quarta-feira, 22 de julho de 2009

"A vida a que vamos assistindo transforma-nos nisto. Uma máquina sitemática, enigmática, sei lá ... Esta vida é bonita enquanto estivermos nela.

É TARDE

É tarde!...
Pega na sacola e vai...
Corre para a escola…
…e tu queres ficar…

É tarde!...
Agarra nos livros e vai,
Vai estudar…
…e tu queres brincar…

É tarde!...
Já adulto, com sonhos a cair,
Não te vou mandar ir.
…e tu, queres pensar…

É tarde!...
Como adulto assenhorado,
É decisão de casar.
…mas tu queres parar…

É tarde!...
Estás a envelhecer,
Ideais antigos a escurecer…
…e tu queres viver…

Só…
Ao ver sair o teu caixão,
Alguém…
No meio da multidão,
Murmurou baixinho,
Que, lá longe, até eu ouvi:

Coitado, morreu tão cedo!...


Orlando Martins (2008)

22 comentários:

Olímpia disse...

Orlando,
Já conversámos diversas vezes acerca da tua habilidade em conseguires esta harmonia de palavras. Na tua humildade (que tão bem caracteriza os verdadeiros mestres) discordas comigo.
Acredita:
És um maestro autêntico pois, nestas tuas melodias não se ouve qualquer nota desafinada ou fora de ritmo.
Que saudades que tínhamos de partilharmos estas tuas notas!
Peço-te desculpa por não ter conseguido editar o texto com a fotografia que o acompanhava.Ainda não me treinei muito bem nessa parte.Copiei tudo mas, a fotografia...devia ter ficado com a censura.
Vou enviá-la à Fátima.Talvez a tecnologia tenha mais respeito por ela...
Beijos
Olímpia

Augusta disse...

Pirlandas:
A Liloto já disse tudo. Que raio de mania de se adiantar!... Mas não faz mal. Alguém tem de ser.
Assim sendo, resta-me dizer-te que já tinha saudades - bolas, ela também disse!
Olha, beijos e, anónimo ou identificado, vê se apareces mais vezes, sim?

Ps: desculpa lá a falta de prática da Liloto no que diz respeito à tecnologia. Tem de treinar!

Augusta disse...

Olímpia:
As fotos não se copiam. Existe um ícon próprio para as importar.
Mas com tempo vais lá. Não desanimes.
Mas com fotografia ou sem ela, obrigada por nos teres trazido de volta esse gavião.
Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Orlando

É claro que gostei do modo como abordaste o fluir do tempo - um fluir que empurra o ser no sentido contrário aos seus desejos.

Filosoficamente dás ao tempo a qualidade de sujeito da vida humana - um sujeito que sujeita, tese que vem já dos gregos e que Shakespeare ilustra daquela forma magnífica que conhecemos. Filosoficamente discordo porque o ser humano é munido de arbítrio.

Apesar da melodia das palavras e do ritmo veloz que imprimiste à sucessão das estrofes (que comprova a velocidade com que a vida passa), qualidades que enriquecem o teu poema, entristece-me constatar a amargura que subjaz a tudo isso. Vejo, no entanto, um sinal positivo: finalmente voltaste ao nosso convívio e soube-me bem voltar a ler-te.

Um grande beijo

Fátima Pereira Stocker disse...

Olímpia

Já lá está. Depois ensino-te.

Graças a Deus que o Orlando (re)apareceu e publicaste o poema. Eu tenho andado tão atrapalhada que nem tempo tenho para pensar no que acrescentar de novo no blog.

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Augusta

O problema estava na fotografia porque, em vez de vir como anexo da mensagem, vinha inserida no documento word, o que exige uns passos prévios adicionais.

Beijos

Anónimo disse...

Costumo consultar este blog com frequência pois, através da variedade dos temas aqui apresentados,a minha curiosidade vai aumentando.
Tenho que dar os parabéns às pessoas que com tanto empenho aqui colaboram e que tão bem demonstram o amor pela sua terra e pela sua gente.
Não tenho muito jeito para comentar.Falta-me o dom do Sr.Orlando, do Sr.António,do Sr. Filinto, da Sra Fátima e, de todos os outros.
Sr.Orlando Martins,tenho lido as suas poesias e, permita-me que lhe diga, o senhor é fantástico.
Gosto muito de ler.Leio alguma poesia quase sempre escolhida a dedo.O Sr.,humildemente ofereço-nos a sua, que eu leio e releio com muito agrado e que me desperta uma grande curiosidade em ver publicada a próxima.
Continue porque, deste lado, continuarei a ser assiduo nestas leituras.

Marcos

Olímpia disse...

Obrigada Fátima, por teres conseguido o "milagre".
Orlando, não sei que artes mágicas a Fátima utilizou mas, o que é certo, é que foi bem sucedida .
Adoro a fotografia, tal e qual como ela aqui está.
Bjos
Olímpia

António disse...

Boa, meu rapaz.
Não são precisos mais elogios que os acima são exarados, para não sermos repetitivos. Mas é assim, com palavras, que se constrói o mundo e deslinda a vida.
Continua.
Um abraço
António

Anónimo disse...

Orlando: comentar depois de gente de um nível extraordinário de conhecimentos, não é tarefa fácil; contudo,o meu viver identifica-se com a tua poesia.O Marcos falou por todos, e com uma delicadeza digna de conhecedor... Pena tratar-te por Sr.pois eu julgo os elogios mais originais, dizendo tu...Que me desculpe, pela ousadia, de qualquer maneira, o seu comentário marcou a página tal como a tua poesia que o originou. Mais uma vez obrigado, recebe um grande Abraço.
António Brás Pereira

Eduarda disse...

Orlando
Li e voltei a ler este teu poema, e não tendo outra forma de te dizer o quão gostei, vou servir-me de um excerto da poesia de Vergílio Ferreira

"...Veio ter comigo hoje a poesia.
Há quantos anos?
Desde a juventude.
Veio num raio de sol, num murmúrio de vento.
E a ilusão que me trouxe de uma antiga alegria
reinventou-me
a antiga plenitude
que já não invento."

Beijos
Eduarda

Anónimo disse...

Tonho.

Eu sou "TU"...

Não sou mais nada nem ninguém...
Apenas o recordar daqueles que conheci, como tu, que te considero como um amigo, que nalgumas festas por falta de 2,5 escudos tu me dizias, deixa lá eu pago...
Não sei se terei tempo, mas escrevo-te para te dizer "devo-te muito".

Obrigado a todos

Até sempre

Orlando Martins

Anónimo disse...

Marcos,

Não tenho palavras para ti.

Eu não sou ninguém, apenas escrevo o que o meu coração me diz.

Tanta coisa que sinto e não consigo dizê-la, mas agradeço as tuas palavras que mais uma vez, e humildente, não mereço de todo.

Orlando

Augusta disse...

Orlando:
Desculpa a intromissão. Conheço-te bem, e sei que o que dizes é sentido. Mas também considero que tamanha humildade é demais. Vamos lá elevar essa auto-estima! Tu mereces o que te dizem...e muito mais! Sabes que sim.
Beijocas

Ana Jarrete disse...

Ao Orlando por brincar tão bem com as palavras...e continui sempre...nós gostamos de ler...(embora por vezes não o digamos...)

"Aos Poetas

Somos nós
As humanas cigarras.
Nós,
Desde o tempo de Esopo conhecidos...
Nós,
Preguiçosos insectos perseguidos.

Somos nós os ridículos comparsas
Da fábula burguesa da formiga.
Nós, a tribo faminta de ciganos
Que se abriga
Ao luar.
Nós, que nunca passamos,
A passar...

Somos nós, e só nós podemos ter
Asas sonoras.
Asas que em certas horas
Palpitam.
Asas que morrem, mas que ressuscitam
Da sepultura.
E que da planura
Da seara
Erguem a um campo de maior altura
A mão que só altura semeara.

Por isso a vós, Poetas, eu levanto
A taça fraternal deste meu canto,
E bebo em vossa honra o doce vinho
Da amizade e da paz.
Vinho que não é meu,
Mas sim do mosto que a beleza traz.

E vos digo e conjuro que canteis.
Que sejais menestréis
Duma gesta de amor universal.
Duma epopeia que não tenha reis,
Mas homens de tamanho natural.

Homens de toda a terra sem fronteiras.
De todos os feitios e maneiras,
Da cor que o sol lhes deu à flor da pele.
Crias de Adão e Eva verdadeiras.
Homens da torre de Babel.

Homens do dia-a-dia
Que levantem paredes de ilusão.
Homens de pés no chão,
Que se calcem de sonho e de poesia
Pela graça infantil da vossa mão."

Miguel Torga, in 'Odes'

Anónimo disse...

D. Ana Jarrete, Muito obrigado por me ter deliciado com esta poesia que reli.

Adorei a sua escolha.

Orlando Martins

Fátima Pereira Stocker disse...

Marcos

Quero agradecer-lhe as suas visitas e a simpatia das suas palavras. Quero, ainda, concordar consigo no que ao Orlando diz respeito.

Muito obrigada, pois, e um abraço

Fátima Pereira Stocker disse...

Orlando

Depois da nossa conversa de anteontem, também não fico sem te deixar a versão subtil de José Gomes Ferreira. Diz ele:

Poeta o que é?
É o homem que leva
o facho da treva
ao fundo da mina
mas apenas vê
o que não ilumina.


Não tenho a certeza de ter quebrado os versos no lugar certo(e tenho preguiça de ir à procura), mas as palavras são mesmo aquelas.

Beijos (e olha que a Augusta tem razão. Até parecia a minha mãe a falar!)

chanesco disse...

Em boa hora aqui se juntou um grupo de Rebordainhenses, autênticos artífices da palavra (comentadores incluidos).
Confesso que tenho por aqui passado a "dar fé" do que dizem os mestres, com refere a Olímpia - permita-me a referência - mas me tenho coibido de comentar para não me intrometer e cortar o ritmo da cadeia que aqui se formou.

Quanto ao poema do Orlando, de quem já li aqui excelentes "coisas", mostra como a palavra, à semelhança da água que brota de entre as fragas, não tem forma fixa e se molda à sensibilidade do poeta.
Assim escorrida a palavra, o ciclo da vida ganha a forma do poema.

Um abraço para Rebordainhos

Augusta disse...

Amigo Chanesco (permita-me este tratamento)
Respondo-lhe em nome da Fátima, dado que em Rebordainhos ela tem um acesso muito limitado à net.
É sempre com muito agrado e prazer que lemos os seus comentários tão amáveis, e o recebemos nesta nossa casa. Por isso volte sempre a esta casa que também é um pouco sua.
Grata por tudo

Manuel Pereira disse...

Tantos predicados e adjectivos qualificativos faz com que eu diga pouco.
É bom ver que o meu companheiro de carteira na Escola primária da nossa Aldeia também aparece neste Blogge, imaginava-o menos poeta.
Aquele abraço e parabéns.
Manuel Pereira

Anónimo disse...

Obrigado Manuel,
qualquer dia vou fazer-te outra visita.

Um gande abraço

Orlando Martins