sábado, 10 de outubro de 2009

CONTA

VI


Porque sei que se o meu pai, a minha mãe, o Zé Mateus e o João Stocker estivessem entre nós, partilhariam connosco a felicidade que hoje sentimos, esta conta verdadeira é-lhes dedicada.

Aconteceu entre o meu pai - João Fouce - e o meu tio António - Pincha.

Pois bem, contava o meu pai que no tempo das acarrejas, era costume dormirem nos palheiros, para acomodarem as vacas bem cedo, e bem cedinho partirem para os campos, para acarrejarem os molhos de centeio para as eiras onde faziam as medas.
Ora o tio Pincha, sendo um homem que acreditava que as bruxas existiam, numa dessas noites, botou-se a sonhar com elas. Durante o seu sono, agarrou o pulso do meu pai acreditando que tinha agarrado uma por uma perna.

-"Ó João, risca um lume, ca…, agarrei uma por uma perna! Ca… , e olha que a tem bem grossa!”

O meu pai puxava o braço, tentando libertar-se. Quanto mais o meu pai puxava, mais o meu tio apertava, e gritava:

- “Risca aí depressa ca…, que a gaja quer fugir!”

Finalmente, quando o meu pai se conseguiu libertar e “riscar o lume”, diz-lhe o tio Pincha:

-“Risca o ca…, agora que a gaja já fugiu!”


Augusta Mata

11 comentários:

Augusta disse...

Ao meu pai, que nos deliciava com as suas histórias;
À minha mãe que irradiava felicidade ao ouvi-las
Ao Zé e ao João que se deliciavam com elas.

Augusta disse...

Tonho (do tio Arnaldo)
Desculpa ter publicado tão cedo, não dando muito tempo às pessoas deixarem os seus comentários. Mas é por uma boa causa e, eu sei que tu entendes.
Beijinhos

Américo Amadeu Pereira disse...

AUGUSTA, esta conta já eu a contei
a muita gente mas gostei de a ler
e recordar contada por si. Creio
que toda a gente de Rebordainhos
tem na memória a história verídica
das bruxas do João e António Fouce,
embora cada vez que é contada há
sempre um pormenor diferente.
Augusta, relembrar estes factos, não só estamos a honrar a memória
dos protagonistas, como é agradável reviver momentos felizes
da nossa infância.
Os meus cumprimentos.
Américo

Anónimo disse...

Augusta: não há desculpas nem meiasdesculpas, pelo meio ficam bém umas históriazinhas , que por acaso eu não conhecia e das que faço coleção. Por isso os meus parabéns. Com um grande abraço para todos. António Brás Pereira

Manuel Pereira disse...

Augusta, bem hajas;
Delicianos com mais contos desses pois decerteza os sabes e acredita numa coisa os teus contos não desvalorizam os de outros porque quem visita esta página com regularidade não deixa nada por esmiúçar, eu tal como o Ant. Brás desconhecia esta história; Por isso venha de lá mais uma.
Bjos. Manuel

Fátima Pereira Stocker disse...

Garota

Estou banzada! Como é que tu, no meio do enorme trabalho que tiveste ontem, ainda arranjaste tempo para vir aqui e publicar! Sei bem o porquê, só não sei as artes mágicas que tens para fazer render o tempo!

Esta história do pai e do tio Pincha... o que ele se ria a contá-la. Ou melhor: o que eles se riam a contá-la, porque a ouvi dita, a meias pelo dois, quando o tio cá esteve. Bem-hajas!

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

A todos

Talvez seja nos momentos de alegria que mais sentimos a falta daqueles que amamos, porque a nossa alegria seria mais completa se eles a pudessem compartilhar connosco. Ontem foi um dia desses, de profunda alegria, porque a Augusta casou o João Pedro, seu filho mais velho. Dia, pois, de emoções muito fortes!

Fátima Pereira Stocker disse...

Ainda a conta

Numa daquelas noites de Verão como já quase não há, daquelas que, de tão serenas, nos levam para as escaleiras e nos deixam passar aí uns bons bocados, tive a satisfação de ouvir esta conta (que conservo gravada) pela voz dos protagonistas. O tio António (Pincha para muitos, Rico para outros, a lembrar nomeada mais antiga da família), de tão longos anos a viver no Brasil já fala como se fosse um brasileiro, razão pela qual se não devem estranhar algumas expressões. Transcrevo, pois, essa passagem do serão...

Pincha - Aquela vez aconteceu boa. Sabe o que foi? Eu andava cansado de trabalhar no Verão. Então, uma noite, eu estava lá na casa da madrinha [tia Aninhas], lá no palheiro da madrinha. Eu dormia sempre assim [faz o gesto de quem dorme acbulhado, com o braço sobre a cabeça a afastar a roupa do rosto]... Quando foi de noite começou-me um negócio, parece que a adormecer no pé. aí, escutei um barulho, parece que a trepar, tuc, tuc, tuc. Eu vi um vulto. Naquele dia eu vi um vulto! Tentei abrir a porta do curral. A porta rangia... rrrannng, e eu voltei a subir as escadas de madeira. Ele [para o Fouce] estava acordado e voltei para dormir. Eu estava com a caixa de fósforos para riscar, debaixo da roupa, para ver quem era...

Fouce - Ele conseguia dormir com o lampião aceso debaixo da roupa!!!

Pincha - Eu queria pegar o que era... saber o que era! [para o Fouce, que se ria e dizia - "pensava que era uma bruxa...":]
- A ti não te deram uma bofetada em casa? Então! Foi verdade!
...Então, aquilo, escutei, já perto de mim, quando fui para tirar, aquilo escapou... vi um vulto preto e foi cair para baixo, pelo coiso do alçapão. Pumba! Aí eu fui a correr... A Pelada, a Isabel, levantou-se - "O que é que foi, António?" E eu: "Sua filha duma puta! Sua bruxa desgraçada!...
... Eu pensava e tornava a culpa à tia [Maria Elisa?(1)], mãe do Carriço. Eu quis pegar ela uma vez e corri atrás dela com uma machada. Falavam que ela era bruxa e eu tornava-lhe a culpa a ela...
... e aquele vulto caiu para baixo e eu fui para baixo, mas a porta estava fechada. [Voltei para a cama] e já estávamos dormindo os dois. Aí, de noite...

Fouce - Eu estava a sonhar, dei-lhe um murro...

Pincha - E eu catei o braço dele... Ah!filha da puta, te peguei hoje! E ele , então: "Deixa-me o braço!" E eu chamando : "João, acende a luz! Estavas falando que não há bruxas, mas hoje peguei, está aqui segura e bem segura!" Mas eu estava agarrando o braço dele!

Fouce - Eu bem puxava, mas ele não me largava!

Pincha - Julgava que a tinha pegado por uma perna!

Fouce - Carai, quase me arrancava o braço! Eu dizia: "Deixa-me o braço!" Quando me consegui livrar, diz-me então: "caralho! Agora que se escapou é que acendes a luz!"
Muito arreganhámos os dentes naquela noite, os dois!
___
(1) Não consegui perceber qual era o nome da mãe do tio Carriço. Se alguém se lembrar, agradeço que me diga, para que eu possa corrigir.

Olímpia disse...

Garota
Mais uma vez te volto a pedir a marca das tuas pilhas!...
De facto, ontem foi um dia feliz para nós e, tenho a certeza de que para o pai, para a mãe, para o Zé e para o João se cá estivessem, também seria.Também tenho a certeza de que ontem, todos nós pensámos muito neles.Inclusivé o noivo que, antes da festa acabar, retirou um dos belíssimos arranjos para poder colocar na campa dos avós e do tio.
Bem hajam os dois
Bjinhos
Olímpia

Amélia disse...

Fininha,
Eu digo-te qual é a marca das pilhas da nossa irmã Augusta. Usa pilhas Duracel! “ Dura e dura e dura…”. Tu compra-las na loja dos Chinas o que é que tu queres! Usa-las meia ora e tens que as deitar fora.
Agora, que esteve uma festa bonita isso esteve. Que todos nós sentimos a falta das pessoas que amamos e que já partiram também é verdade. Mas, nas nossas cabeças e nos nossos corações eles estiveram sempre presentes!
Um beijinho
Amélia

Amélia disse...

Volto aqui para escrever a palavra hora.
Desculpem
Amélia