Tarde de amena cavaqueira no Prado, frente à taberna de baixo. A senhora Irene que me perdoe, mas nem sequer o seu sorriso cativante me fez habituar a chamar “Café Central” ao seu estabelecimento.
Não sei precisar a data, mas estávamos, seguramente, nos primeiros anos da década de 90 do século passado. Eu estava empenhada em recolher aspectos de um quotidiano que via desaparecer em cada Verão que assomava. Dispunha de poucos meios, mas isso não me preocupava porque o meu intento era pessoal: queria registos para quando a memória me faltasse. Feliz a hora em que, de tal, me lembrei.
Os registos que agora se publicam poderão ter, para quem os ouve, o toque da nostalgia. Para mim…
Estávamos, então, no Prado. O Rafael fazia de mestre-de-cerimónias e orientava-me para que eu não perdesse pitada. Já nem me lembrava como eram magníficas aquelas vozes, dadas por Deus, mas buriladas pelo sentir que só a vida confere. São elas:
Octávio (das cabanas, irmão da Ester)
Victor Martins
João Veigas
João Pereira (Fouce)
(A sr.ª Irene também deu um arzinho da sua graça)
A certa altura apareceu uma personagem fora do contexto. Não sei se o Octávio se envergonhou, mas deu por terminada a cantoria no Prado. Prosseguimos em nossa casa, agora só com o meu pai e o João Veigas que também se cansaria, deixando o Fouce sozinho a aturar as madurezas da filha, provando a paciência de santo que sempre teve. Bem-hajam todos, sobretudo os dois que já estão no Céu – Octávio e meu pai – e não souberam o quanto lhes fiquei grata.
Fátima Stocker
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Dado o tamanho da recolha (cerca de uma hora), é provável que a reprodução demore um bocadinho mais do que é habitual. É só ter alguma paciência.
14 comentários:
Agradeço informação sobre se conseguiram escutar alguma coisa
Fátima:
Em boa hora decidiste publicar as cantigas de sagada. Conseguimos ouvir, apesar de alguns soluços (justificados pela antiguidade da fita). Mesmo assim, soube mesmo bem voltar a ouvir este sons que nos foram tão familiares noutros tempos e, nos fizeram avivar a memória não só do pai, mas também do Octávio.
Beijinhos
Fátima,
Uma excelente recolha gostei de ouvir estas cantigas.
Beijos
Lurdes
João:
Eu já fiz algumas tentativas de escutar, mas infelizmente não consegui um sonzinho sequer. Não sei qual é o problema. Minha conexão é bem lenta (de dois a três minutos para baixar 1 MB de dados), mas neste caso específico não consigo nem um soluço.
Se verificar alguma mudança na situação, avisarei. Obrigado
abraço
César
Caro César
O ficheiro é muito pesado, mas de qualquer forma penso que ao fim de o máximo 5 a 6 minutos tinha a obrigação de abrir.
Por mail também não dá para enviar pelo seu Tamanho.
Veja se carregando no titulo "cantigas da segada" que se encontra dentro da imagem do leitor, consegue abrir o respectivo programa onde está guardado o ficheiro e escutar directamente.
Entretanto vou perguntar à Lina que está fora do Continente Europeu se consegue escutar?
Tenho pena que não chegue o som .
Vou pensar numa maneira!
Um abraço
Emocionei-me ao ouvir estas cantigas carregadas de motivos rurais que nós tão bem conhecemos e que, fizeram parte duma literatura oral de tradição popular.
Parabéns ao João e à Fátima por recuperarem o que se julgava esquecido.
Beijos
Olímpia
Augusta
Verdade, verdadinha, eu só escrevi o texto. O trabalho (enorme, de horas e horas a matar a cabeça para fazer a conversão de cassette áudio para mp3) foi todo do João. Mas foi um trabalho com amor à causa e aos protagonistas. Obrigada a ele e a ti também.
Beijos
Lurdes
Como já disse, o trabalho foi do João. Ainda bem que gostaste.
Beijos
Baptista
Que pena! Espero que, com muita paciência, já tenhas conseguido escutar alguma coisa.
Beijos
Olímpia
Se todos nós pusermos à disposição as pequenas coisas que fomos recolhendo, seremos capazes de reunir um acervo importante. As pessoas, às vezes, têm materiais mas, se calhar, pensam que não têm importância. Mas têm!
Beijos
Consigo ouvir perfeitamente e pouco tempo demorou a fazer-se ouvir a primeira cantiga.
Há que conservar estes tesouros que o tempo teima em levar. Não o deixemos. Vós estais de parabéns, Rebordainhenses.
Beijinhos
Cara Sophiamar
Fico-lhe muito grata pelo estímulo que são as suas palavras.
Um abraço
Infelizmente, e tal como o Baptista, nao consegui abrir as cantigas. Tenho muita pena. Devo, contudo, congratular a recolha destas. Entretanto irei ter de recorrer a minha memoria para levantar o som dos homens (e mulheres) a cantarem a medida que cortavam o trigo. Lembro-me muito bem. Gracas a Deus que essa parte do meu "computador" ainda nao "crashed." :)
Cara Lina
Tenho pena que não consigam escutar este recolha.
Será que o servidor é mandrião e não funciona a não ser em Portugal?
Agradeço que se alguém fora de Portugal, mas no continente Europeu, nos visite que nos informe se consegui ouvir o som?
Um abraço para a Lina
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