Fátima, este poema dedico-o à tua família.
A inspiração veio-me da "Fonte do Sapo" onde, naquele "vale" – lameiros – jorrava água perene.
Não sei porquê... Talvez saiba, o teu pai mostrou-me, à sua maneira, uma maneira de ser feliz.... Obrigado.
Este poema é ir à procura, ser feliz partilhando.
Do chão e da terra de ninguém
Jorravam vindas não sei d’onde
Transparentes bolas de cristal
Espelhos côncavos da fonte.
Jorros de água que saciam
Sussurros de sons permitidos
Monotonia que embala
A vida… e os destemidos
Deus sabe… e agora,
Joelhos e calças molhadas,
Que injustiça… e de tudo embora,
Dêem-me setenta vezes sete chicotadas…
Fico feliz da bebedeira por sede
Da frescura e da vontade
Do ter nascido e sentir a saudade.
E aqui estou eu, de novo a nascer,
A beber a liberdade…
Orlando Martins (2001-12-19)
À data em que o Orlando escrevia este poema estaria meu pai a dizer-me: “filha, a vinha está vindimada!”
Eis que os tais nós de garganta nos dedos tolhem a palavra. Falarei, por isso, da Fonte do Sapo.
É um vale largo, necessariamente de lameiros, tais os ribeiros que lá desaguam no tempo da chuva. Muita dessa chuva, recebida nos montes, infiltra-se e vem rebentar mais abaixo, em pequenas nascentes de água, a boa companheira para quem se mete ao caminho.
Em cima, uma fraga domina a paisagem. Vista de baixo parece poiso de águias, mas quem é do sítio sabe que é ali que se apartam os trilhos de quem quer ir para mais longe, Pòrto, Vila Seco ou Malhada Velha. É levada do diabo a tentação de cortar caminho, metendo pelas terras dos outros – lameiros frescos – ao invés de seguir pela secura do carreirão certo, à estorreira do Sol. Os joelhos molhados de quem se debruçara para beber da nascente eram a prova do delito. “Que mal tem isso?” respondiam as almas boas às outras atrapalhadas.
A Fonte do Sapo é lugar de calma imensa que convida às histórias de encantar. Quem lhe inventaria a frescura do nome?
Fátima Stocker
8 comentários:
Caramba, Orlando!...
Deixaste-me sem respiração.
Para além da belíssima poesia pensada para o meu pai,homenageias também a minha mãe.A fonte do Sapo,era um dos locais preferidos dela e, imagina só:quis o destino que esse lameiro, a mim viesse a pertencer.
Agradeço-te a forma como descreves este lugar,onde o tempo colocou uma beleza que não encontro em mais lado nenhum.
É uma beleza de solidão contemplada, não é Fátima?
Para ti, os meus parabéns pela forma tão real de descreveres este local.Ele significa tanto para todos nós!
Bem hajas, Orlando
Beijos
Olímpia
Amigos
Bela poesia ,bela prosa, belas fotos, e belas recordações!
Este blog,está a ficar cinco estrelas, parabens!
Abraços
Caro
J.Manangão
Quem irá responder ao seu comentário, será a Fátima ou o Orlando, ou os dois. Eu aproveito para o cumprimentar é sempre um prazer saber que aqui esteve.
Um abraço
Fátima e Orlando
Os meus parabéns aos dois, o meu origado Orlando pela homenagem deixada a João Pereira "o Fouce" como era conhecido na aldeia.
Entretanto começo a ficar mais esperançado de que o blog, irá continuar, que iremos ter mais colaboração dos filhos da Terra.
Um grande abraço
Olímpia
É engraçado, associo a Fonte do Sapo (e quase todos os outros sítios de Rebordaínhos) à contemplação, mas não à solidão. Ele é a passarada a chilrear; ele é a água a acantar; ele é o vento a fazer música pelas giestas; ele é uma vaca a mugir ou as ovelhas a balirem... E o perfume do ar que apetece respirar e guardar nos pulmões!
Obrigada e beijos
Manangão
Gentileza sua. Mas muito obrigada!
Sem respiração e sem palavras Orlando. Uma homenagem feita a quem tanto nos diz e tanta falta nos faz.
Eternamente grata, Pirlandas, e beijos
Augusta
Sói dar-se uma explicação ao Orlando:
Quando me enviou este poema (em tempo próximo daqueles que já foram publicados) disse-me: "faz com ele o que quiseres". E deixou-me com o menino nos braços. Menino bonito e gerado com muito amor, como salta à vista. Que fazer? Dá-lo a cada um dos meus irmãos, um por um, não me parecia coisa de jeito...
Foi,então, que surgiu a oportunidade, a propósito do (também muito belo) texto escrito pela Olímpia. Fazia sentido associar os dois e, ao mesmo tempo, os meus irmãos tornavam-se conhecedores da oferta sublime que o Orlando nos tinha feito.
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Agora falo directamente para o Orlando:
foi preciso que também publicasse as palavras que me escreveste a acompanhar o poema, porque o contextualizam, justificam e, concordarás, o tornam ainda mais belo. Sabes bem da minha gratidão.
Um beijo enorme!
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