Por
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Passam como que envergonhados pelas ruas onde outrora correram…
Olham, perdidos, para os putos desconhecidos que percorrem as ruas gritando, pontapeando a bola como se pontapeassem a tristeza. Porque, afinal, é desta que todos tentamos fugir quando visitamos Rebordainhos. Quem nos dera termos essa capacidade de pontapear bolas para bem longe, mas não… esta bola que teima colar-se ao pé é algo que nunca conseguiremos chutar. É como se estivesse fundida com a nossa carne, pesando-nos cada vez mais, enchendo com os dias que passam e trazem novos putos à aldeia, atulhando-se com as lembranças constantes que nos invadem à medida que caminhamos e vemos esses putos que não nos conhecem e têm a ousadia de brincar com a nossa aldeia… a minha aldeia! A aldeia que fez crostas na pele inocente que tinha, a aldeia que molhou os cabelos que esvoaçavam pelo campo de futebol, a aldeia que escondeu com o seu manto o primeiro beijo, a aldeia que trouxe amigos não comerciais, a aldeia onde saboreei vitórias e derrotas comuns em miúdos e adolescentes que adoram brincar sem limites geográficos ou raciais.
Essa mesma aldeia é agora deles, desses putos de Lisboa, Porto e Bragança que, nesses quinze dias de férias, a carregam com gritos e dores, obrigando a velha aldeia a mais um esforço na sua incansável obra de formar homens e mulheres duros como o vento serrano e sensíveis como as pascoelas que dão cor aos caminhos transmontanos.
Gozem-na, aproveitem-na, devorem-na, pois serão momentos irrepetíveis que, um dia mais tarde, quando tiverem a infelicidade de pensar muito e, se se derem ao trabalho de ter saudades, então, essa aldeia mágica deixará de existir e dela restará, apenas, a lembrança nas nossas mentes e a constante presença de putos que nos farão ciúmes por terem encontrado o santo graal da aldeia transmontana – talvez a única e verdadeira e velha aldeia a que chamam Rebordainhos.