domingo, 20 de junho de 2010

ACTIVIDADES ECONÓMICAS


III

ARMINDO ANTÓNIO PAIS


Os dedos de uma mão devem bondar para contar aqueles que, em Rebordaínhos, não criaram os seus filhos na pouca fartura. A tia Laura e o tio Zé Foguete não fugiram à regra e foi por isso que o Armindo, tal como quase todos os da sua idade, precisou de se fazer cedo à vida, ganhando alguma coisa com que ajudar em casa.

Mal se viu aprovado no exame da quarta classe, largou os livros para ir pelos lameiros guardar os vitelos do tio Frade, o Sr. Manuel Martins, como respeitosamente se lhe refere. Como a tarefa não exigia esforço por aí além e a proibição do trabalho infantil ainda demoraria a chegar, nem ele nem ninguém sentiu que fosse precoce essa introdução na vida activa. O trabalho também não lhe sossegaria o ânimo irrequieto e brincalhão e continuou a ser um espalha-brasas, povo adiante, povo atrás. Depois, o Sr. P.e João, de quem o seu pai se tornaria caseiro anos mais tarde, abriu-lhe as portas, chamando-o como moço ao serviço de sua casa.

Os serviços que as crianças prestavam não eram mais do que uma iniciação à vida adulta, uma forma de as enrijecer e de lhes ensinar o valor do trabalho até que estivessem capazes de aprender um ofício. Assim, aos dezasseis anos, o Armindo sentiu-se apto a aprender a arte na qual fundaria a vida futura e partiu para Rossas, entregue ao saber do sr. Alexandre que, tendo apreciado o trabalho do rapaz, o chamaria ao seu serviço.

Ao Armindo calhou na rifa iniciar-se profissionalmente na pior altura de todas: os anos da revolução de Abril. Não sei se se lembram, mas faltava tudo: o cimento, os tijolos… até os pregos! Não sei foi por causa disso, mas rumou a Bragança como empregado do sr. Emílio Esteves. Bragança, porém, ficava à distância de muitos carreirões de Arufe e o Armindo, criado na liberdade dos espaços da serra, sentia-se entocado na cidade. Nem por mil diabos lá haveria de ficar! Regressou, por isso, a Rebordaínhos e arriscou estabelecer-se por conta própria.

Reunindo os magros tostões que amealhara, lançou-se na sua primeira obra: a reconstrução da casa de sua mãe, a tia Laura. As pessoas da terra, que souberam apreciar o gesto de amor filial, também gostaram do trabalho e começaram a acreditar nele, mostrando a sua confiança nas encomendas que lhe iam fazendo. A primeira, no entanto, chegara de Soutelo Mourisco. Começou-a sozinho e não teria mais de dezanove anos.

Ganhou nome, experiência e o dinheiro necessário para abrir uma empresa em nome individual, a Armindo António Pais que, mais tarde, deu lugar à Construções Pais e Veiga. Hoje possui mais duas empresas, Mármores e Granitos Serra da Nogueira com a qual executa todo o tipo de obras que envolvam esses materiais e a Construções do Fervença, que se dedica ao trabalho com alumínios e PVC e à compra e venda de imóveis. Em linguagem económica diríamos que o Armindo criou uma concentração horizontal de empresas, isto é, associou diferentes segmentos da mesma actividade, de modo a dominar o sector, diminuindo a concorrência e chamando a si os lucros que teria de pagar a terceiros se precisasse de lhes encomendar serviços. Não tirou nenhum curso universitário para aprender estas coisas, mas intuiu muito bem como elas devem funcionar.

Ao todo tem 22 empregados e conta, actualmente, com o auxílio do seu filho Pedro que já é arquitecto. A Ondina, sua esposa, é quem gere os escritórios, sendo a contabilidade feita por gente de fora. A Construções Pais e Veiga é das empresas que mais encomendas tem na cidade de Bragança, mas a sua área de trabalho estende-se a Mirandela e ao Porto. E a França!

A história do Armindo é a história dos vencedores e dos resistentes que não deixaram a terra. A sua casa é a segunda que nos acolhe quando, passado o Navalho, percorremos o quilómetro de saudade até chegarmos à Pátria.
____
As casas fotografadas correspondem a duas obras de reconstrução feitas pelo Armindo. A primeira, salvo quem está longe há muito tempo, todos a identificam: é a velha casa do tio Frade e que pertence, agora, à Natália e ao Guilhermino (Sortes). A segunda fica em Rossas.

16 comentários:

EuMesmo disse...

Parabéns a esse batalhador que conseguiu chegar à classe do empresariado sem ter que abandonar suas origens...
O risco no quadro negro que provocou a ira do professor Rybom não só não o desanimou como parece que até o impulsionou a se lançar na vida dura e árdua da construção civil.
Um abraço.

Anónimo disse...

Gosto especialmente desta família que muito considero.
A boa disposição da Ondina, as "tontices" do Pedro, a calma e a simpatia da Olga e a frontalidade do Armindo, fazem com que eu goste muito de todos eles.
Parabéns armindo pela tua família e por tudo o que sempre fizeste por ela.
Parabéns Fátima, pelo belíssimo texto.
Bjos

Olímpia

Anónimo disse...

Parabéns para mais este Rebordainhense de sucesso e também para a cronista que não se esquece de manter viva a chama do terrunho que é nosso e que teima em não se extinguir.
António

Rebordas disse...

Esta família é uma das que eu mais gosto em Rebordaínhos. Pobres mas com grandes virtudes! Gosto de todos eles principalmente do “inimigo”. Desculpa Armindo. Estou de acordo com o comentário do EuMesmo. Deste-lhe água pelas barbas aos Professores ! subis-te na vida com a honestidade do teu trabalho e com a ajuda da tua esposa (por quem eu tenho também uma grande admiração) e agora com a dos teus filhos.
Parabéns Fátima colocas-te aqui o exemplo de uma grande família!
Beijinhos.

Fátima Pereira Stocker disse...

EuMesmo

Pois é: se calhar, foi o desenho dos primeiros alicerces!...

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Olímpia

Estava a ficar desalentada.
Por fim, as vossas palavras começaram a surgir.

Que te deu para entrares como anónima?

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho

Espero que, como a igreja, Rebordaínhos também tenha recebido promessas de vida eterna!

Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Rebordas

Não desmerecendo, penso que somos todos de grandes famílias!

Beijos

Anónimo disse...

E também de famílias bem grandes...

Beijos

Augusta disse...

Que é que posso dizer, que não tenha já sido dito?
Claro que, tal como os restantes comentadores, também eu sou fã da família deste "inimigo". Também acredito que a amizade que lhes dedicamos,nos seja retribuída por todos eles.
Ah! E gosto especialmente do folar que a Ondina faz!
Beijos a todos

Augusta disse...

Fátima:
Desculpa a ausência mas...
Enfim, sabes como são os finais de anos, não sabes?
Enfim, cá apareci
Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Anónimo

É isso mesmo (a começar pela minha)! Ah!Ah!Ah!Ah!Ah!

Fátima Pereira Stocker disse...

Augusta

Nem me digas nada! Já não aguento mais conselhos pedagógicos que começam às 9 da manhã e acabam às 10 das noite. Trás d'onte ceei pão duro de segunda-feira!

Beijos

Américo Amadeu Pereira disse...

Também eu quero testemunhar aqui o
apreço que tenho pelo ARMINDO, um
exemplo de filho, de trabalhador e
chefe de família. Lembro-me bem da LAURA, ainda solteira, conhecida
como "rainha", apesar de sofrer de
um defeito físico, vivia em sua casa com a sua independência para
a sua costura. Lembro-me do tio ZÉ
FOGUETE, do ARMINDO e irmãos.
Um grande abraço para o ARMINDO.
Américo

Anónimo disse...

Pois...Sim, é claro que...De facto, depois de todas as evidencias, nem sei...Talvez se..., no entanto, mas...e...nada, não há dúvidas que, na realidade...

Anónimo disse...

....