sábado, 24 de julho de 2010

O NOSSO DESERTO

É com frequência que recordamos, nesta página, os sacrifícios que os garotos dos Pereiros, Vales, Arufe e Quinta passavam para irem aprender o bê-a-bá à escola da freguesia. Eram tempos em que os direitos das crianças não estavam inscritos na constituição que, do mesmo modo, ignorava os conceitos de igualdade e de liberdade. Mas essa constituição datava de 1933 e inscrevia-se a si e ao regime, até com alguma moderação, no contexto amplo das ditaduras que grassavam pelo Mundo e moldavam a face a Europa nesse tempo. Porque percebeu o papel determinante da escola, o professor Salazar, apesar de reduzir a escolaridade de quatro para três anos, empenhou-se num programa de construção que semearia, por (quase) todos os cantos do País, aqueles edifícios minimalistas nossos conhecidos. Mesmo assim, o analfabetismo grassava e fazia a nossa vergonha nas estatísticas internacionais.

Este ano comemoramos o centenário da implantação da República, regime que arrola o combate ao analfabetismo como um dos seus desígnios mais importantes. Com efeito, apesar do caos político, a Primeira República conseguiu construir, nos dezasseis anos da sua existência, uma média de 69 escolas primárias por ano. Volvido um século, eis que o Estado Português, cujo regime se reclama herdeiro directo da I República, determina que se comemorem com galhardia os 100 anos do seu nascimento, ao mesmo tempo que decreta o encerramento de centenas de escolas. Não sei se é ironia, se é estupidez ou se é pura malquerença ao nosso povo. Não sei! Apenas constato que o nosso distrito é alvo de mais uma violenta bordoada, por ser daqueles em que mais escolas serão esvaziadas. Leio e não quero acreditar. A notícia encheu-me de raiva.

Chegou a altura de voltarmos a falar do suplício que passam as nossas crianças para irem à escola, agora, em nome de uma pretensa igualdade de oportunidades. Da minha parte desejo que os senhores ministros e os senhores deputados que aprovaram a lei fiquem com essa igualdade todinha para si. A bem da Nação!

3 comentários:

Augusta disse...

E se ao menos dessem uma ocupação condigna às escolas e respectivos professores...
Claro que o número de crianças nas nossas aldeias é reduzido, mas abundam idosos. E que tal ocupá-los com um regresso à escola? Uns relembrariam letras, ditongos, cálculos... Outros aprendê-los-iam pela primeira vez. Uma forma de os manter mentalmente activos, evitando situações de isolamento e solidão.
Além do mais manter-se-iam alguns professores no activo. Claro que teriam de se actualizar, revendo metodologias, estratégias, etc. Mas isso já dependeria de cada um, buscando onde obter formação e informação acerca dessa camada da população já que, apesar do povo dizer que os velhos são crianças, tal é uma dedução absolutamente errada acerca do SER IDOSO.
Haja boa vontade, ideias e... APOIOS!

Fátima Pereira Stocker disse...

Augusta

É tudo isso, como muito bem escreveste.

Beijos

Anónimo disse...

Realmente é triste que as escolas fechem por falta de crianças....porque as nossas aldeias não tem crianças suficientes, mas também que encentivos temos nós pra termos mais filhos??... não é possível criar uma criança com o abono de familia que os nossos governantes nos dão... e mais... porque será que no interior não há tantos apoios com nos grandes centros?... Será que os "pretos" (escravos), somos nós?
Temos que pagar tudo desde que nascem até que se formam...
Quando na Capital há tantas familias a viver às custas do Estado... secalhar sem necessitarem, pois é claro que o dinheiro não dá para tudo... e então para quem sobra?
Claro para as nossas terras, que nunca chega nada... Infelizmente tá tudo mal distribuido, pelos vistos daqui a pouco todas as crianças têm que ir para a cidade, para a escola porque nas aldeias já não há nada... É um contraste, na Escola onde o meu filho anda a capacidade é por exemplo para 2000 Crianças, mas andam lá 4000, é caótico... e de todas as nacionalidades, principalmente dos Países Africanos.....
Agora uma vez que na nossa terra há cada vez mais idosos, uma vez que não investem em escolas porque não em lares ou casas de repouso... acho que também merecemos alguma coisa...

Um Abraço a todos

Germana Martins