terça-feira, 7 de outubro de 2008

Peregrinações à Senhora da Serra


As peregrinações à Nossa Senhora da Serra , paróquia de Rebordãos, fazem parte do imaginário de qualquer habitante das povoações que circundam a belíssima serra de Nogueira.
Para mim, esta é seguramente uma das mais belas serras de Portugal, onde a cada passo se podem desfrutar das mais belas paisagens que o nosso país possui. Certo que esta é a opinião de uma transmontana ferrenha e que defende o seu torrão em qualquer lugar do mundo. Mas, quem duvidar desta opinião, porque não “mete os pés ao caminho”, e vem verificar a veracidade desta afirmação?




Uma amostra da bela vista da
Serra da Nogueira






Bom, mas o motivo desta minha narrativa, não se prende tanto com a beleza da serra, mas sim com o Santuário que se situa no seu ponto mais alto.
Diz a lenda que, andando uma menina muda a pastorear o seu rebanho, lhe apareceu Nossa Senhora que lhe pediu para dizer aos seus conterrâneos – de Rebordãos -, que lhe construíssem uma Igreja no ponto mais alto da serra de Nogueira.
A menina assim fez e, como apareceu a falar, todos acreditaram naquilo que a mesma lhes transmitiu.
Mas… no alto da serra? Tinham de subir pelo carvalhal acima? Uma subida tão acentuada que, muitos há que lhe chamam “pingão”? Então decidiram construir a capela sim, mas no início da subida. Afinal, era serra na mesma, e a Santa não se devia importar muito.
De imediato deitaram mãos à obra. Mas, se durante o dia construíam uma parede, a mesma havia de ser deitada abaixo durante a noite. Tantas vezes teimaram em construir que, outras tantas as paredes vieram abaixo, até que, Nossa Senhora decidiu aparecer novamente à menina muda, e lhe transmitiu que no dia 5 de Agosto, o lugar onde queria que lhe construíssem a Igreja, haveria de estar marcado com neve. Assim foi e, os habitantes de Rebordãos decidiram acatar a vontade da Santa e lá construíram a Igreja, e o culto foi-se perpetuando pelos tempos até aos dias de hoje.
Não sei bem a época em que tal aconteceu mas, numa das esquinas da Igreja estão inscritas duas datas: 1659 e 1671, ambas posteriores à construção da Igreja Matriz de Rebordãos que, de acordo com o inscrito no exterior, esta aconteceu em 1611, e no interior em 1614.
Não sei se é do conhecimento de toda a gente. Mas sabem que Nossa Senhora da Serra também se chama Nossa Senhora das Neves?
A festa inicialmente era realizada no dia 5 de Agosto mas, porque nessa altura ainda existiam muitos trabalhos agrícolas, ficou decidido realizar-se a 8 de Setembro, quando as colheitas já estavam devidamente guardadas.
De realçar no entanto que, ainda hoje, no dia 5 de Agosto é celebrada uma missa e são arrematados os quartéis (os que ainda estão disponíveis, pois muitos há que os têm alugado permanentemente) e as tabernas onde, nos dias das celebrações se hão-de saborear excelentes nacos de vitela assada.
Para além da festa propriamente dita, realiza-se anualmente uma novena – de 30 de Agosto a 7 de Setembro. E são inúmeros os fiéis que, ou alugam um quartel para aí permanecerem durante a novena e dia da festa, ou diariamente aí se deslocam a pé ou de carro para assistirem às celebrações dando cumprimento a promessas anteriormente feitas, ou então , pelo simples gosto de caminhar.
Lembro-me de em garota, ansiar pela chegada da Senhora da Serra, porque nessa altura, as meninas tinham direito a uma boneca pequenina, daquelas que tinham um elástico a unir as duas pernas e outro a manter os braços juntinhos ao corpo e, que depois, com a nossa criatividade, haveríamos de vestir com roupas por nós costuradas. Aos rapazes, a sorte trazia-lhes um tractor ou um camião de lata, que haveriam de exibir e conduzir carregados de terra , por estradas previamente bem alisadas numa qualquer rua da aldeia.

Por estas bandas, Setembro não existe sem pelo menos uma ida a pé à Senhora da Serra. Este ano, um grupo de três manas, mais a vizinha Tininha, anteciparam a ida. As férias de algumas acabavam antes e havia que cumprir o ritual.
A caminhada iniciou-se por volta das 8 da manhã e, para nossa surpresa, a Fininha tinha-se mesmo levantado para nos acompanhar. E lá partimos com a desconfiança de que, a mesma Fininha, haveria de desistir. Afinal, costuma “enjoar” quando anda a pé!

Em Vila Seco encontrámos o Toninho mais as suas ovelhas. E não é que também ele se interrogou se a Fininha chegaria ao fim da caminhada?








A Olímpia, Amélia e Tina





Subimos pela Malhada Velha até à casa da floresta. Uma casa linda que, se reconstruída, bons momentos de calma e sossego poderia proporcionar a quem dela quisesse usufruir, e serviria concomitantemente como fonte de receitas para a junta de freguesia.



A casa da Floresta








Um pouco mais acima encontramos a recém – baptizada “fonte do peregrino” e, fazendo jus à nossa condição, saciámos a sede com aquela fresquíssima e puríssima água . Outras necessidades humanas básicas foram ainda satisfeitas mas, refiro-me aqui apenas à satisfação com que fomos comendo as deliciosas amoras silvestres que fomos encontrando pelo caminho.



A Fonte do Peregrino







Ninguém se queixava das pernas porque a nossa alma estava completamente preenchida. As belezas naturais que podemos desfrutar em todo o percurso são soberbas. A zona das bétulas é fantástica e, nunca por lá passo que não me lembre do filme do Dr. Jivago quando, o mesmo procurava incessantemente Lara. Depois deparamo-nos com um pinheiro que, carinhosamente adquiriu a forma de cabana pronta a abrigar um peregrino que pretenda descansar à sua sombra. E depois… começam a avistar-se as mais diversas aldeias que circundam a serra. É um mar de imagens indescritíveis. O melhor é saborear!












Finalmente, já no alto, a nossa boleia de regresso já estava à espera. Cumprimos o prometido e, não é que a Fininha aguentou firme o 10 km de caminhada?

O Levi Mata garantia o regresso de carro

Para mim, a peregrinação haveria de continuar durante os nove dias da novena. Mas desta feita com partida de Bragança, passagem por Rebordãos e subida do pingão, num total de 15,2 Km. Mas tive sempre a companhia de duas amigas e o apoio do gabinete ao peregrino que desde há uns dois ou três anos existe junto ao Santuário. Aí somos recebidas por um grupo de enfermeiras e outras pessoas que, voluntariamente aí permanecem para, com todo o carinho aliviarem os pés com reconfortantes banhos quentes e massagens ou, para quem não tenha necessidade de tais cuidados, com um delicioso café.




Fotografia tirada em Rebordãos

20 comentários:

Augusta disse...

O prometido é devido. Sei que vai com um mês de atraso. Mas já está.As fotografias não ficaram com a posição que inicialmente lhes dei. Mas não faz mal. O que importa é mostrar.
Tenho pena que, só depois tenha visto a publicação do Filinto.
Se achares por bem, retira e publico depois. Agora, vou ao cinema.
Beijos

Augusta disse...

Caramba! Fui ao cinema e vim do cinema, e nem um comentariozito? Estão assim tão preguiçosos? Nem sequer a fininha que prefere enviar outros mails. O que vale é que o filme foi divertido e, estou bem disposta.
Então, vamos ver o que acontece amanhã, SIMMMMMMMMMMMMM?
Beijos

EC disse...

Muito bem, Augusta.
Pena que este ano não nos acompanhaste nas caminhadas...mas por boas razões seguramente.
Como a ti, e creio que a muita gente, as caminhadas à Senhora da Serra revitalizam-nos.
Beijinhos

Anónimo disse...

Augusta
Bonita descrição sobre a Serra, suas paisagens e sobre a lenda.
Também eu vou todos anos a pé, por devoção, mas a partir da Mosca.
Incrível, como a gente chega lá a cima sem cansaço e ainda mais bem disposta do que quando partiu!
Parabéns à fininha que vos surpreendeu a todas.
Assim, provaste o quanto és forte!
Beijinhos às duas
Céu

Anónimo disse...

Garota

Publiquei o artigo do Filinto e, de imediato, desliguei o computador. POr isso me surpreendi quando, hoje à hora de almoço, o João me disse que também tinhas publicado, encarregando-me de combinar as coisas contigo. Mas não é preciso e vou aceitar a tua sugestão: reservo este teu magnífico artigo parea daqui a dois ou três dias, está bem? Nessa altura direi mais qualquer coisita.

Beijos

lina warren disse...

Muitissimo bem, Augusta. Obrigada pela tua descricao de uma peregrinacao que, hoje em dia, eu so posso fazer em pensamento.

Concluo que o rapaz de barbas na fotografia deve ser o lobo que esta a espera do Capuchinho Vermelha para lhe tirar a merenda...Ou sera que ele seja o que em verdade traz o picnic para as meninas todas?

Augusta disse...

Olá Lina:
Pois é, cá fiz eu estas caminhadas. E não digas que só em pensamento é que tu as podes fazer! Quando vieres, podemos fazê-la juntas. E pode ser com partida de Rebordãos. Fica reduzida a 4/5 Km. Mas dos decerto, porque temos o pingão pela frente.
Conheces o bocadinho de casa que aparece na última fotografia? É a casa que foi dos teus avós maternos em "cimo de vila"
Beijos para todos
Augusta

J. Stocker disse...

Cara Augusta

Estive a mexer no teu post, pois algumas das fotos estavam sobrepostas, penso que agora estão visíveis em todos os computadores
Dei aquela explicação para a Lina não estranhar, estarem a desaparecer e aparecer fotos na altura em que ela estava a ver o Blog.
Agora vamos ao que interessa, parabéns pelo trabalho realizado, texto e fotos! Em conjunto temos feito alguma coisa pela Freguesia e pela nossa Serra.
Vá lá não te queixes dos comentários, eu já tenho pedido colaboração e nem um comentário me fazem! Além disso já ninguém tem medo das tuas más disposições, rsrsrsrs

Beijos

Augusta disse...

João:
Não era má disposição. Antes pelo contrário. Vinha muito bem disposta do cinema. O filme era leve e dispunha bem ( com música dos Abba). Mas, afinal, depois de muita insistência, nem sequer um comentariozito?
Mas está bem, estão perdoados
Beijos
Ps: a última fotografia foi tirada em Rebordãos.

J. Stocker disse...

Augusta

Que mais queres até a Milita vem comentar o teu Post, não é por nada mas ainda vejo o "Bino" a vir comentar os teus post, aí é que ninguém te calava mais!

Augusta disse...

João:
Se o Bino aqui viesse, o sino de Rebordaínhos até cantava...
Beijos

Olímpia disse...

Augusta:
Não percebi nada acerca dos comentários.
Hoje, consultei o blog e li com entusiasmo o teu belo texto.Não só narraste a lenda da Srª da Serra, como também descreveste muito bem alguns itinerários.Foste um bom guia turístico.
Quanto à Fininha,julgo seres conhecedora de algumas surpresas que ela magicamente faz saltar, de vez em quando, da sua caixa. Certo?
Esta, foi mais uma.E, acreditem que esta caminhada me soube mesmo bem! Tenciono repeti-la desde que não seja à hora do calor!
Obrigada por estas viagens
Beijinhos
Olímpia

Augusta disse...

Olímpia:
Pois, quem anda afastada dos seus deveres "bloggistas", habilita-se a perder alguma coisa. Diz à Fátima que te explique.
Beijos

J. Stocker disse...

Cara Augusta

Olha que não sei se os sinos de Rebordaínhos não terão que cantar?
este comentário anónimo em "Rodrigo" deixa que pensar.

Anónimo Anónimo disse...

padre Jorge tambem espero pelo teu texto,amigo e colega de escola.

6/Out/2008 22:42:00

A curiosidade é muita, mas .......
o que achas?

Agora é que a Fininha não percebe nada.

J. Stocker disse...

E já agora para completar a festa , que tal "O lobo Mau" vir aqui dizer se foi muito difícil cumprir as tarefas que lhe foram cometidas?

Augusta disse...

João:
Será que o safado quer andar disfarçado?
Quanto ao Levi, como dizem os espanhóis "no lo creo..."
Beijos

Anónimo disse...

Garota

Associo sempre as peregrinações à Senhora da Serra com as ânsias que me davam, em garota, de ter que ficar sem a mãe. Aqueles dias eram tão compridos! E eram tantos de seguida...


O teu artigo está muito bonito, com o seu qb de ironia e umas fotografias lindíssimas.

Quanto ao Levi estou como tu: ele é pior para estas coisas do que eu para os telemóveis.

Beijos

Anónimo disse...

Augusta,

Que palavras maravilhosas uma descrição perfeita mesmo sem as fotos seria possível imaginar o percurso com todos os pormenores, mas as fotos foram bem escolhidas.
Gostei muito...
Quanto ao filme que foste ver eu também já o vi e muito divertido.
Beijos
Lurdes

Filinto Martins disse...

Augusta
Parabéns.
A última vez que eu fui à Senhora da Serra, regressei com o Patinge. Ainda me lembro da descida e de ele dizer, vou levar esta pedra para jogar o fito. Eles aqui não sabem nada.
Na verdade, em Rebordainhos, quando ele jogava no prado, só olhava para trás quando acertava no vinte, que era o pino. Ah! Grande Patinge.
Foi há dois anos que eu fui à Senhora da Serra, quando ninguém lá estava... sossego, paz, tranquilidade... "O Talefe do Mundo" se Miguel Torga lá tivesse ido.
Obrigado.

Augusta disse...

Filinto:
Grata pelas tuas amáveis palavras.
Agora que recordaste, até parece que vejo o tio Patinge a jogar o fito no prado. E sabes que é a ele que devo uma cicatriz que tenho na cara?
É que ele era "tão grande", que uma vez em casa de meus pais, querendo tirar uma alheira do fumeiro, tanto se esticou para conseguir tirar a alheira que, esta se partiu e o Patinge caiu para cima de mim e da minha mana mais velha e, caímos para o lume. Claro que, sendo bébé, não me recordo de nada, mas mantenho a lembrança na cara.
Era mais uma figura que merecia umas palavrinhas, não achas? Quem mete mão à obra?
Quanto à Senhora da Serra, claro que concordo com tudo o que dizes, e vou lá muitas vezes para respirar fundo e absorver toda aquela calma. Torga não esteve lá, mas estiveste lá tu e, acredito que, muito melhor que eu, conseguirás reproduzir em texto aquilo que ainda ninguém fez.
Um beijo e, mais uma vez obrigada
Augusta