sábado, 18 de abril de 2009

ENTRE PARÊNTESIS...

... a propósito de dois comentários meus muito mal amanhados.

É costume antigo, vindo da Idade Média, mostrar respeito pelas pessoas deixando um espaço entre o cimo da folha e o início da carta. Bem mo lembrava a minha tia Vermelha, sempre que lhe escrevia as cartas para os filhos: "não te esqueças de deixar duas linhas. Vá, três!"

Agora que a tradição epistolar se vai perdendo soam-nos a anedota os melindres nos pergaminhos que o esquecimento de tal regra provocava. Aqui ficam dois deles, retirados dos Ditos Portugueses Dignos de Memória, de autor anónimo do séc. XVI

Escrevendo o marquês de Vila Nova del Fresno a Manuel de Vilhena uma carta pela qual lhe pedia as suas azêmolas emprestadas, porque o Senhor vinha escrito no princípio da folha e abaixo dele a primeira regra(1), respondeu-lhe Manuel de Vilhena que lhas não podia emprestar, porque tinha necessidade delas para lhe mudarem o Senhor da sua carta para o meio.
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Tristão da Cunha, mandando-lhe D. Jaimes, duque de Bragança, pedir dois mil cruzados emprestados por uma carta que trazia o Senhor no princípio da primeira regra, não lhos quis emprestar e disse a quem levou a carta:
- Direis ao duque que, quando Sua Senhoris mandar pedir dinheiro emprestado que mande pôr o Senhor nas nuvens.

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1 - Primeira regra: a primeira linha da escrita

E para que se veja que tal norma chegou aos nossos dias, aqui fica uma carta de Leite de Vasconcelos a Brito Aranha:

1 comentário:

Olímpia disse...

Obrigada Fátima, por mais um ensinamento.
Assim é que era!
Beijos
Olímpia