as necessidades diárias (higiene pessoal, lavagem da louça, dar de beber aos animais, etc.). Para cozinhar e beber ia-se à Fonte Grande, com cântaros.

A iniciativa do tio Piloto foi de grande pioneirismo e altivez: naqueles tempos de ditadura, convecer uma Câmara a fornecer materiais ao povo não estava ao alcance de qualquer um. Mas o povo não lhe ficou atrás e não se furtou a trabalhos, na abertura da nascente e das valas por onde iriam passar os canos, em terra cheia de fragas.

Voltando ao assunto, segundo me explicaram, a falta da água devia-se, principalmente, ao facto de o consumo ser muito maior nestes meses, com a vinda de férias dos emigrantes, dos jovens que estudavam fora e vinham de férias escolares e, sobretudo, porque algumas pessoas regavam as suas terras com a água canalizada, apesar da proibição de o fazerem nesse período.

A este propósito, a tia Ester contou-nos o seguinte episódio passado entre a Senhor D. Maria e o Senhor Professor, irmãos muito estimados e que toda a gente recorda como os "senhores professores". Pelos vistos, também a água lhes faltou, na sua nova casa à entrada do povo. E dizia ela na sua voz cava:

- Ó Francisco, os outros regam e nós secamos! - Posto o que, começou a cantar:

O moinho da nossa aldeia
Dá vinte voltas a fio
Quando lhe passa a corrente
Das bandas do nosso rio.

Mais alguns anos decorreram assim, até que alguém decidiu instalar contadores de água, e foi o início do fim do martírio da falta de água. Quem regava às escondidas deixou de o fazer, porque tinha de pagar o consumo para além de um certo nº. de m3. Penso que, paralelamente, também se procedeu ao reforço da captação.
Bem-haja quem decidiu esta medida que, creio, foi o Carlos Chedre, mas se estiver enganado, alguém me corrija, por favor, para que se possa dar o seu a seu dono.

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