Segundo Alexandre Herculano, os concelhos são entidades com individualidade e coesão próprias instituídos por uma carta de foral. Ao estudar os numerosos documentos da nossa história medieval, Herculano chega à conclusão que existem vários tipos de concelhos. Aqui interessa-nos o primeiro grupo deles: Rudimentaes – Imperfeitos – Completos que correspondem aos que foram criados desde antes da fundação da nacionalidade até ao séc. XIII. Embora datada do início do séc. XIV (1304), é aqui que devemos integrar a carta de povoamento confirmada por D. Dinis aos moradores de Arufe. É esta carta de povoamento uma carta de foral? Sim. Cito Herculano: Mas qual é o facto social que deve representar essa cohesão, essa individualidade? Quanto a nós deve ser a primeira das garantias (…) a existencia de alguma magistratura particular, quer no administrativo quer no judicial (…), sobretudo quando a essa magistratura andar ligado o princípio electivo. (1)
Continuando a seguir o grande historiador, podemos classificar o concelho de Arufe como Imperfeito o que significa que os seus moradores têm uns pozinhos de direitos a mais do que aqueles que vivem num concelho rudimental. Diz ele: O caracter que sobretudo os distingue dos precedentes [Rudimentaes] é, além de outras garantias maiores ou menores, a jurisdição local, exercida por um juiz particular, numas partes de eleição do povo, noutras de nomeação do senhor, mas em todo o caso com auctoridade circumscripta ao território do concelho. É já o principio capital do direito publico.(2) Às vezes basta uma simples frase para marcar a diferença. No caso em apreço, é aquela que destaco no corpo da carta doada aos povoadores da pobra (3) de Arufe que vem publicada abaixo.
O documento, da chancelaria de D. Dinis, é interessantíssimo e vem incluído no Tomo IV das Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança do Abade de Baçal. Por favor, não desistam por verem uma escrita tão diferente da nossa. Lida em voz alta, será de mais fácil compreensão. Em todo o caso, estou disponível para qualquer esclarecimento. E começo já com um. Tem a ver com a data.
Em Agosto de 1422, D. João I decidiu que Portugal deveria adoptar a era de Cristo em vez da era de César (que já vigorava na maior parte dos reinos europeus desde o séc. VIII). Por causa disso, de uma assentada, suprimiram-se 38 anos ao calendário. Os historiadores, para obterem a data certa, têm que subtrair 38 anos a todas as datas anteriores a 1422.
Fátima Stocker
Continuando a seguir o grande historiador, podemos classificar o concelho de Arufe como Imperfeito o que significa que os seus moradores têm uns pozinhos de direitos a mais do que aqueles que vivem num concelho rudimental. Diz ele: O caracter que sobretudo os distingue dos precedentes [Rudimentaes] é, além de outras garantias maiores ou menores, a jurisdição local, exercida por um juiz particular, numas partes de eleição do povo, noutras de nomeação do senhor, mas em todo o caso com auctoridade circumscripta ao território do concelho. É já o principio capital do direito publico.(2) Às vezes basta uma simples frase para marcar a diferença. No caso em apreço, é aquela que destaco no corpo da carta doada aos povoadores da pobra (3) de Arufe que vem publicada abaixo.
O documento, da chancelaria de D. Dinis, é interessantíssimo e vem incluído no Tomo IV das Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança do Abade de Baçal. Por favor, não desistam por verem uma escrita tão diferente da nossa. Lida em voz alta, será de mais fácil compreensão. Em todo o caso, estou disponível para qualquer esclarecimento. E começo já com um. Tem a ver com a data.
Em Agosto de 1422, D. João I decidiu que Portugal deveria adoptar a era de Cristo em vez da era de César (que já vigorava na maior parte dos reinos europeus desde o séc. VIII). Por causa disso, de uma assentada, suprimiram-se 38 anos ao calendário. Os historiadores, para obterem a data certa, têm que subtrair 38 anos a todas as datas anteriores a 1422.
Fátima Stocker
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Citações retiradas de Alexandre Herculano, História de Portugal, Livro VIII, Parte I (Edição dirigida por David Lopes):
(1) p. 90)
(2) p. 112
Mantive a grafia original para que se veja como era diferente a ortografia no séc. XIX.
(3) Pobra: povoação
12 comentários:
Fogo!... Agora entendo o porquê da Comenda!!! (mentira, já o sabia antes).
Continua e. assim, continuaremos nós neste crescente de conhecimento.
Beijos, manita
Garota
Essa fez-me corar!!!
Vai-se fazendo o que se pode e confesso que me dá prazer (apesar de roubar horas ao descanso). O arquivo episcopal de Bragança deve ter variadíssimos documentos mas... e tempo para lá ir?
Beijos e obrigada
Um post muito interessante. A aprendizagem é um processo que tem princípio mas não tem fim. Assim o diz o povo: " Aprender até morrer". Do concelho de onde sou natural sei que foi uma freguesia do concelho de Faro até pelo menos ao século XVII. Um dia estudá-lo-ei. Quanto ao concelho de Faro, foi-lhe concedido foral por D. Afonso III em 1249 e conheço os termos em que foi redigido mas uma investigação, a fazer em breve, impõe-se.
Um abraço
Fátima
Acompanho de perto e no local o teu trabalho, mas nunca pensei que o resultado final dos dois post fosse este..
Estão excelentes!
Obrigado.
Quem sabe...sabe!
Os de Arufe, bem podem sentir-se vaidosos!
Pela parte que me toca, sinto-me inchada por ser tua irmã.Deste-nos um pequeno exemplo (muito pequenino) de como deves ser uma extraordinária professora e do prazer que os teus alunos devem ter em aprenderem estas coisas contigo.
Também demonstraste seres uma boa contadora de histórias.Mas desta vez,de histórias reais.
Espero por mais.
Bjinhos
Olímpia
Olá Fátima,
É notável o empenho e dedicação neste excelente trabalho.
És sem dúvida uma professora excepcional os teus alunos são uns felizardos, como eu gostaria de ser tua aluna para aprender a gostar de história. (enquanto andei na escola nunca gostei de história, aprendi a gostar quando fui estagiar para o 1º Ciclo e tive que ensinar àquelas crianças a História de Portugal, e me apercebi que não se pode ensinar algo que não se gosta)
Obrigada por partilhares connosco o teu saber.
Beijos
Lurdes
Acabo de receber a minha ração quotidiana de cultura com a leitura atenta do foral de Arrufe. Sim senhor! Parabéns, senhora Professora investigadora. São apontamentos destes que dão verdadeiramente nível e interesse a um blog, sem querer desfazer de outras comunicações (e das minhas patranhas, claro!). Além da fundamentação bibliográfica e das instrutivas notas de rodapé... Arranja depressa mais tempo para investigar sobre as origens do nosso terrunho. A Câmara bem que podia contribuir com alguns maravedis para tão meritória empresa, não é verdade?
Sophiamar
Que seria a vida se não aprendêssemos? Uma monumental maçada, certamente!
Estudar a nossa terra é devolver-lhe a vida. Força, então, com o estudo da sua!
Um abraço
João
Obrigada(é estranho responder-te aqui)!
Garota (Olímpia)
As minhas irmãs apostaram qual delas havia de me fazer corar mais!
Obrigada. Concordo contigo sobre o orgulho que os de Arufe devem sentir. Pena que só já restem, como moradoras, as famílias das três senhoras Anas.
Beijos
Lurdes
Bem-hajas pelas tuas palavras. Mas é no final que dizes o mais importante: aprendemos a gostar quando nos empenhamos nisso.
Beijos
Tonho
Obrigada, mas serão epítetos pouco merecidos: abrir o Abade de Baçal e o Herculano não dá lá muito trabalho.
Bem que gostaria de estudar o nosso "terrunho" mas... o problema maior nem são os maravedis, antes, o tempo. Há que esgravatar a Torre do Tombo e os arquivos episcopais e municipais. Em tempo de aulas não posso porque a senhora ministra tratou de nos afogar, bem afogados, em inutilidades e quezílias; em tempo de férias raspo-me para Rebordaínhos a ver se recupero o fôlego!
Além do estudo arquivístico há trabalhos arqueológicos a desenvolver: Cabeço Cercado, Lombo de-à-Igreja, Vila Seco/Pórto, Torre Queimada(?), Fraga do Berrão. É extraordinário, porque isto dá-nos um período de ocupação do espaço desde, provavelmente, a Idade do Ferro até aos nossos dias (talvez, anterior, dependendo dos resultados da Fraga do Berrão).
A propósito dessa nossa fraga: cá para mim, os de Macedo andam a entrar por terras de Bragança. Nesta página (http://www.terrasquentes.com.pt/content.aspx?id=62) lê-se o seguinte:
Fraga do Berrão [29] *
Aquele 29 refere-se a Soutelo Mourisco e o asterisco significa que tem algum interesse arqueológico.
Acontece o mesmo com "Cabeço da Anta", mas aí já não juro que seja eu a ter razão, incluindo-o no termo de Rebordaínhos.
Beijos
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